Exposições

Por dentro do Kyotographie 2019, um dos principais festivais de fotografia da Ásia

Camila Alam & Daniel Salum

Fachada da Galeria Shimadai, um dos locais de exposição do festival Kyotographie 2019, em Quioto, Japão. Crédito da foto: Daniel Salum

Quioto, cidade sede da 7ª edição do festival de fotografia Kyotographie, foi capital do Japão por mais de mil anos (de 794 a 1868) e tornou-se símbolo do “espírito” japonês. Isso é percebido em suas diversas instituições que exaltam a cultura do país, como as escolas de cerimônia do chá (cha-no-yu ) e de arranjos florais (ikebana); a arte do teatro Noh e Kabuki e da dança tradicional; ou as obras-primas de caligrafia, pintura, escultura e arquitetura que podem ser encontradas por toda a cidade. Existe no ar um forte sentimento de pertencimento à tradição, o que faz com que todos os japoneses queiram ir para lá pelo menos uma vez na vida.

Realizado durante a primavera, o Kyotographie, que teve como inspiração primeira o Festival de Arles na França, é um dos poucos eventos artísticos verdadeiramente internacionais que ocorrem no Japão. Criado pela fotógrafa francesa Lucille Reyboz e pelo diretor de iluminação japonês Yusuke Nakanishi, com quem conversamos durante uma das exibições, a ideia do festival surgiu em 2011, após o grande terremoto que atingiu o leste do Japão e causou o colapso da usina nuclear de Fukushima. Perceberam ali a necessidade de realizar algo pelo país e construírem uma plataforma própria para o fomento, valorização e divulgação de artistas locais, já que, segundo o casal, a fotografia japonesa contemporânea tem pouca visibilidade fora e dentro do país. “Também ficou evidente, na época do acidente nuclear, o quanto a informação dentro do país é controlada pelo Governo e, com isso, a necessidade de se criar canais independentes e autônomos”, comentou Reyboz.

Um festival fundado por uma francesa e um japonês já nasce internacional e desde de seu início os diretores buscaram independência financeira do Governo, por meio de patrocínios junto a empresas de outros países e embaixadas. Segundo Nakanishi, é um evento feito por artistas, para artistas, sem nenhuma relação direta com o meio acadêmico.  A escolha de Quioto se deve ao fato de a cidade ser um dos locais mais atraentes do Japão, “um palco perfeito”. Seu tamanho se assemelha a uma cidade grande europeia, com cerca de 1,5 milhão de habitantes, o que torna possível incorporar diferentes bases para o festival. “Pensamos que poderíamos não só apresentar o valor da fotografia em um contexto internacional, mas, ao mesmo tempo, comunicar várias mensagens, como a magnificência da cultura e da arquitetura japonesa, a estética da tecnologia e as tradições artísticas do país”, ressalta o diretor.

O Kyotographie se coloca como um festival democrático, sempre em movimento, sem tabus ou restrições.  De 2013 (ano de sua criação) para cá, cresceu muito e hoje se tornou referência na Ásia, não só expondo jovens fotógrafos japoneses, mas também grandes nomes da fotografia internacional. Um tanto abstrato, o tema do evento este ano é Vibe, e, nas palavras de Lucille e Yusuke, está diretamente relacionado a uma sensação de algo que  “está no ar” nesse atual momento na sociedade japonesa, algo que não se vê, um clima pesado onde os indivíduos se calam e o silêncio prevalece. “Se há insatisfação, as coisas devem ser faladas, a sociedade como um todo deve ser mais aberta, seguir seus sentimentos”, acredita Yusuke.

Falar abertamente sobre sentimentos não é algo comum no Japão. Por isso, um dos trabalhos que chama a atenção é o do fotógrafo Kosuke Okahara. No projeto Ibasyo – Autoflagelação / Prova de existência, Okahara documenta a vida de seis jovens japonesas que se autoflagelam. Em japonês, ibasyo refere-se ao espaço físico e emocional onde se pode existir. Violência doméstica, estupro e intimidação são algumas das razões por trás desse tipo de autopunição. A cultura da vergonha, inerente à sociedade japonesa, impede muitas vezes que essas histórias sejam contadas. Segundo Okahara, a violência doméstica e casos de estupro ocorrem em muitas famílias, mas, na maioria dos casos, as vítimas optam por permanecer em silêncio. Diante da depressão e distúrbios relacionados ao pânico, são incapazes de viver uma vida normal e o ato de molestarem a si mesmas se torna uma forma de punição, ao mesmo tempo em que alivia a ansiedade e o estresse. Esse comportamento destrutivo se tornou o caminho para reafirmarem sua própria existência. Quando vêem suas cicatrizes, a sensação de desprezo se reforça e o ciclo vicioso entra em marcha. Para o fotógrafo, as meninas perderam contato com seu ibasyo.

Exposição Ibasyo – Autoflagelação / Prova de existência, de Kosuke Okahara, no festival Kyotographie 2019. Foto divulgação.

O espaço expositivo escolhido para mostrar o trabalho de Okahara é dividido em seis pequenas salas, cada uma narrando uma história, interligadas por portas pequenas e baixas, que obriga os visitantes a se curvarem para entrar. Ambientes escuros, paredes cinza e luzes pontuais iluminam as imagens que estão fixadas nas paredes apenas com alfinetes.  A experiência no espaço se torna desagradável e claustrofóbica, tentando nos aproximar, em alguma instância, da sensação de não pertencimento que essas meninas experimentam.  Do lado de fora estão seis livros com as imagens do projeto que durou cerca de oito anos. Metade das páginas mostra as fotografias e a outra metade Okahara deixou em branco.  Ao longo do tempo, tais páginas foram preenchidas por visitantes das exposições realizadas com mensagens para as meninas. Uma vez completo o livro, o fotógrafo deu um exemplar para cada uma das participantes do projeto.

Foto da série What a wonderful world, de Weronica Gesicka, 2019. Cortesia do festival Kyotographie 2019

Outra exposição do festival que investiga o comportamento em sociedade é a da fotógrafa polonesa Weronica Gesicka, jovem artista selecionada no Foam Talent 2017 e que vem ganhando destaque em mostras europeias e asiáticas. A exposição What a wonderful world  faz alusão à composição interpretada pelo músico norte-americano Louis Amstrong no fim da década de 1960, um período turbulento da história dos Estados Unidos, onde a segregação racial, as lutas pelos direitos civis, a guerra do Vietnã e os assassinatos de Martin Luther King e John F. Kennedy faziam do país um lugar de extremos.  Gesicka constrói suas imagens a partir de fotografias de famílias, cenas de férias e da vida cotidiana de lares americanos dos anos 1950-1960, todas elas compradas em bancos de imagens. Fotos de famílias que aparentam viver o “sonho americano”, com suas casas de subúrbio, gramados verdes e um permanente sorriso no rosto.  Não conhecemos a identidade das pessoas nas imagens, a relação entre elas ou o propósito da foto, tampouco o fotógrafo que as retratou. A impressão que fica é que os gestos e olhares dos retratados parecem falsos e encenados, um cenário quase perfeito demais para ser verdade.

Quando Gesicka aplica suas técnicas de fotomontagem e manipula as imagens com seu olhar crítico, parece haver mais vida e realidade nelas do que as fotografias originais poderiam revelar, deixando espaço para o espectador projetar suas próprias histórias e experiências nas imagens construídas.  Como parte de seu processo criativo, a artista polonesa incorpora a computação gráfica e a impressão 3D ao seu trabalho, mas não deixa de evocar, ao mesmo tempo, estéticas do dadaísmo e do surrealismo. Em uma segunda sala da exposição, ela transforma objetos cotidianos domésticos em objetos não-funcionais e perturbadores – como uma corda feita de arame farpado ou um berço construído com cerca pontiaguda – materializando, em parte, o que vemos nas fotografias. Essa linha tênue entre a percepção e a memória é um tema chave em seu trabalho, nos lembrando que o que nos resta é sempre a interpretação e não os fatos, que tudo é construção e, principalmente, no caso da fotografia, representação. Seguindo a ideia do festival de ocupar espaços da cidade não convencionais para exibições, a sua mostra toma um prédio construído em 1608 inicialmente para o comércio de seda e o transforma no interior de uma casa de família americana dos anos 1960.

 

Fotografia de Alberto Korda da exposição Sobre ela, sobre mim, sobre eles: Cuba através da arte e da vida de três fotógrafos, no festival Kyotographie 2019

Um rastro latino

A fotografia foi a linguagem mais presente na realidade cubana a partir de 1959 (pós-revolução) e assumiu o papel de comunicadora por excelência das novas reformas sociais e de seus protagonistas. O mundo estava voltado para Cuba, que transmitiu suas mensagens ao mundo por meio da fotografia. Na mostra Sobre ela, sobre mim, sobre eles: Cuba através da arte e da vida de três fotógrafos, o festival oferece um recorte de três gerações diferentes da fotografia cubana, com obras de Alberto Korda, Alejandro González e René Peña, que ocupam um prédio de bares e galerias no bairro de Gyon.

Alberto Korda, maior nome da fotografia cubana, é o principal destaque da mostra. Mas o que vemos aqui não são imagens vinculadas à política, tampouco o retrato icônico que fez de Che Guevara. Em sua maioria, vemos fotos que Korda realizou em seu estúdio comercial em Havana no período pré-revolução, principalmente campanhas de moda e publicidade.  São retratos de mulheres (daí o Sobre ela do título), tudo muito diferente do imaginário que cerca seu trabalho. Se por um lado é curioso ver essa outra faceta do fotógrafo, que ajuda a compreender um contexto mais amplo de sua carreira e todo processo de transformação de seu trabalho junto à Revolução Cubana, fica faltando justamente esse contraponto, para traçar assim seu real percurso e importância dentro da fotografia.  Ao olhar tais imagens isoladamente fica difícil a associação com o que habitualmente conhecemos sobre o fotógrafo e assim compreender as mudanças que ocorreram tanto no país como em sua fotografia.

Incorporando o Sobre eles, o trabalho de Alejandro González, o mais novo dos três, explora as lacunas de histórias não contadas e parcelas da sociedade que não estão representadas na fotografia oficial cubana. Em Quioto, González apresenta duas séries: Reconstrução, onde constrói maquetes de papelão de momentos famosos da história socialista cubana e depois os fotografa; e Conduta imprópria, composta por retratos da comunidade LGBT do país, alvo de forte discriminação.  Duas séries interessantes, que mostram um momento mais atual de Cuba e uma fotografia que dialoga diretamente com uma linguagem mais contemporânea. Infelizmente, o espaço expositivo restrito impede que vejamos as duas séries completas e a apresentação do trabalho do artista acaba fragmentada.

Finalizando a exposição, o Sobre mim apresenta o trabalho de René Peña, que usa seu próprio corpo como pano de fundo, mas diz não fazer autorretratos.  Segundo o artista, a questão central de seu trabalho é a relação que se estabelece entre indivíduos e instituições – família, educação, partidos políticos e religião. Traz questões relacionadas à individualidade e à identidade e como lidamos com nós mesmos enquanto entidades sociais. Dos três trabalhos apresentados, foi o que se mostrou mais coeso e bem resolvido como exposição.

Exposição A marmita está pronta, de Atsushi Fukushima, na KG+ Select 2019. Crédito da foto: Daniel Salum

KG+ 2019

Realizado em paralelo ao Kyotographie desde o primeiro ano, o KG+ é um evento voltado para a descoberta de novos artistas. Dirigido por Philippe Bergonzo, curador francês que há 20 anos mora no Japão, o evento é realizado nas mesmas datas do festival, mas seu calendário possui programação e locações diferentes. Dividido em dois, é composto pela frente KG+ Satellite, que incentiva artistas inscritos a exporem pela cidade de maneira independente, ocupando cafés, livrarias e outros espaços alternativos de Quioto com centenas de trabalhos que passaram pela curadoria do festival. A segunda frente, e mais importante, é a KG+ Select, em que 12 artistas inscritos são selecionados para uma mostra especial, com verba para produção de suas exibições e com um fotógrafo escolhido para participar do programa oficial do Kyotographie no ano seguinte.

Exposição A marmita está pronta, de Atsushi Fukushima, na KG+ Select 2019. Crédito da foto: Daniel Salum

Nos últimos dois anos, o KG+ Select acontece na Junpu, uma antiga escola primária da cidade que deixou de funcionar por falta de alunos. O local está desativado, mas segue intacto, com laboratórios e salas de aula equipadas. Para o festival, suas classes são desmontadas e cada artista planeja a montagem de seu espaço. Este ano, além de fotógrafos japoneses como Tsubasa Fujikura e Keiji Fujimoto, a seleção trouxe artistas de países como França (Armelle Kergall), Estados Unidos (Garrett O. Hansen) e Coreia do Sul (Sangsun Bae). A escolha do júri, entretanto, foi para o país sede.

O projeto A marmita está pronta, do japonês Atsushi Fukushima, faz uma reflexão delicada e atual sobre a maneira como a sociedade trata seus idosos. O Japão é hoje a nação com maior percentual de idosos acima de 65 anos, cerca de 25% dos seus 126 milhões de habitantes. Se, na maioria das vezes, eles ocupam lugar de respeito e refletem a sabedoria ancestral, também sofrem com o abandono e a solidão. Durante meses, Fukushima trabalhou como entregador de marmitas a alguns destes idosos solitários e passou a registrar seus dias, casas e vida cotidianas. Na sala de aula que abriga a exposição, suas fotografias são exibidas no chão, em formatos retangulares que lembram bentōs, as marmitas japonesas.///

 

Daniel Salum é fotógrafo e professor, bacharel em fotografia pelo Senac-SP. Ministra aulas no MAM-SP e na Escola Panamericana de Arte e coordena grupos de estudos voltados ao desenvolvimento da linguagem fotográfica. Desde de 2014 desenvolve pesquisa sobre a fotografia japonesa do pós-guerra e contemporânea. Participou de diversas exposições coletivas e individuais no Brasil e no exterior.

Camila Alam é jornalista de cultura e produtora de conteúdo, especialista em História da Arte. Nos últimos treze anos, passou pelas redações das revistas CartaCapital, Trip e Tpm. Atualmente realiza projetos de conteúdo digital para marcas.

 

Exposições

Uma seleção de exposições no Brasil para quem gosta de fotografia

Veja uma seleção de exposições no Brasil (e, aqui, no exterior) para quem gosta de fotografia:

 São Paulo

 

Taswir, a fotografia árabe contemporânea

A mostra reúne uma importante seleção do acervo de fotografia do Institut du Monde Arabe – IMA, de Paris. Os artistas e as obras selecionadas integraram a 2ª Bienal de Fotografia do Mundo Árabe e a exposição Cristãos do Oriente – 2.000 anos de história (IMA), ambas realizadas na capital francesa em 2017 e 2018 respectivamente. São cerca de 70 trabalhos de 14 artistas oriundos ou atuantes em várias regiões da África, Golfo Arábico e Oriente Médio. Foto de Tasneem Alsultan.

Instituto Tomie Ohtake, até 28 abril

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Estado da natureza – Pedro Motta

A exposição apresenta cerca de 45 trabalhos do fotógrafo mineiro Pedro Motta, divididos em três grandes séries: Naufrágio calado (2016/2018), Falência # 2 (2016) e Já Sumidouro (2016). Nessa mostra, Pedro Motta propõe novos desmembramentos de sua pesquisa sobre a tênue linha entre elementos naturais e o comportamento humano, seus atritos, convergências e relações.

Centro Cultural Fiesp, até 12 de maio

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Maria, José e menino

Parte do programa Nova Fotografia 2019 no MIS, a exposição Maria, José e menino apresenta a obra da fotógrafa Marina Schiesari. De acordo com a artista, a mostra explora a ambiguidade de um núcleo familiar marcado por pensamentos divergentes e, apesar disso, também por uma vontade de manter a convivência.

MIS, até 12 de maio

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O que os olhos alcançam – Cristiano Mascaro

A exposição reúne cerca de 180 imagens do acervo do artista e de outras instituições e traça um amplo panorama da trajetória do fotógrafo, atuante há 50 anos na cena fotográfica paulistana, brasileira e internacional.O que os olhos alcançam apresenta fotografias e documentos variados que apontam os diversos caminhos percorridos pelo artista. A exposição se organiza em diferentes núcleos, que criam uma espacialização sem ordem cronológica, mas quando articulados dão a exata dimensão de sua obra.

Sesc Pinheiros, até 23 de junho

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Só Love

 

A exposição Só Love discute a manifestação do amor, sedução e sexualidade nos espaços públicos de São Paulo, e como a cidade reagiu a estas questões nos últimos cem anos. Lugares históricos do flerte, como a Ilha dos Amores (Parque Dom Pedro II), Belvedere Trianon e Praça da República estão representados por fotos de Armando Prado [foto], Carlos Moreira, Cristiano Mascaro, Thomaz Farkas e Chico Vizzoni. Os motéis de curta permanência e os espaços de encontros que exercem a função de tornar privativos os locais de sexo ocupam duas salas com obras de Lula Ricardi, Edu Marim, Roberto Wagner e Leo Sombra.

O visitante também poderá observar registros fotográficos que demonstram as políticas públicas de controle da visibilidade do sexo, como a delimitação de uma área de tolerância à prostituição no bairro do Bom Retiro durante o Estado Novo, bem como a repressão à prostituição durante a Ditadura Militar na Boca do Lixo e Boca do Luxo, documentada por Juca Martins na década de 1970. Também são expostos trabalhos de fotógrafas pelo reconhecimento das questões da mulher e de gênero, com obras de Nair Benedicto, Márcia Alves, Rosa Gauditano e do coletivo Amapoa.

Casa da Imagem, até 7 de julho

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Marc Ferrez: Território e imagem

A exposição apresenta a extensa obra do fotógrafo realizada por todo o país ao longo de mais de 50 anos de sua atuação profissional, entre 1867 e 1923. Marc Ferrez (1843–1923) percorreu as regiões Nordeste, Norte e Sudeste como fotógrafo oficial da Comissão Geológica do Império do Brasil (1875-1878), e as regiões Sul e Sudeste como fotógrafo das principais ferrovias em construção e modernização naquele momento.

A mostra conta com mais de 300 itens do acervo do IMS e de outras instituições, incluindo fotografias e álbuns originais, negativos de vidro, estereoscopias, autocromos, câmeras e equipamentos fotográficos, documentos originais e correspondências.

IMS Paulista, até 21 de julho

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O Tempo Mata – Imagem em movimento na Julia Stoschek Collection

Exposição no Sesc Avenida Paulista exibe obras selecionadas de uma das mais importantes coleções globais de arte temporal iniciada em 2007 pela colecionadora que lhe dá nome e sediada em Berlim e Dusseldorf, na Alemanha. A mostra reúne trabalhos de 17 artistas, em filmes e vídeos, cobrindo mais de seis décadas de produção audiovisual, e apresentando obras de nomes como Douglas Gordon, Rachel Rose, Chris Burden, Monica Bonvicini e Jack Smith

Sesc Avenida Paulista, até 21 de julho

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Brasília

 

50 Anos de realismo – Do fotorrealismo à realidade virtual

A exposição apresenta cerca de 90 obras, entre pinturas, esculturas, vídeos e instalações digitais, de 30 artistas contemporâneos como John DeAndrea, Ben Johnson, Craig Wylie e os brasileiros Fábio Magalhães, Giovanni Caramello, Hildebrando de Castro e Regina Silveira, entre outros.

Centro Cultural Banco do Brasil, até 28 de abril

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Belo Horizonte

 

Wilson Baptista – Urbano fotográfico

A exposição apresenta um recorte de 44 fotografias em preto e branco do acervo, estimado em cerca de trinta mil negativos, do belo-horizontino Wilson Baptista. Por meio do olhar do fotógrafo, é possível perceber as transformações urbanas, arquitetônicas e sociais que ocorreram no centro da capital mineira entre as décadas de 1930 e 1960.

CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais, até 25 de maio

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Fortaleza

 

Roger Ballen: Mind games

O Museu da Fotografia Fortaleza apresenta a exposição Mind games, do fotógrafo norte-americano Roger Ballen, conhecido por evocar o absurdo da condição humana e por criar imagens perturbadoras e inesperadamente familiares, que são o reflexo de uma jornada psicológica pessoal.

Museu de Fotografia Fortaleza

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Terra em transe

A exposição Terra em Transe reúne 53 autores e fotógrafos brasileiros em obras que são “retratos” ou “autorretratos” do Brasil, com referência também ao filme de Glauber Rocha que dá nome à mostra. São registros do século 20 à atualidade que mostram o contínuo convívio do país com abalos físicos e mentais nacionais, mas que se reequilibra também em focos criativos e de pensamentos originais.

MAC-CE, até 30 de abril

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Exposições

Robert Mapplethorpe: Exposição em Nova York marca os 30 anos da morte do artista

Cadão Volpato & Robert Mapplethorpe

Robert Mapplethorpe, Autorretrato, 1985. Museu Solomon R. Guggenheim Museum, presente da Fundação Robert Mapplethorpe © Fundação Robert Mapplethorpe

Não há quem fique indiferente a Tensões implícitas: Mapplethorpe agora, a exposição mais importante de Nova York no momento. Em cartaz até o final de 2019 no Museu Guggenheim, ela apresenta um apanhado mais do que eloquente da obra de Robert Mapplethorpe, uma das mais impactantes do século 20. Impacto ainda mais notável nesses dias de conservadorismo redivivo.

Ainda que estranhamente fria e controlada, como, aliás, costumava ser o trabalho de Mapplethorpe, Tensões implícitas é um tapa na cara. Órgãos sexuais masculinos convivem em harmonia com flores, corpos perfeitos de homens e mulheres brancos e negros e cenas de sadomasoquismo. Por trás de tudo isso há o olhar de um esteta, de um artista atento às luzes e às sombras, como um pintor ou escultor renascentista armado de uma câmera Hasselblad. Mapplethorpe fotografava como um clássico, embora sempre empurrasse o resultado para além da fotografia.

Como ficar indiferente a Homem em terno de poliéster, a imagem do dorso de um homem negro vestido com um terno de três peças, do qual escapa um pênis semi-ereto? Esta foto de 1980, cujo modelo, Milton Moore,  foi um dos amantes do artista, impressiona pelo conjunto. Como se a elegância do terno em contraste com a crueza do pênis exposto revelasse o próprio método do artista, equilibrado entre o sagrado e o profano. “Ele vê a homossexualidade com misticismo”, escreveu sua modelo mais famosa, a cantora e grande amiga Patti Smith.

Mesmo em seus momentos mais hardcore, como fotos de casais sadomasoquistas em que um deles está de cabeça para baixo, numa quase crucificação. Ou mesmo num autorretrato chocante em que o artista se penetra com o cabo de um chicote, há uma atmosfera quase religiosa, um halo místico que conduz nosso olhar por signos em branco e preto.

No entanto, quando quer ser claro, ele é sem reservas – vários de seus retratos mostram órgãos sexuais masculinos eretos. E ele os chama simplesmente de “cock” (pau). Uma das fotos, que não está na mostra, é ainda mais explícita: homem negro com pênis ereto saltando da calça segura um revólver. Um tema sem dúvida recorrente, com roupa ou sem roupa, e que chega a bater na porta do mau gosto (sem, no entanto, entrar).

Há na exposição uma fotografia impressionante de uma arma no momento do disparo, e se houvesse qualquer dúvida em relação às conexões sexuais que Mapplethorpe parece querer estabelecer mesmo quando exibe flores ou  revólveres, ela se dissipa aí. O conjunto é tão belo que afugenta a vulgaridade, preservando o choque. E não para por aí.

Robert Mapplethorpe, Lírio de Calla, 1986. Museu Solomon R. Guggenheim Museum, presente da Fundação Robert Mapplethorpe © Fundação Robert Mapplethorpe

Mapplethorpe ingressou no mundo gay hardcore novaiorquino pelas mãos de Jack Fritscher, editor da revista Drummer, com quem teve um relacionamento. Fritscher o conduziu ao Mineshaft, o bar gay e sex club do Village onde o fotógrafo arranjaria seus modelos. Outro amigo o aconselhou a deixar de ser observador e passar à ação.

O resultado é sombrio, tão sombrio que evoca as aventuras do pintor Caravaggio pelo chiaroscuro do submundo. Couro, correntes e chicotes comandam as cenas, em que há espaço até para uma graça. Em Brian Ridley e Lyle Heeter, de 1979, um casal SM em seu figurino mais pesado posa placidamente numa sala de visitas de aspecto burguês. “Para mim, SM significa sexo e magia, e não sadomasoquismo”, disse o artista em certa ocasião. As cenas têm uma estranha aura de dignidade meditativa. Algo próximo da arte pura, se ela existisse.

Robert Mapplethorpe, autorretrato, 1980. Museu Solomon R. Guggenheim Museum, presente da Fundação Robert Mapplethorpe © Fundação Robert Mapplethorpe

Na hora de se autorretratar, Mapplethorpe usa a imaginação em larga escala, assumindo personas engraçadas, de mulheres maquiadas como vamps a rebeldes sem causa de topete gomalinado. Ele é tudo isso, mas também um fauno com chifres ou simplesmente um raro Robert sorridente, de peito nu e braços abertos, que desde sempre parece querer a perfeição.

Nas memórias de Só garotos, que Patti Smith escreveu a pedido do amigo, ela relata uma busca estética permanente de ambos os lados. Como almas gêmeas, eles tateiam o mundo da grande cidade à qual haviam chegado como neófitos, ainda que Mapplethorpe fosse natural de Nova York, ali pelos lados de Long Island. Smith conta como ele parecia destinado à fama, ao reconhecimento, e como de certa forma isso o afligia. Tal urgência, conclui ela, tinha a ver talvez com os poucos anos de vida que lhe restavam. Muitas vezes, quando moravam juntos, em quartos emprestados ou no lendário Chelsea Hotel, ela abria os olhos à noite para encontrá-lo trabalhando obsessivamente em alguma obra.

Robert Mapplethorpe, Louise Bourgeois, 1982. Museu Solomon R. Guggenheim Museum, presente da Fundação Robert Mapplethorpe © Fundação Robert Mapplethorpe

Naquele tempo, a fotografia não era, para ele, nada além de um artíficio. Mapplethorpe começou ligado em colagens, e era para isso que as fotos recortadas de revistas pornográficas existiam. Algumas dessas colagens estão expostas em Tensões implícitas, e parecem mais do que informativas sobre o destino do fotógrafo. Têm um ar quase colegial, ainda que estejam associadas a temas bastante obscuros. Mostravam o começo de um caminho, e aí estamos falando do final dos anos de 1960 até o início da década seguinte.

É um percurso natural de um artista que estava tateando pela cidade, aberto aos seus múltiplos apelos sensoriais. Também já demonstravam o cuidado no acabamento, o que seria uma marca das fotografias, todas elas compostas em ambientes controlados de luz e sombra, tanto nos retratos das celebridades quanto nas cenas barra-pesada. Mapplethorpe era o homem do controle, e a fase final da sua vida revela bastante sobre esse aspecto da sua personalidade. Nos últimos anos, antes de morrer devastado pelos efeitos da AIDS, o fotógrafo nomeou sua biógrafa, fez com que ela entrevistasse cerca de 300 pessoas, incluindo ele mesmo, continuou aceitando encomendas a todo vapor e criou sua fundação, a mesma que doaria ao Guggenheim os cerca de 200 trabalhos que acabariam iniciando o acervo fotográfico do museu, do qual saiu essa exposição.

Robert Mapplethorpe, Patti Smith, 1976. Museu Solomon R. Guggenheim Museum, presente da Fundação Robert Mapplethorpe © Fundação Robert Mapplethorpe

Patti Smith, a grande amizade da sua vida, com a qual viveu na pior, como pobres artistas boêmios numa Nova York dominada pela Factory de Andy Warhol (o círculo ao qual queriam pertencer) é a maior presença nas fotografias do Guggenheim. Smith foi sua musa e principal modelo nos tempos de vacas magras, quando ela trabalhava para ajudá-lo a viver como artista.

Uma das imagens mais famosas desse casamento espiritual está na capa de um dos discos mais icônicos do rock, Horses, de 1975. A foto já foi imitada inúmeras vezes. Nela, Smith aparece em preto e branco, de cabelos cortados por ela mesma, camisa branca (limpa, segundo ela, comprada no Exército da Salvação) e suspensórios, segurando uma jaqueta no ombro, na qual, sem muito esforço, conseguimos enxergar um broche em forma de cavalinho prateado. A luz, capturada ao final da tarde, forma um triângulo, e o olhar de Patti, dirigido a Robert, é altivo, quase desafiador. É  como o disco que ela está lançando, tão importante que punks e roqueiros de outras extrações mais ligadas à poesia o transformam num clássico. Patti e Robert parecem encontrar o ápice de sua carreira comum nessa imagem.

Reprodução da capa do disco Horses, de Patti Smith

Em 1970, Mapplethorpe comprou uma máquina polaroide da cineasta Sandy Daley. A ideia era fortalecer as primeiras colagens com fotos produzidas por ele mesmo. “Era mais honesto”,  ele admitiu. Pegou tanto gosto pela coisa que já em 1973 uma galeria mostrava seus trabalhos numa exposição solo chamada Polaroid. Algum tempo depois ele ganhou do mecenas e companheiro Sam Wagstaff a primeira Hasselblad, a câmera da qual ele tiraria todos os recursos de que necessitava para capturar suas imagens controladas. A câmera foi roubada pouco depois de Patti e ele terem se separado.

A busca pela perfeição o levava a caminhos misteriosos. Durante muito tempo Robert fotografou o corpo trabalhado de uma campeã de fisiculturismo, Lisa Lyon, com quem produziu uma série de estudos, filmes e o livro Lady, Lisa Lyon.  Dentro do mesmo pacote de culto ao corpo perfeito, há lugar até para um jovem Arnold Schwarzenegger em pleno vigor de seu fisiculturismo pré-Conan, o bárbaro. Dar de cara com esse retrato na exposição também é surpreendente.

Robert Mapplethorpe, Lisa Lyon, 1982. Museu Solomon R. Guggenheim Museum, presente da Fundação Robert Mapplethorpe © Fundação Robert Mapplethorpe

Tudo é perfeição em Robert Mapplethorpe, e espanta o fato de ele ter entrado de forma meio relutante no universo da fotografia. Talvez ele pudesse ter sido um bom pintor (alguns desenhos que aparecem numa versão recente, mais luxuosa, de Só garotos, mostram um talento excepcional). Talvez ele pudesse ter sido um bom escultor. Em Tensões implícitas há um desafiador trono em forma de cruz. Algumas fotografias aparecem em molduras que ele mesmo fez questão de montar. E tais objetos engrandecem as imagens.

Robert Mapplethorpe, sem título, seis polaroides e molduras de acrílico pintadas, 1973. Museu Solomon R. Guggenheim Museum, presente da Fundação Robert Mapplethorpe © Fundação Robert Mapplethorpe

Ele era, de alguma forma, um artista total, com uma diferença importante em relação aos estetas puros: seus trabalhos são provocadores para qualquer época. Já nos anos de 1980 sua vida não era fácil. Nem todos os museus tinham a audácia necessária para expor os seus temas profanos, dos falos às flores sensuais, dos corpos nus aos autorretratos de múltiplas máscaras. Fica difícil imaginar uma exposição dele no Brasil de hoje sem uma gritaria medieval do lado de fora.

Além de tudo, sobrou o estigma da doença que levara Sam Wagstaff dois anos antes. Soropositivo desde 1986, Robert Mappelthorpe morreu em decorrência da AIDS em 1989. Tinha 42 anos. O que ele fez, as tentativas de chegar à perfeição, a audácia de tratar temas incômodos, tudo isso está contido nessa exposição magnífica do Guggenheim.

Robert Mapplethorpe, Autorretrato, 1988. Museu Solomon R. Guggenheim Museum, presente da Fundação Robert Mapplethorpe, 1993 © Fundação Robert Mapplethorpe

O jovenzinho das colagens, aquele que havia sido criado numa família católica e que  se orgulhava de ter sido coroinha, o homem adulto que recorreu ao submundo para encontrar a si mesmo, encarando a arte com a honestidade devastadora de um Baudelaire e a volúpia de um Michelângelo, tudo isso é o corpo de um dos fotógrafos mais importantes do nosso tempo. Aquele cuja última fotografia, de rosto devastado pela doença e segurando uma bengala com um cabo de caveira, é um daqueles autorretratos que só Rembrandt, de feições arruinadas pela velhice, teria sido capaz de entregar para a posteridade.///

 

Cadão Volpato (1956) é jornalista, músico, escritor e ilustrador. É formado em Jornalismo e Ciências Sociais pela USP. Como músico, lançou seis discos com a banda Fellini, entre eles O Adeus de Fellini (85), Fellini Só Vive Duas Vezes (86) e Amor Louco (89). Como escritor, é autor dos livros Relógio sem Sol (2009) e Pessoas que Passam Pelos Sonhos (2012), entre outros.

 

 

Exposições

Uma seleção de exposições pelo mundo para quem gosta de fotografia

Veja uma seleção de exposições no mundo (e, aqui, no Brasil) para quem gosta de fotografia:

 

Lauren Greenfield – Geração riqueza

A fotógrafa e cineaste norte-americana Lauren Greenfield (1966), vem dedicando-se a retratar os 1% “ricos e famosos” da população mundial e aqueles que não medem esforços para projetar a mesma imagem. A exposição Geração riqueza é uma retrospectiva da carreira de Greenfield, com mais de 200 imagens de pessoas que desesperadamente desejam parecer milionárias.

Fotomuseu de Haia, até 3 de fevereiro

Mais informações aqui.

 


Arvida Byström – Ficção inflada

A cor rosa é uma das marcas registradas no trabalho da jovem artista sueca Arvida Byström. Uma estrela da rede social Instagram, a fotógrafa e famosa por usar seu trabalho para questionar normas sociais e questões relacionadas a identidade, gênero e feminismo. Mas porque a cor rosa? “Por muito tempo, foi uma cor que representava meninas e uma certa ‘feminilidade’. Ainda é assim de um certo modo, mas ao menos agora podemos associa-la com outras ideias e manifestações”, diz a artista.

Museu Fotografiska de Estocolmo, até 3 de fevereiro

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 Martine Franck – Uma retrospectiva

O trabalho da fotógrafa belga Martine Franck (1938-2012) se destaca pela variedade de abordagens, de manifestações políticas a paisagens naturais e retratos de amigos. Franck foi esposa de Cartier-Bresson, fez parte da agência Magnum e colaborou com importantes publicações, como Life, Fortune, Sports Illustrated, The New York Times e Vogue.

Fundação Henri Cartier-Bresson, Paris, até 6 de fevereiro

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 Bieke Depoorter

Uma seleção de projetos multimídia e fotografias da artista belga Bieke Depoorter (1986) está em cartaz no FOMU. Destaque para as fotografias da série  In As It May Be (2017), realizadas no Egito; a instalação Sète#15 (2015) e o curta Dvalemodus (2017). Também são parte da exposição dois projetos em andamento: Agata, uma colaboração com uma jovem parisiense, e Michael, uma investigação sobre a história de um homem de Portland, Oregon.

Fotomuseum, Antuérpia, até 10 de fevereiro

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Sally Mann – Mil cruzamentos

Grande retrospectiva da artista Sally Mann (1951), a exposição Mil cruzamentos explora a relação da fotógrafa com a paisagem e a população sulista norte-americana. Com algumas imagens nunca antes expostas, a mostra destaca a maneira única de Mann de lidar com temas como família, mortalidade e a paisagem.

Museu J. Paul Getty, Los Angeles, até 10 de fevereiro

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Jonas Bendiksen – O último testamento

O fotógrafo norueguês Jonas Bendiksen (1977) viajou a vários locais do mundo na busca de autoproclamados messias, pessoas que se consideram Jesus Cristo, incluindo o brasileiro Inri Cristo. Saiba mais sobre este projeto em entrevista de Bendiksen para o site da ZUM.

Museu Fotografiska de Estocolmo, até 17 de fevereiro

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Irving Penn: além da beleza

Organizada pelo museu Smithsonian, a exposição Irving Penn: além da beleza apresenta trabalhos das diversas fases da carreira do fotógrafo, de cenas de rua dos anos 1930, retratos de celebridades, suas clássicas fotografias de moda e algumas imagens de estúdio mais pessoais.

Museu das Artes Fotográficas de San Diego, até 17 de fevereiro

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 Warhol 1968

A primeira exposição solo de Andy Warhol (1928-1987) na Europa aconteceu em 1968 no Moderna Museet, em Estocolmo. Por este motivo, Warhol 1968 foi concebida como uma exposição sobre uma exposição e também como uma maneira de discutir a obra de Warhol no contexto do histórico ano de 1968.

Moderna Museet, Estocolmo, até 17 de fevereiro

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 Iván Argote – Ternura radical

Ao longo de sua carreira, o artista colombiano Iván Argote (1983) criou um conjunto de obras em diferentes formatos – vídeos, fotografias, esculturas, desenhos e instalações – sempre propondo uma reflexão sobre relações entre história, política, memória e subjetividade. A exposição Ternura radical tem como objetivo fazer o público repensar diferentes usos do espaço público e os vínculos estabelecidos entre cidadãos e símbolos nacionais.

Malba, Buenos Aires, até 24 de fevereiro

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Nobuyoshi Araki – Amor impossível

A mistura e sobreposição de cenas íntimas e privadas com snapshots de anônimos nas ruas de Tóquio é uma das maneiras escolhidas pelo fotógrafo japonês Nobuyoshi Araki (1940) para dar conta de uma sociedade que navega entre o grotesco e o belo, sem necessariamente abrir mão de ambos aspectos da vida. A exposição Amor impossível apresenta diversas imagens que lidam com esse aspecto cru e radical da produção de Araki.

C/O Berlin, até 3 de março

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Arno Schidlowski: Céus interiores

press

Céus interiores apresenta dois trabalhos recentes do fotógrafo alemão Schidlowski (1975). Inspirado na tradições românticas da literatura e da pintura, que usam a natureza para expressar estados mentais, Schidlowski registra paisagens montanhosas e florestas europeias com o intuito de transforma-las em locais privados de reflexão.

Photographers Gallery, Londres, até 3 de março

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A Última imagem – Fotografia e morte

A exposição coletiva A Última imagem – Fotografia e morte é fruto de uma pesquisa sobre o tema da morte em fotografias do século 19 até hoje. Com trabalhos de nomes tão variados como Christian Boltanski, Bertolt Brecht, Tacita Dean, Thomas Demand [foto], Hans-Peter Feldmann, Nan Goldin, Hirst, Peter Hujar, Lee Miller, Gerhard Richter, Andy Warhol e Weegee, a mostra coloca lado a lado registros jornalísticos, científicos e artísticos.

C/O Berlin, até 3 de março

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Roe Ethridge – Santuário

Nessa exposição, o fotógrafo norte-americano Roe Ethridge (1969) apresenta uma seleção de obras que se movem por convenções e espaços dedicados a trabalho e lazer, entre o campo e a cidade. Embaralhar estes mundos é um dos objetivos do artista, que não faz questão de estabelecer quais imagens são sinceras ou autênticas.

Galeria Gagosian, Hong Kong, até 9 de março

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 Wolfgang Tillmans – Reconstruindo o futuro

A mostra Reconstruindo o futuro reúne mais de 100 trabalhos do alemão Wolfgang Tillmans (1968), entre fotografias, vídeos e instalações sonoras. A escolha de obras feita por Tillmans funciona mais como uma pergunta aos visitantes do que uma resposta ao título proposto para a exposição.

Irish Museum of Modern Art (IMMA), Dublin, até 10 de março

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Edward Burtynsky – Homem e terra. Luzes e sombras.

Em seus mais de 30 anos de carreira, o artista canadense Edward Burtynsky (1955) vem se dedicando a capturar os efeitos da intervenção humana na natureza, particularmente a industrialização de paisagens anteriormente selvagens.  Suas imagens exploram o tênue equilíbrio entre indústria e natureza, registrando o impacto de atividades como mineração e extração de petróleo.

Museu Preus, Noruega, até 17 de março

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 Model Arbus Goldin

O museu suíço apresenta o trabalho de três grandes fotógrafas norte-americanas: Lisette Model, Diane Arbus e Nan Goldin [foto]. Em comum, a contribuição que as obras dessas artistas tiveram na ampliação de nossa percepção da sociedade contemporânea por meio de suas fotografias e nas relações desenvolvidas entre as fotógrafas e seus retratados.

Museu WestLicht de Viena, até 24 de março

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Todd Hido – Mundo negro brilhante

A galeria Casemore Kirkeby apresenta o novo trabalho do artista norte-americano Todd Hido (1968), no qual explora a topografia da paisagem fria do norte da Europa. Hido viajou por diversos países da região, capturando imagens de cunho mais pessoal e também relativas a questões ambientais importantes.

Galeria Casemore Kirkeby, San Francisco, até 30 de março

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Rune Eraker: conte ao mundo sobre nós

Em 2001 o fotógrafo norueguês Rune Eraker (1961) visitou presídios em Bogotá com o objetivo de documentar as condições em que prisioneiros das guerrilhas da FARC viviam. Em um dado momento de distração dos carcereiros, Eraker recebeu de um confinado em uma solitária um bilhete em que se lia “conte ao mundo sobre nós”.  A exposição no centro Nobel apresenta cerca de 100 fotografias e textos escritos pela jornalista Linda Hove Strand que denunciam as arbitrariedades sofridas por estes prisioneiros.

Centro Nobel da Paz, Oslo, até 1 de abril

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Christopher Anderson – Alegria aproximada

A série do fotógrafo canadense Christopher Anderson (1970) registra de maneira muito próxima pessoas comuns nas ruas de Shenzhen, metrópole industrial chinesa de 20 milhões de habitantes. Os personagens escolhidos por Anderson parecem saídos de um filme de ficção científica, realçando a sensação de solidão dos moradores dessa antiga vila de pescadores que hoje é um dos grandes centros tecnológicos do mundo, conhecido como o Vale do Silício chinês.

Galeria Jackson Fine Art, Londres, até 6 de abril

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Verdadeiro aos olhos: A coleção fotográfica de Howard e Carole Tanenbaum

A exposição apresenta mais de 200 fotografias da coleção do casal Tanembaum, uma das mais importantes do país. Verdadeiro aos olhos reúne trabalho de cunho humanístico de importantes fotógrafos, como Brassaï, Lisette Model, Diane Arbus, Mary Ellen Mark, Jim Goldberg, Rafael Goldchain [foto] e Edward Burtynsky.

Centro de Imagem Ryerson, Toronto, até 7 de abril

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Berenice Abbott – Retratos da modernidade

A norte-americana Berenice Abbott (1898-1991) fotografou de forma intensa o circuito de artistas e intelectuais de Paris e Nova York nos anos de 1920 e 1930. Sua visão dessas duas cidades e seus habitantes constituem um importante registro do movimento modernista no século 20.

Fundação Mapfre, Barcelona, até 19 de maio

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Saul Leiter, David Lynch, Helmut Newton. Nus

O fundação Helmut Newton reúne fotografias de nu realizadas pelos fotógrafos Saul Leiter (1923-2013) e Helmut Newton (1920-2004) e o cineasta David Lynch [foto] (1946). Os diferentes estilos visuais se encontram na criação de atmosferas oníricas e intimistas para retratar mulheres nuas.

Fundação Helmut Newton, Berlin, até 19 de maio

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Louis Stettner – Luz viajante

O MoMA de San Francisco apresenta uma retrospectiva do norte-americano Louis Stettner (1922-2016), importante fotógrafo que viveu e trabalhou entre Nova York e Paris em meados do século passado.

MoMA de San Francisco, até 27 de maio

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Robert Mapplethorpe – Tensões implícitas

Dividida em duas partes, a exposição Tensões implícitas homenageia o fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe nos 30 anos de sua morte. A primeira parte, em cartaz até 10 de julho, explora o acervo do artista que pretence ao Guggenheim com polaroides, autorretratos, nus, retratos de artistas e do underground nova iorquino nos anos 70. A segunda parte, a partir de 24 de julho, irá focar no legado de Mapplethorpe na arte contemporânea, com uma seleção de fotografias expostas ao lado de trabalhos de artistas da coleção do museu, como Rotimi Fani-Kayode, Zanele Muholi, Catherine Opie e Paul Mpagi Sepuya.

Museu Guggenheim de Nova York, até 10 de julho

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Exposições

Uma seleção de exposições no Brasil para quem gosta de fotografia

Veja uma seleção de exposições no Brasil (e, aqui, no exterior) para quem gosta de fotografia:

 São Paulo

 

Claudia Andujar – A luta Yanomami

A retrospectiva da obra de Claudia Andujar dedicada aos Yanomami, indígenas ameaçados de extinção, ocupa dois andares do IMS Paulista com aproximadamente 300 imagens e uma instalação da fotógrafa e ativista, além de livros e documentos sobre a trajetória do povo em busca de sobrevivência. O conjunto traça um amplo panorama do longo trabalho de Andujar junto aos Yanomami, retomando aspectos pouco conhecidos da luta da fotógrafa pela demarcação de terras indígenas, militância que a levou a unir sua arte à política.

IMS Paulista, até 7 de abril

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Rosana Paulino: a costura da memória

A exposição Rosana Paulino: a costura da memória apresenta mais de 140 obras produzidas ao longo de vinte e cinco anos. Paulino é reconhecida pelo enfrentamento de questões sociais que despontam da posição da mulher negra na sociedade contemporânea, abordando situações decorrentes do racismo e dos estigmas deixados pela escravidão que circundam a condição da mulher negra na sociedade brasileira, bem como os diversos tipos de violência sofridos por esta população.

Pinacoteca de SP, até 4 de março

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II Mostra do Programa de Exposições 2018

A II Mostra do Programa de Exposições 2018 apresenta as individuais simultâneas dos artistas selecionados Carlos Monroy, Raylander Martis, Aline Motta, Juliana Frontin e Mônica Ventura e das duplas Carla Lombardo e Ж e Leonardo Remor e Denis Rodriguez. Paralelamente, o artista Henrique Oliveira expõe projeto inédito a convite da Curadoria de Artes Visuais do CCSP.

Centro Cultural São Paulo, até 24 de fevereiro

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Rio de Janeiro

 

Fluxos – Paisagens mutantes

A série Fluxos, do fotógrafo carioca Luiz Baltar, incorpora repetições e cria espaços inusitados em preto e branco. A paisagem vista por quem transita nas vias expressas é redesenhada através do ritmo obtido, uma crônica visual do cotidiano de muitos cariocas.

Paço Imperial, até 17 de fevereiro

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Seydou Keïta

Ao longo de sua carreira, Seydou Keïta (1921-2001) produziu inúmeros retratos dos habitantes de seu país em seu estúdio, localizado perto da estação ferroviária de Bamako. Realizadas entre 1948 e 1962, suas imagens registraram as expressões, os vestuários e os gostos dos visitantes que passavam por lá, além de mostrar um período de transformação no Mali, quando o país caminhava rumo à sua independência, em 1960.

IMS Rio, até 27 de janeiro

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Letizia Battaglia: Palermo

Desde 1971, quando começou a fotografar, a obra de Letizia Battaglia permanece estritamente ligada à cidade de Palermo. Como editora de fotografia do cotidiano L’Ora, a partir de 1974, documentou os conflitos que abalaram a cidade, especialmente nas décadas de 1970 e 1980, na época mais violenta da “guerra da Máfia”. A exposição no IMS Rio tem curadoria de Paolo Falcone, especialista da obra da fotógrafa, e é uma adaptação da mostra montada em Palermo (Cantieri Generali della Zisa) e em Roma (Maxxi).

IMS Rio, até 24 de março

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Porto Alegre

 

Náufragos na correnteza do tempo

A exposição individual da artista Denise Gadelha apresenta sete obras de base fotográfica, incluindo três instalações de grandes dimensões, que abordam a transformação física de imagens que sofreram desgaste pela ação da água, variação de temperatura e proliferação de mofo. A passagem do tempo sobre a matéria, mesmo aquela destinada ao registro da memória – como no caso da fotografia – é o tema desta mostra.

Fundação Iberê Camargo, até 10 de março

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Curitiba

 

Pierre Verger

O Museu Oscar Niemeyer realiza exposição com aproximadamente 150 imagens sobre o fotógrafo francês Pierre Verger (1902-1996).  Estão em exibição fotografias para a imprensa francesa, feitas entre 1932-1934; o registro da Segunda Guerra Mundial; o Nordeste brasileiro; os cultos afro-brasileiros; a Segunda Guerra Sino-Japonesa, entre outras documentações.

Museu Oscar Niemeyer, até 10 de março

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Fortaleza

 

Roger Ballen: Mind games

O Museu da Fotografia Fortaleza apresenta a exposição Mind games, do fotógrafo norte-americano Roger Ballen, conhecido por evocar o absurdo da condição humana e por criar imagens perturbadoras e inesperadamente familiares, que são o reflexo de uma jornada psicológica pessoal.

Museu de Fotografia Fortaleza

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Terra em transe

A exposição Terra em Transe reúne 53 autores e fotógrafos brasileiros em obras que são “retratos” ou “autorretratos” do Brasil, com referência também ao filme de Glauber Rocha que dá nome à mostra. São registros do século 20 à atualidade que mostram o contínuo convívio do país com abalos físicos e mentais nacionais, mas que se reequilibra também em focos criativos e de pensamentos originais.

MAC-CE, até 31 de março

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Sobre a cor da sua pele

A transformação na representação por meio do retrato é o tema da exposição Sobre a cor da sua pele – O retrato na pintura, na fotografia e na fotopintura, com curadoria de Rosely Nakagawa. Vários artistas, como Fernando Banzi, Rian Fontenelle, e o mestre fotopintor cearense Júlio Santos apresentam trabalhos que apontam várias direções para o gênero artístico.

Museu da Cultura Cearense, até 3 de fevereiro

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Sueño de la razón

A exposição Sueño de la razón exibe obras das oito edições já lançadas da revista homônima à mostra, que há dez anos publica pesquisas de difusão e valorização fotográficas na América do Sul, em reflexões fundamentais sobre a histórica política editorial dos percursos e produção contemporânea da fotografia no continente pelos colaboradores e editores da publicação, Andrea Jösch, Daniel Sosa, Fredi Casco, Julieta Escardó, Luis Weinstein, Mateo Pérez, Nelson Garrido, Pio Figueroa, Roberto Huarcaya e Tiago Santana.

Museu da Cultura Cearense, até 3 de fevereiro

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Exposições

Chantal Akerman, o que resta do tempo expandido

Patrícia Mourão & Chantal Akerman

O quarto, de Chantal Akerman, 1972

O encontro inusitado entre um filme de 1972, realizado em Nova York, e outro, de 2007, na China, fornece o enquadramento inicial de Tempo expandido, exposição da artista belga Chantal Akerman (1950-2015) no Centro Cultural Oi Futuro (RJ) e deixa claro o partido assumido pela curadoria: excluir da exposição 35 anos de produção da artista. Dos cinco trabalhos expostos, dois pertencem ao início da trajetória de Akerman, quando a artista dava seus primeiros passos no cinema e o universo da arte estava longe do seu horizonte, e outros três foram realizados nos últimos oito anos de sua vida. Fica de fora, portanto, o período durante o qual a cineasta realizou suas obras mais importantes e se notabilizou por um estilo inconfundível no qual o rigor formal e geométrico dos enquadramentos alia-se à distensão temporal de planos onde pouco ou quase nada acontece.

É certo que seus principais filmes já foram exibidos no Brasil. Ao contrário do que o Oi Futuro alega em seu texto de apresentação, esta não é a primeira vez que um conjunto significativo de obras de Akerman é apresentado aqui: em 2009 uma grande retrospectiva com curadoria de Carla Maia e a presença da própria cineasta foi apresentada em três CCBBs do país. Mas considerando-se que é a primeira vez que mais de um de seus trabalhos é mostrado em uma versão instalativa, o salto de 1972 para 2007, tanto mais agravado pela escolha por obras que não foram criadas tendo em vista o contexto de exposição, não deixa de chamar a atenção.

O quarto, de Chantal Akerman, 1972

Na primeira sala da exposição, em paredes adjacentes, encontra-se O quarto (La Chambre, 1972), filme da produção inicial da artista, e Cair da noite sobre Xangai (Tombée de nuit sur Shangai, 2007) da produção tardia. Terceiro filme de Akerman, realizado quando a cineasta tinha ainda 21 anos, logo depois de sua mudança de Bruxelas para Nova York, O quarto anuncia o que será a matriz de seu cinema na década de 1970: a duração estendida, a repetição, o espaço doméstico e confinado, a obsessão descritiva. A cineasta inventa para este filme um dispositivo tão simples quanto rigoroso ao utilizar uma câmera próxima a uma das paredes de seu quarto que gira três vezes sobre o próprio eixo, dando a ver em sua lenta varredura o  ambiente desordenado com seus objetos e móveis de uso cotidiano e a própria Akerman deitada, quase imóvel, sobre a cama. A cada rotação, a jovem muda ligeiramente de posição ou ação. O filme foi frequentemente descrito como uma natureza-morta, comparação justificada pela descrição minuciosa de um campo visual desierarquizado e pela qualidade pictórica com que as superfícies dos objetos são representadas. Mas ao lado e à luz de Cair da noite, a comparação pode ir mais longe e incorporar a invocação da mortalidade e finitude da vanitas.

Porque se O quarto é uma natureza-morta, Cair da noite é a morte da natureza. Com o mesmo rigor formal de seus outros trabalhos, o filme é praticamente todo composto por um plano fixo e frontal da orla de Xangai durante o entardecer, registrado do ponto de vista do porto. A noite, entretanto, nunca cai em Xangai. À medida que a luz solar diminui, barcos atravessam a baía portando telas luminosas quase tão grandes quanto eles próprios. E as empenas dos prédios convertem-se em colossais painéis de LED, ostentando reproduções agigantadas de clássicos da pintura, como a Mona Lisa ou os girassóis de Van Gogh, imagens de pássaros, flores exóticas, borboletas e fogos de artifício.

Vista do porto, nessa noite que não é noite, Xangai não é uma cidade, mas um enorme protetor de tela tão kitsch quanto hipnótico; um aquário falso por onde desfilam reminiscências luminosas de um mundo-imagem que, em perpétuo processo de desmaterialização e recombinação, tomou de assalto a humanidade. E não há porto seguro de onde olhar: na trilha, registrada em direto, ouvimos uma versão em espanhol de “I Will Survive” seguida de  “Pour Elise” ­–  possivelmente o equivalente musical da Mona Lisa no que diz respeito a sua capacidade de migração e adaptação: antes de aprender sua autoria, a reconhecemos dos caminhões de gás e dos telefones PABX.

Cair da noite sobre Xangai, de Chantal Akerman, 2007

Ainda que o rigor formal, a dilatação temporal dos planos e o esvaziamento narrativo conectem os dois filmes, eles não poderiam ser mais opostos. Entre a luz matinal a tocar as superfícies em O quarto e a noite que nunca cai em Cair da noite, entre um quarto fechado em Nova York e uma Xangai-superfície sem espessura, entre a película e o digital, a solidez do real e a imaterialidade do pixel, instaura-se uma história, um vazio e uma distância que, se a curadoria opta, para prejuízo do espectador, por deliberadamente suprimir ao longo da exposição, não deixa de anunciar-se como uma fantasmagoria. É como se, no escuro iluminado apenas pela luz dessas projeções de mundos e tempos tão distantes, pudéssemos pressentir, ainda que não visualizar, uma história de deslocamentos, migrações e desintegrações para o cinema de Chantal Akerman.

Akerman descreve Cair da noite como um “filme órfão”, expressão a que tenta definir invocando um vocabulário permeado por imagens de desastres e catástrofes e fazendo referência às sombras dos corpos que ficaram impressas nas pedras de Hiroshima depois da explosão da bomba atômica, possivelmente por efeito da radiação. Perto de um filme órfão, “os fantasmas não encontram descanso e continuam sua dança da morte”, ela escreve.

É também como órfã que Akerman descreve, Verão obsessivo (Maniac Summer, 2009), o terceiro trabalho que encontramos nesta exposição, já em uma outra sala. A instalação é composta por um vídeo matriz e três dípticos com variações e manipulações das imagens originais. A ideia de imagem-fantasma ganha aqui uma expressão bastante literal, com a manipulação digital feita na pós-produção transformando-as em uma espécie de pós-imagem abstrata de um real implodido. Produzida em um período que a própria Akerman definiu em termos clínicos como “maníaco”, a obra traz imagens registradas do interior de seu apartamento em Paris no verão de 2009 e de vistas de suas janelas. Esse dispositivo, se devedor de (Lá bas, 2006), seu filme feito de dentro de um apartamento em Tel Aviv e cujo título diz respeito ao modo como a mãe se referia aos campos de concentração, tem um resultado não tão impactante: além de parecer menos rigoroso no posicionamento da câmera e mais aleatório na montagem, a manipulação das imagens, um mecanismo não só inédito mas estranho para uma cineasta que fez voto de fé da observação ralentada e paciente do mundo, dilui a impressão de asfixia e enclausuramento da qual retira sua força.

Em Verão obsessivo, há imagens dos cômodos da casa desorganizados, algumas vezes vazios, outros, com a própria Akerman a trabalhar, falar no telefone, comer ou fumar. E há tomadas da rua e do parque em frente. Registradas em baixa resolução, e várias vezes trazendo o time code com data e hora de gravação, as imagens parecem capturadas por câmeras de vigilância, com toda a gratuidade trazida por elas. Mas assim como nas sociedades da paranoia e do controle tudo é suspeito antes que se prove o contrário, há aqui a sensação de que algo está prestes a acontecer, como se uma bomba-relógio estivesse ligada.

Verão obsessivo, de Chantal Akerman, 2009

Nessa quase explosão da imagem que ocorre de dentro para fora, é o interior na iminência de implodir, uma cena destoa de todas as outras, suscitando um afeto e uma empatia, no geral, ausentes na instalação: Akerman, na cozinha, fuma e toma iogurte ao mesmo tempo. A cada tragada, uma colherada. Uma mulher de 60 anos fuma e toma iogurte ao mesmo tempo. A casa está desarrumada, a mesa bagunçada. E uma mulher adulta fuma e toma iogurte, fuma e toma iogurte.

É essa imagem que levamos conosco quando encontramos, ao fundo da sala de Verão obsessivo, separada deste apenas por uma meia parede, o trabalho mais simples e desconcertante de toda a exposição, Minha mãe ri, prelúdio (My Mother Laughs – Prelude, 2012) em que vemos a cineasta, com sua voz inconfundivelmente rouca de fumante inveterada, a dizer: “Minha bagunça não parece incomodá-la. Ela aparenta nem mesmo notar. Ela aceita. Ela me aceita como eu sou.” Ela, no caso, é a mãe: Natalia (Nelly) Akerman. E o texto, lido de algumas folhas brancas, por uma Akerman sentada em um ambiente muito escuro, vem de seu livro Minha mãe ri (Ma mère rit, 2013).

Escrito durante um período de convalescença da mãe, e vencedor do prêmio Goncourt de literatura, Minha mãe ri é uma tentativa da filha de lidar com a morte iminente da mãe. Com uma honestidade, fragilidade e ternura de partir o coração, a artista revela neste autorretrato em carne viva aquilo que foi a matéria primordial de toda sua criação: sua relação com a mãe, uma sobrevivente de Auschwitz. No livro, e na leitura que dá origem à instalação, a voz da filha se mistura à da mãe, como se, no deslizamento da primeira pessoa, Nelly falasse através de Chantal. Ou como se Chantal fosse Nelly.

Na verdade, foi assim em toda a sua obra. É Nelly, ou a Nelly que existe em Chantal (como de resto todas as mães existem nas filhas), que a cineasta explode ao explodir a si mesma e a uma cozinha (há sempre uma cozinha) em Exploda minha cidade (Saute ma ville, 1968), seu primeiro curta-metragem. É Nelly a inspiração para a dona de casa interpretada por Delphine Seyrig no filme Jeanne Dielman: Rua do Comércio 23, 1080, Bruxelas (Jeanne Dielman: 23 Quai du Commerce, 1080, Bruxelles, 1975). São de Nelly as cartas de amor e saudade lidas por uma Chantal entediada sobre imagens de Nova York em Notícias de casa (News From Home, 1976). E é Nelly, nascida na Polônia, que a cineasta reencontra em cada uma das donas de casa de meia-idade a quem filma nas cozinhas no leste Europeu em Do leste (D’Est, 1993), seu monumental filme feito após a dissolução da União Soviética.  E é, de fato, o corpo de Nelly que vemos em um breve plano de Toda uma noite (Toute une nuit, 1982), fumando encostada em uma parede no exterior de uma casa quando, do interior, a voz de uma menina chama “mãe, mãe”.

No espelho, de Chantal Akerman, 1971

E ainda é preciso dizer que também é a relação entre uma mãe e uma filha que Akerman testemunha em seu segundo filme, A criança amada ou Dou uma de mulher casada (L’Enfant aimé ou Je joue à être une femme mariée, 1971), do qual vem a cena que compõe No espelho (In The Mirror, 1971), a última instalação de Tempo expandido. Nela, uma jovem usando apenas roupas íntimas e observando o seu corpo refletido no espelho, descreve o que vê: “Sou pálida. Tenho sardas. Tenho uma boca bonita. Mal tenho cintura. […]”. Apesar da autodepreciação, a descrição é feita de modo impessoal sem sobressaltos nem mudança na entonação, como se um médico forense descrevesse um outro corpo, inerte, morto e sem subjetividade.

A criança amada foi renegado por muitos anos por Akerman, que chegou a retirá-lo de distribuição. A cena que compõe No espelho foi resgatada apenas recentemente, quando a artista respondeu à encomenda da curadora Lynne Cooke de um trabalho para uma exposição em torno da presença do corpo feminino na arte dos anos 1970. Talvez por isso mesmo a cena escolhida pareça demasiado datada. Ela ilustra, com uma literalidade e discursividade incomuns à produção de Akerman, algumas pautas e agendas da segunda onda do feminismo.

Nesse sentido, é curiosa sua presença em uma exposição cujo texto de apresentação é carregado de ressalvas ao feminismo, ao qual reduz, de forma tão rasteira quanto violenta, ao “vitimismo”, ao afirmar que a obra de Akerman ultrapassa as “observações típicas do machismo e vai além da vitimização”. Mais grave que a desinformação e o preconceito, no entanto, é o modo como a curadoria reatualiza o mesmo olhar opressivo e objetificante denunciado por No espelho: na sua apresentação do trabalho a curadora Evangelina Seiler descreve a jovem seminua como de “sedutora e romântica beleza”.

Mas retornemos à mãe. Nelly é a força imantada do cinema de Akerman. O centro do qual ela precisa se afastar, com o qual tenta romper, sem nunca, no entanto, deixar de reafirmá-lo. Seu primeiro gesto no cinema é explodir a cozinha, a casa e o lugar da mãe. No filme Eu, tu, ele, ela (Je, tu, il, elle, 1976) sua primeira fala é “e eu parti”, e desde então, ela não fez mais que partir em busca de suas origens: para longe (), em direção ao leste (Do leste) e ao sul (Sul, 1999). Mas a cada partida, a cada explosão, esse centro imantado e invisível reafirma e restabelece sua força de atração. Como se em seu cinema, Akerman reencenasse e repetisse, filme a filme, o jogo freudiano do fort-da.

Nelly morreu em 2015. Poucos meses depois de sua morte, Akerman lança Não é um filme caseiro (No Home Movie, 2015), onde filma pela primeira vez a casa materna. É também a primeira vez que as duas aparecem em quadro juntas. Três meses depois do lançamento desse filme caseiro impossível, de uma casa afirmada pela negativa, é a própria Akerman quem, de modo trágico, parte definitivamente.

Foto da instalação Minha mãe ri, prelúdio, de Chantal Akerman, 2012

Na instalação originada da leitura de Minha mãe ri, Akerman aparece sentada em uma sala muito escura, iluminada apenas pela luz fraca de um abajur amarelo. A projeção diminuta, em formato quadrado, numa sala igualmente escura, não se distingue da parede, de modo que seu corpo parece afundar num abismo preto e infinito, sem moldura, quadro ou contenção. O enquadramento, tão necessário no cinema de Akerman à manutenção da tensão entre a implosão e a explosão, confinamento e mundo, é aqui dissolvido. Dissolvido, mas não perdido: enquanto o fundo negro puxa Akerman para trás, nós a puxamos para a frente, e neste vai e vem com o espectador, o quadro, a separação e a moldura são rematerializados escultoricamente na sala. Como se a distância que nos separa da imagem não fosse um vazio, mas um bloco concreto, bruto e monumental de espaço-tempo imobilizado. Não respiramos.///

 

Chantal Akerman (1950 – 2015) foi uma diretora, artista, atriz, roteirista, produtora e professora de cinema belga. Akerman dirigiu mais de 40 filmes, incluindo  Eu, tu, ele, ela (1974) e Não é um filme caseiro (2015), além de documentários e vídeo-instalações. 

Patrícia Mourão é doutora em cinema pela Universidade de São Paulo, com bolsa sanduíche na Columbia University. Programou mostras dedicadas ao cinema estrutural e organizou, entre outros, os livros Cinema Estrutural (coorganização de Theo Duarte, Caixa Cultural, 2015); Jonas Mekas (Cinusp, 2013), David Perlov: epifanias do cotidiano (coorganização de Ilana Feldman, CCJ, 2011) e Harun Farocki: por uma politização do olhar (Cinemateca Brasileira, 2010).

 

Exposições

Corpos humanos e corpos arquitetônicos: fotografia, arquitetura e performance na obra do artista Gordon Matta-Clark

Tatiana Monassa & Gordon Matta-Clark

Gordon Matta-Clark usando um maçarico no seu caminhão-grafite, 1973, fotógrafo desconhecido. Cortesia do acervo de Gordon Matta-Clark e David Zwirner, New York / Londres / Hong Kong © 2018 Acervo de Gordon Matta-Clark / ADAGP, Paris.

Organizada no Jeu de Paume em Paris em parceria com o Museu de Arte do Bronx, a exposição Gordon Matta-Clark, anarquiteto é uma das primeiras a exibir um conjunto significativo de trabalhos do artista nova-iorquino, morto de câncer em 1978 aos 35 anos. De carreira fulgurante, o filho do célebre pintor surrealista chileno Roberto Matta e da designer americana Anne Clark deixou uma vasta obra composta de projetos, escritos e registros visuais de suas intervenções urbanas, acervo que agora começa a ser organizado e exposto.

Como o título indica, a espinha dorsal da mostra é a relação vital de Matta-Clark com a arquitetura. Relação multifacetada e irreverente, que pode ser resumida na fórmula “Anarquitetura”, nome do grupo formado em 1974 por ele, Laurie Anderson, Tina Girouard, Suzanne Harris, Jene Highstein, Bernard Kirschenbaum, Richard Landry e Richard Nonas para discutir formas de subverter a arquitetura moderna. Formado arquiteto pela universidade de Cornell em 1968, Matta-Clark nunca exerceu a profissão, preferindo se servir dos conhecimentos adquiridos para se engajar em uma prática artística desafiadora, centrada em intervenção urbana e em trabalhos in situ, que revelam uma inquietude política e social profunda.

Os curadores Sergio Bessa e Jessamyn Fiore escolheram, assim, uma série de obras que, dispostas cronologicamente, retraçam a trajetória do artista, evidenciam sua relação crítica com o meio urbano – fundada num princípio de interação constante – e evocam paralelos com a cultura artística contemporânea, que tende a eleger o espaço público como palco privilegiado de expressão. Entre fotografias, filmes e documentos escritos, a exposição se apresenta como um grande percurso por imagens que captam e comunicam uma manipulação criativa de construções arquitetônicas, portanto, uma atividade da qual elas não são o objeto primeiro, mas o reflexo essencial. Na medida em que a natureza ao mesmo tempo monumental e efêmera dos gestos e das obras de origem escapa inteiramente ao espaço do museu, as quase cem peças expostas aglomeram-se em torno de oito momentos ou trabalhos que elas fundamentam, documentam ou prolongam.

Gordon Matta-Clark, Muros, 1972. Cortesia do acervo de Gordon Matta-Clark e David Zwirner, New York / Londres / Hong Kong © 2018 Acervo de Gordon Matta-Clark / ADAGP, Paris.

A esses oito trabalhos, somam-se alguns filmes, como o trecho de Relógiochuveiro (1973) situado na antessala do espaço expositivo, em que Matta-Clark é filmado realizando uma performance pública em um grande relógio. Vestido com uma capa preta e equilibrado sobre uma corda, ele realiza rituais de higiene: faz a barba, escova os dentes e toma banho. Ao se confundir com os ponteiros do relógio, ele tanto flerta com a comicidade do surrealismo, como amalgama espaço privado e público, introduzindo muitas das questões que percorrem o restante das obras, como a relação entre o corpo humano e a construção arquitetural ou o choque entre o íntimo e o coletivo.

Após essa introdução sugestiva, a primeira parte da exposição compreende as principais intervenções do artista no bairro nova-iorquino do Bronx, seu território de predileção no início da carreira: trata-se de Paredes e Papéis de parede (1972), Chãos do Bronx (1972-1973) e Grafite (1972-73). Deplorando o abandono que acometeu os que permaneceram no bairro após a partida da classe média para os subúrbios nos anos 1970, Matta-Clark busca mostrar a precariedade das condições de vida e a beleza das resistências possíveis por meio da expressão artística. Paredes e Papéis de parede respondem ao plano de urbanização que desalojou parte dos moradores. Trata-se de uma série de fotografias de dois prédios geminados cuja demolição se fez pela metade, deixando expostas as paredes internas dos apartamentos, cobertas de papel de parede coloridos. Formando um quadro geométrico de enorme dimensão, essas fachadas expõem à luz do dia, quase metonimicamente, os escombros de espaços de vidas privadas. As fotos começam como documentos evocativos feitos de um ponto de vista distanciado, para, num segundo momento, tornarem-se composições abstratas, fruto de enquadramentos aproximados de detalhes das paredes. No ano seguinte, o artista decidiu colorir algumas dessas fotografias com aquarela, imprimir tiragens em offset e expor em uma galeria, fornecendo cópias em formato de pôster para os visitantes, de maneira a provocar a reintegração dessas imagens de paredes ao espaço íntimo de uma moradia.

sem título (Anarquiteto), 1974. Cortesia do acervo de Gordon Matta-Clark e David Zwirner, New York / Londres / Hong Kong © 2018 Acervo de Gordon Matta-Clark / ADAGP, Paris.

Em Chãos do Bronx, ele inicia a prática, determinante em sua carreira, de recortar geometricamente partes de imóveis abandonados, promovendo um encontro entre arquitetura e escultura. Ao criar aberturas dentro dos apartamentos, como diante de portas e nos tetos, a obra destaca o sentimento do vazio, a ideia de perda de funcionalidade e a pauperização das moradias populares. Em Grafite, trata-se de colocar em evidência as pichações realizadas por jovens nos muros e nos vagões de metrô, quando o conceito de street art ainda não existia e essa possibilidade de expressão artística por uma parte da população excluída do circuito da arte era vista como vandalismo. Ao recortar grafismos por meio de fotografias em preto e branco, muitas das quais ele colore com aquarela seguindo as cores originais, Matta-Clark isola imagens dessa arte em simbiose absoluta com o espaço público e a desloca para espaços onde o olhar sobre ela será obrigatoriamente diferente. Em conexão com esses trabalhos, encontramos ainda dois filmes projetados nas paredes. Criança do fogo (1971), que documenta a realização de Parede de lixo no Bronx, obra que construiu abrigos para pessoas de rua com materiais descartados recuperados no local, e O muro (1976), que registra a intervenção realizada pelo artista no muro de Berlim. Na impossibilidade de realizar o que queria, abrir uma fenda no muro, Matta-Clark veste sua superfície com grandes pôsteres publicitários de produtos vendidos do outro lado, ou seja, na Alemanha comunista, e complementa a “decoração” com grafites. Dessa forma, o conjunto de trabalhos apresentados na primeira parte da exposição investe na noção de superfície arquitetônica, seja a puxando para a escultura, seja a aproximando da pintura. Levada a cabo sobretudo pela fotografia, essa noção de superfície contribui para o deslocamento contestador operado por Matta-Clark em relação ao princípio de utilidade habitualmente atribuído às edificações.

Gordon Matta-Clark Grafite: Linda, 1973. Cortesia do acervo de Gordon Matta-Clark e David Zwirner, New York / Londres / Hong Kong © 2018 Acervo de Gordon Matta-Clark / ADAGP, Paris.

Em seguida, temos duas obras que sistematizam e ampliam as tendências apresentadas nos trabalhos do Bronx. Primeiramente, um conjunto de fotografias que integrara a exposição Anarquitetura (1974), resultado das atividades do grupo homônimo. Para denunciar as contradições internas do programa da arquitetura modernista, sobretudo as formulações de Le Corbusier, eles realizam imagens de construções urbanas e industriais que tentam, pelo ponto de vista adotado, demonstrar a forma como essa arquitetura termina por excluir o cidadão comum. Com estruturas que não levam em conta a dimensão humana do espaço, esse tipo de arquitetura privilegia formas originadas de elaborações utópicas. A segunda obra dessa parte da exposição é Final do dia (1975), trabalho monumental e ambicioso que confere novos horizontes ao artista. Encarnado por fotografias de grande formato e por um registro fílmico de sua realização, ele atesta a maturidade do projeto artístico de Matta-Clark ao condensar problemáticas diversas em gestos simples. Após o desabamento de um trecho da Via Elevada West Side, o acesso dos moradores de Manhattan às margens do Hudson encontrava-se comprometido. O artista localizou então um galpão abandonado junto ao cais com a intenção de transformá-lo em espaço de sociabilidade e reencontro dos habitantes com essa área da cidade. Suspenso por cordas fixadas a roldanas, ele realizou enormes incisões nas paredes de alumínio do galpão, criando aberturas em formas geométricas que deixam a luz do sol passar. Dando continuidade a seu trabalho no Bronx, esses recortes na estrutura arquitetônica inspirados em questões sociais trazem outra dimensão ao cruzamento entre arquitetura e escultura já mencionado: na medida em que incluem o elemento luminoso, evocam obras de artistas como Keith Sonnier e Joseph Kosuth. Mas, infelizmente, após a festa promovida para entregar o espaço à população, um mandado de prisão foi expedido pela polícia nova-iorquina contra Matta-Clark, que foi obrigado a se exilar em Paris até seus advogados resolverem o problema.

Gordon Matta-Clark, Final do dia (Píer 52), 1975. Cortesia do acervo de Gordon Matta-Clark e David Zwirner, New York / Londres / Hong Kong © 2018 Acervo de Gordon Matta-Clark / ADAGP, Paris.

Gordon Matta-Clark, Final do dia (Píer 52), 1975. Cortesia do acervo de Gordon Matta-Clark e David Zwirner, New York / Londres / Hong Kong © 2018 Acervo de Gordon Matta-Clark / ADAGP, Paris.

Começa então uma outra fase da sua carreira, que ocupa a última parte da exposição, com três obras. A primeira, Interseção cônica (1976), criada para a 9ª Bienal de Arte de Paris, retoma o princípio de esculpir uma construção de grandes dimensões criando formas geométricas abstratas. A proposta de revitalização do antigo centro histórico da capital francesa, com a construção do polêmico Centro Pompidou – museu de arte moderna com projeto ousado dos arquitetos Renzo Piano e Richard Rogers – ocasiona uma demolição em massa e uma expulsão dos habitantes do local. Diante do canteiro de obras, Matta-Clark se apropria de dois prédios gêmeos abandonados, esculpindo a golpes de marreta um cone horizontal em cada, um voltado para o lado mais antigo da cidade, a metade oeste, e outro para o lado novo, no leste. Se, por um lado, o gesto corrobora a destruição, por outro, elabora uma forma feita de “ar”, que impressiona pelo contraste entre a sutileza conceitual que informa o traçado geométrico e a realidade bruta do cimento de que é feito o prédio. Mas infelizmente a obra subsiste apenas durante o tempo de sua realização, pois, assim que Matta-Clark completa sua intervenção, os prédios são demolidos, como previsto. Como em Final do dia, Interseção cônica é apresentado por um filme e por fotografias coloridas de grande formato.

Gordon Matta-Clark trabalhando na obra Interseção Cônica, foto de Marc Petitjean, outubro de 1975 © Marc Petitjean

A seguir, encontramos duas outras obras parisienses, ambas de 1977 e intimamente ligadas: Subsolos de Paris e Descendo degraus para Batan. Na primeira, Matta-Clark continua um projeto de exploração dos subterrâneos urbanos iniciado no ano anterior em Nova York, com o qual ambicionava estender as reflexões sobre arquitetura para esse espaço habitualmente invisível, mas que forma um só corpo com as construções aparentes, com o rosto da cidade. Em Paris, ele explora particularmente os subterrâneos do prédio da Ópera Garnier e as catacumbas, realizando um filme e fotografias em cores, que agencia em fotomontagens singulares: superpostas verticalmente, as imagens criam a impressão de um corte transversal na terra, nos permitindo percorrer com o olhar as diferentes camadas do que seria um único organismo construído pelas mãos do homem. Em Descendo degraus para Batan, ele homenageia seu irmão gêmeo, morto numa queda da janela do seu apartamento, possivelmente em um suicídio. Na galeria Yvon Lambert, na capital francesa, durante a exposição de Subsolos de Paris, Matta-Clark propôs uma obra in situ: primeiro criou uma abertura no solo que dava para o porão, depois escavou o solo do porão até atingir a terra.

As obras selecionadas pelos curadores e a forma como estão expostas destaca um traço marcante da produção de Matta-Clark: o encontro entre a volumetria da arquitetura, com sua significação social, e a planeidade da imagem, com sua plasticidade potencialmente poética. Se uma construção pode ser considerada uma imagem estruturada em relação a um espaço tridimensional, ao ser captada por uma fotografia ou filme, ela se encontra reduzida a um espaço plástico bidimensional. Gordon Matta-Clark, anarquiteto ressalta, assim, o encontro inaudito promovido pelo artista entre preocupações formais caras às vanguardas do início do século 20 e os princípios de ação física no espaço e performance que alimentam a arte americana nos anos 1960 e 1970, representados sobretudo pelas atividades do grupo Fluxus.

Gordon Matta-Clark e Gerry Hovagimyan trabalhando na obra Interseção Cônica, foto de Harry Gruyaert, Rua Beaubourg, 1975 © Harry Gruyaert / Magnum Photos

Em seu caráter multimidiático avant la lettre, o trabalho gráfico de Matta-Clark a partir de suas intervenções anarquitetônicas poderia ser dividido entre obras propriamente visuais, nas quais há uma simbiose profunda entre imagem fotográfica e arquitetura, e em registros documentais de performances. De obra em obra, vemos se desenhar os temas essenciais da passagem do tempo, da memória e da relação do corpo humano com o espaço, que é simultaneamente espaço físico e espaço social. É uma relação de negociação constante, que oscila entre integração e expulsão de pessoas, e estabelece o modelo da arquitetura como uma interface entre o humano e a paisagem, entre a esfera privada e a pública. A anarquia, portanto, nada mais é do que uma postura de contestação sistemática quanto à natureza desse projeto. Ou, em todo caso, uma postura crítica quanto aos usos que prevemos, em relação a nossos sentidos, para o que seria o mais natural de um ponto de vista fenomenológico: as construções, corpos inanimados que constituem o nosso espaço de vida, o nosso habitat. Habitat que, é claro, nunca foi propriamente natural, pois desde sempre se banhou da cultura e da técnica.///

 

Tatiana Monassa é crítica de cinema e pesquisadora, com doutorado em curso na Universidade Paris 3-Sorbonne Nouvelle. Foi editora da revista eletrônica Contracampo de 2007 a 2011 e editou, entre outros, os catálogos das mostras As muitas faces de Jece Valadão (CCBB, 2006) e Clint Eastwood, clássico e implacável (CCBB, 2011). Foi também curadora de Assim canta Bollywood (CCBB, 2005) e Mohammad Rasoulof e Jafar Panahi (Caixa Cultural, 2013).

 

Exposições

Uma seleção de exposições pelo mundo para quem gosta de fotografia

Veja uma seleção de exposições no mundo (e, aqui, no Brasil) para quem gosta de fotografia:

Robert Adams: Nossas vidas e nossas crianças

 

Reconhecido por seu trabalho que retrata a transformação da paisagem do oeste norte-americano no século 20, as imagens da exposição Nossas vidas e nossas crianças focam na iminente catástrofe ecológica global. Munido de sua Hasselblad, Adams fotografou estacionamentos, centros comerciais e ruas de cidades americanas em busca de personagens que representassem a sociedade de consume em que vive. A aparente tranquilidade dos homens, mulheres e crianças retratados disfarça a linha tênue entre o acaso que une estas pessoas e o perigo quase imperceptível de uma, segundo o próprio Adams, tragédia nuclear.

Fundação Henri Cartier-Bresson, Paris, até 29 de julho

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Sara Facio – Perón

O Malba de Buenos Aires apresenta o trabalho da fotógrafa argentina Sara Facio (1932) sobre Juan Domingo Perón, realizado entre 1972 e 1974, um registro documental em torno do peronismo.  São 115 fotografias, a maioria delas inéditas, selecionadas especificamente para esta exposição em conjunto com a própria fotógrafa.

Malba, Buenos Aires, até 30 de julho

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Divertindo-se e aprendendo

A exposição Divertindo-se e aprendendo, em cartaz no Museu de Arte Fotográfica de Tóquio, é um recorte do acervo da instituição mostrando as diferentes formas de aprendizado que um museu pode oferecer. São trabalhos de 60 artistas, incluindo nomes como Ihee Kimura [foto], Takuma Nakahira, Diane Arbus, Bernd and Hilla Becher, Cindy Sherman, Robert Doisneau, Lee Friedlander, Minor White e Garry Winogrand, entre outros.

Museu de Arte Fotográfica de Tóquio, até 5 de agosto

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Noémie Goudal: Estações

As imagens da artista francesa Noémie Goudal (1984) brincam com as percepções do espectador, fazendo com ele que duvide de seus sentidos. Sua série questiona a ideia da fotografia de paisagem como algo natural e autêntico, imune a construções e interferências. Goudal produz essa sensação utilizando métodos tradicionais de cenografia, construindo cenários na locação escolhida e fazendo que este seja parte indissociável da paisagem.

Museu Finlândes de Fotografia, Helsinki, até 12 de agosto

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Dana Lixenberg: Imperial Courts 1993 – 2015

Imperial Courts 1993-2015 é o resultado de um projeto de longo prazo realizado pela fotógrafa holandesa Dana Lixenberg no perigoso bairro da cidade de Los Angeles, local de conflitos violentos após o ataque de quatro policiais brancos ao motorista negro Rodney King. Nos quase 10 anos que Lixenberg frequentou a comunidade de Imperial Courts, a fotógrafa retratou o cotidiano de diversas famílias. Ao longo dos anos, algumas pessoas foram presas, algumas crianças fotografadas no início do projeto cresceram e tiveram seus próprios filhos, e tudo isso foi registrado pelas lentes da fotógrafa. Para saber mais sobre as fotos da série Imperial Courts, leia ensaio publicado na edição impressa da ZUM #14.

Casa Húngara de Fotografia, Budapeste, até 16 de agosto

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Ilhas & Mitos

A exposição coletiva Ilhas & Mitos, organizada pela instituição Belfast Exposed, apresenta trabalhos de três novos nomes da fotografia: Sanne De Wilde, Nicholas Muellner e Jon Tonks. Em comum, os três artistas buscaram comunidades remotas e ilhas distantes para criar suas narrativas. Sanne De Wilde [foto] foi até as ilhas de Pingelap e Pohnpei, no Pacífico Sul, para contar a história, publicada no livro The isle of colorblind, de uma população com alto índice de acromatopsia, uma condição de visão que torna o indivíduo quase ou completamente daltônico. No livro In most tides an island, Nicholas Muellner mistura retratos da comunidade queer na Rússia com paisagens de praias do Mar Báltico, Caribe e Mar Negro. Jon Tonks viajou até Vanuatu para registrar o estranho ritual conhecido como “cargo cults”, que homenageia um messiânico soldado americano chamado John Frum que retornaria trazendo consigo valores tradicionais livres de interferência coloniais ou missionárias.

Belfast Exposed, Belfast, até 18 de agosto

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Stefanie Moshammer: Therese

A fotógrafa austríaca Stefanie Moshammer, depois de projetos realizados em Las Vegas, Rio de Janeiro e Haiti, volta ao seu país natal para realizar a série Therese, agora em exibição no Westlicht. Therese é o nome do meio da artista, que usa este artifício para explorar em imagens questões de identidade em relação ao seu país e mesmo dentro de sua família.

Museu Westlicht, Viena, até 19 de agosto

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Volta Photo: Estrelando Sanlé Sory e o povo de Bobo-Dioulasso no pequeno, mas musicalmente poderoso, Burkina Faso

No início dos anos 1960, a cidade de Bobo-Dioulasso era a capital da cena musical e cultural de Alto Volta (atual Burkina Faso), na África Ocidental. As orquestras e grupos musicais combinavam instrumentos e ritmos como a salsa cubana e o funk e rock americanos a suas raízes africanas. É nesse cenário que Ibrahima Sory Sanlé (1943) registrou os habitantes de Bobo-Dioulasso, recém independentes da França, utilizando coloridos e chamativos panos de fundo e uma série de objetos de cena que davam um ar moderno aos seus modelos, como telefones e motocicletas.

Instituto de Artes de Chicago, até 19 de agosto

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Vivian Maier

As imagens da babá, que só postumamente foi descoberta como fotógrafa, estão em exposição no museu Westlicht. Muitas de suas imagens foram feitas nas ruas de Nova York e Chicago, no estilo que consagrou nomes como Robert Frank, Lee Friedlander e Diane Arbus.

Museu Westlicht, Viena, até 19 de agosto

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Ser: Nova fotografia 2018

A exposição do MoMA de Nova York apresenta trabalhos de 17 novos artistas de dez países diferentes, entre eles a brasileira Sofia Borges, ganhadora da Bolsa ZUM/IMS de Fotografia em 2017. Em sua 24ª edição, a mostra deste ano partiu da pergunta “como a fotografia pode capturar o que significa ser humano?” para selecionar visões que desafiem as convenções do retrato fotográfico.

MoMA de Nova York, até 19 de agosto

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Uma história incompleta dos protestos: seleções da coleção Whitney, 1940–2017

A partir de uma pesquisa em seu próprio acervo, o Museu Whitney apresenta a exposição Uma história incompleta dos protestos, um recorte de como artistas dos anos 1940 até a atualidade representaram as questões sociais políticas importantes relacionadas às suas épocas. A exposição oferece uma visão histórica dos principais temas do século 20, de questões de representatividade de minorias até a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. Na fotografia, destaques para nomes como Larry Fink, Gordons Parks e Louis H. Draper [foto], entre outros.

Museu Whitney, Nova York, até 27 de agosto

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Estruturas de identidade

Com a exposição Estruturas de identidade, o museu Foam, de Amsterdã, que mostrar como fotógrafos de diferentes épocas e culturas utilizaram o poder do retrato para investigar questões de gênero, raça, nacionalidade e classe social. A mostra mescla trabalhos de artistas consagrados, como August Sander e Richard Avedon e nomes contemporâneos, como Yto Barrada, Samuel Fosso, Zanele Muholi [foto] e Guy Tillim.

Foam, Amsterdã, até 29 de agosto

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Dorothea Lange: A fotografia como testemunho inquestionável

A exposição apresenta boa parte das fotografias feita por Lange para o Governo norte-americano no início do século passado, com o objetivo de documentar a população pobre do país e que vivia à margem da sociedade naquele momento. Seus retratos, principalmente os de mulheres, foram além do meramente documental e registraram personagens fortes e poderosas, indo de encontro ao estereótipo da época de fraqueza e submissão de quem vivia na pobreza.

Centro Cultural Borges, Buenos Aires, até 30 de agosto

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Araki incompleto: Sexo, vida e morte nos trabalhos de Nobuyoshi Araki

Uma grande retrospectiva do prolífico fotógrafo japonês Nobuyoshi Araki está em cartaz em Nova York. Além das 150 fotos, 400 livros e 500 polaróides, a exposição é acompanhada de depoimentos de colaboradores, musas e críticos da obra do artista, dando um contexto social e político para a obra de Araki no Japão do pós-guerra.

Museu do sexo, Nova York, até 31 de agosto

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Multiplicar, Identificar, Ela

A exposição no Centro Internacional de Fotografia (ICP) apresenta trabalhos de um grupo de artistas mulheres que exploram representações de identidade. Feitos entre o final dos anos 1990 e os dias de hoje, as obras das artistas Geta Brătescu, Stephanie Dinkins, Christina Fernandez, Barbara Hammer, Roni Horn, Wangechi Mutu, Gina Osterloh, Sondra Perry, Lorna Simpson [foto] e Mickalene Thomas utilizam fotografias, colagens, vídeos e filmes para confrontar de diferentes maneiras os estereótipos de raça, classe, gênero e idade.

ICP, até 2 de setembro

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Elliot Erwitt: Pittsburgh 1950

Em 1950, o fotógrafo norte-americano Elliott Erwitt, então com apenas 20 anos de idade, foi escolhido para registrar as mudanças de Pittsburgh, que deixava de ser uma cidade industrial para se tornar uma metrópole moderna. Após quatro meses de trabalho, Erwitt foi convocado pelo exército e enviado para a Alemanha, deixando seus negativos na Biblioteca de Fotografia de Pittsburgh. Só agora, décadas depois, as fotografias estão em exibição nos Estados Unidos, num trabalho feito em conjunto pela curadora-assistente do ICP Claartje van Dijk e o próprio Erwitt.

ICP, até 2 de setembro

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O trem: A última jornada de RFK

No dia 8 de junho de 1968, três dias após o assassinato de Robert F. Kennedy, seu corpo foi transferido de trem de Nova York para Washington D.C. para o sepultamento no cemitério de Arlington. A exposição em cartaz no MoMA de São Francisco aborda este evento a partir de três diferentes trabalhos: as fotografias feitas por Paul Fusco de dentro do trem; as fotografias e filmes caseiros feitas pelos espectadores e coletadas pelo artista holandês Rein Jelle Terpstra em seu projeto A visão do povo (2014–18); e a filmagem do trajeto original realizada em 70 mm pelo francês Philippe Parreno. [fotografia de Paul Fusco]

ICP, até 2 de setembro

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Henri Cartier-Bresson: O momento decisivo

O momento decisivo é uma obra clássica da fotografia do século 20, um dos pioneiros na abordagem da fotografia como uma forma narrativa própria.  A exposição em cartaz detalha, por meio de impressões da época, artigos, primeiras edições do livro e cartas, o processo de criação da obra, que contou com a colaboração de nomes como Tériade, editor de arte francês, a editora americana Simon & Schuster e Henri Matisse, autor da capa da primeira edição do livro.

ICP, até 2 de setembro

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Lola Álvarez Bravo

Uma das importantes figuras da história da moderna arte mexicana, a fotógrafa Lola Álvarez Bravo (1903-1993) tem uma mostra de seus trabalhos apresentados pelo museu Preus, na Noruega.

Museu Preus, Horten, Noruega, até 2 de setembro

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Shomei Tomatsu

A mostra é uma retrospectiva do fotógrafo japonês, com cerca de 180 fotografias organizadas em temas recorrentes da obra de Tomatsu, como a destruição causada pela Segunda Guerra Mundial, a americanização japonesa a partir das bases militares, os protestos estudantis nos anos 1960 e os estragos feitos pelo homem à natureza, entre outros.

Fundação Mapfre, Barcelona, até 16 de setembro

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Jacques Henri Lartigue: Vida em cor

A exposição Vida em cor apresenta um aspecto pouco conhecido do trabalho de Lartigue, mesmo com a fotografia colorida fazendo parte dos álbuns pessoais do artista desde o início de sua carreira. Esta é a primeira exposição dedicada somente ao trabalho colorido de Lartigue, com imagens de sua família, principalmente de sua esposa Florette, em viagens de férias por diferentes paisagens europeias.

Museu de l’Elysée, Suiça, Lausanne, até 23 de setembro

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Projeto Polaróide

A galeria C/O Berlim apresenta a exposição Projeto Polaróide, com obras de artistas que utilizaram a famosa câmera instantânea para produzir alguns de seus trabalhos, nomes como Nobuyoshi Araki, Sibylle Bergemann [foto], Guy Bourdin, Barbara Crane, David Hockney, Robert Mapplethorpe e Robert Rauschenberg, entre outros

C/O Berlim, até 23 de setembro

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Robert Lebeck. 1968

Em sua autobiografia, o fotojornalista alemão Robert Lebeck (1929 – 2014), comenta, a respeito de 1968, que “o ano dos protestos estudantis aconteceu sem minha presença”. A partir dessa premissa, o Museu de Arte de Wolfsburg organizou esta exposição, que mostra os trabalhos realizados por Lebeck ao longo deste ano tão emblemático da história. Neste período, o fotógrafo registrou o funeral de Robert F. Kennedy, a visita do Papa Paulo VI à Colômbia, um ensaio sobre as mulheres divorciadas na Alemanha e a participação de Joseph Beuys na polêmica Documenta de Kassel, entre outros eventos importantes do ano.

Museu de Arte de Wolfsburg, até 23 de setembro

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Juergen Teller – Curta sua vida!

O alemão Juergen Teller trabalha nas fronteiras da fotografia artística e comercial, com foco em retratos principalmente. Da fotografia de moda, paisagens e registros do seu cotidiano, as suas imagens constroem um universo visual próprio.

Fotomuseum Winterthur, Zurique, até 7 de outubro

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Tish Murtha: Trabalhos 1976 – 1991

As imagens da fotógrafa britânica Tish Murtha, feitas marjoritariamente nas décadas de 1970 e 1980, e agora expostas na Photographers Gallery retratam um período de instabilidade social e econômica no Reino Unido. A mostra apresenta seis grandes projetos da artista realizadas neste período: Newport Pub (1976/78); Crianças de Elswick (1978); Bandas de jazz juvenis (1979); Desemprego juvenil (1980); Noite de Londres (1983) e Elswick revisitada (1987 – 1991).

Photographers Gallery, Londres, até 14 de outubro

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Face a face: Retratos de artistas

 

A exposição reúne, a partir do acervo do Museu de Arte da Filadélfia, retratos de personalidades do mundo artísticos, como a cantora Billie Holiday e a artista Georgia O’Keeffe por fotógrafos renomados, como Dorothy Norman, Alfred Stiglietz, Man Ray, Richard Avedon e Alice O’Malley.

Museu de Arte da Filadélfia, Pittsburgh, até 14 de outubro

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Ícones do estilo: Um século de fotografia de moda – 1911-2011

Iniciando em 1911, quando Edward Steichen realizou as primeiras fotografias “artísticas” de moda e chegando até 2011, com a tecnologia digital ditando novos padrões na criação de imagens, esta exposição é uma pesquisa aprofundada no universo da fotografia de moda, desde de um nicho de trabalho até se tornar um importante força na cultura e até mesmo ser reconhecida como uma forma de arte.

Getty Center, Los Angeles, até 21 de outubro

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Saul Leiter: Em busca da beleza

O trabalho de Leiter está intimimamente ligado à cidade de Nova York, que registrou incessantemente ao longo de sua carreira. Sua fotografia em cores busca inspiração na pintura, atividade a qual também se dedicou até falecer em 2013, aos 89 anos.

Foto Colectania, Barcelona, até 21 de outubro

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No começo: As fotografias de Minor White no Oregon

Dividida em duas fases, a exposição No começo: As fotografias de Minor White no Oregon, em cartaz no Museu de Arte de Portland, apresenta trabalhos importantes do fotógrafo. A primeira fase, que vai até o dia 6 de maio, apresenta cerca de 60 fotografias de paisagens industriais, cenas noturnas e imagens de Minor White conduzindo workshops no Oregon no final dos anos 1950. A segunda fase, entre 12 de maio e 21 de outubro, mostrará cenas de rua em Portland, imagens do interior do Oregon e fotografias de duas casas históricas fotografadas por White para o museu de Portland em 1942.

Museu de Arte de Portland, Oregon, até 21 de outubro

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Cindy Sherman e Richard Prince: Coleção Astrup Fearnley

Dividida em duas grandes salas, a exposição apresenta uma seleção de 34 fotografias do acervo do Museu Astrup Fearnley, de Oslo, desses dois grandes artistas da fotografia contemporânea. Fazem parte da mostra algumas das séries mais representativas dos artistas, como Untitled film still e Retratos históricos, de Cindy Sherman, e Cowboys, namoradas e América espiritual, de Richard Prince.

Malba, Buenos Aires, até 29 de outubro

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Frida Kahlo – As suas fotografias

 

A mostra apresenta um conjunto de  desenhos, cerâmicas populares, a coleção de ex-votos, livros, fotografias, documentos e objetos diversos da artista mexicana, organizado a partir do acervo do Museu Frida Kahlo.

Centro Português de Fotografia, Porto, até 4 de novembro

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Diane Arbus: Uma caixa de dez fotografias

 

No final de 1969, a fotógrafa norte-americana Diane Arbus começou a trabalhar na organização de um portfólio. Quando suicidou-se, em 1971, Arbus havia completado a impressão de oito séries de Uma caixa de dez fotografias, de um total de 50 planejadas previamente. Desse total, apenas quatro foram vendidas por ela ainda em vida. Além de mostrar as imagens da fotógrafa, essa exposição do Smithsonian conta a história de Uma caixa de dez fotografias entre os anos de 1969 e 1973.

Museu Smithsonian, Washington, até 27 de janeiro de 2019

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Exposições

Uma seleção de exposições no Brasil para quem gosta de fotografia

Veja uma seleção de exposições no Brasil (e, aqui, no exterior) para quem gosta de fotografia:

 São Paulo

 

Conflitos: fotografia e violência política no Brasil 1889-1964

 

As fotografias da exposição contradizem a imagem do Brasil como país pacífico e oferece um olhar sobre a história nacional que colabora na compreensão da atual crise política. Com um panorama de imagens de guerras civis, revoltas e outros episódios de confronto envolvendo o Estado brasileiro, Conflitos aborda o papel das imagens fotográficas nesses eventos, seu uso político e suas formas de circulação.

IMS Paulista, até 29 de julho

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Seydou Keïta

Ao longo de sua carreira, Seydou Keïta (1921-2001) produziu inúmeros retratos dos habitantes de seu país. Em seu estúdio, localizado perto da estação ferroviária de Bamako, registrava as expressões, os vestuários e os gostos dos visitantes que passavam por lá. Realizadas entre 1948 e 1962, suas imagens também mostram um período de transformação no Mali, quando o país caminhava rumo à sua independência, em 1960.

A mostra do IMS inclui 48 tiragens vintage, em formato de 18 x 13 cm, ampliadas e comercializadas pelo próprio Keïta em Bamako, nenhuma delas jamais mostrada no Brasil. As demais 88 obras são fotografias ampliadas na França, sob a supervisão de Keïta, ao longo da década de 1990, quando sua obra é redescoberta no país e também nos Estados Unidos.

IMS Paulista, até 29 de julho

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São Paulo, fora de alcance

Vila Congonhas #1, de Mauro Restiffe, São Paulo, fora de alcance. Projeto realizado pelo Instituto Moreira Salles.

A exposição é o resultado de muitas caminhadas diárias que o fotógrafo realizou durante cerca de três meses em bairros centrais e periféricos, como Brás, República, Pinheiros, Vila Congonhas e Itaquera. Conhecido pelas séries fotográficas que desenvolve em torno de questões urbanas de relevância histórica, política e arquitetônica, Restiffe produziu centenas de fotografias com a câmera Leica e o filme preto e branco de alta sensibilidade que fazem parte sua poética artística.

IMS Paulista, até 26 de agosto

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Programa de Exposições de 2018

A mostra do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo apresenta o trabalho de sete artistas selecionados via edital, entre eles o fotógrafo Marlos Bakker [foto], que apresenta o filme SDDS 3404, feito a partir de imagens de aviões decolando e aterrisando coletadas de um grupo de Whatsapp de aficionados por este tema; e a dupla de artistas Ricardo Burgarelli e Hortencia Abreu, que apresenta a instalação Só à distancia mostra-se os dentes, pesquisa artística sobre o imaginário da Guerra do Paraguai (1864-1870) feita a partir de colagens, fotografias e vídeos. Também fazem parte da exposição os artistas Anna Costa e Silva (Eter), Elaine Arruda (Mastarel), Gsé Silva (Écfrase – Frases de mãe), Santidio Pereira (O preto no branco, sobreposição e nuances) e a dupla Janaina Barros e Wagner Leite Viana (Mau olhado – bem olhado).

Centro Cultural São Paulo, até 9 de setembro

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Equações da metrópole

A exposição traz 124 obras do acervo fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo abordando um período de 140 anos (entre 1862 e 2002) em que as diversas fases da história da cidade pode ser observado nas paisagens, na arquitetura e nas fotografias de seus habitantes. São imagens de fotógrafos como Aurélio Becherini, Aristodemo Becherini [foto], Carlos Moreira, Chico Vizzoni (Estúdio Vizzoni), Cláudia Alcóver, Cristiano Mascaro, German Lorca, Marc Ferrez, Michael Robert Alves Lima, Militão Augusto de Azevedo e Valério Vieira, entre outros.

Museu da Cidade de São Paulo, até 30 de setembro

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Rio de Janeiro

 

Extração inframundo

A mostra percorre seis anos da trajetória do fotógrafo mineiro Pedro David, com as séries fotográficas Madeira de lei, Terra vermelha e 360 Metros quadrados, as esculturas da série Ossos e o vídeo Campo clone, estes dois últimos trabalhos inéditos. O artista busca interpretar com a sua produção as relações entre o homem e o seu ambiente.

Galeria da Gávea, até 27 de julho

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Corpo a corpo: A disputa das imagens, da fotografia à transmissão ao vivo

A exposição Corpo a corpo celebra a nova produção brasileira em fotografia, cinema e vídeo através de sete trabalhos de Bárbara Wagner, Coletivo Garapa, Jonathas de Andrade, Letícia Ramos, Mídia Ninja e Sofia Borges [foto].

Os artistas foram convidados a pensar sobre o retrato, individual ou coletivo, e sobre como as imagens podem nos ajudar a enxergar os conflitos sociais que emergiram no Brasil nos últimos anos. O mote é o uso do corpo como um elemento de representação social e atuação política – seja pela presença física e simbólica nos espaços públicos, seja como o veículo condutor da câmera, seja como lugar de expressão da individualidade, que aproxima e separa os indivíduos.

IMS Rio, até 19 de agosto

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Feito poeira ao vento

A exposição mostra parte do acervo de fotografia do Museu de Arte do Rio – MAR, com cerca de 250 imagens de 112 artistas, que vão desde o século 19 até os dias de hoje. Feito poeira ao vento apresenta trabalhos de nomes como Marc Ferrez, Kurt Klagsbrunn, Pierre Verger, Walter Firmo, Evandro Teixeira, Guy Veloso [imagem], Rodrigo Braga, Marcos Bonisson e Rogério Reis, entre outros.

Museu de Arte do Rio, até 1 de julho de 2018

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Sergio Larrain

O fotógrafo chileno Sergio Larrain atravessou o mundo da fotografia como um meteoro, constituindo em poucos anos uma obra riquíssima, marginal e genial. Esta ampla retrospectiva de seu trabalho, organizada pela curadora francesa Agnès Sire, dá conta de toda a sua produção: o começo fotografando crianças de rua em Santiago, a série de viagens profissionais, o trabalho como correspondente internacional, membro da agência Magnum, o olhar amadurecido de volta à terra natal, até sua precoce retirada, quando faz opção por uma vida de isolamento e meditação.

IMS Rio, até 9 de setembro

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O Caso Flávio – O Cruzeiro x Life: Gordon Parks no Rio de Janeiro e Henri Ballot em Nova York

Em cartaz no IMS Rio, a exposição apresenta as fotografias e a história sobre o embate editorial entre as revistas O Cruzeiro e Life ocorrido em 1961 e provocado por uma matéria de capa da revista americana, clicada por Gordon Parks, que mostrava a miséria de uma favela carioca. A resposta imediata da revista O Cruzeiro veio pelas lentes do franco-brasileiro Henri Ballot, que registrou uma área degradada de Nova York.

IMS Rio, até 30 de setembro

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Brasília

 

José A. Figueroa – Um autorretrato cubano

Retrospectiva do fotógrafo cubano José A. Figueroa apresenta imagens que acompanham várias fases do desenvolvimento de Cuba, desde os primeiros anos de Revolução até os dias atuais. Figueroa é considerado um dos precursores na transição da fotografia documental para a conceitual, tanto em Cuba quanto em toda a América Latina.

Caixa Cultural, até 19 de agosto

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Porto Alegre

 

Moderna para sempre

A exposição itinerante Moderna para Sempre – Fotografia Modernista Brasileira na Coleção Itaú Cultural tem como foco o movimento modernista fotográfico brasileiro, muito importante na discussão sobre a prática da fotografia. Estão expostas obras de diversos fotógrafos modernistas brasileiros, como Geraldo de Barros [foto], José Oiticica Filho, José Yalenti, Marcel Giró, Thomas Farkas e Paulo Pires.

Instituto Iberê Camargo, até 15 de julho

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Fortaleza

 

Luz e sombra – Christian Cravo

A exposição é fruto dos registros de viagens que o fotógrafo Christian Cravo fez a sete países africanos: Namíbia, Zâmbia, Botsuana, Quênia, Tanzânia, Congo e Uganda. Em preto e branco, as imagens criam recortes nas paisagens e corpos dos animais, destacando texturas e formas.

Museu da Fotografia Fortaleza, até julho de 2018

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Poços de Caldas

 

Modernidades fotográficas, 1940-1964

O Brasil de meados do século 20 é um país em plena transformação. O ímpeto de modernizar a vida social atinge todos os âmbitos, da economia à política, da cultura ao cotidiano, sempre num ritmo acelerado. Modernidades fotográficas visita esse período entre o regime Vargas e o golpe militar de 1964 pelos olhos de quatro grandes testemunhas de seu tempo: José Medeiros, Marcel Gautherot, Thomaz Farkas e Hans Gunter Flieg. Quatro fotógrafos incontornáveis, justamente por não pertencerem a uma mesma escola ou corrente, e sim por sua diversidade: de origem, de estilo, de interesse, de atuação, num arco que vai do jornalismo à experimentação formal, passando pela fotografia utilitária. O resultado é de grande variedade temática e estilística, sem fórmula única – e de enorme riqueza como figuração de um país tão vasto e contraditório, que só se deixa capturar pela soma de múltiplos olhares.

IMS Poços, até 30 de setembro

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Exposições

A fotografia é o motor invisível de exposição da artista Cinthia Marcelle

Patrícia Mourão & Cinthia Marcelle

Foto da série Capa Morada, de Cinthia Marcelle e Jean Meeran. Cortesia da artista.

Em entrevista de 2011, concedida a Júlia Rebouças, a artista mineira Cinthia Marcelle afirma que se descobriu como artista em 2003, quando participou de uma residência artística na Cidade do Cabo, África do Sul. Daquela experiência, voltou ao Brasil com uma série fotográfica, realizada em parceria com o artista sul-africano Jean Meeran e intitulada Capa Morada, na qual, cobrindo-se com tecidos da mesma cor do fundo em frente ao qual se colocava, a artista tentava se fundir à paisagem da cidade – apenas uma foto da série não obedecia a esse esquema, curiosamente, a única em que a artista de fato se “desmargina” no meio cidade.

Cinthia Marcelle já trabalhava como artista desde os anos 1990, mas seu mito auto instituído de eleição poética está localizado em Capa Morada e na sua tentativa, com essa série, de diluir suas margens e fronteiras para mesclar-se e mestiçar-se em um outro mundo. É nesse mito, associado a uma fotografia realizada na África do Sul, que penso com frequência nos cinco dias que passo em Oxford, acompanhando a montagem de sua exposição The Family in Disorder: Truth or Dare (A Família em desordem: Verdade ou desafio), atualmente em cartaz no Modern Art Oxford (MAO), na Inglaterra. Para a exposição a artista preparou dois  trabalhos inéditos, muito distintos um do outro em termos de escala e energia empregada: um site specific, The Family in Disorder,  e um vídeo, do qual a exposição retira a segunda parte do seu título (Truth or Dare), feito a partir de uma fotografia registrada na África do Sul em 2017. Como se verá, toda a exposição equilibra-se e sustenta-se sobre uma fotografia feita também no país africano 15 anos depois daquela de Capa Morada.

Exposição The Family in Disorder: Truth or Dare, de Cinthia Marcelle, Upper Gallery [vista geral]. Foto de Ian Wallman. Cortesia da Artista e do Modern Art Oxford.

Como vários trabalhos de Marcelle, Family in Disorder responde à arquitetura do museu, que neste caso é composto por duas galerias principais, de tamanhos ligeiramente diferentes e interconectadas por uma pequena saleta.  O trabalho começa pela duplicação de uma galeria dentro da outra. Na maior, foi colocado um carpete preto reproduzindo, em escala 1:1, a planta da galeria menor, cujo piso também foi coberto por um carpete idêntico. Sobre os carpetes de cada uma das salas, foi erguida, com a ajuda dos montadores e seguindo um esquema rigoroso desenhado pela artista, uma mureta com materiais recorrentes no trabalho de Marcelle: tijolos, pedras, terra, ripas de madeira, barris de metal preto, plástico preto, tecido de algodão branco, rolos de papel craft, corda, cadarço preto, silver tape, fita crepe, giz e bombas de fumaça. Meticulosamente ordenados e encaixados, esses materiais formaram uma mureta sólida, de aproximadamente setenta centímetros de altura, separando, de uma ponta a outra de sua largura, os carpetes em duas metades. Uma mureta era idêntica à outra. Para as duas salas empregou-se a mesma quantidade de material, e para as duas seguiu-se o mesmo projeto, de modo que, ao final dessa etapa, a galeria menor, com o carpete e a mureta, estava inteiramente duplicada e emoldurada pela maior, como uma fotografia, uma imagem-espelho.

Terminada a construção, um grupo de montadores-artistas convidados ocupou a galeria maior com liberdade para desmontar a estrutura, manipulando os materiais como bem entendessem, contanto que respeitassem algumas regras: evitar textos e representações figurativas, não alterar o carpete (este deveria permanecer como o índice mais evidente da duplicação de uma sala na outra); não usar qualquer tipo de ferramenta; e, por último, não retirar nada da sala, de modo que, ao final do processo, se fosse possível pesar as duas galerias, o peso de ambas deveria ser idêntico. A galeria menor ficou preservada com a mureta de materiais intocada e, uma vez aberta a exposição, permaneceu como um  espelho tridimensional do passado ordenado da maior, já “desordenada”.

Como que para assegurar sua própria exclusão e a imprevisibilidade do processo, a artista confiou ao museu a escolha dos seis montadores: Aline Arcuri, Aaron Head, Chris Jackson, Kamila Janska, Andy Owen e Seb Thomas. Que também fossem artistas no lugar de “não-artistas” ou amadores era tão importante para a operação em jogo em Family in Disorder quanto o afastamento auto-imposto por Marcelle. Isso porque o enquadramento da arte, quero dizer, sua localização dentro do campo da arte, é central para a operação em jogo neste projeto. O esforço de Marcelle em Family in Disorder vai no sentido de se desafiar como artista, provocando, deslocando e desenquadrando sua história, seus métodos e processos, deixando-se, tal como em um jogo de verdade ou desafio, revelar e desmontar. Um esforço, em suma, de se “desenquadrar” de seus quadros habituais. Mas sem o enquadramento da arte, esse gesto seria apenas uma diluição ou dissolução no todo.

Exposição The Family in Disorder: Truth or Dare, de Cinthia Marcelle, Piper Gallery [vista geral]. Foto de Ben Westoby. Cortesia da Artista e do Modern Art Oxford.

Para sedimentar esse quadro comum, em seu primeiro encontro com os seis artistas-montadores em Oxford, Cinthia Marcelle dividiu com o grupo um atlas de imagens coletadas e/ou realizadas por ela ao longo dos anos. No total, foram 668 slides com imagens em preto e branco, apresentadas sequencialmente, sem crédito nem qualquer outra informação contextual. O slide show começava com um registro da exposição First Papers of Surrealism (Nova York, 1942), cuja cenografia foi assinada por Duchamp, e terminava com uma fotografia de uma secundarista fechando o trânsito em São Paulo e levantando o punho em sinal de luta – que estivéssemos em uma cidade que se orgulha de sua fidalguia acadêmica, e que a artista tenha escolhido encerrar a apresentação com a imagem de uma luta por uma educação horizontal, propositiva e sonhadora, me leva a pensar que há uma equivalência entre, de um lado, aprender e desaprender e, de outro, enquadrar(-se) e desenquadrar(-se). Entre Duchamp e a secundarista, sem qualquer hierarquia ou diferenciação, imagens provenientes da história da arte da segunda metade do século 20 misturavam-se a trabalhos de artistas de sua geração, a stills de filmes e ao caos desordenado do mundo (com fotografias de borracharias, lixos urbanos, manifestações ou situações de resistência, por exemplo). Também havia, no meio de tudo, obras da própria artista e dos seis montadores-artistas convidados.

Na apresentação das fotografias aos montadores, à medida que os slides se sucediam, notava-se a recorrência de materiais como cordas, areia, pó branco, borracha, pedras ou lona preta – vários dos quais apareceriam na barreira –,  assumindo formas variadas e prestando-se a usos diversos. O aspecto bruto e integral dos materiais chamava mais a atenção que o contexto das situações. Passado um tempo, deixava de importar se o que víamos era um trabalho artístico ou a desordem ilógica do mundo, se estávamos em uma galeria ou em um terreno baldio. Também deixava de importar a autoria ou a realidade anterior de cada imagem. No fluxo indiferenciado dos slides, por contágio e repetição, de uma fotografia a outra, a arte perdia seu enquadramento ao mesmo tempo que, ao desarranjo mundano, era atribuída uma gramática, um sistema e um limite.

A apresentação das imagens em fluxo contínuo e a decisão de neutralizar as particularidades de cada uma com um filtro preto e branco contribuía para aumentar a impressão de indiferenciação. Também colaborava para isso o fato de que várias das imagens não pertenciam ao repertório dos montadores-artistas. Ainda que pudessem reconhecer nomes já clássicos como Carolee Schneemann, Joseph Beys, Martha Roesler ou Robert Smithson, não se pode esperar o mesmo em relação a alguns artistas brasileiros, como António Manuel, Artur Barrio, Carmela Gross; que dizer então daqueles da geração de Marcelle, como Lais Myrrha, Sara Ramo, Marilá Dardot ou Matheus Rocha Pitta.

Exposição The Family in Disorder: Truth or Dare, de Cinthia Marcelle, Upper Gallery [vista geral]. Foto de Ben Westoby. Cortesia da Artista e do Modern Art Oxford.

As aproximações entre artistas, mundo e caos eram tão pouco programáticas e as associações tão livres que, por alguns minutos, parecia-nos estar na cabeça de Cinthia Marcelle, no emaranhado de suas lembranças sedimentadas e quase apagadas. Mas de alguma maneira – talvez porque cada um dos montadores reconheceu ali um pouco de sua história –, aqueles slides acabaram por constituir uma memória comum, fragmentada, e nunca totalmente reconstituível, para a exposição.

Pertencendo apenas ao processo da exposição, o slide show não foi disponibilizado ao público – e tenho dúvidas de que algum dia a artista o dividirá novamente com alguém: há algo de tão íntimo e pessoal ali, que a simples ideia já parece obscena. Mas para aqueles que o viram, uma vez aberta a exposição, era possível reconhecer aqui e ali, na galeria onde trabalharam os artistas convidados, algumas formas saídas das fotografias: uma massa redonda pendendo do teto lembra um detalhe em uma instalação do sul africano Dineo Seshee Boppe; uma pequena escultura de tijolos equilibrados em giz, um André Komatzu; fitas pendentes na parede, um Robert Morris; uma espiral de tecido branco, uma Cinthia Marcelle. Era como se as fotografias do slide show, inicialmente pertencentes à memória pessoal da artista, tivessem ido para o espaço depois de filtradas e reorganizadas pela experiência de cada um dos montadores; como se aquelas formas tridimensionais fossem os vestígios de uma memória individual deslocada, transformada e naufragada coletivamente.

Se aquelas formas autônomas citavam diretamente o slide show não é possível saber, assim como não é possível adivinhar para qual montador deve ser atribuída sua autoria. O trabalho retira sua força dessa indistinção, pois não estamos em uma sala cheia de objetos independentes, de autorias distintas, dispostos lado a lado segundo algum tipo de padrão ou ordenação. Ao contrário, a sala nos provoca duas experiências distintas, que se alternam mas não se anulam: de um lado, a apreensão de uma totalidade, um overall abstrato que parece querer se expandir para além das paredes. De outro, uma atenção aos detalhes e pequenos acontecimentos visuais. Em outras palavras: enquadrar e desenquadrar.

Três fotografias da exposição The Family in Disorder: Truth or Dare, de Cinthia Marcelle, Upper Gallery [detalhe]. Foto de Cinthia Marcelle. Cortesia da Artista e do Modern Art Oxford.

Na pequena saleta conectando as duas salas espelhadas de Family in Disorder, no chão, havia um pequeno monitor com o vídeo Truth or dare. E assim como a memória fotográfica do slide show Family in Disorder estava indisponível ao público, a fotografia, utilizada no vídeo Truth or Dare, não podia ser percebida como uma fotografia. Registrada com um celular, na África do Sul, a foto no centro do filme mostra uma forma triangular apoiada sobre um fundo de terra batida. No filme, um software (desenvolvido, a pedido da artista, por Pedro Venoroso) faz o triângulo girar sobre o próprio eixo, sem velocidade regular. Apresentado em loop, o filme tem dois movimentos simétricos e um centro: primeiro, o triângulo gira em sentido horário, mas depois de alcançar o repouso, o mesmo movimento é iniciado em sentido anti-horário; entre os dois, uma breve sombra projeta-se sobre o triângulo.

Na sua simetria interrompida por um centro, Truth or Dare reflete a situação espacial da exposição, com suas duas salas espelhadas e uma no meio com o vídeo: os movimentos em sentido horário e anti-horário apontam, cada qual, para uma sala, e a sombra projetando-se sobre o eixo triangular faz a vez da sala onde o vídeo está instalado – ela também mais escura que as duas grandes galerias entre as quais se encontra. Se o movimento do triângulo no filme lembra o de uma bússola ou um relógio, ele também evoca, como sugerido pelo título, o de uma garrafa na brincadeira “verdade ou desafio”, com as duas salas encarnando, ao mesmo tempo, os dois jogadores do jogo: uma sala é o espelho e o desafio da outra.

Exposição The Family in Disorder: Truth or Dare, de Cinthia Marcelle, Middle Gallery, frames do vídeo Verdade ou desafio. Cortesia da Artista e do Modern Art Oxford.

O vídeo também provoca uma sensação de desorientação não muito distinta daquela provocada pelas duas galerias de Family in Disorder: não só a bússola parece sem prumo, mas nós também perdemos, momentaneamente, o sentido de gravidade e nossa capacidade de interpretação espacial. Por um instante, ficamos sem saber se é o triângulo que se move sobre um fundo fixo, se é o fundo que gira com o triângulo colado a ele, ou se é a câmera que gira sobre o próprio eixo ao redor de um objeto fixo. Não somos capazes nem mesmo de saber se o filme é uma animação feita a partir de uma fotografia ou é um plano sequência: assim como as fotografias do slide show desaparecem no meio do processo, também aqui não é possível ter certeza de que aquela forma triangular seja originalmente uma fotografia. É essa fotografia, praticamente invisível e esquecida, que sustenta e equilibra o jogo de verdade e desafio entre duas salas repletas de materiais.

Entre esta fotografia e aquelas de Capa Morada, são 15 anos que separam o momento em que Cinthia Marcelle se reconhece como artista e a ocasião em que convoca um levante contra sua autoridade artística. Nesse meio tempo, a artista expôs em grandes museus, participou de bienais e recebeu vários prêmios – o mais recente, uma Menção Honrosa por seu trabalho Chão de Caça, comissionado para o pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza.

Pensando nessas datas, à luz do que testemunhei em Oxford, fico a me perguntar se Family in Disorder não seria, mais que uma provocação e um desafio, uma retrospectiva de Cinthia Marcelle. Ou melhor dito: uma retrospectiva-levante, uma retrospectiva-motim, uma retrospectiva-ataque-desafio-provocação. Uma retrospectiva na qual a artista pode recuperar sua trajetória tanto quanto seu gesto inicial e tantas vezes repetido de tentar perder suas margens dentro de uma margem delimitada. Uma retrospectiva que, como um beijo de Judas, revela e põe à prova.///

 

Cinthia Marcelle (1974) vive e trabalha em São Paulo. Suas fotografias, vídeos e instalações já foram expostas em instituições no Brasil e no exterior, entre os quais o MoMA PS1, a Tate Modern, a Trienal do  New Museum, a Bienal de São Paulo e, recentemente, a 57 Bienal de Veneza, onde recebeu a menção honrosa por seu trabalho no pavilhão brasileiro.

Patrícia Mourão é doutora em cinema pela Universidade de São Paulo, com bolsa sanduíche na Columbia University. Programou mostras dedicadas ao cinema estrutural e organizou, entre outros, os livros Cinema Estrutural (coorganização de Theo Duarte, Caixa Cultural, 2015); Jonas Mekas (Cinusp, 2013), David Perlov: epifanias do cotidiano (coorganização de Ilana Feldman, CCJ, 2011) e Harun Farocki: por uma politização do olhar (Cinemateca Brasileira, 2010).