# 16

abril 2019

O jogador, Jorge Molder & Marta Mestre

Museu da Revolução, Guy Tillim & Joaquim Toledo Jr.

Negativos eliminados, Inês Costa

Parando o tempo, Hiroshi Sugimoto

Mulheres de verdade, Camila Falcão & Clara Averbuck

Um monumento da modernidade, Irving Penn & Eduardo Costa

Cicatrizes que falam, Silvana Jeha

Para além do México, Manuel Álvarez Bravo & Gerardo Mosquera

O spam da Terra, Hito Steyerl & Giselle Beiguelman

Sobras de uma guerra, Dorrit Harazim

 

A fotografia passou décadas esculpindo clichês variados. Cabe atenção para desmontá-los. A artista Hito Steyerl contrapõe imagens de pessoas perfeitas que circulam nas mensagens de spam ao crescente número de cidadãos politicamente invisíveis ou discriminados. A fotógrafa Camila Falcão apresenta a intimidade de travestis e mulheres trans, que constroem um novo tipo de feminismo ao mesmo tempo que têm suas vidas e seus direitos ameaçados.

Desconfie do que vê e do que viram em seu lugar. A cada foto feita por Walker Evans e outros bambas para registrar os esforços do governo dos Estados Unidos em superar a Grande Depressão, milhares de outras imagens foram descartadas e só agora reveladas; assim como atrás de cada herói da Guerra do Vietnã escondiam-se fotógrafos vietcongues que trabalhavam em causa própria e buscavam a vitória de forma obstinada.

O sul-africano Guy Tillim apresenta as camadas históricas e urbanas da África contemporânea, onde colonizadores deram lugar a ditadores, que agora cedem espaço ao capitalismo global. Produto da criminologia positivista, um arquivo de tatuagens penitenciárias condensa hoje em imagens a história de americanos, italianos, sírios e outros imigrantes que se cruzaram na São Paulo do início do século 20.

Enquanto o artista português Jorge Molder investiga os efeitos do acaso, o fotógrafo japonês Hiroshi Sugimoto discorre sobre o desejo humano de fixar o tempo.

A obra do mestre Manuel Álvarez Bravo é revista para desfazer o exotismo que a visão eurocêntrica impunha aos artistas de seu país – uma tensão entre modernismo e nacionalismo também presente no retrato inédito de Oscar Niemeyer.

É importante manter os olhos abertos para ver – de forma melhor e mais livre.

 

 

 

# 15

outubro de 2018

Um homem amazônico, Éder Oliveira & Daniela Labra

Quem sou eu?, Cindy Sherman & Daniel Rubinstein

A ética do olhar, Susan Meiselas & Francisco Quinteiro Pires

Caça ao tesouro, Mike Disfarmer & Michael P. Mattis & Judy Hochberg

A praia em espiral, Lieko Shiga

A arte de se indignar, David Goldblatt & Rodrigo Moura

Fora de campo, Ana Vitória Mussi & Ligia Canongia

Sonho profundo, Alec Soth & Humberto Brito

Foto da multidão, José Inacio Parente & Wislawa Szymborska

 

As pinturas do artista Éder Oliveira que abrem esta edição foram criadas a partir de retratos fotográficos feitos em estúdio ou extraídos das páginas criminais de jornais do Pará. Como a exclusão social aparece na imprensa e com que cara? Que preconceitos escondemos no vale que separa a maneira como nos vemos de como vemos o outro? Ao pintar fotografias e omitir sua veiculação original, Oliveira mostra como a representação visual expressa as desigualdades de nossa representação democrática.

Fotografia é contexto. Ícone feminino da agência Magnum, Susan Meiselas conta como percorreu o mundo para narrar histórias de abuso e opressão. Com a denúncia dos regimes autoritários da América Latina ou o convívio com imigrantes cabo-verdianos de Lisboa, Meiselas renovou o jornalismo ao mostrar que é preciso se envolver profundamente em cada clique. Mesma lição nos deixou o sul-africano David Goldblatt, que morreu este ano depois de passar a vida num país cindido. Sua obra é um testemunho e um manifesto da batalha contra o racismo. Dividido no papel de fotógrafo e manifestante, José Inacio Parente registrou em 1968 a fagulha de esperança que antecedeu os anos mais cruéis da ditadura no Brasil. Então vieram os tempos sombrios, como também sugere Ana Vitória Mussi ao pintar de preto imagens do jornalismo esportivo, em alusão ao período de censura e ufanismo.

Os retratos de estúdio feitos no pós-guerra pelo excêntrico Mike Disfarmer ou as fotos de Alec Soth tiradas na virada deste século ao longo do rio Mississippi mostram a desilusão que ronda o sonho americano em tempos distintos. Artista renomada, Cindy Sherman tenta se libertar de sua imagem ao abraçar o ilusionismo das redes sociais. Com densidade filosófica e sensibilidade estonteante, a japonesa Lieko Shiga mergulha na imagem para oferecer um relato labiríntico de seu cotidiano antes e depois de ser engolido pela nítida realidade de um tsunâmi.

 

 

# 14

abril de 2018

Como fotografar um espírito?, Martim Gusinde & Christine Barthe

O lugar de cada um, Dana Lixenberg & Pieter Hugo

A forma da liberdade, Wolfgang Tillmans

O cotidiano do morro, Afonso Pimenta & Ana Paula Orlandi

Contra o retrato sintético, a favor da fotografia instantânea (1928), Aleksandr Ródtchenko & Erika Zerwes

A percepção da distância, Masahisa Fukase & Simon Baker

Um exercício de perspectiva, Anna Bella Geiger & Laura Erber

O silêncio da objetiva, David Claerbout

Além do exótico, Yann Gross & Daigo Oliva

Breve tipologia dos memes fotográficos, Viktor Chagas

A fotografia apresenta o outro, semelhante ou diferente. Na capa da edição, uma noiva reencena o casamento em uma das milhares de imagens produzidas por Afonso Pimenta nos anos 1980 no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte. Por encomenda ou iniciativa própria, Pimenta documentou o cotidiano e a intimidade de seus vizinhos, que tinham pouco acesso à fotografia.

As marcas do tempo não impediram o conjunto de se tornar um arquivo raro e precioso da vida privada no país. O alemão Wolfgang Tillmans despontou nos anos 1990 ao registrar a vida social e sexual de seus amigos. O desdém pela tradição e a entrega ao hedonismo foram o combustível de uma renovação estética e de costumes depois da queda do Muro de Berlim. O missionário Martin Gusinde não pôde impedir um genocídio, mas seu estudo metódico sobre os povos da Terra do Fogo, realizado anos depois, preservou o encantamento daquelas culturas. As revoltas que se seguiram à morte de Rodney King despertaram na holandesa Dana Lixenberg o desejo de registrar os moradores da periferia de Los Angeles com uma dignidade que muitos preferiam manter invisível.

Nos anos 1970, a artista Anna Bella Geiger vestiu a pele do outro para encarar estereótipos e ufanismos; hoje, o suíço Yann Gross descobre uma Amazônia que combina tradição e exotismo.

A arte se alimenta da escrita. Há 90 anos, Aleksandr Ródtchenko combatia a voz única e autoritária da pintura em favor da multiplicidade da fotografia, num manifesto ainda mais retumbante se lido à luz de ferramentas de busca como o Google. O belga David Claerbout explica por que o sonho de liberdade prometido pela animação digital apenas reforça o senso comum e a estética dominante.Com os memes, vislumbramos o futuro, onde o absurdo simbólico e o humor subversivo – mas também preconceituoso e agressivo – diz mais sobre nós do que gostaríamos.

 

 

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# 13

outubro de 2017

Lar paulistano, Marcos Freire & Cassiano Elek Machado

Busca o meu rosto, Paz Errázuriz & Rosane Pavam

A voz do corpo mudo, Viviane Sassen & Dijaimilia Pereira de Almeida

Duas visões de uma infâmia, Dorothea Lange & Ansel Adams & Dorrit Harazim

[entrevista] Compreender por meio da fotografia, Georges Didi-Huberman & Arno Gisinger

O construtor de paradoxos, León Ferrari & Paulo Sérgio Duarte

Revolução urbana, Takuma Nakahira & Duncan Forbes

William Klein (1967), William Klein & Takuma Nakahira

Cenas de um crime, Alphonse Bertillon & Luce Lebart

Edifício Holiday, Walter Carvalho & José Luiz Passos

Pegue. Apalpe. Folheie. Contra o pudor e a vergonha do corpo, a holandesa Viviane Sassen apresenta a maternidade e a negritude em retratos carregados de simbolismo. Três décadas antes, Paz Errázuriz frequentou os bordéis da ditadura chilena para proteger as transexuais que mantinham a dignidade em uma vida clandestina. “As minorias são a maioria”, disse com empatia acachapante. A liberdade esculpida em sofrimento é assunto do artigo de Dorrit Harazim, que compara as visões de Dorothea Lange e Ansel Adams diante do decreto da Segunda Guerra Mundial que confinou nipo-americanos com base na origem e na aparência. No começo do século 20, o criminologista francês Alphonse Bertillon também usou a aparência para instrumentalizar a polícia – prova de que a fotografia pode servir a usos tão originais quanto suspeitos.

Em entrevista exclusiva, o filósofo francês Georges Didi-Huberman trata da imagem como ato de criação e resistência, e confessa ser um fotógrafo bissexto. Palavra e imagem estão na síntese explosiva do argentino León Ferrari que justapõe a Bíblia com a iconografia chinesa, cristã e jornalística. O japonês Takuma Nakahira revelou o corpo das cidades e lutou contra o idealismo modernista que submetia o mundo à visão do artista. Sua obra radical, exposta na Bienal de Paris em 1971, vibra com a mesma inquietação de seu mestre William Klein, homenageado por Nakahira em texto de alto calibre. Em franca sintonia, o fotógrafo e perito Marcos Freire apresenta os lares paulistanos e as recentes transformações sociais do país. Agudo na denúncia, o cineasta Walter Carvalho expõe os dilemas da habitação coletiva, num misto de desencanto e utopia costurados com agudeza pelo escritor pernambucano José Luiz Passos. A fotografia é nosso espelho involuntário.

 

 

# 12

abril de 2017

Cabeças esculpidas, J. D.’Okhai Ojeikere & André Magnin

Missão francesa, André Penteado & Thyago Nogueira

Volta ao mundo, Ed van der Elsken & Hripsimé Visser

[entrevista] A luta do cinema indígena, Vincent Carelli & Ana Carvalho & Fabiana Moraes

Se fôssemos assim, Titus Riedl & Maria Angélica Melendi

Entre o banal e o mito, Robert Lebeck & Lorenzo Mammì

Verdadeiro ou falso, Mauricio Puls

Vida e morte de @ex_miss_febem, Aleta Valente & Ivana Bentes

Estrela da noite, Vania Toledo & Silas Martí

“Marcas da indiferença”: aspectos da fotografia na, ou como, arte conceitual (1995), Jeff Wall

Desde o big bang do século XIX, o universo fotográfico segue em expansão. Celulares engoliram câmeras, câmeras devoraram filmadoras, e uma torrente visual se derramou sobre os feeds. Nesta edição, a fotografia é dissecada para revelar sua associação com outras disciplinas e expor os contornos de um mundo que exige pesquisa e reflexão. É o que sugere a caveira da capa, um irônico retrato descarnado feito por André Penteado em sua pesquisa sobre a Missão Francesa. Como um arqueólogo, o fotógrafo coletou cacos visuais para enriquecer o quebra-cabeça da história do Brasil. O assunto também é enfrentado pelo ensaísta Mauricio Puls ao discutir o sentido de verdadeiro e falso em nossas imagens de imprensa. O nigeriano J. D.’Okhai Ojeikere uniu antropologia e tipologia num estudo de penteados que expõe as raízes de uma tradição cultural efêmera.

Além de belos objetos fotográficos, os retratos pintados narram uma história íntima da fotografia popular que ainda precisa ser traçada. As selfies de @ex_miss_febem escancaram a autoexposição e o exibicionismo do século 21 para discutir a exploração visual do corpo feminino. A linguagem do amadorismo reaparece em texto histórico do artista Jeff Wall sobre o bê-a-bá estético da moderna fotografia de arte. Objeto de memorável retrospectiva, Ed van der Elsken exibe seu olhar estrangeiro no cinema e na fotografia, em livros e projeções, enquanto Vania Toledo vasculha as criaturas noturnas de seu arquivo. Por fim, as oficinas do Vídeo nas Aldeias são exemplo original e bem-sucedido de democratização da imagem. Ganhamos um admirável mundo novo.

# 11

outubro de 2016

Uma por todas, Zanele Muholi & Bronwyn Law-Viljoen

Limbo, Arthur Omar & Adolfo Montejo Navas

Dança sélfica, Joan Fontcuberta & Martin Parr

[entrevista] Um surrealista no Brasil, Fernando Lemos & Rubens Fernandes Junior

Cartografia da memória, Gerhard Richter & Joerg Bader

A cidade dos invisíveis, José Domingo Laso & François Laso

Memento, Coletivo Trëma

Gabinete fantástico, Mario Ramiro

Porque é importante, Thomas Hirschhorn & Tobi Maier

ESTA EDIÇÃO MARCA OS 5 ANOS DE ZUM, publicação semestral que apresenta uma seleção variada e criteriosa da produção visual brasileira e internacional. Enquanto ventos conservadores varrem parte do planeta, ZUM engaja-se em mostrar imagens que contenham temas relevantes e urgentes. Há mais de dez anos, Zanele Muholi reafirma o poder dos retratos na série Faces e fases, em que centenas de mulheres negras lésbicas e transgêneros compõem um libelo contra os padrões de comportamento, a violência e o preconceito. Outros conflitos aparecem na edição: na série de Arthur Omar feita para ZUM com a sobreposição das fotos que tirou durante viagem ao Afeganistão em 2002, logo após a invasão do país pelos Estados Unidos; na obra política do alemão Gerhard Richter, enfocada a partir do embate entre fotografia e pintura; na limpeza étnica promovida há 100 anos pelas imagens do equatoriano José Domingo Laso; e nas terríveis colagens de Thomas Hirschhorn, feitas com cenas de violência explícita para, segundo o manifesto do artista, tirar o espectador da letargia.

Questões sociais também permeiam o trabalho do coletivo Trëma, vencedor da Bolsa de Fotografia ZUM/IMS de 2015. Usando como mote depoimentos colhidos no Brasil, o Trëma viajou ao Congo e à Colômbia para fotografar as memórias de dois imigrantes que desembarcaram aqui no ano passado. Para garantir o clima de celebração, ZUM homenageia o genial Fernando Lemos, que revê a carreira e discorre sobre os princípios que norteiam sua arte a partir de fotos produzidas em Portugal entre 1945 e 1952, algumas delas inéditas. Com uma análise afiada das selfies, o catalão Joan Fontcuberta mostra que a fotografia tem deixado de servir à preservação da memória para virar um elemento de comunicação. Na abertura da revista, ZUM resgata oito narrativas xerográficas de Mario Ramiro. O artista e professor reaparece na edição com um extrato de sua tese de doutorado, que estuda as fotografias de espíritos produzidas no Brasil e explora a relação entre fotografia e verdade, ciência e religião. Quando se fala de imagem, nem tudo é o que parece ser.

# 10

abril de 2016

Nova arquitetura andina, Tatewaki Nio & Nelson Brissac Peixoto

Escarificações, Odires Mlászho & Jorge Coli 

Um certo mal-estar, Lars Tunbjörk & Christian Caujolle

Os experimentos de José Oiticica Filho, José Oiticica Filho & Andreas Valentin 

Teatro do absurdo, Boris Mikhailov & Francesco Zanot

[entrevista] As irmãs Brown, Nicholas Nixon & Sarah Meister

Canal Motoboy, Antoni Abad & Daigo Oliva

Assombroso mundo novo, Michael Wesely & Guilherme Wisnik

Questão de pele, Lorna Roth

[retícula] A guerra é bela, David Shields & Dorrit Harazim

PARA CELEBRAR esta décima edição, ZUM apresenta ensaios fotográficos novos e históricos, além de textos escritos especialmente para a revista. Num trabalho de resgate exemplar, o professor Andreas Valentin revê a obra de José Oiticica Filho, que uniu conhecimento científico e artístico para desafiar a relação entre realidade e fotografia. Tatewaki Nio, autor da fotografia da capa desta edição, cruzou a fronteira do Brasil para registrar a surpreendente arquitetura da Bolívia, com prédios que às vezes parecem jukeboxes montadas no Photoshop. A reflexão sobre a circulação das imagens ganha força em três artigos. Em duas séries distintas, Odires Mlászho escarifica o verso de fotografias publicadas em jornais e transforma em serpetinas figuras tiradas de livros, numa busca obsessiva para entender como se transformam as imagens quando delas se extraem a forma, o contexto e a tinta. Dorrit Harazim, colaboradora assídua da revista, resenha o polêmico livro de David Shields que contesta a imparcialidade da cobertura visual de guerra do New York Times – reflexão criteriosa, que merecia se estender à imprensa tupiniquim.

A professora canadense Lorna Roth questiona a neutralidade da tecnologia fotográfica ao resgatar a história dos cartões Shirley, usados desde os anos 1940 para padronizar o tom de pele nas fotografias. A discussão de como as ferramentas digitais podem fortalecer a identidade de um grupo é o foco do artigo sobre o Canal Motoboy, uma espécie de rede social de imagens replicada em diversos lugares do mundo. ZUM traz ainda a série completa de retratos de Nicholas Nixon sobre a passagem do tempo na vida de quatro mulheres; o tempo condensado de Michael Wesely nas imagens da reforma da Potsdamer Platz, em Berlim; a produção incendiária do ucraniano Boris Mikhailov, que expôs os conflitos sociais e políticos de seu país; e o estranho humor em Technicolor do sueco Lars Tunbjörk, que morreu em 2015, no auge de sua produção. Boa leitura.

# 9

outubro de 2015

O voo de George Love, George Love & Douglas Canjani

Pássaro solitário, Graciela Iturbide & Dorrit Harazim

Avenida Celso Garcia, Lucia Mindlin Loeb & Mauricio Puls

Sob controle, David Levi Strauss

Imagens gravadas, Saul Bellow

Ai Weiwei sem filtro, Ai Weiwei & Urs Stahel

Sobre a fotografia, Ai Weiwei

Os trabalhos e os dias, Eduardo Viveiros de Castro & Miguel Rio Branco

[entrevista] A invenção de Lucien Hervé, Lucien Hervé & Hans Ulrich Obrist

Verificações, 1971-72, Ugo Mulas & Giuliano Sergio

PARA LEMBRAR os 20 anos da morte de George Love, fotógrafo americano que viveu no Brasil entre as décadas de 1960 e 1980, ZUM publica retratos e paisagens que opõem a tensão frenética das cidades a visões paradisíacas e apocalípticas. Em diapasão menos exaltado, a dama da fotografia mexicana Graciela Iturbide revela mulheres que parecem monumentos esculpidos em pedra. Numa entrevista esclarecedora, Lucien Hervé, morto em 2007, relembra sua trajetória e mostra que a boa fotografia é feita de tijolos de ideias. O fascínio pelas cidades costura o levantamento fotográfico de Lucia Mindlin Loeb. Suas ruas desabitadas, fotografadas com dez anos de diferença, são um contraponto perfeito à vida gregária dos Araweté, registrada informalmente nos anos 1980 pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro.

Em tempos de bits e bytes, ZUM resgata os históricos testes fotográficos concebidos pelo italiano Ugo Mulas para mostrar como a suposta imparcialidade da imagem pode servir aos propósitos mais ambíguos. De Mulas a Saul Bellow, não falta desconfiança a esta edição – sentimento também compartilhado pelo professor David Levi Strauss, que analisa o sentido político de casos famosos de manipulação fotográfica. Atrevimento político faz parte dos disparos da metralhadora visual de Ai Weiwei, que mirou o governo chinês e acertou o nosso admirável mundo de imagens.

# 8

abril de 2015

O êxtase do lugar-comum, Rinko Kawauchi & David Chandler

A arte de corrigir a realidade, Regina Silveira & Teixeira Coelho

[entrevista] Embalos noturnos, Nan Goldin & Philip Larratt-Smith

As múltiplas vidas de Lee Miller, Lee Miller & Dorrit Harazim

As construções de Lewis Baltz, Lewis Baltz & Sandra S. Phillips

Em campo, Eustáquio Neves & Moacir dos Anjos

Por que fotolivros são importantes, Gerry Badger

Passageiro da Luz, A. C. d'Ávila & Pedro Afonso Vasquez

[retícula] Um homem de contradições, Sebastião Salgado, Francisco Quinteiro Pires & Rodrigo Naves

POUCAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS são tão diversas quanto a fotografia. E diversidade não falta a esta edição. Do reino da delicadeza, Rinko Kawauchi traz suas pérolas fotográficas, ampliando o apuro estético que marca a fotografia japonesa. Desafiando os limites da imagem, a artista Regina Silveira constrói um espaço tridimensional em duas séries distintas e mostra como a sua produção atual tem origem na fotografia – seja nos cadernos de postais, dois deles reproduzidos em escala natural, seja na série Enigmas, que combina a foto de um objeto com uma sombra ampliada à maneira de um fotograma. Rinko e Regina produziram publicações e livros de artista, onda crescente na cena contemporânea. Para guiar o leitor nessa maré, Gerry Badger dá um giro por aqueles que considera os livros mais importantes da história da fotografia.

Com obra fascinante e vida intrépida, a fotógrafa Lee Miller tem sua história contada à altura por Dorrit Harazim. Não menos corajosa, a americana Nan Goldin solta o verbo contra a censura de imagens e mostra que seu trabalho é a expressão perfeita de sua vida. Sucesso de público, e nem sempre de crítica, as novas aventuras de Sebastião Salgado são analisadas sob diferentes luzes. ZUM faz homenagem póstuma a Lewis Baltz e A. C d’Ávila, que deixaram boas lições visuais durante o século 20. E, enquanto o 7 a 1 se firma como o placar dos tempos sombrios, Eustáquio Neves ensina a duvidar da arte e do que mais ofereça uma visão cristalina.

 

# 7

outubro de 2014

Pé na estrada, Daido Moriyama

O clique único de Assis Horta, Assis Horta & Dorrit Harazim

Que país é este?, Alex Majoli, André Vieira, Bárbara Wagner, Breno Rotatori, David Alan Harvey, Garapa, Jonas Bendiksen, Mídia Ninja, Pio Figueiroa, Susan Meiselas, por Laura Capriglione

Uma batalha de imagens, Hilary Roberts

Para onde foi a senzala?, Mauricio Lissovsky

A fotografia como objeto pós-industrial (1985), Vilém Flusser & Márcio Seligmann-Silva & Mario Santamaría

 

A HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA é uma história de lacunas. Para cada nome consagrado, outros tantos ainda precisam ser descobertos ou reconhecidos. É o caso de Assis Horta, garimpado nas jazidas fotográficas de Diamantina. O apuro do trabalho, a amplitude da produção e o fato de suas fotos terem sido preservadas por décadas já garantem ao mineiro de 96 anos posto de honra nas enciclopédias de fotografia e de história social brasileiras.

Nos últimos 100 anos, a fotografia de guerra debateu-se com a manipulação das imagens, ajudando a definir critérios que até hoje rendem discussões acaloradas. Em artigo encomendado por ocasião do centenário da Primeira Guerra Mundial, a historiadora Hilary Roberts mostra como a ideia de verdade fotográfica moldou-se durante o conflito, no embate entre os princípios éticos do jornalismo, os avanços da técnica e a cobrança dos que se arriscavam no front.

Na edição passada da ZUM, Fred Ritchin, professor de fotografia da Universidade de Nova York, criticava a visão tradicional do fotojornalismo e convocava fotógrafos e editores a explorar novos caminhos. O projeto Offside, organizado pela agência Magnum durante a Copa do Mundo, é um passo nessa trilha. Em junho e julho deste ano, enquanto espectadores e jornalistas concentravam-se nos gramados, oito fotógrafos e dois coletivos se uniram para narrar uma história paralela ao evento. De haicais urbanos à teatralidade cotidiana, passando por tipos sociais e religiosos, os fotógrafos definiram suas pautas e circularam pelo país para produzir o material que compõe o especial desta edição.

Poucos fotógrafos abraçaram o espírito on the road como o mestre japonês Daido Moriyama. Conhecido por técnicas pouco ortodoxas, como disparar a câmera sem olhar pelo visor ou editar livros com máquinas de xerox, Daido compara a aventura de cair na estrada à experiência de ler dezenas de livros, numa das mais belas reflexões de sua carreira.

Há quase 30 anos, o filósofo Vilém Flusser sugeria que a fotografia eletromagnetizada seria a ponta de lança de uma revolução cultural. Livre do suporte, a imagem circularia amplamente e abriria caminho para o pleno funcionamento da democracia. Utópico e premonitório, Flusser não imaginava o rumo que tomaria a nossa vida digital, mas defendia uma análise crítica das imagens como ferramenta preciosa para entender o que se passa ao nosso redor. É essa visão que baliza a ZUM e que está no cerne do ensaio de Mauricio Lissovsky, ao mostrar como a foto de capa de um livro pode refletir uma transformação social de consequências dramáticas e profundas.