#25

outubro de 2023

Notícias de América, Paulo Nazareth

Influências malignas, Diego Moreno & Cristina Rivera Garza

Hora grande, Gê Viana & Dinho Araújo

Etnografia branca, Paulo Nazareth & Janaina Barros Silva Viana

[Entrevista] Não gosto mais de você, agora que todo mundo gosta, Sophie Calle & Clément Chéroux

O papangu comeu, Nicolas Gondim & Natércia Pontes

Explosão, Lyle Ashton Harris & André Pitol

Eclosão de um sonho, uma fantasia, Igi Lólá Ayedun & Katiúscia Ribeiro

Metrópolis, Adriana Lestido & Paloma Vidal

Do sol ao pixel, David Campany & Penelope Umbrico

 

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Uma pergunta atravessa diversos trabalhos desta edição. Como enfrentar a violência inscrita na história da fotografia e assentada nos arquivos de imagens? Com estratégias distintas, os artistas aqui presentes se debruçam sobre a produção etnográfica, os álbuns de família, a produção jornalística ou mesmo fotografias de viagens para retomar as imagens, restaurar suas histórias e celebrar a vida.

Na abertura da edição, as fotografias de Paulo Nazareth transformam-se em cartões-postais às avessas ao devolverem aos Estados Unidos notícias de uma história de racismo e xenofobia. Nazareth também combate a morte evocada pelos arquivos históricos de povos negros ao animar as reproduções fotográficas com o sopro das pintas brancas da galinha-d’angola. A maranhense Gê Viana recupera a história dos quilombolas de Alcântara ao iluminar um importante conjunto de fotografias com camadas de cor e vida; enquanto o mexicano Diego Moreno revela, em suas fotos de família, as criaturas que habitam as profundezas da alma humana.

Tensões raciais e eróticas se sobrepõem nos Blow Ups de Lyle Ashton Harris, que combinam as notícias do mundo e a intimidade do artista. Feitos ao longo de anos, seus blow-ups foram combinados para a ZUM em uma única narrativa. Na entrevista da edição, Sophie Calle revela como escreve sua biografia ao projetar-se na vida alheia com grãos de fina ironia.

Enfrentar o oceano visual também é uma forma de reestabelecer a história e redefinir a própria identidade. Capa da edição, a artista Igi Lólá Ayedun usa autorretratos e inteligência artificial para construir um futuro de seres que navegam um universo ancestral. Entre o ready-made e a assemblage, as vestimentas dos papangus, fotografadas por Nicolas Gondim, fazem do futuro um presente sampleado. As crises do presente ecoam a melancolia do passado, como se vê na distante Buenos Aires de Adriana Lestido e na crise econômica da Argentina contemporânea. Em diálogo criado nesta edição, o escritor David Campany e a artista Penelope Umbrico avançam e retrocedem na máquina do tempo para mostrar que a reprodutibilidade da fotografia, inaugurada desde o século 19, continua a ser radicalmente subversiva e atual. O futuro dorme no passado.

 

Thyago Nogueira, editor

 

#24

abril de 2023

Sidney Amaral

Jongo & Adriano, Yhuri Cruz

Relacionamento experimental, Pixy Liao & Holly Roussell

Acordos, Sabelo Mlangeni & Athi Mongezeleli Joja

Desde aquele beijo, Fotógrafo/a desconhecido/a & Eliana Alves Cruz

Fragmentos de um real particular, Sidney Amaral & Luciara Ribeiro

Múltipla exposição, Gabriela Biló

Arapuca, Renata Felinto

A memória precisa caminhar, Sandra Benites & Clarissa Diniz

Sentindo o invisível, Ming Smith & Oluremi C. Onabanjo

Configurações do corpo, VALIE EXPORT & Walter Moser

 

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A certa altura, o narrador da fotonovela Jongo & Adriano, criada pelo artista Yhuri Cruz, pergunta-se em que consiste a liberdade. A resposta parece óbvia no contexto do Brasil escravocrata. Mas a parábola da fuga é uma revolta contra a escravização dos corpos tanto quanto a prisão dos afetos.

Liberdade é ausência de medos e incômodos, resume Cruz. Libertar-se da opressão cotidiana e das amarras sociais move boa parte dos artistas desta edição. Sydney Amaral afronta o hedonismo branco em colagens que escarnecem dos símbolos de prazer e de poder. O clima surreal contrasta com a sobriedade dos autorretratos em fundo preto, em que Amaral enfrenta seus dilemas pessoais e artísticos: trabalhar ou comer, viver ou morrer?

Renata Felinto revê a história das imagens de opressão e vigilância em busca de emancipação e justiça. Seu trabalho inédito é a capa da edição e o pôster dos assinantes. Ming Smith captura a vibração e a resiliência da vida negra nos Estados Unidos, enquanto um/a fotógrafo/a desconhecido/a enquadra nas curvas cênicas e batidas da orla carioca pessoas que expressam a beleza democrática do Rio de Janeiro. O amor público, relembra a escritora Eliana Alves Cruz, pode ser revolucionário.

Nas fotografias de casamento feitas por Sabelo Mlangeni, a vida edulcorada ganha nuances transcendentes. Com o namorado modelo, Pixy Liao inverte os papéis de gênero propagados pela iconografia ocidental e por sua educação chinesa. Mais de 30 anos antes, a austríaca VALIE EXPORT abraçava a sisudez urbana em performances feministas pioneiras.

Prestes a lançar seu primeiro livro, a fotojornalista Gabriela Biló revela em diário os erros e acertos, perigos e prazeres do ofício em Brasília. Para os Guarani, a memória não é uma dimensão do passado, mas a caminhada do passado e do futuro no presente. Movimentar as imagens, explica a curadora Sandra Benites, é libertá-las para a luta.

Thyago Nogueira, editor

 

#23

outubro de 2022

Sangue de bairro, Affonso Uchôa & Desali & Cidinha da Silva

Estudos de Vênus #1 e Atualizando Vênus, Val Souza & Thyago Nogueira

Retomada, Emerson Uýra

Novo poder, Maxwell Alexandre & Nathalia Grilo

O corpo contra o grid, Gretta Sarfaty & Ana Maria Maia

A cerimônia secreta, Lourdes Grobet & Beatriz Novaro

Escória, Justine Kurland

Memórias de resistência, Arquivo da Memória Trans Argentina & Amara Moira

Contrassonho, Andrea Tonacci & Patrícia Mourão de Andrade

 

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O SÉCULO 21 enterrou a ideia de uma realidade única e compartilhada. O que haveria de universal quando uns falam por outros, oferecendo pontos de vista como corolário de seus privilégios? No campo da arte, a fragmentação invadiu o quadro, ajudando-nos a rever a perspectiva. Artistas originais investem em colagens e reorganizam arquivos para superar lacunas e compor novas realidades.

Capa e abertura da edição, Val Souza revigora o feminismo ao nutri-lo com imagens de mulheres negras. Em seus autorretratos, Souza enfrenta o olhar que objetifica assim como desafia os padrões estreitos de beleza. Sua busca por uma redefinição de Vênus deu origem a um painel trans-histórico que celebra a divindade de mulheres independentes e resilientes. Nos anos 1970, Gretta Sarfaty também rompeu padrões ao ironizar sua própria imagem. Iconoclasta, Justine Kurland retalhou o cânone fotográfico para protestar contra o patriarcado reinante. Sobreviventes da ditadura argentina, as mulheres – e fotografias – do Arquivo da Memória Trans reescrevem a história e testemunham a vida que resiste à opressão e ao preconceito. Nas performances da entidade amazônica Uýra, resistir é também uma forma de aprender com a natureza.

Ao longo da história, a fotografia experimentou diferentes maneiras de olhar para o outro. Em comovente homenagem ao cineasta Andrea Tonacci, a pesquisadora Patrícia Mourão de Andrade resgata a originalidade, as hesitações e os impasses de um cinema comprometido com a luta alheia. Falecida este ano, Lourdes Grobet glorificou a luta livre ao valorizar os esportistas que dão corpo à cultura popular mexicana. As fotografias do cineasta Affonso Uchôa e do artista Desali exibem sua própria realidade “sem pieguismo, sem autocomiseração ou pretensos exercícios de empatia”, nas palavras de Cidinha da Silva. “São expressões de uma periferia do Brasil por sua própria voz”, continua a escritora mineira, ecoando também o novo trabalho de Maxwell Alexandre, que retira os negros dos quadros para exibi-los nas galerias, onde escolhem o que e por que ver. Tempo de mudança!

Thyago Nogueira, editor

 

#22

abril de 2022

Corpoflor, Castiel Vitorino Brasileiro

Diários de Pequim, Rong Rong

Como quem consulta um oráculo, Fernanda Liberti & Stephanie Borges

Falando de lama, Mabe Bethônico

A cura, Samuel Fosso & Akinbode Akinbiyi

Revolução na raiz, Arthur Jafa

Minha morte negra (2015), Arthur Jafa

Força negra, Lázaro Roberto/Zumví Arquivo Afro Fotográfico & Denise Camargo

Futurismos radicais, T.J. Demos & Black Quantum Futurism

 

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A guerra da Ucrânia reacendeu a importância das imagens na mobilização internacional, mas o álbum de fotos das tragédias humanas aumenta há anos sem que todos os sofrimentos sejam visíveis.

Samuel Fosso fez do autorretrato uma boia de salvação para superar a violência e as injustiças que marcaram a história da República Centro-Africana. Nos anos 1970, materializou seus desejos na fotografia; hoje, usa suas imagens para navegar entre o prazer e o sofrimento contínuos. Na China dos anos 1990, Rong Rong e uma trupe de artistas encontraram na performance uma forma de resistir à opressão social que a ascensão econômica insistia em manter invisível.

Do outro lado do mundo, o brasileiro Lázaro Roberto registrou a beleza e a luta de seu povo em uma missão pedagógica e afirmativa. Seu trabalho deu origem ao Zumví Arquivo Afro Fotográfico, um dos acervos independentes mais importantes do país.

Em suas colagens e escritos, Arthur Jafa também reescreveu a história para fazer justiça ao denunciar a ocultação das raízes africanas pelo modernismo europeu e apontar a contribuição da arte negra para a cultura mundial.

Com jornais mutilados para realçar seus lotes fotográficos, Mabe Bethônico dá eloquência aos crimes de Mariana e Brumadinho e à associação perversa entre indústria e jornalismo. Quem tem direito de construir um futuro?, pergunta o historiador da arte T. J. Demos. Para combater a violência racializada do capitalismo, é preciso escutar a arte negra, transexual e indígena.

Na descontração das fotografias de Fernanda Liberti, uma rebeldia silenciosa e libertária costura alianças entre identidades distintas. Seu álbum visual circula como pôster para os assinantes da revista.

Em fotografias e escritos, Castiel Vitorino Brasileiro ensina que sua transmutação é não apenas uma forma de cura, mas uma oportunidade revolucionária para que as imagens, as línguas e nós mesmos encontremos novas formas de ser e de existir.

#21

outubro de 2021

Centrália, Poulomi Basu

Procurando fantasmas, Frida Orupabo & Lola Olufemi

A luta contínua, Deborah Willis

A moda na encruzilhada, Rafael Pavarotti & Hanayrá Negreiros

Do estupro, Laia Abril

A visão do manto, Glicéria Tupinambá

História de segregação & A longa busca pelo orgulho (1963), Gordon Parks

[Entrevista] Ver para entender, Alfredo Jaar & Fabiana Moraes

Monumentos em guerra, Laura Erber & Demonumenta

Fotolivros venezuelanos, Victor Sira

 

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Em 2011, esta revista ZUM brotava com o propósito de divulgar a fotografia contemporânea e debater seus temas candentes. Nestes dez anos, cerca de 400 colaboradores se revezaram para diminuir nossa ignorância visual. As fotografias carregam uma visão de mundo nem sempre visível, lembra o entrevistado Alfredo Jaar. Decifrá-las continua a ser nossa missão. Para celebrar o 10o aniversário da ZUM, oferecemos aos leitores uma obra-cartaz com outra máxima de Jaar: “Você não tira uma fotografia. Você faz uma fotografia.” Na década de 1950, o fotógrafo Gordon Parks expôs o racismo renitente do Alabama apenas por acompanhar o cotidiano de uma família negra. A história dos Causey, narrada em Cores vivas e pungentes, era também a sua. Era ainda a de George Floyd, cujo assassinato pela polícia americana em 2020, capturado em vídeo, irradiou o movimento Black Lives Matter pelo mundo. E a de Deborah Willis, que aqui costura sua trajetória familiar à luta de gerações por respeito e justiça, tomando como fio condutor a fotografia.

Sem deixar de lado a invenção, as artistas Poulomi Basu, Laia Abril e Frida Orupabo também usam fotos como armas de denúncia. Basu enfrenta a crueldade do conflito étnico e político que despedaça a região central da Índia. Com minúcia forense, Abril disseca o machismo histórico que despedaça vidas no mundo todo. Ao destrinchar arquivos coloniais, Orupabo dá forma a seus traumas e nos obriga a encarar seus frutos. Ataques recentes a monumentos partem da certeza de que quem controla as imagens controla a política, como aponta a pesquisadora Laura Erber ao analisar iconoclasmos distintos.

Mas é Glicéria Tupinambá quem comanda um revide contra o colonialismo ao reanimar os mantos extintos de seu povo, guiada por sonhos, visões e fotografias. De ascensão meteórica e acachapante, Rafael Pavarotti povoa a moda internacional com seu exército de mártires, guerreiros e orixás dispostos a enfrentar o apocalipse. Da pacata Icoaraci, o fotógrafo paraense redefiniu a beleza e mostrou que a paz é uma guerra contínua.

#20

abril de 2021

Calendário 2021-2022, Limitrofe Television & Analcancer2009 & Bouquet International

Mesa da cozinha, Carrie Mae Weems

Ficções coloniais, Denilson Baniwa

Pássaro contra os dentes, ToiletPaper & Ana Paula Maia

Gente de verdade, Paiter Suruí & coletivo Ixomasoden

Laranja, Orhan Pamuk

[Entrevista] O meu povo, Lita Cerqueira & Maria Hirszman

Tamo junto não é gorjeta, Allan Weber

Arqueologia do progresso, Paulo Tavares

 

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Chegar à vigésima edição impressa é um feito, mesmo que haja pouco a comemorar. Nesta ZUM #20, reunimos colaboradores que desafiam o status quo da imagem e nos fazem enxergar o que não víamos – seja ao transformar o universo pessoal no espelho dos dramas coletivos, seja ao encarar com ironia a condição de quem transita pelas bordas do capitalismo, seja ao enfrentar os arquivos sobre os quais a história assenta, mas a partir dos quais também pode ser reescrita.

Como muitos brasileiros, o jovem fotógrafo Allan Weber perdeu sua fonte de renda durante a pandemia. Para sustentar a família, deu entrada numa moto e inscreveu-se como entregador de aplicativo, partindo de sua casa, na Zona Norte do Rio. As cenas de seu dia a dia estampam a capa desta edição, revelando a beleza de um cotidiano urgente e muitas vezes invisível. É também como quem abre um diário íntimo que Carrie Mae Weems nos convida à mesa de sua cozinha, para partilhar suas inquietações. Publicada na íntegra, em tempos de isolamento, a série completa 30 anos cada vez mais atual. Com um dedo de prosa irresistível, Lita Cerqueira aperta os cliques da memória e dos afetos que marcaram sua vida. Em périplo noturno, o escritor turco Orhan Pamuk aventura-se na fotografia para esquadrinhar a paisagem urbana de Istambul em transformação.

Fotografia e literatura se unem ainda em conto inédito da escritora Ana Paula Maia, inspirado nas imagens criadas pela revista ToiletPaper, publicação dos artistas Maurizio Cattelan e Pierpaolo Ferrari. Transgressão visual e delírio também são os pilares do trabalho dos coletivos trans e não binários Limitrofe Television, Analcancer2009 e Bouquet International. Seu calendário pop, que abre esta edição (transformado em pôster para os assinantes), nos ajuda a enfrentar o tempo perdido. Diante de tantas imagens, qual é o papel dos arquivos? Ao resgatar as histórias de fotos antigas, os Paiter Suruí preparam as flechas do porvir. Denilson Baniwa confronta a iconografia clássica de Theodor Koch-Grünberg com ícones do cinema mundial, e assim balança a fronteira que divide nossas ciências da pura ficção científica. Diante da própria tradição, o arquiteto Paulo Tavares contesta a noção de progresso embutida na moderna fotografia brasileira e mostra como ela pode servir para combater o apagamento indígena que ajudou a celebrar. Seguimos alertas, em tempos difíceis.

# 19

dezembro de 2020

Natureza Brazileira, Rosana Paulino

Os anjos descoloridos da peste, Teresa Margolles & Mario Bellatin

Corpos sem redenção, Ren Hang & Chen Shuxia

Arte ativista, Naine Terena & Ascuri, Denilson Baniwa, Edgar Kanaykõ, Emerson Uýra, Gê Viana, Sallisa Rosa, Jaider Esbell, Moara Brasil, Olinda Yawar Tupinambá, Patricia Pará Yxapy e Sueli Maxakali

Violenta geometria, Rosana Paulino & Renata Felinto

Notas sobre a alegria fundamental, Carmen Winant & Nathalia Lavigne

Preto é rei?, Beyoncé Knowles-Carter & Kênia Freitas e José Messias

Vigilância e espionagem, Julian Stallabrass

Chegando, Richard Mosse

Sudário efêmero, Ana Mendieta & Andréa Del Fuego

Fotografia não é arte (1943) & A fotografia pode ser arte (1981), Man Ray

Além da câmara clara, Ronaldo Entler & Davi de Jesus do Nascimento

 

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Investigar o passado é dar futuro ao presente. A artista Rosana Paulino abre esta edição com obra inédita (transformada em pôster para os assinantes), em que investiga as raízes violentas da história brasileira – nossa verdadeira natureza, que a arte e a sociedade teimam em esconder. Cada vez mais visíveis, os artistas indígenas indicados pela curadora Naine Terena rompem fronteiras para reescrever a história da arte e do país sob novas perspectivas. Os nus do chinês Ren Hang ou os arquivos fotográficos resgatados pela artista Carmen Winant sugerem que o corpo pode ser um território livre, aberto à autoexploração. A liberdade também banha o trabalho de Davi de Jesus do Nascimento, que usa autorretratos e o acervo fotográfico de sua família para construir sua identidade e genealogia. Em extremo oposto, os rostos e os corpos das performances de Ana Mendieta ou dos cartazes fotografados por Teresa Margolles nos encaram para lembrar que a violência de gênero não é apenas estatística.

Nosso corpo avança pelo século 21 vigiado por imagens, como demonstra Julian Stallabrass em ensaio sobre arte e política ou os registros de imigrantes em busca de um futuro realizados pelo artista Richard Mosse. Os pesquisadores Kênia Freitas e José Messias destrincham a epopeia afrofuturista de Beyoncé para celebrar a potência criativa e investigar sua ambiguidade narrativa. Cada passo em direção ao futuro nos aproxima do passado. Afinal, o que é e para que serve a fotografia? Em seu tempo e a seu modo, Man Ray e Roland Barthes buscaram uma resposta; em textos que se tornaram clássicos, encontraram mais perguntas e a certeza de uma essência variada e irredutível.

# 18

julho de 2020

Sonda, Ventura Profana

África de sonho, Deana Lawson e Zadie Smith

A costa, Sohrab Hura

As verdades dos deepfakes, Giselle Beiguelman

A leveza do lar, Ahlam Shibli & Marta Gili

LogicAcaso, Paulo Bruscky & Moacir dos Anjos

A história delas, Lebohang Kganye & Napo Masheane

Desejo em movimento, Décio Pignatari & João Bandeira

Cadernos de Narciso, Hudinilson Jr. & Veronica Stigger

Nossa dor dos outros, Berna Reale & Marisa Mokarzel

Antes & depois, Eyal Weizman & Ines Weizman

 

Conheça e leia online na íntegra a ZUM #18.

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O mundo parou. E, com a lente de um vírus, descobriu-se ainda mais desigual. Exclusão social, racismo e mentiras agravaram-se. Nas imagens desta edição, o corpo afirma-se como um campo de batalha e resistência: seja nas performances de Berna Reale, que desnudam a violência do Estado; seja nos recortes de Hudinilson Jr., que expõem os desejos que insistimos em reprimir; seja nos olhares altivos retratados por Deana Lawson, que, segundo a escritora Zadie Smith, respondem à discriminação promovida pela história dos homens e das imagens.

A luta política também se dá no campo visual. E precisamos da história para enfrentar a disputa: como revela a artista Ahlam Shibli, ao mostrar a tentativa de apagamento do drama palestino, ou os professores Eyal e Ines Weizman, ao investigar tragédias visíveis apenas nas lacunas entre imagens. O verbo “viralizar” voltou à ordem do dia, embaralhando ainda mais os limites entre verdade e mentira, como explica a professora Giselle Beiguelman ao analisar a disseminação de vídeos produzidos por inteligência artificial – os deepfakes.

Nas fotocolagens do pós-guerra de Décio Pignatari, nas cenas da Índia litorânea de Sohrab Hura ou na reinvenção do álbum de família de Lebohang Kganye, o surreal ajuda a lidar com a violência e refazer laços. Com um jogo de acasos, o artista Paulo Bruscky criou um trabalho inédito, impresso em cores fluorescentes. O trabalho também circula como encarte extra para os assinantes, reafirmando nosso compromisso com as imagens impressas, com a presença física.

As restrições à circulação, criadas para nos proteger, fizeram com que esta edição chegasse atrasada, mas não menos candente. Na véspera de entrarmos em gráfica, Ventura Profana nos brindou com fotomontagens estonteantes, que unem símbolos das religiões abraâmicas ao tabuleiro político e social do Brasil e do mundo. As imagens ganharam a capa e o caderno extra que abre esta edição especial. Estamos todos sob ataque, físico ou virtual, mas os corpos e as imagens resistem.

 

[:pb]

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# 17

outubro de 2019

Alma negra, Don McCullin & Leão Serva

Noite branca, Feng Li & Thomas Sauvin e Léo de Boisgisson

O real em pedaços, Dora Maar & Amanda Maddox

O longe é agora, Vincent Catala & J.P. Cuenca

Orgulho da tortura, Mauricio Lissovsky & Ana Maria Mauad

Cardápio indigesto, Michael Schmidt & Thomas Weski

Desaprendendo momentos decisivos, Ariella Azoulay

Futuro opaco, Carlos Zílio & Paula Braga

Primeiras impressões, Anna Atkins & Joshua Chuang

Olhos de sangue, Marc Ferrez & Hélio Menezes

Anatomia de uma paixão, Eduardo Solon & Inácio Araujo

No início, tudo era azul, como mostram os cianótipos de Anna Atkins, cuja primazia na história do livro fotográfico só foi reconhecida quase dois séculos depois de sua publicação. Em seu último grande trabalho, Michael Schmidt mostra as consequências perniciosas do capitalismo em fotos de revirar o estômago.

A fotografia nunca foi uma tecnologia neutra, relembra a escritora Ariella Azoulay ao desfazer os mitos de origem imperiais para construir outras histórias da fotografia. Assim procede o antropólogo Hélio Menezes, que identifica a participação do sistema escravista no progresso moderno documentado por Marc Ferrez no século 19.

De fotograma em fotograma, o cinéfilo Eduardo Solon amealhou uma coleção de instantes em que sua memória afetiva se confunde com a história do cinema. Pioneira, Dora Maar também reinventou o mundo a partir de fragmentos com suas fotomontagens surrealistas.

Os historiadores Mauricio Lissovsky e Ana Maria Mauad resgatam fotografias que mostram que a tortura era prática rotineira no Brasil durante a ditadura militar. Em entrevista exclusiva, Don McCullin revela que não sente orgulho de suas fotos de guerra, e aconselha os jovens a registrarem a realidade de suas próprias cidades. É o que faz o chinês Feng Li, instigado pela babel visual da China contemporânea.

Do lado de cá, o fracasso das políticas públicas esculpe o vazio capturado por Vincent Catala em rostos e paisagens cariocas. O progresso é uma ilusão também na série fotográfica de Carlos Zílio, atual nos anos de chumbo ou em nosso presente.

Num tempo de incertezas quanto ao futuro, reaprender a olhar é fundamental para recuperar a capacidade de imaginar o novo, juntos.

 

# 16

abril 2019

O jogador, Jorge Molder & Marta Mestre

Museu da Revolução, Guy Tillim & Joaquim Toledo Jr.

Negativos eliminados, Inês Costa

Parando o tempo, Hiroshi Sugimoto

Mulheres de verdade, Camila Falcão & Clara Averbuck

Um monumento da modernidade, Irving Penn & Eduardo Costa

Cicatrizes que falam, Silvana Jeha

Para além do México, Manuel Álvarez Bravo & Gerardo Mosquera

O spam da Terra, Hito Steyerl & Giselle Beiguelman

Sobras de uma guerra, Dorrit Harazim

 

A fotografia passou décadas esculpindo clichês variados. Cabe atenção para desmontá-los. A artista Hito Steyerl contrapõe imagens de pessoas perfeitas que circulam nas mensagens de spam ao crescente número de cidadãos politicamente invisíveis ou discriminados. A fotógrafa Camila Falcão apresenta a intimidade de travestis e mulheres trans, que constroem um novo tipo de feminismo ao mesmo tempo que têm suas vidas e seus direitos ameaçados.

Desconfie do que vê e do que viram em seu lugar. A cada foto feita por Walker Evans e outros bambas para registrar os esforços do governo dos Estados Unidos em superar a Grande Depressão, milhares de outras imagens foram descartadas e só agora reveladas; assim como atrás de cada herói da Guerra do Vietnã escondiam-se fotógrafos vietcongues que trabalhavam em causa própria e buscavam a vitória de forma obstinada.

O sul-africano Guy Tillim apresenta as camadas históricas e urbanas da África contemporânea, onde colonizadores deram lugar a ditadores, que agora cedem espaço ao capitalismo global. Produto da criminologia positivista, um arquivo de tatuagens penitenciárias condensa hoje em imagens a história de americanos, italianos, sírios e outros imigrantes que se cruzaram na São Paulo do início do século 20.

Enquanto o artista português Jorge Molder investiga os efeitos do acaso, o fotógrafo japonês Hiroshi Sugimoto discorre sobre o desejo humano de fixar o tempo.

A obra do mestre Manuel Álvarez Bravo é revista para desfazer o exotismo que a visão eurocêntrica impunha aos artistas de seu país – uma tensão entre modernismo e nacionalismo também presente no retrato inédito de Oscar Niemeyer.

É importante manter os olhos abertos para ver – de forma melhor e mais livre.