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Os percursos e as memórias de Pierre Verger nos meandros do (seu próprio) arquivo

André Pitol

Pierre Fatumbi Verger, Candomblé Joãozinho da Gomea, Salvador, Brasil, 1946 © Fundação Pierre Verger

Toda vez que visitamos uma exposição temporária temos a certeza de que dali a poucas semanas, ou meses, encontraremos no mesmo espaço tudo e qualquer coisa, menos o que ali vimos. Essa renovação programada e efêmera, essa temporalidade circunstancial característica do evento de arte no contemporâneo, procura modos de resistir justamente ao fato de não mais existir no futuro. Semelhante à dinâmica que faz parte do funcionamento e do horizonte da fotografia: ser um registro ou uma memória de seu tempo, ao mesmo tempo ciente de sua finitude material. Cada uma à sua maneira, exposição e fotografia revelam similaridades de uma dinâmica que envolve uma transformação inerente e uma encenação acerca do fluxo do tempo, nos lembrando que a arte, assim como o mundo, está (e sempre esteve) em movimento permanente.

Nesse sentido, a exposição Pierre Verger: Percursos e Memórias, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake (SP) até o dia 21 de novembro próximo, é uma oportunidade do visitante perceber in loco as tensões existentes entre a transitoriedade do evento artístico e o duradouro reconhecimento da obra fotográfica em questão. Ainda mais em se tratando de Pierre Verger (1902-1996), francês de família belga do ramo gráfico que, após o distanciamento (e libertação) familiar, rumou ainda na França para o ofício fotográfico e publicitário de perfil documentalista e humanista. Fato que o permitiu viajar o mundo e acabou por trazê-lo ao Brasil, onde novamente se reinventou, desta vez na direção da pesquisa escrita e visual de perspectiva histórica e antropológica das tradições e manifestações da diáspora africana e da cultura afro-brasileira. Alguns desses desdobramentos são mais conhecidos do público brasileiro do que outros, e discutir seus meandros é sempre uma possibilidade de conhecer melhor o que está em jogo na sua fotografia.

 

Foto da exposição Pierre Verger: Percursos e Memórias, no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo. Crédito: André Pitol

A exposição é resultado de uma cocuradoria entre Priscyla Gomes, do Instituto Tomie Ohtake, e Alex Baradel, curador da Fundação Pierre Verger, localizada em Salvador. A mostra se junta às outras atividades da programação paralela da 34ª edição da Bienal Internacional de Arte de São Paulo, composta pela apresentação de trabalhos tanto na mostra central, no Parque do Ibirapuera, quanto em exposições individuais em cartaz em vários pontos da cidade. No caso de Pierre Verger, a curadoria encarou o desafio de articular, conforme o próprio título da exposição, a trajetória e a produção do fotógrafo enquanto percursos e também enquanto memórias – sintetizados logo na entrada pela presença de um passaporte e uma câmera rolleiflex. Conjugados, os dois termos atuam como eixos norteadores da materialidade exposta, comentando alguns itinerários de Verger pelo mundo entre as décadas de 1930 e 1970, utilizando para isso um conjunto de reproduções fotográficas, publicações, objetos e outros documentos preservados na fundação que leva seu nome.

Comecemos pelos percursos. A expografia dividiu uma das salas expositivas do Instituto em cinco núcleos dedicados a apresentar sete diferentes percursos de Pierre Verger por várias partes do mundo: 1) Polinésia [Francesa] (1932-33); 2) Ásia (China e Japão — 1937-38); 3) África Ocidental (Benim, Burquina, Mali e Togo — 1936-37); 4) América Andina (Peru e Bolívia — 1939-46); 5) Brasil (Bahia e Pernambuco — 1946-60); além de dois percursos temáticos: 6) Fluxo e Refluxo (1968-70) e 7) Dieux d’Afrique (1951-54). A diferença apontada entre a quantidade de salas e percursos se explica pelo fato dos núcleos da Polinésia e Ásia ocuparem a mesma sala. E também do caráter de “passagem” do percurso Fluxo e Refluxo, que interliga três salas.

A ideia da curadoria para tais percursos é de que eles contassem ou narrassem momentos centrais do deslocamento de Verger pelo mundo, como a cobertura do conflito sino-japonês, os paraísos colonizados na Oceania, ou ainda os festejos afro-brasileiros, dentre outras localidades, suas comunidades e suas produções culturais.

Nos percursos da Polinésia e da Ásia, assim como no da África Ocidental, por exemplo, percebe-se o momento em que a fotografia era o tour de force de Verger, quando sua atuação como repórter fotográfico ainda estava vinculada aos projetos individuais, ao comércio fotográfico com as agências e às encomendas da imprensa – situações nas quais a imagem cada vez mais massificada e em circulação era dependente do texto para lhe oferecer o contexto de leitura. São inúmeras as revistas e jornais em que o fotógrafo teria seu trabalho publicado, entre o começo da década de 1930 e o final da década de 1950, tanto francesas, como a Paris Soir (onde realizou seu primeiro trabalho fotográfico remunerado), a Voilà e a Diversion; quanto anglófonas, como a The Daily Mirror e a Life; e as brasileiras, com várias reportagens publicadas na revista O Cruzeiro, dentre outras.

 

Foto da exposição Pierre Verger: Percursos e Memórias, no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo. Crédito: André Pitol

Em primeiro lugar, o volume crescente de contratos e viagens se materializa na multiplicidade de ensaios fotográficos, com seus formatos e tamanhos próprios, e na quantidade de imagens combinadas com textos e reportagens. A imagem de Verger pertencia, ali, mais à ordem do folhear das páginas (e das mãos) do que das paredes (e dos horizontes), e entrar em contato com a sua produção e contexto significava valer-se dessa pluralidade da mídia impressa. Assim, bonecos de fotolivros, páginas de reportagens e folhas de contato com pequenas imagens evidenciam que produzir uma imagem fotográfica envolve uma variedade de dimensões, potencialidades e limitações tecnológicas, assim como o aprendizado semiótico visual da crescente população mundial.

Na exposição, tal multiplicidade texto-imagética está estruturada de uma maneira binária, ocupando ortogonalmente o espaço: nas paredes, reproduções fotográficas daquelas viagens foram ampliadas em dois principais tamanhos quadrangulares e apresentadas verticalmente ao visitante, dispostas em conjunto ou em destaques individuais; já na horizontal, mesas envidraçadas guardam os documentos de Verger, reunindo cadernos de anotações, correspondências com amigos e artistas, além de algumas das publicações acima mencionadas, abertas em uma página definida (além de cada item estar acompanhado de uma ficha explicativa). Tal proposição curatorial presente não apenas no núcleo da Polinésia e da Ásia, mas nos demais percursos da exposição, nos permite vislumbrar como elas capturam as assimetrias e as oportunidades fotográficas advindas do imperialismo oitocentista e cujas feridas coloniais, no caso francês, permaneceram irresolutas em praticamente todo o período de atuação de Verger.

 

Pierre Fatumbi Verger, Refugiados, Qingdao, China, 1937 © Fundação Pierre Verger

Em segundo lugar, essa ortogonalidade evidencia que o sequenciamento cronológico dos percursos apresentados reforça uma narrativa bio(foto)gráfica convencional, que utiliza um arsenal diverso de itens arquivísticos – como objetos pessoais, reportagens, bonecos de fotolivros, cartas e cadernos –, para privilegiar um percurso temporal unidirecional. Quase como um didatismo às avessas, temos a impressão de que, seja na Paris de 1934, no Mali em 1937, na Nova York de 1939, na Lima de 1942, no Benim de 1953 ou na Bahia de 1960, havia uma diferenciação estabelecida entre as ampliações fotográficas para contemplação e as publicações e outros componentes disponíveis ao manuseio. Nesse fio condutor, perde-se a noção das muitas mudanças que a fotografia transcorreu. Sendo que, ao fundo, os percursos (destacando o plural) chamam nossa atenção para a multidirecionalidade da produção e da impressão de imagens, bem como a expansão nos usos da fotografia.

A cronologia dos percursos propostos pela exposição começa quando Verger ainda exercia o ofício de fotojornalista, alinhado a pautas editoriais do período entre guerras, segue percorrendo suas investigações como pesquisador no campo de estudos da escravidão e das religiões africanas e afro-brasileiras, até sua inserção enquanto personagem no cenário intelectual baiano. Nesse meandro, o fotógrafo-viajante se tornaria etnógrafo e líder religioso, metamorfoseando e reproduzindo uma transição cultural pela qual a atividade fotográfica passaria no decorrer do século 20: a fricção entre imagem e texto, ou da imagem para o texto.

Entre a Bahia e o golfo do Benim, as experiências de pesquisa levadas a cabo por Pierre Verger foram tomando maior fôlego. Exemplo disso é a investigação sobre a relação comercial da rota atlântica de escravizados durante a colonização portuguesa, de modo que o reconhecimento de Verger como pesquisador solidifica sua trajetória fotográfica de uma maneira um tanto contraditória: por um lado, a segunda metade do século 20 deslocaria a trama textual da imagem fotográfica, liberando-a em direção à aliança estética com o campo da arte (explicitando a preocupação já comentada com a verticalidade das imagens expostas pelas ampliações tableaux, ou seja, como quadros na parede, disponível para contemplação à altura do espectador garantida); por outro lado, o interesse de Verger pela escrita – e cujo livro Fluxo e Refluxo é seu exemplo-mor – fez com que a fotografia continuasse presente, mas agora coadjuvante, para que o antropólogo, pesquisador e babalaô se realize.

 

Foto da exposição Pierre Verger: Percursos e Memórias, no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo. Crédito: André Pitol

Esse caminho nos leva ao segundo eixo norteador da exposição, as memórias. Quanto mais se aproximou e tematizou as culturas e religiões afro-brasileira e africana, mais Pierre Verger foi abrindo mão do registro fotográfico para se envolver com a pesquisa escrita. Os relatos de Verger – registrados em entrevistas, livros e cartas – não detalharam sua relação com a fotografia, isolando-o de outros marcadores e decisões tomadas entre o começo dos anos 1930, sua chegada a São Paulo e seu destino final em Salvador. Tais relatos foram a oportunidade encontrada por ele para contar sobre o seu passado conforme sua própria vontade, a ponto de a pesquisadora Iara Cecília Pimentel Rolim, no trabalho Primeiras imagens: Pierre Verger entre burgueses e infrequentáveis (2009), referir-se a um “‘outro Pierre Verger’ que se camuflou nas entrelinhas de relatos e biografias”.

 

Foto da exposição Pierre Verger: Percursos e Memórias, no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo. Crédito: André Pitol

Seja falando do Verger anterior ou posterior à sua chegada ao Brasil, suas memórias configuram-se de maneira a dar conta dessa rota traçada. Nada mais propício para ser utilizado no projeto curatorial, já que, segundo o teórico da mídia Boris Groys (2021), é parte da instalação expositiva contemporânea ser “capaz de incluir todos os tipos de objeto: obras de arte ou processos duracionais, objetos cotidianos, documentos, textos, e assim por diante”, compondo uma unidade diversa a fim de incluir também os visitantes.

No que diz respeito às memórias de Verger anteriores à 1946, o visitante entra em contato principalmente com registros de campo do Verger profissional da fotografia, que se materializam na forma de cadernos de anotações, agendas, documentos e solicitações de órgãos de imigração. Aqui, as chances de encontrar sinais de reflexões, caminhos ou vulnerabilidades são poucas. Já no que se refere às memórias brasileiras pós-Estado Novo, a curadoria escolheu reunir as principais memórias no percurso Brasil, dedicado às imagens e escritos sobre a cultura popular e outras manifestações culturais e religiosas de Belém do Pará, São Luís do Maranhão e Recife, além da Bahia. Apresentados em uma fileira dupla de mesas arquivísticas, podemos nos debruçar e ler diversos itens epistolares, como textos datilografados, diários e cartas avulsas com registros de encontros com figuras como o pintor Carybé, a ialorixá Mãe Senhora – redigidas por seu filho, Mestre Didi –, o sociólogo Roger Bastide, o escritor Jorge Amado, a arquiteta Lina Bo Bardi, o músico Dorival Caymmi e tantas outras. E além das correspondências escritas, no percurso dedicado ao Brasil encontram-se três imagens de outros fotógrafos, dois deles também estrangeiros e que migraram para o Brasil – uma fotografia de Marcel Gautherot e outra de Peter Scheier – além da icônica imagem “Índio Iaualapiti”, de José Medeiros. Porém, não há informações sobre as possíveis relações ali implicadas.

Já distante da produção fotográfica, as cartas se comportam justamente como um contraponto de outro momento de Verger, em que a fotografia tinha tomado uma dimensão diferente, tanto para ele quanto para as artes em geral.

 

Pierre Fatumbi Verger, Festa da Ribeira, Salvador, Brasil, 1959 © Fundação Pierre Verger

Dessa forma, tanto as questões tratadas nos percursos quanto as narrativas presentes e escondidas nas memórias de Verger parecem convergir para as implicações da noção de arquivo. Falar de arquivo, atualmente, significa considerar um espectro tão sedimentado quanto polimorfo em relação às tentativas de analisar e ler a fotografia. Não é à toa que o interesse de mostrar Verger a partir de uma imersão arquivística da fotografia traga a lembrança de outras investidas, seja em exposições como Arquivo Peter Scheier (IMS, 2020), seja em livros como História Potencial: desaprendendo o imperialismo (2020), de Ariella Aisha Azoulay – apenas para citar dois exemplos mais recentes.

O arquivo é o elo que interliga os eixos percursos e memórias na proposta curatorial. Isso se manifesta na exposição também de, pelo menos, duas maneiras. A primeira diz respeito ao arquivo presente no horizonte de digitalização dos acervos fotográficos e que gera debates não apenas em torno da preservação destes arquivos (e das culturas às quais é parte da responsabilidade a salvaguarda da memória), mas sim o arquivo das imagens de Verger, seus negativos preservados ou digitalizados, a partir dos quais a reprodução de suas imagens garanta sua presença nesta e em outras exposições. Levar em consideração o arquivo da imagem, seus dados de informação e as combinações (ampliações, ajustes e performatividades) é ainda importante para que fique clara a diferença entre a relevância do que se está expondo enquanto artefato cultural e as decisões de como realizar tal tarefa no presente e para o presente.

 

O segundo sentido de arquivo se manifesta no gesto de articular o arsenal de imagens e objetivos em exposição, não mais como documentos arquivísticos selecionados para confirmar a veracidade e beleza de reproduções fotográficas, mas sim como um dispositivo (nos termos de Vivian Braga dos Santos, e também nos de Azoulay, acima indicada). Algo que diz respeito a uma compreensão de arquivo ligado à disposição de, que não se limita apenas a regras de seleção, mas que se relaciona e intercepta também dispositivos de apresentação e extroversão do material arquivístico, visando novas formas de compor/contar histórias.

Por fim, a oportunidade temporária que o visitante tem de conhecer alguns dos percursos e memórias do arquivo de Pierre Verger corrobora que sua obra é, sem dúvida, multiversa, o que poderia ter permitido (e ainda pode permitir) se pensar inúmeras maneiras de compor outras curadorias. Os temas fotografados, concretizados em sua variedade material, permitem que se reflita mais profundamente, investigando a complexidade editorial, sequencial, projetiva e cultural da fotografia que certamente ultrapassa e resiste à homogeneização curatorial. ///

 

André Pitol é pesquisador com experiência em projetos artísticos e cursos sobre fotografia, história da arte e curadoria. Estudou na Fundação das Artes de São Caetano do Sul e na Escola de Comunicações e Artes da USP, escreveu artigos e ensaios sobre Madalena Schwartz, Claudia Andujar, Almir Mavignier, José Oiticica Filho e Alair Gomes. É integrante do Grupo de Pesquisa em Arte, Design e Mídias Digitais.

 

 

Exposições

Uma seleção de exposições no Brasil para quem gosta de fotografia

Veja uma seleção de exposições no Brasil (e, aqui, no exterior) para quem gosta de fotografia:

São Paulo

 

Adrià Julià: Nem mesmo os mortos sobreviverão

Primeira exposição individual do artista espanhol no Brasil, a mostra Adrià Julià: Nem mesmo os mortos sobreviverão, coloca em questão as implicações das técnicas de reprodução, impressão e autenticação que pautaram a organização do fluxo das imagens nos primórdios da fotografia. Desde 2011, Julià tem pesquisado sobre os experimentos fotográficos, por vezes fracassados, de Hercule Florence (Nice, 1804 – Campinas, 1879), que se estabeleceu no Brasil no século 19.

Pinacoteca, até 16 de fevereiro de 2020

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León Ferrari: Nós não sabíamos

Para a presente exposição, a Pinacoteca apresenta 94 trabalhos que incluem duas séries doadas pelo artista ao museu: L’Osservatore Romano (2007) e Nunca Más (2006). Ambas pertencem a um lote oferecido por ocasião de sua exposição Poéticas e políticas, 1954-2006, realizada na instituição em 2006.

Pinacoteca, até 24 de fevereiro

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Susan Meiselas – Mediações

Retrospectiva da fotógrafa norte-americana Susan Meiselas (1948) reúne obras de 1970 até os dias de hoje. Integrante da agência Magnum desde 1976, Meiselas tornou-se conhecida principalmente pelo trabalho em zonas de conflito na América Central, em especial por suas poderosas fotos da revolução sandinista na Nicarágua. Cobrindo uma vasta gama de temas – direitos humanos, identidade cultural e indústria do sexo, por exemplo –, ela mistura fotos com filmes, vídeos, documentos e imagens de arquivo para construir relatos que têm os fotografados como protagonistas.

IMS Paulista, até 1 de março de 2020

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Anna Bella Geiger: Brasil Nativo / Brasil Alienígena

Organizada pelo MASP em parceria com o Sesc São Paulo, a mostra reúne cerca de 190 obras, dos anos 1950 aos dias de hoje, em diferentes formatos, suportes e linguagens, revelando a amplitude do trabalho de Geiger. A exposição abrange a abstração informal, o interesse da artista pelo interior do corpo humano, o autorretrato, mapas, geografias, paisagens, equações, bem como a crítica do sistema das artes e a análise de questões políticas e históricas do Brasil.

MASP e Sesc São Paulo, até 1 de março

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Sob ataque – Coletivo Garapa

Idealizada pelo coletivo Garapa, a exposição é uma iniciativa que se debruça sobre o território hoje conhecido como Cracolândia, em São Paulo. O projeto mapeia, a partir da fotografia do imóvel da Rua Helvetia, 2, bombardeado durante a Revolução Paulista de 1924, outras explosões e eventos de violência ocorridos naquele espaço desde então.

A mostra reúne uma iconografia vinda de diferentes acervos documentais, como os do Instituto Moreira Salles, da Fundação Energia e Saneamento e da própria Casa da Imagem, além de registros fotojornalísticos contemporâneos. Entre as imagens de arquivo, duas se destacam de modo especial: um postal de Gustavo Prugner, de 1924 (cedido pelo IMS), e uma reprodução do panorama de Valério Vieira, de 1922. Além destas imagens, fazem parte da exposição um conjunto de fotografias criadas pelo Coletivo Garapa a partir da encenação de explosões na região, registros históricos sem autoria declarada e imagens de fotojornalistas contemporâneos.

Casa da Imagem, até 15 de março de 2020

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Revelando Hilda Hilst

Por ocasião dos 90 anos do nascimento da escritora paulista Hilda Hilst (1930-2004), o MIS apresenta a exposição Revelando Hilda Hilst. O projeto apresenta uma exposição de retratos de Hilda, alguns deles inéditos, desenhos de sua autoria nunca antes exibidos em público e quinze edições originais dos livros de Hilda. A mostra se completa com a instalação sonora Rede Telefonia, de Gabriela Greeb e Mario Ramiro, na qual é possível ouvir a voz da autora por intermédio de gravações originais realizadas na década de 1970, quando ela tentava se comunicar com o além. [foto: Edu Simões]

MIS, até 15 de março

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Retratos de mulheres por mulheres

A mostra apresenta uma seleção de retratos de importantes fotógrafas contemporâneas como Claudia Andujar [foto], Maureen Bisilliat, Cris Bierrenbach, Marcela Bonfim, Luisa Dorr, Denise Camargo, Ana Carolina Fernandes, entre outras. Utilizando linguagens variadas, as artistas partem da fotografia para discutir temas como beleza, empoderamento, feminismo, sexualidade, direitos humanos e identidade.

Centro Cultural Fiesp, até 3 de maio

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Arquivo Peter Scheier

A exposição é resultado de um mergulho no arquivo de aproximadamente 35 mil imagens do fotógrafo alemão Peter Scheier (1908-1979), realizadas entre as décadas de 1940 e 1970, e pertencentes ao Instituto Moreira Salles. A mostra destaca a passagem de Scheier pela revista O Cruzeiro, nos anos 1940, seus registros sobre o nascimento de instituições como o Museu de Arte de São Paulo e a Bienal de São Paulo, nos anos 1950, bem como sua colaboração com arquitetos como Rino Levi e Lina Bo Bardi.

IMS Paulista, até 24 de maio

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Rio de Janeiro

 

Marc Ferrez – Território e imagem

Entrada da baía de Guanabara, vista de Niterói, de Marc Ferrez, Niterói, RJ, c.1890. Acervo Instituto Moreira Salles.

A exposição Marc Ferrez: Território e Imagem mostra a extensa obra do fotógrafo realizada por todo o Brasil ao longo de mais de 50 anos de sua atuação profissional, entre 1867 e 1923. Marc Ferrez (1843–1923) percorreu as regiões Nordeste, Norte e Sudeste como fotógrafo oficial da Comissão Geológica do Império do Brasil (1875-1878), e as regiões Sul e Sudeste como fotógrafo das principais ferrovias em construção e modernização naquele momento.

IMS Rio, até 15 de março

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O cérebro (e a caminhada)

Para homenagear os 90 anos do nascimento do cineasta italiano Federico Fellini, a exposição O cérebro (e a caminhada) de Guido Anselmi utiliza parte das imagens originalmente selecionadas para a exposição 8 ½ di Federico Fellini nelle fotografie inedite di Paul Ronald, apresentada em 2019 na Galleria delle Immagini de Rimini (Emilia-Romanha, Itália). As fotografias integram a Coleção Antonio Maraldi do clássico filme felliniano 8 ½.

MAM Rio, até 15 de março

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Rua!

A mostra coletiva Rua! reúne cerca de 80 obras, entre fotografias, vídeos, grafites e esculturas – de artistas como Carlos Vergara, Evandro Teixeira, Paula Trope, Guga Ferraz, Tiago Sant’Ana [foto] e Tia Lúcia, entre outros – que integram a Coleção MAR, além de cinco grafiteiros convidados para criarem trabalhos especialmente para a mostra – Panmela Castro, Cruz, Rack, Ramo Negro e Coletivo I love MP.

Museu de Arte do Rio, até abril de 2020

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Belo Horizonte

 

Man Ray em Paris

Apresentada pela primeira vez no Brasil, a exposição Man Ray em Paris abrange a imensa e multiforme obra de Man Ray. Conhecido principalmente por sua fotografia, mas também criador de objetos, realizador de filmes e faz-tudo genial, Man Ray chega a Paris em 1921, onde permanece até a Segunda Guerra Mundial e para onde retorna definitivamente em 1951. Esta exposição apresenta, por meio de quase 250 obras, a lenta maturação de Man Ray, das primeiras obras dadaístas ao retrato e à paisagem, da moda às imagens surrealistas, de seus trabalhos comerciais a uma seleção de seus objetos e filmes.

Centro Cultural Banco do Brasil, até 17 de fevereiro

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Chichico Alkmim, fotógrafo

A exposição abrange a totalidade da produção do fotógrafo em Diamantina (MG), sua cidade natal. São 251 obras feitas na primeira metade do século passado e que narram visualmente a construção social, racial e histórica do povo mineiro. A mostra é realizada em parceria com o IMS, e já passou pelas três sedes do Instituto (Rio de Janeiro, São Paulo e Poços de Caldas).

Palácio das Artes, até 23 de fevereiro

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Curitiba

 

Mariana – Christian Cravo

O Museu Oscar Niemeyer (MON) apresenta a exposição Mariana, do fotógrafo baiano Christian Cravo. Baseada no livro de mesmo nome, a exposição traz 28 fotografias que retratam as memórias de uma das maiores tragédias ambientais do país: o rompimento da barragem de Fundão, que matou 19 pessoas e desabrigou centenas de famílias em Mariana (MG) em 2015.

Museu Oscar Niemeyer, até 1 de março

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Poços de Caldas

 

São Paulo, fora de alcance

A exposição é o resultado de muitas caminhadas diárias que o fotógrafo realizou durante cerca de três meses em bairros centrais e periféricos, como Brás, República, Pinheiros, Vila Congonhas e Itaquera. Conhecido pelas séries fotográficas que desenvolve em torno de questões urbanas de relevância histórica, política e arquitetônica, Restiffe produziu centenas de fotografias com a câmera Leica e o filme preto e branco de alta sensibilidade que fazem parte sua poética artística.

IMS Poços, até 15 de março de 2020

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Exposições

Uma seleção de exposições pelo mundo para quem gosta de fotografia

Veja uma seleção de exposições no mundo (e, aqui, no Brasil) para quem gosta de fotografia:

 

Robert Frank, Unseen

A galeria C/O Berlin apresenta folhas de contato, primeiras edições e material vintage de várias fases da longa carreira de Robert Frank (1924 – 2019), desde material de suas viagens pela Europa e América Latina até fotografias nunca expostas de suas andanças pelos Estados Unidos que resultaram no aclamado livro Os Americanos.

C/O Berlin, até 30 de novembro

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Krass Clement: o quarto não visto

A melancolia escandinava é tema recorrente no trabalho do fotógrafo dinamarquês Krass Clement, algo que surge em imagens feitas em cidades como Moscou, Dublin, Paris e Copenhagem. Seu olhar observa a vida nessas cidades, registrando a relação dos seus habitantes com a paisagem urbana.

Rosphoto Centre, Moscou, até 1 de dezembro

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Brassaï

O fotógrafo húngaro-francês Brassaï (nascido Gyula Halász) criou uma série de imagens icônicas da vida parisiense na década de 1930. Com incrível versatilidade registrou as ruas e comunidades marginalizadas da cidade e também os salões de festas, óperas e o circuito de intelectuais e artistas como Pablo Picasso, Salvador Dalí e Henri Matisse. A exposição em cartaz no Foam apresenta a carreira de Brassaï com mais de 170 fotografias, desenhos e uma escultura.

FOAM, Amsterdã, até 4 de dezembro

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O jeito dela: Uma história do olhar feminino nos retratos da fotografia africana

Selecionados a partir da extensa coleção de fotografias da Walther Collection, a exposição revisita a tradição do retrato na perspectiva das mulheres africanas, como modelos e fotógrafas, desde as origens da fotografia colonial até os dias de hoje. Destaque para nomes como Yto Barrada, Jodi Bieber, Lebohang Kganye, Zanele Muholi [foto], Grace Ndiritu e Nontsikelelo “Lolo” Veleko e também para uma grande seleção de obras de figuras históricas da fotografia africana, como Malick Sidibé e Seydou Keïta.

Ryerson Image Centre, Toronto, Canadá, até 8 de dezembro

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Dia após dia: RongRong e o East Village de Pequim

A exposição apresenta 40 fotografias feitas, entre os anos de 1993 e 1998, pelo artista chinês RongRong da região do East Village de Pequim. Quatro anos após os protestos estudantis na praça Tiananmen em 1989, RongRong juntou-se a um grupo de jovens artistas e boêmios que decidiu se instalar numa área desolada da periferia de Pequim. Neste período, tornou-se o principal fotógrafo a registrar o cotidiano e as performances que aconteciam na região, de artistas que iriam se tornar os mais importantes da arte contemporânea chinesa, como Zhang Huan, Ma Liuming e Ai Weiwei.

Galeria Walther Collection, Nova York, até 10 de dezembro

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Sugar Paper Theories: Jack Latham

O projeto Sugar Paper Theories, do fotógrafo inglês Jack Latham, mergulha em um dos mais famosos e controversos casos policiais da história da Islândia, para discutir as noções de verdade e teorias da conspiração. Usando imagens de época da polícia islandesa, documentos, evidências forenses e retratos atuais de pessoas envolvidas de alguma maneira com a investigação, Latham brinca com noções de certeza e incerteza, memória e poder da sugestão. Leia entrevista com o fotógrafo no site da ZUM.

RPS, Bristol, Inglaterra, até 22 de dezembro

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Garry Winogrand: As mulheres são lindas

Famoso por registrar as ruas de Nova York na segunda metade do século 20, o fotógrafo Garry Winogrand (1928 – 1984) capturou momentos que se tornaram documentos históricos de uma época de grandes mudanças sociais, bem como da vida cotidiana nos Estados Unidos. A mostra do Museu de Artes Fotográficas da Flórida apresenta 85 imagens de mulheres nas ruas de cidades americanas feitas nas décadas de 1960 e 1970.

Museu de Artes Fotográficas da Flórida, Tampa, até 31 de dezembro

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Orgulho – Fotografias de Stonewall e além

Comemorando os 50 anos de Stonewall, uma revolta contra a invasão policial de um bar em Nova York – o Stonewall Inn – conhecido por ser frequentado pela comunidade gay da cidade, o Museu da Cidade de Nova York apresenta imagens dos conflitos (que duraram seis dias no bairro de Greenwich Village), retratos de figuras importantes do movimento pelos direitos LGBTQ e das marchas, protestos e manifestações públicas ocorridas no período.

Museu da Cidade de NY, até 31 de dezembro

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Jan Groover: Laboratório de formas

Esta exposição relembra a obra da fotógrafa americana Jan Groover (1943-2012) e destaca o design eminentemente gráfico perseguido pela fotógrafa ao longo de sua carreira. “Formalismo é tudo.” Tomando a famosa declaração de Groover, a exposição mostra os resultados de uma pesquisa considerável sobre a coleção realizada pelo museu – desde a perspectiva da conservação (análises aprofundadas de processos e materiais fotográficos, processos de restauração), bem como da documentação histórica (contextualizando o trabalho e suas críticas e críticas).

Musée de l’Elysée, Lausanne, Suíça, até 5 de janeiro

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Africamericanos

Africamericanos é um projeto transmídia de pesquisa, exposição, disseminação e produção visual que visa apoiar e influenciar a construção do imaginário associado a comunidades afrodescendentes na América Latina e no Caribe. A exposição reúne imagens históricas de importantes arquivos fotográficos e produções contemporâneas de artistas renomados residentes na América Latina, como Yael Martínez, Maya Goded, Nicolás Janowski, Sandra Eleta, Lorry Salcedo, Rosana Paulino, Eustáquio Neves, Maureen Bisilliat, José Medeiros [foto] e Jonathas de Andrade, entre outros.

Museu Amparo, Puebla, México, até 13 de janeiro

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Conversando com um amigo: Retratos por Bern Schwartz

Aos 60 anos, o empresário Bern Schwartz (1914–1978) resolveu dedicar-se à fotografia. Inspirado pelos fotógrafos e artistas do seu círculo de amigos, Schwartz retratou nos anos 1970 várias personalidades mundiais, com o Príncipe Charles, David Hockney e Twiggy, entre outros.

MOPA, San Diego, até 19 de janeiro de 2020

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Querida – Um autorretrato através dos olhos dos meus amantes

A fotógrafa sueca Jenny Rova expõe uma série fotografias feitas por ex-namorados e amantes durante o relacionamento com Rova. O resultado é um conjunto de imagens que se estende por mais de 25 anos, e pode ser visto tanto como um grupo de autorretratos ou como retratos indiretos de cada um dos fotógrafos. Esse tipo de trabalho, explorado pela artista em outras séries e projetos, se tornou um método para ela explorar a si mesma e também uma maneira de mostrar como construímos uma identidade através da maneira como os outros nos veem.

Museu Västerbottens, Estocolmo, Suécia, até 26 de janeiro

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Eamonn Doyle

Com a trilogia formada pelos trabalhos i, ON, End. e a série K, o irlandês Eamonn Doyle tornou-se um nome conhecido internacionalmente na fotografia contemporânea. A exposição apresentar as chamadas “gravações” fotográficas de Doyle, cujo trabalho está intimamente ligado à música e sua cidade natal, Dublin.

Fundação Mapfre, Madrid, até 26 de janeiro

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Tensões implícitas: Mapplethorpe agora

A segunda parte da exposição Tensões implícitas (leia resenha no site da ZUM) é dedicada a apresentar os trabalhos de fotógrafos como Rotimi Fani-Kayode [foto], Lyle Ashton Harris, Glenn Ligon, Zanele Muholi, Catherine Opie e Paul Mpagi Sepuya, artistas que também exploraram a representação de identidades por meio do retrato fotográfico.

Museu Guggenheim, Nova York, até 5 de janeiro

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A vida e a época de Alvin Baltrop

Nascido no bairro nova-iorquino do Bronx, Alvin Baltrop deixou um trabalho importante após sua morte prematura em 2004 e que só agora está recebendo a atenção séria que merece. Como as imagens surpreendentes de Peter Moore, Robert Mapplethorpe, Peter Hujar e Gordon Matta-Clark, as fotografias de Alvin Baltrop celebram a cidade de Nova York em um momento de ruptura em meio à ruína e ao caos. A exposição apresenta mais de 200 fotografias tiradas da coleção permanente do Museu do Bronx e de coleções particulares.

Museu do Bronx, Nova York, até 9 de fevereiro

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Peter Hujar: Velocidade da vida

O fotógrafo Peter Hujar (1934-1987) habitava um mundo de vanguardas, seja na música, na arte ou no universo das performances drag. Ele acompanhou o desenrolar público da vida gay na cidade de Nova York, do levante de Stonewall em 1969 até a crise da Aids da década de 1980. Em seu estúdio no East Village, Hujar fez, em suas palavras, “fotografias diretas e descomplicadas de assuntos complicados e difíceis”.

Jeu de Paume, Paris, até 19 de janeiro

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Henri Cartier-Bresson: China, 1948-1949 | 1958

Em 25 de novembro de 1948, Henri Cartier-Bresson foi contratado pela revista Life para fotografar os “últimos dias de Pequim” antes da chegada das tropas maoístas. Bresson ficou cerca de dez meses, principalmente na região de Xangai, testemunhando a queda da cidade de Nanjing e deixando a China alguns dias antes da proclamação da República Popular da China (1 de outubro de 1949). O fotógrafo retornou à China em 1958, quando se aproximava o décimo aniversário da revolução maoísta, mas sob condições completamente diferentes: limitado por um guia acompanhante por quatro meses, ele viajou milhares de quilômetros para registrar os resultados da Revolução e a industrialização forçada das áreas rurais.

Fundação Cartier-Bresson, Paris, até 2 de fevereiro

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Clicado no Soho

A exposição homenageia o bairro londrino do Soho, conhecido por sua diversidade cultural, local de resistência política e gerador de novas tendências. A mostra destaca o trabalho de renomados fotógrafos que registraram a localidade em diferentes épocas, como William Klein [foto], Anders Petersen e Corinne Day, ao lado de nomes cujos trabalhos no Soho são menos conhecidos, como Kelvin Brodie, Clancy Gebler Davies e John Goldblatt, entre outros.

Photographers Gallery, Londres, até 9 de fevereiro

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O olhar das coisas. Fotografia japonesa no contexto da Provoke

O Centro de Artes Bombas Gens apresenta um recorte da coleção Per Amor a l’Art, um dos mais importantes acervos privados de fotografia japonesa. O foco da exposição é a chamada Geração Provoke, um grupo de fotógrafos que se reuniu em torno da revista de mesmo nome entre 1957 e 1972, com nomes como Nobuyoshi Araki, Daidō Moriyama, Yutaka Takanashi, Kikuji Kawada e Shōmei Tōmatsu, entre outros.

Centro de Artes Bombas Gens, Valencia, Espanha, até 2 de fevereiro de 2020

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Exposições

Uma seleção de exposições no Brasil para quem gosta de fotografia

Veja uma seleção de exposições no Brasil (e, aqui, no exterior) para quem gosta de fotografia:

São Paulo

 

Em curso – Márcia Beltrão

A exposição é parte do projeto Nova Fotografia 2019, que selecionou seis trabalhos inéditos para exibição no MIS durante o ano. Em curso foi realizada a partir da observação da fotógrafa entre o trem, o Rio Pinheiros e sua paisagem, que convivem lado a lado, atravessando parte da cidade de São Paulo. “Ao fotografar o percurso que o trem faz nas margens desse rio, me remeto à experiência cinematográfica, em que as janelas servem como “frames”, que se repetem e contam histórias. As histórias dessa cidade e das pessoas que por ela passam”, descreve a fotógrafa.

MIS, até 1 de dezembro

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Kurt Klagsbrunn: Faces da cultura, retratos de um tempo

Mostra inédita do fotógrafo Kurt Klagsbrunn apresenta um panorama artístico e cultural do Rio de Janeiro nas décadas de 1940 e 1950. Nascido em Viena, numa família judia de classe média que embarcou para o Brasil quando a Áustria foi invadida pelo exército nazista, Klagsbrunn chega ao Rio de Janeiro como refugiado, em 1939. As suas fotografias cobrem o amplo e diversificado circuito artístico e cultural da época – ateliês, exposições, solenidades diversas – evidenciando a existência de redes de artistas e intelectuais ativas e organizadas.

Centro Cultural Fiesp, até 15 de dezembro

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Fernando Lemos – mais a mais ou menos

A exposição apresenta uma seleção de obras do artista português Fernando Lemos, em especial os trabalhos fotográficos em que retrata intelectuais e artistas ligados ao movimento surrealista e também imagens cotidianas, transformadas por efeitos de luz. A mostra reúne 86 obras de Fernando Lemos, entre desenhos, fotografias, cartões postais e pinturas realizadas desde a década de 1940 até os dias atuais. Leia no site da ZUM entrevista com o artista Fernando Lemos.

Sesc Bom Retiro, até 26 de janeiro de 2020

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Adrià Julià: Nem mesmo os mortos sobreviverão

Primeira exposição individual do artista espanhol no Brasil, a mostra Adrià Julià: Nem mesmo os mortos sobreviverão, coloca em questão as implicações das técnicas de reprodução, impressão e autenticação que pautaram a organização do fluxo das imagens nos primórdios da fotografia. Desde 2011, Julià tem pesquisado sobre os experimentos fotográficos, por vezes fracassados, de Hercule Florence (Nice, 1804 – Campinas, 1879), que se estabeleceu no Brasil no século 19.

Pinacoteca, até 16 de fevereiro de 2020

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Susan Meiselas – Mediações

Retrospectiva da fotógrafa norte-americana Susan Meiselas (1948) reúne obras de 1970 até os dias de hoje. Integrante da agência Magnum desde 1976, Meiselas tornou-se conhecida principalmente pelo trabalho em zonas de conflito na América Central, em especial por suas poderosas fotos da revolução sandinista na Nicarágua. Cobrindo uma vasta gama de temas – direitos humanos, identidade cultural e indústria do sexo, por exemplo –, ela mistura fotos com filmes, vídeos, documentos e imagens de arquivo para construir relatos que têm os fotografados como protagonistas.

IMS Paulista, até 1 de março de 2020

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Sob ataque – Coletivo Garapa

Idealizada pelo coletivo Garapa, a exposição é uma iniciativa que se debruça sobre o território hoje conhecido como Cracolândia, em São Paulo. O projeto mapeia, a partir da fotografia do imóvel da Rua Helvetia, 2, bombardeado durante a Revolução Paulista de 1924, outras explosões e eventos de violência ocorridos naquele espaço desde então.

A mostra reúne uma iconografia vinda de diferentes acervos documentais, como os do Instituto Moreira Salles, da Fundação Energia e Saneamento e da própria Casa da Imagem, além de registros fotojornalísticos contemporâneos. Entre as imagens de arquivo, duas se destacam de modo especial: um postal de Gustavo Prugner, de 1924 (cedido pelo IMS), e uma reprodução do panorama de Valério Vieira, de 1922. Além destas imagens, fazem parte da exposição um conjunto de fotografias criadas pelo Coletivo Garapa a partir da encenação de explosões na região, registros históricos sem autoria declarada e imagens de fotojornalistas contemporâneos.

Casa da Imagem, até 15 de março de 2020

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Rio de Janeiro

 

Claudia Andujar – A luta Yanomami

 

A retrospectiva da obra de Claudia Andujar dedicada aos Yanomami, indígenas ameaçados de extinção, ocupa dois andares do IMS Paulista com aproximadamente 300 imagens e uma instalação da fotógrafa e ativista, além de livros e documentos sobre a trajetória do povo em busca de sobrevivência. O conjunto traça um amplo panorama do longo trabalho de Andujar junto aos Yanomami, retomando aspectos pouco conhecidos da luta da fotógrafa pela demarcação de terras indígenas, militância que a levou a unir sua arte à política.

IMS Rio, até 17 de novembro

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Belo Horizonte

 

Exposição Vento Sul | Foto em Pauta

Fotógrafos profissionais, iniciantes ou intermediários do Sul do país são os autores das imagens de Vento Sul, exposição que integrou, em março, a programação do 9º Festival de Fotografia de Tiradentes, reunindo obras de 31 artistas de Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC) e Curitiba (PR). A partir da viagem pelas três cidades e encontros com mais de 100 artistas, os curadores e fotógrafos João Castilho e Pedro David selecionaram trabalhos que formam três eixos expográficos centrais, explorando a pintura, o intimismo e a paisagem.

Casa da Fotografia de Minas Gerais, até 11 de janeiro 2020

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Chichico Alkmim, fotógrafo

A exposição abrange a totalidade da produção do fotógrafo em Diamantina (MG), sua cidade natal. São 251 obras feitas na primeira metade do século passado e que narram visualmente a construção social, racial e histórica do povo mineiro. A mostra é realizada em parceria com o IMS, e já passou pelas três sedes do Instituto (Rio de Janeiro, São Paulo e Poços de Caldas).

Palácio das Artes, até 23 de fevereiro

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Fortaleza

 

Bob Wolfenson: Retratos

Ao longo de quase 50 anos de carreira, a mostra compreende e mistura diferentes núcleos: personalidades da cultura, do esporte, da política e da moda, com fotos produzidas para editoriais ou por iniciativa do fotógrafo. Entre os retratados, nomes como Hélio Oiticica, Fernanda Montenegro, Caetano Veloso, Taís Araújo, Marília Gabriela, Lázaro Ramos, Camila Pitanga, Caio Fernando Abreu [foto], Ludmilla, Laerte, Zé Celso, Lula, Fernando Henrique Cardoso, Paulo Maluf, Luiza Erundina, Eduardo Suplicy, Pelé, Ronaldo e muitos outros.

Museu da Fotografia Fortaleza

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Poços de Caldas

 

São Paulo, fora de alcance

A exposição é o resultado de muitas caminhadas diárias que o fotógrafo realizou durante cerca de três meses em bairros centrais e periféricos, como Brás, República, Pinheiros, Vila Congonhas e Itaquera. Conhecido pelas séries fotográficas que desenvolve em torno de questões urbanas de relevância histórica, política e arquitetônica, Restiffe produziu centenas de fotografias com a câmera Leica e o filme preto e branco de alta sensibilidade que fazem parte sua poética artística.

IMS Poços, até 15 de março de 2020

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Exposições

Sebastião Salgado no país dos blefados

Mauricio Lissovsky & Sebastião Salgado

Mina de Ouro Serra Pelada © Sebastião Salgado

Quando Sebastião Salgado chegou a Serra Pelada, em 1986, a montanha de ouro não havia mais. Fora transformada em buraco, numa cratera gigante. Dizem que a colina se chamava Babilônia bem antes que a primeira pepita tivesse sido encontrada em uma pequena gruta, em fins de 1979. Ou, não. Talvez Babilônia fora apenas uma das muitas designações que recebeu, em 1981, quando ali já fervilhavam 80 mil homens. Nas narrativas de garimpeiros não é fácil distinguir fábula e testemunho, sonho e vigília, mito e história. O fotógrafo diante do assombro, do impensável, do nunca visto, conseguiria discernir? E por que desvencilhar-se do mito se ele está assim tão entranhado no corpo e na alma desses homens? Estranho paradoxo: quanto mais difícil de escavar o ouro, mais à flor da pele sonham os garimpeiros.

Juca Martins fez a primeira grande reportagem fotográfica de Serra Pelada, em 1980. Ainda havia ali árvores esparsas, juquira para roçar, e uma réstia de céu emoldurando o horizonte. Cinco anos depois, quase todo o ouro havia sido retirado e 50 mil garimpeiros lutavam para manter seca a cava com 200 metros de fundura. É para baixo que o fotógrafo agora olha primeiro, como se a fotografia também tivesse que ser extraída do piso barrento.

Sebastião Salgado sempre teve uma sensibilidade especial para o mítico. Ninguém precisou lhe dizer que a montanha removida pela fé dos garimpeiros se chamara Babilônia (ou viria a se chamar assim). Babel estava ali, os escravos estavam ali. E o sonho havia virado do avesso, pois não é o Céu que as formigas-humanas buscavam alcançar, mas o Inferno, o mundo subterrâneo. Foi isso que viu, na borda da cava: a camiseta enlameada, enrugada, como o dorso lanhado do escravo das minas. No tempo do mito tudo retorna. Se há alguma premissa documental nesse ensaio é que não há conhecimento sem reconhecimento: o fundo mítico de onde provêm as imagens é o mesmo que alimenta os sonhos.

Na exposição do novo livro, informa-nos o release, há fotografias inéditas – como identificá-las se já as vimos antes, em tempos remotos, na cólera divina, nas lamentações de Jeremias? A coreografia solene dos garimpeiros não evolui ao acaso: ela inscreve lentamente os acontecimentos em uma história sagrada. Por isso, já se disse mais de uma vez, a iconografia de Salgado não é propriamente humanística, mas religiosa. Como ilustrações de um relato ancestral, essas fotografias existiam muito antes de terem sido feitas. A forma que assumem é aquela à qual, desde o princípio, estavam destinadas. Os gregos antigos diziam akme, o aspecto culminante de uma vida. A figuração do destino que não toma para si um acontecimento singular e fugidio, mas imagina compreender toda uma história. Akmaí: Gold é um livro de imagens maduras.

Façamos um segundo percurso pela exposição. Uma diferença havia nos escapado: os retratos. A primeira Serra Pelada de Salgado nos lembrava a história da mulher de um garimpeiro goiano que visita a mina em 1983 (no auge do ouro a presença de mulheres era proibida). Ela entrou na boleia de um caminhão que levava a dupla sertaneja Irmãs Freitas para um show no garimpo (“Não tenho notícia / não sei onde vive / aquele que amo / com todo carinho”):  “Quando saltei do caminhão percebi que estava rodeada de tantos homens sujos de lama que não conseguia identificar entre eles qual era meu marido”.

Entre as imagens que o fotógrafo logo nos ofereceu, não havia retratos. Podia haver rostos, que nos confrontavam como máscaras, mas sua identidade se diluía em meio às pernas, braços e dorsos musculosos. Agora temos a sensação que finalmente os vemos, uns pela primeira vez, outros como velhos conhecidos: o garimpeiro que segura valente a espingarda de um policial; esse outro que foi surpreendido em falta (na posse de um revólver, creio) e que logo será exemplarmente punido pelos companheiros; o jovem exausto, encostado em um mourão no centro do buraco, como outro Sebastião, o santo, à espera das flechas.

Mina de Ouro Serra Pelada © Sebastião Salgado

A novidade, ao menos para mim, são os adolescentes. Nunca havia reparado neles. Nos velhos, sim, extenuados, os corpos secos, os sacos sobre as costas, presos à cabeça para deixar as mãos livres – única maneira de galgar as encostas da cava. Sob a corda testeira, os olhos arregalados de esforço estão por toda parte. Denunciam a presença do fotógrafo e, para além dele, interrogam-nos. Pois é inútil procurar qualquer resposta nessas miradas. Não a possuem, exceto talvez esse duende antigo que já viu demais e agora nos sorri com ironia. Os demais, principalmente os jovens, encarando-nos, apenas restituem o espanto original: nosso espanto diante deles e seu próprio espanto diante de si mesmos.

De resto, as novas escolhas de Salgado, revisitando seu arquivo, mantiveram-se fiéis às primeiras. Não vemos as mulheres, mesmo que sua presença estivesse autorizada àquela altura. A proibição, estabelecida por ainda outro Sebastião – o major Curió –, em abril de 1980, havia caducado. As primeiras tinham entrado “furando” pela mata, como qualquer garimpeiro clandestino. Uma dessas “furonas” conta que “andávamos em meio a milhares de homens e ninguém mexia conosco porque a lei não escrita dizia que toda mulher era homem.” Em 1986, estão por toda parte, catando as faíscas, carregando sacos, cozinhando as merendas.

Mas não nessas fotografias, pois uma distância difícil de transpor separa a elaboração mítica da facticidade jornalística. A extensa documentação que faz Salgado do garimpo tem, na verdade, uma topologia reduzida. Ninguém dorme, ninguém come, ninguém beija, ninguém dança. Habita-se apenas o fundo da cava, as encostas e as escadas – uma delas, de 180 degraus, chamada “adeus mamãe” –, e a “apuração”, onde, com auxílio eventual da luz elétrica busca-se no fundo da bateia a faísca de ouro em meio à terra lavada. Quaisquer outros personagens são difíceis de discernir: os donos dos barrancos, os meia-praças, os pilotos, os empresários, os “bamburrados” (garimpeiros que enricaram). A sociedade dessas fotografias é toda constituída por “cavadores”, “formigas” e “apuradores”, seres que só podem existir debruçados sobre a terra, agarrados a ela, chafurdando. Mas, ouro, ouro mesmo, não se vê. Ninguém acha nada no buraco ou dentro do saco; nada cintila, a não ser o reflexo da esperança no rosto de quem mantém os olhos fixos no cascalho.

Quando as fotografias de Serra Pelada foram internacionalmente publicadas, em 1987, compunham o panorama inacreditável da maior mina a céu aberto do mundo, encravada na floresta amazônica como a cratera de um meteoro, um cupinzeiro decepado do qual não cessavam de brotar térmitas humanas. Revisitadas nessa exposição, depois do ouro e depois de tudo, são um monumento aos blefados. Aos que cavaram, cavaram, e nada acharam – mas precisavam acreditar que seu dia chegaria, pois é dever de todos cavar em vão para que alguém encontre o grão. Blefados também são os formigas que não tem mais qualquer esperança a não ser a de que o dono do barranco ainda disponha de capital para continuar pagando a jornada. E são também os furões, que chegaram à mina quando o ouro escasseara. Blefados aos milhares, espalhados ainda hoje pelos rios e serras da Amazônia, disputando seu palmo de lavra com as grandes empresas mineradoras, invadindo as reservas indígenas, entupindo os veios e as veias com mercúrio.

Mina de Ouro Serra Pelada © Sebastião Salgado

Garimpeiro de manhã, sem-terra de tarde, sem-teto de noite. Se somos um país de blefados, que fiquem onde estão, que se internem cada vez mais na mata, pois atrás deles vai a queimada, o gado, a soja. Um dia vão calcular, na ponta do lápis, se a riqueza extraída de Serra Pelada cobriu os custos de manutenção e vigilância da mina e o prejuízo ambiental do lago envenenado que é seu maior legado à floresta. Todos sabiam, no estertores da ditadura, que era preciso manter a cava funcionando e quanto mais garimpeiros enfiados ali, melhor. Será muito diferente hoje em dia?

Em Serra Pelada, no tempo da visita de Sebastião Salgado, circulava a seguinte piada. Morreram 20 garimpeiros e foram para o Céu. Chegaram lá e começaram a pesquisar para ver onde tinha ouro. São Pedro ficou furioso com a bagunça e falou que não ia entrar mais nenhum garimpeiro no paraíso. Dias depois, morreu um garimpeiro velhinho. Apareceu na porta totalmente equipado com bateia, picareta, pá e rede. São Pedro barrou: “Garimpeiro aqui não entra mais, já tem muito”. O velhinho insistiu e prometeu tirar todos os garimpeiros do Céu. São Pedro concordou e o velhinho entrou. No dia seguinte, os demais garimpeiros começaram a pedir para ir embora. Saíram todos e a paz celestial voltou a reinar. Um mês depois o velhinho também pediu para sair.  São Pedro se surpreendeu, mas concordou, com uma condição: “antes você tem que me dizer como fez pra tirar os outros daqui”. E o velhinho: “Eu menti para eles que no Inferno tinha uma grota dando muito ouro. Mas, como eles estão demorando muito para voltar, acho que encontraram ouro mesmo, e eu também vou para lá”.

O velho garimpeiro, assim como o velho fotógrafo, sabe que não se acha ouro novo em grota antiga. Mas são ambos chamados a retroceder sobre os próprios passos. E a buscar ali, em uma cintilação passageira, em um recanto esquecido da memória, o futuro que deixamos escapar e que só a nós cabe reencontrar. ///

 

Mauricio Lissovsky, historiador, UFRJ/UFPE. Roteirista de Serra Pelada, a lenda da montanha de ouro (Victor Lopes, TV Zero, 2013).

 

Exposições

Uma seleção de exposições no Brasil para quem gosta de fotografia

Veja uma seleção de exposições no Brasil (e, aqui, no exterior) para quem gosta de fotografia:

São Paulo

 

Letizia Battaglia: Palermo

O juiz Roberto Scarpinato com seus guarda-costas, no topo do tribunal de Palermo, foto de Letizia Battaglia, 1998

Desde 1971, quando começou a fotografar, a obra de Letizia Battaglia permanece estritamente ligada à cidade de Palermo. Como editora de fotografia do cotidiano L’Ora, a partir de 1974, documentou os conflitos que abalaram a cidade, especialmente nas décadas de 1970 e 1980, na época mais violenta da “guerra da Máfia”. A exposição no IMS Paulista tem curadoria de Paolo Falcone, especialista na obra da fotógrafa, e é uma adaptação da mostra montada em Palermo (Cantieri Generali della Zisa) e em Roma (Maxxi).

IMS Paulista, até 22 de setembro

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Luiz Braga: Interiores, retratos [e paisagens]

A exposição Luiz Braga: interiores, retratos [e paisagens] apresenta um recorte da obra do artista paraense, destacando retratos e cenas de interiores que realçam o sentimento de comunhão entre o fotógrafo e o indivíduo, ou com o lugar retratado.

Galeria Leme AD, até 28 de setembro

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Jamais me olharás lá de onde te vejo

A oitava edição do programa Arte Atual, Jamais me olharás lá de onde te vejo, apresenta trabalhos de Éder Oliveira, Regina Parra e Virginia de Medeiros que refletem sobre o retrato tanto como gênero pictórico quanto como forma de reconhecer e atribuir uma identidade ao retratado.

A obra de Éder Oliveira [foto] explora, por meio de pinturas feitas a partir de fotos de jornais de Belém, o que se entende como homem amazônico e traz à tona os altos índices de violência no norte do Brasil. Já Regina Parra traz no retrato um processo de desconstrução mitológica sobre si. Apesar de usar autorretratos fotográficos para escolher quais imagens pintar, a artista não considera os resultados como autorretratos. Virginia de Medeiros, por sua vez, propõe uma nova montagem para a série Alma de Bronze (2016-2018), realizada a partir de sua convivência com lideranças femininas da Frente de Luta por Moradia (FLM) do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC).

Centro Cultural Tomie Ohtake, até 29 de setembro

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Foto MIS 2019

O Foto MIS 2019, que agora substitui o Maio Fotográfico no MIS-SP, apresenta um conjunto de exposições fotográficas: Todos iguais, todos diferentes?,do fotógrafo francês Pierre Verger, com uma seleção de retratos realizados entre as décadas de 1930 e 1970 ao redor do mundo; Estudos fotográficos: 70 anos de memória, remontagem da primeira exposição individual do fotógrafo Thomaz Farkas [foto] e primeira exposição de fotografia realizada em um museu de arte no Brasil; Caretas de Maragojipe, de João Farkas, sobre o carnaval como patrimônio imaterial do recôncavo baiano, e Haenyeo, mulheres do mar, de Luciano Candisani, que retrata a vida de um grupo de mulheres que vivem na Coreia do Sul e seguem a tradição secular de mergulhar utilizando apenas o ar de seus pulmões para colher produtos marinhos.

Integram, ainda, o Foto MIS a mostra Moventes, com obras do Acervo MIS, que conta com curadoria de Valquíria Prates, e Onde tudo está, individual de Beatriz Monteiro, projeto selecionado pelo programa Nova Fotografia 2019.

MIS-SP, até 13 de outubro

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Cara, Corpo, Voz! – Cláudia Guimarães e Não Oficial – Paulo D’Alessandro

As duas exposições da Casa da Imagem (SP) , retratam o luxo e o underground e costuram uma crônica da cidade de São Paulo nos anos 1990 através de imagens. Enquanto Não Oficial, do fotógrafo Paulo D’Alessandro retrata cenas extraídas das festas, eventos e viagens da alta sociedade, seus salões privativos, trajes  e toda a pompa envolvida , Cara, Corpo, Voz!, de Cláudia Guimarães [leia entrevista com a fotógrafa no site da ZUM], registra de forma íntima a cultura underground da cidade, com suas drags, travestis, clubbers e outros personagens influenciadores da moda e da música.

Casa da Imagem, até 13 de outubro

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Carlos Moreira — Wrong so Well

 

A retrospectiva Carlos Moreira — Wrong so Well apresenta boa parte da extensa obra de um dos mais produtivos fotógrafos brasileiros. São cerca de 400 obras, a maioria exibida pela primeira vez ao público, abrangendo também sua produção colorida — dos anos 1980 até os anos 2000 — e o atual trabalho, majoritariamente feito em formato digital.

Espaço Cultural Porto Seguro, até 27 de outubro

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Man Ray em Paris

Autorretrato (c. 1930) Impressão em gelatina e prata de época, contato original reenquadrado, solarização

 

Apresentada pela primeira vez no Brasil, a exposição Man Ray em Paris abrange a imensa e multiforme obra de Man Ray. Conhecido principalmente por sua fotografia, mas também criador de objetos, realizador de filmes e faz-tudo genial, Man Ray chega a Paris em 1921, onde permanece até a Segunda Guerra Mundial e para onde retorna definitivamente em 1951. Esta exposição apresenta, por meio de quase 250 obras, a lenta maturação de Man Ray, das primeiras obras dadaístas ao retrato e à paisagem, da moda às imagens surrealistas, de seus trabalhos comerciais a uma seleção de seus objetos e filmes. [Leia entrevista com Emmanuelle de l’Ecotais, curadora da exposição, no site da ZUM]

Centro Cultural Banco do Brasil, até 28 de outubro

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Gold – Mina de Ouro Serra Pelada

A exposição Gold – Mina de Ouro Serra Pelada apresenta o registro, feito na década de 1980, feito por Sebastião Salgado do que foi o maior garimpo a céu aberto do mundo, na região da Amazônia Paraense. Em mais de 50 fotos, a mostra revela o cotidiano da mina de onde foram extraídas toneladas de ouro em mais de uma década de exploração.

Sesc Avenida Paulista, até 3 de novembro

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Caixa Preta – Celso Brandão

Mostra individual do fotógrafo Celso Brandão reúne 53 retratos de personagens do sertão, realizados na década 1990, revelando a cultura popular sertaneja, suas nuances, dores e a simplicidade daqueles lutam para sobreviver no Brasil.

Caixa Cultural, até 3 de novembro

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O que os olhos alcançam – Cristiano Mascaro

A exposição reúne cerca de 180 imagens do acervo do artista e de outras instituições e traça um amplo panorama da trajetória do fotógrafo, atuante há 50 anos na cena fotográfica paulistana, brasileira e internacional.O que os olhos alcançam apresenta fotografias e documentos variados que apontam os diversos caminhos percorridos pelo artista. A exposição se organiza em diferentes núcleos, que criam uma espacialização sem ordem cronológica, mas quando articulados dão a exata dimensão de sua obra. [Leia texto de Ronaldo Entler, colunista da ZUM, sobre a obra de Cristiano Mascaro]Sesc Santo André, até 17 de novembro

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Kurt Klagsbrunn: Faces da cultura, retratos de um tempo

 

 

Mostra inédita do fotógrafo Kurt Klagsbrunn apresenta um panorama artístico e cultural do Rio de Janeiro nas décadas de 1940 e 1950. Nascido em Viena, numa família judia de classe média que embarcou para o Brasil quando a Áustria foi invadida pelo exército nazista, Klagsbrunn chega ao Rio de Janeiro como refugiado, em 1939. As suas fotografias cobrem o amplo e diversificado circuito artístico e cultural da época – ateliês, exposições, solenidades diversas – evidenciando a existência de redes de artistas e intelectuais ativas e organizadas.

Centro Cultural Fiesp, até 15 de dezembro

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Rio de Janeiro

 

Japão Antes/Depois

O Consulado-Geral do Japão no Rio de Janeiro e a Fundação Japão, em parceria com a Caixa Cultural Rio de Janeiro, apresentam a exposição Tóquio Antes/Depois, composta por mais de 80 imagens da capital japonesa realizadas entre os anos 1930 a 1940 em contraste com a década de 2010.

Caixa Cultural, até 15 de setembro

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Topografias imaginadas

A exposição reúne obras dos fotógrafos Edu Monteiro [foto], Jaques Faing, José Diniz, Luiz Alberto Guimarães e Luiz Baltar e exlpora articulações expressivas de uma cartografia não delimitada pelos mapas.

Centro Cultural da Justiça Federal, até 29 de setembro

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Amador Perez DVWC – Fotos e Variações

A exposição Amador Perez DVWC – Fotos e Variações apresenta um novo recorte na obra do artista e tem a fotografia como mote e meio de expressão de sua poética, fortemente marcada pela multiplicidade de técnicas e linguagens desde os anos 1970. As fotografias, realizadas com aparelho celular, registram a mão do artista em contato com imagens impressas de obras de Albrecht Dürer, Johannes Vermeer, Jean-Antoine Watteau e Gustave Courbet.

Paço Imperial, até 27 de outubro

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Claudia Andujar – A luta Yanomami

A retrospectiva da obra de Claudia Andujar dedicada aos Yanomami, indígenas ameaçados de extinção, ocupa dois andares do IMS Paulista com aproximadamente 300 imagens e uma instalação da fotógrafa e ativista, além de livros e documentos sobre a trajetória do povo em busca de sobrevivência. O conjunto traça um amplo panorama do longo trabalho de Andujar junto aos Yanomami, retomando aspectos pouco conhecidos da luta da fotógrafa pela demarcação de terras indígenas, militância que a levou a unir sua arte à política.

IMS Rio, até 10 de novembro

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Fortaleza

 

Mariana – Christian Cravo

A Caixa Cultural Fortaleza apresenta a exposição Mariana, do fotógrafo baiano Christian Cravo. Baseada no livro de mesmo nome, a exposição traz 28 fotografias que retratam as memórias de uma das maiores tragédias ambientais do país: o rompimento da barragem de Fundão, que matou 19 pessoas e desabrigou centenas de famílias em Mariana (MG) em 2015.

Caixa Cultural, até 13 de outubro

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Poços de Caldas

 

São Paulo, fora de alcance

A exposição é o resultado de muitas caminhadas diárias que o fotógrafo realizou durante cerca de três meses em bairros centrais e periféricos, como Brás, República, Pinheiros, Vila Congonhas e Itaquera. Conhecido pelas séries fotográficas que desenvolve em torno de questões urbanas de relevância histórica, política e arquitetônica, Restiffe produziu centenas de fotografias com a câmera Leica e o filme preto e branco de alta sensibilidade que fazem parte sua poética artística.IMS Poços, até 15 de março de 2020

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Exposições

Sensibilidade e ética: a produção em vídeo de artistas mulheres em À Nordeste

Thais Rivitti
Juliana Notari, Soledad (2014)

 

À nordeste é uma posição, uma perspectiva, um lugar físico ou simbólico a partir do qual os artistas que integram a mostra organizada por Bitu Cassundé, Clarissa Diniz e Marcelo Campos produzem.

Os curadores, que conhecem de dentro as cenas artísticas do Ceará (Bitu), de Pernambuco (Clarissa) e da Bahia (Marcelo), optaram por uma postura inclusiva em detrimento de um recorte específico e direcionado. Não há cortes geracionais, nem por linguagem. Na mostra, convivem trabalhos mais antigos e recentes, altamente tecnológicos e artesanais. O resultado é uma exposição com 160 artistas e 275 trabalhos.

É muita coisa para ver em uma visita só. É também muita coisa para acomodar na sala expositiva do Sesc 24 de Maio. Aracy Amaral mencionou o “espaço atravancado” e a “montagem labiríntica”; “ambiente saturado” e “montagem confusa” foram os termos usados por Tadeu Chiarelli (ambos na revista Arte!Brasileiros). No entanto, essa abundância joga a favor: pluralidade é a premissa de uma exposição que se recusa a fazer uma síntese e apresentar uma visão unívoca e acabada sobre o nordeste. É, também, uma demonstração clara da qualidade da produção artística situada “à nordeste”, questionando e confrontando a ideia, tão equivocada quanto persistente,de uma hegemonia do sudeste nas artes.

A exposição oferece a possibilidade de ver trabalhos instigantes de artistas cujas obras circularam pouco na cidade de São Paulo. Juliana Notari, por exemplo, vem realizando uma investigação centrada no corpo como veículo de experimentações sensoriais extremas desde o início dos anos 2000. Em Soledad, videoperformance de 2014 que está na exposição, a artista lava um mausoléu abandonado, limpando o interior de uma urna funerária com mãos desnudas, retirando um a um os ossos ali depositados. A imagem criada pela artista é forte. Remonta ao tema clássico da Vanitas, geralmente relacionado a pinturas de natureza morta nas quais aparece uma caveira como a nos lembrar do caráter passageiro da vida: “tudo é vaidade”. O distanciamento insinuado pelo caráter profissional da ação, ressaltado pelo avental branco, cede a uma intimidade incômoda que se estabelece entre o corpo vivo da artista e o corpo fragmentado, desfigurado e frágil do morto desconhecido. Há uma dimensão ética em Soledad, no dispêndio de energia, tempo e atenção na ação da limpeza que não pode ser retribuída ou sequer reconhecida pelo outro que já não está mais ali.

A ética atravessa boa parte dos trabalhos dos artistas que produzem à nordeste. Nessa categoria está o colossal vídeo Provisão (2009), de Rodrigo Braga e obras que envolvem a participação de comunidades e a representação do outro. Tanto Bárbara Wagner e Benjamin de Burca quanto Virgínia de Medeiros, por exemplo, são artistas cujo trabalho se dá em colaboração com comunidades específicas. Para realizá-los, os artistas passam longos períodos convivendo com pessoas, conhecendo seus modos de vida, valores, desejos. A ética norteia a relação entre artista e esses indivíduos ou grupos sociais.

 

Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, Faz que vai (2015)

 

 

Em Faz que vai, 2015, Bárbara e Benjamin filmam quatro bailarinos dançando, numa sintonia fina entre a dança e o modo de captar os movimentos desses corpos. O trabalho é a confluência entre esses dois conhecimentos, que faz ambos presentes e visíveis. A dança é encenada para a câmera, mas ainda vemos espontaneidade e descontração. A luz cuidada da cena, o enquadramento preciso e a alta definição da imagem levariam a pensar numa filmagem tradicional, uma propaganda para TV ou uma novela. Mas o que segue é uma exibição de corpos que não atendem aos padrões convencionais de beleza, e roupas que não correspondem à última moda. São protagonistas muito mais complexos do que a dançarina do programa de auditório, os modelos de comercias de carro ou as atrizes da novela das oito.

Trem em Transe (2019), de Virgínia de Medeiros, foi filmado em um trem urbano em Salvador. Durante o percurso, um grupo religioso prega e interage com os passageiros. Feito de modo bastante simples e direto, com uma câmera dentro do trem, o trabalho consegue capturar a tensão entre encenação e espontaneidade, verdade e ficção, fé e convencimento racional. Resistindo à tentação de julgar o discurso redentor e as avaliações morais do pastor, Trem em transe revela ambiguidades: a proximidade da religião evangélica com as religiões de matriz africana, o relato pessoal cheio de floreios narrativos sobre o encontro do pastor com Jesus, a empatia de algumas pessoas e a relutância de outras.

 

Virgínia de Medeiros, Trem em transe (2019)

 

Yolanda, de Sayara Elielson, também tensiona os limites entre ficção e realidade. De volta à casa dos pais, após um período de formação atuando em um grupo de dança, a artista decide fazer uma série de vídeos, dividida em episódios, que tem a personagem Yolanda, uma espécie de alter ego da artista, como protagonista. Sayara cria a partir de elementos cotidianos presentes na casa de seus pais e utiliza recursos bastante limitados de filmagem e edição. A partir de um cotidiano árido, de uma casa bastante simples e de objetos ordinários a artista consegue construir uma narrativa que, nos melhores momentos, combina imagem e texto em uma narração bastante poética. Os episódios da série, uma espécie de diário íntimo que aborda assuntos como a sexualidade da artista, que se define como não binária, podem ser vistos na internet.

Há inúmeras outras artistas que mereceriam um olhar mais atento. A exposição traz momentos mais abertamente políticos, e dedica-se a pensar a questão do trabalho e da exploração da mão de obra nordestina na história brasileira. À nordeste também reúne um conjunto bastante significativo de obras que trazem signos, rituais e símbolos das religiões de matriz africana. Artistas modernos como Montez Magno, ou concretos, como Almandrade, aparecem ao lado de artistas usualmente classificados como populares, como mestre Vitalino. Os saltos de um trabalho a outro muitas vezes são grandes, e exige do público atenção. Mas algumas relações, como a Carrancaiaque de Marepe (uma carranca desenhada em uma das faces de um caiaque) junto às carrancas feitas com capacetes e motos de Tadeu dos Bonecos são divertidas e revelam encontros inesperados.

 

 Sayara Elielson, Yolanda (2018)

 

Chama a atenção a ausência de outra grande artista, Oriana Duarte. Mais especificamente, seu trabalho Plus Ultra (2006-2010), que mostra a artista remando por diversos rios brasileiros, de norte a sul do país. Talvez Oriana ali, dentro do barco, remando e deslocando-se constantemente fosse a resposta possível à pergunta do artista Yuri Firmeza que deu origem à exposição. Yuri teria perguntado: “a nordeste de quê?”… Quando se está em constante deslocamento, o nordeste também vai mudando. Para responder essa pergunta, o sujeito não pode ficar na margem, parado; deve estar em movimento, projetando sucessivos “nordestes”, onde quer que esteja.///

 

Thais Rivitti é crítica de arte e curadora.

 

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À nordeste está em cartaz no Sesc 24 de Maio, São Paulo, até 25 de agosto.

Exposições

Uma seleção de exposições no Brasil para quem gosta de fotografia

Veja uma seleção de exposições no Brasil (e, aqui, no exterior) para quem gosta de fotografia:

São Paulo

 

Ainda há noite

 

Ligada à quinta edição do Fórum Latino-americano de São Paulo, a exposição  Ainda há noite reúne imagens que recorrem às horas noturnas – seja como conceito, seja como cenário – para pensar a América Latina. A mostra apresenta trabalhos do artistas: Alejandro Chaskielberg (Argentina); Alejandro e Cristóbal Olivares (Chile); Cristina de Middel (Espanha) e Bruno Morais (Brasil); Gihan Tubbeh [foto] (Peru); Ignacio Iturrioz (Uruguai); Jorge Panchoaga (Colômbia); Juan Brenner [foto](Guatemala); Kalev Erickson (Reino Unido); Luisa Dörr (Brasil) e Yael Martínez (México).

Itaú Cultural, até 11 de agosto

Mais informações aqui.

 


Letizia Battaglia: Palermo

O juiz Roberto Scarpinato com seus guarda-costas, no topo do tribunal de Palermo, foto de Letizia Battaglia, 1998

Desde 1971, quando começou a fotografar, a obra de Letizia Battaglia permanece estritamente ligada à cidade de Palermo. Como editora de fotografia do cotidiano L’Ora, a partir de 1974, documentou os conflitos que abalaram a cidade, especialmente nas décadas de 1970 e 1980, na época mais violenta da “guerra da Máfia”. A exposição no IMS Paulista tem curadoria de Paolo Falcone, especialista na obra da fotógrafa, e é uma adaptação da mostra montada em Palermo (Cantieri Generali della Zisa) e em Roma (Maxxi).

IMS Paulista, até 22 de setembro

Mais informações aqui.

 


Olhares artesanais, Cores Nyotas, Idílio e Poéticas de São Paulo

O CCSP apresenta quatro projetos selecionados na 1ª edição do Edital de Apoio à Criação e Exposição Fotográfica: Olhares Artesanais, do grupo Cidade Invertida; Cores Nyotas, de Pola Fernandez; Idílio, de Rogério Assis [foto]; e Poéticas de São Paulo – Construindo novas memórias através de velhos saberes, de Alex Gimenes e Renan Nakano.

Olhares artesanais reúne 38 fotografias captadas com câmeras pinhole manualmente construídas e tem como tema a região portuária da cidade de Santos. Já em Cores Nyotas, a artista Pola Fernandez parte da representação do tecido de chita como símbolo de ancestralidade e tem como protagonistas da fotografia as integrantes do Grupo de Mulheres Negras Saltenses – Nyota. Em Idílio, o fotógrafo Rogério Assis apresenta 36 fotos que recuperam o cotidiano e as relações socioambientais de ribeirinhos do Pará, na Comunidade Boa Esperança, localizada na região de Curralinho, na Ilha do Marajó. Na E na exposição Poéticas de São Paulo – Construindo novas memórias através de velhos saberes, a dupla Alex Gimenes e Renan Nakano apresenta fotografias em preto e branco realizadas por meio da técnica de colódio numa releitura de dez vistas retratadas no Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887, produzido por Militão Augusto de Azevedo.

Centro Cultural São Paulo, até 11 de agosto

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Só Love

 

A exposição Só Love discute a manifestação do amor, sedução e sexualidade nos espaços públicos de São Paulo, e como a cidade reagiu a estas questões nos últimos cem anos. Lugares históricos do flerte, como a Ilha dos Amores (Parque Dom Pedro II), Belvedere Trianon e Praça da República estão representados por fotos de Armando Prado [foto], Carlos Moreira, Cristiano Mascaro, Thomaz Farkas e Chico Vizzoni. Os motéis de curta permanência e os espaços de encontros que exercem a função de tornar privativos os locais de sexo ocupam duas salas com obras de Lula Ricardi, Edu Marim, Roberto Wagner e Leo Sombra.

O visitante também poderá observar registros fotográficos que demonstram as políticas públicas de controle da visibilidade do sexo, como a delimitação de uma área de tolerância à prostituição no bairro do Bom Retiro durante o Estado Novo, bem como a repressão à prostituição durante a Ditadura Militar na Boca do Lixo e Boca do Luxo, documentada por Juca Martins na década de 1970. Também são expostos trabalhos de fotógrafas pelo reconhecimento das questões da mulher e de gênero, com obras de Nair Benedicto, Márcia Alves, Rosa Gauditano e do coletivo Amapoa.

Casa da Imagem, até 7 de julho

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Marc Ferrez: Território e imagem

A exposição apresenta a extensa obra do fotógrafo realizada por todo o país ao longo de mais de 50 anos de sua atuação profissional, entre 1867 e 1923. Marc Ferrez (1843–1923) percorreu as regiões Nordeste, Norte e Sudeste como fotógrafo oficial da Comissão Geológica do Império do Brasil (1875-1878), e as regiões Sul e Sudeste como fotógrafo das principais ferrovias em construção e modernização naquele momento.

A mostra conta com mais de 300 itens do acervo do IMS e de outras instituições, incluindo fotografias e álbuns originais, negativos de vidro, estereoscopias, autocromos, câmeras e equipamentos fotográficos, documentos originais e correspondências.

IMS Paulista, até 21 de julho

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Rio de Janeiro

 

50 Anos de realismo – Do fotorrealismo à realidade virtual

A exposição apresenta cerca de 90 obras, entre pinturas, esculturas, vídeos e instalações digitais, de 30 artistas contemporâneos como John DeAndrea, Ben Johnson, Craig Wylie e os brasileiros Fábio Magalhães, Giovanni Caramello, Hildebrando de Castro e Regina Silveira, entre outros.

Centro Cultural Banco do Brasil, até 29 de julho

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Rosana Paulino: a costura da memória

Depois de passar pela Pinacoteca, em São Paulo, a exposição Rosana Paulino: a costura da memória chega ao Museu de Arte do Rio (MAR), com mais de 140 obras produzidas ao longo de 25 anos de carreira da artista. Paulino é reconhecida pelo enfrentamento de questões sociais que despontam da posição da mulher negra na sociedade contemporânea, abordando situações decorrentes do racismo e dos estigmas deixados pela escravidão que circundam a condição da mulher negra na sociedade brasileira, bem como os diversos tipos de violência sofridos por esta população.

MAR, até 25 de agosto

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Em profundidade (Campos minados)

 

Em seu trabalho, a artista Alice Miceli investiga lugares tomados por um perigo invisível e busca encontrar visibilidade para isso que, apesar de não ser visto, é uma ameaça concreta. Foi assim com seu premiado Projeto Chernobyl (Leia mais sobre o projeto no site da ZUM) e segue agora com a exibição da série Campos minados. Miceli viajou para Angola, Colômbia, Bósnia e Camboja para fotografar locais que passaram por conflitos sangrentos e que seguem matando mesmo depois de declarada a paz por meio de minas subterrâneas deixadas para trás.

Galeria Aymoré, até 14 de julho

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Porto Alegre

 

Algum pequeno oásis de fatalidade perdido num deserto de erro

Composta por 70 fotografias, a exposição do gaúcho Leo Caobelli é resultado de um trabalho de pesquisa e recuperação de dados de discos rígidos (HDs) danificados ou descartados, comprados em depósitos de lixo eletrônico (leia mais sobre o projeto no site da ZUM). Jogando com a apropriação destas imagens, o artista confronta o público com o vazio que resta de uma promessa não cumprida por uma tecnologia que é programada para armazenar e organizar memórias da sociedade, incluindo a própria superação e descarte.

Fundação Ecarta, até 4 de agosto

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Exposições

Uma seleção de exposições pelo mundo para quem gosta de fotografia

Veja uma seleção de exposições no mundo (e, aqui, no Brasil) para quem gosta de fotografia:

 

Seu espelho: Retratos da coleção do ICP

Exposição examina a coleção de retratos que fazem parte do acervo do ICP (International Center of Photography) e mostra um diversificado painel de como as pessoas se apresentam para as câmeras. De retratos de estúdio, snapshots e fotografias documentais, estão expostos desde um daguerreótipo de Southworth & Hawes até autorretratos performáticos de Samuel Fosso, entre outros.

ICP, Nova York, até 16 de junho

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Graciela Iturbide

O Fórum de Fotografia de Frankfurt (FFF) apesenta uma retrospectiva da carreira da fotógrafa mexicana Graciela Iturbide. A mostra foi organizada pela Fundação Mapfre, de Madri, e engloba desde seus primeiros trabalhos, como a série As mulheres de Juchitán (feita entre 1979 e 1986) e os retratos de membros de gangues latinas de Los Angeles, da série Cerca branca, até imagens de viagens a países como Índia, Itália, Coreia e Madagascar.

Fórum de Fotografia de Frankfurt, Alemanha, até 30 de junho

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Chris Steele-Perkins: Algum tipo de verdade

Parte das comemorações dos 10 anos da publicação do livro Inglaterra, minha Inglaterra (2009), a exposição Algum tipo de verdade apresenta uma seleção de fotografias (muitas delas inéditas) do fotógrafo Chris Steele-Perkins. Membro da agência Magnum, Steele-Perkins ficou famoso por retratar jovens de tribos urbanas na Londres dos anos 1970.Photographers’ Gallery, Londres, até 30 de junho

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Histórias de Chicago: Carlos Javier Ortiz e David Schalliol

Em resposta à exposição Birmingham, Alabama, 1963: Dawoud Bey / Black Star, esta mostra apresenta fotografias e filmes de Carlos Javier Ortiz e David Schalliol retirados da coleção permanente do museu e do Midwest Photographers Project (MPP). Ambos os artistas investigam separadamente formas de racismo sistêmico em Chicago.

Museu de Fotografia Contemporânea, Chicago, até 7 de julho

Mais informações aqui.

 


Visões mutantes – 20 anos da coleção de arte do Deutsche Börse

A coleção de arte da instituição financeira Deustche Börse, que patrocina um dos mais importantes prêmios de fotografia contemporânea, reúne trabalhos de grandes artistas, como Diane Arbus, Walker Evans, Bernd & Hilla Becher, Rineke Dijkstra e Dana Lixenberg, entre outros.

Foam, Amsterdã, até 7 de julho

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Amor  & resistência: Stonewall 50

Exposição na Biblioteca Pública de Nova York comemora o aniversário de 50 anos da Revolta de Stonewall, acontecida em junho de 1969 e um marco na história do ativismo LGBTQ nos Estados Unidos. A mostra apresenta trabalhos de Kay Tobin Lahusen e Diana Davies, dois fotojornalistas pioneiros no registro dos eventos em torno de Stonewall.

Biblioteca Pública de Nova York, até 13 de julho

Mais informações aqui.

 


snap+share: transmissão de fotografias da arte postal às mídias sociais

Corinne Vionnet, San Francisco, 2006, da série Oportunidades de foto, 2005–14, Museu de Arte de San Francisco, John Caldwell, Curador de Pintura e Escultura (1989–93), aquisição do Fundo de Arte Contemporânea © Corinne Vionnet

A prática de compartilhar fotografias é o tema da exposição snap+share: transmissão de fotografias da arte postal às mídias sociais, em cartaz no SFMoMA de San Francisco (EUA). Leia entrevista com Linde B. Lehtinen, curadora assistente de fotografia do SFMoMA, que aponta relações entre a arte postal dos anos 1960 e 70 e o atual momento de intensa troca de memes, fotos e vídeos via redes sociais.

MoMA, San Francisco, até 4 de agosto

Mais informações aqui.

 


Sharon Hayes: Eco

Os trabalhos mais recentes da artista e ativista norte-americana Sharon Hayes são tema da exposição Eco, que se utiliza da fotografia, performance, sons e trechos de vídeo para discutir as relações entre linguagem, história e política. Eco explora a ideia do espaço expositivo como uma câmara de eco, em que Haye deixa vozes e materiais reverberarem em diferentes eventos históricos.

Moderna Museet, Estocolmo, até 11 de agosto

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As muitas vidas de Erik Kessels

Organizada pela Casa Mai Manó, a exposição As muitas vidas de Erik Kessels apresenta o corpo de trabalho fotográfico do artista por meio de 17 projetos e a primeira apresentação de três novos trabalhos da Kessels. As novas obras são um vídeo e dois novos livros de fotografia: Bonitas de Budapeste, um trabalho especificamente relacionado com a capital húngara, e outra obra compilada em conjunto com o arquivo Horus e que faz parte da série Em quase todas as fotos.

Casa Mai Manó, Budapeste, até 18 de agosto

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Lee Miller: Guerra e moda

A norte-americana Lee Miller (1907-1977) foi uma das pioneiras na fotografia de moda, uma das primeiras a levar os cliques dos estúdios para as ruas, e também uma renomada fotojornalista, tendo testemunhado fatos históricos do século passado, como os campos de concentração nazistas e a libertação de Paris em 1944. A exposição montada no Preus Museum é baseada em um conjunto de fotografias escondidas por Miller e só encontradas por sua nora após sua morte.

Preus Museum, Horten, Noruega, até 8 de setembro

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William Klein: Manifesto

Parte do festival PhotoEspanã, a exposição William Klein: Manifesto reúne obras do artista americano de diferentes segmentos: fotografia, arte gráfica e cinema. A estética de Klein nos fala de um século em movimento, de mudanças e a vida em grandes cidades como Nova York, Roma, Moscou ou Tóquio.

Espaço Fundação Telefônica, Madri, até 21 de setembro

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Definindo Lugar/Espaço: Fotografia contemporânea australiana

O Museu de Artes Fotográficas (MOPA) de San Diego (EUA), apresenta uma seleção realizada por cinco curadores australianos de diferentes artistas que exploram diferentes perspectivas e tendências do país. Entre os nomes selecionados, destaque para Hoda Afshar, Polly Borland, Pat Brassington, Michael Cook, Rosemary Laing, Ricky Maynard, Tracey Moffatt, Polixeni Papapetrou, Trent Parke, Patrick Pound, Jacky Redgate, James Tylor e Justine Varga.

MOPA, San Diego, até 22 de setembro

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Sally Mann: Mil cruzamentos

A exposição dedicada ao trabalho da artista norte-americana Sally Man busca entender como a relação entre a região em que vive, o sul dos Estados Unidos, influenciou a sua obra. Seus retratos, paisagens e naturezas mortas tratam de temas essenciais da existência humana, como memória, família, mortalidade e desejo.

Jeu de Paume, Paris, até 22 de setembro

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A beleza das linhas – Fotografias da Coleção Gilman y González-Falla

Através da seleção de obras da coleção de Sondra Gilman e Celso González-Falla, que fica em Nova York e inclui mais de 1.500 fotografias, a Fundação Foto Colectania organizou a exposição A beleza das linhas, que explora as aproximações e contrastes no uso das linhas por diferentes nomes da fotografia, como Robert Adams, Walker Evans, Rineke Dijkstra, Man Ray, Cig Harvey [foto], Berenice Abbott e Lee Friedlander, entre outros.

Fundação Foto Colectania, Barcelona, até 29 de setembro

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Paixão pela vida: Ed Van Der Elsken em cores

Após meticuloso trabalho de recuperação, o Museu de Fotografia da Holanda expõe pela primeira vez as fotografias coloridas de Ed Van Der Elsken. Iniciado em 2016, o projeto de recuperação de cerca de 42 mil slides coloridos de Van Der Elsken foi realizado graças a uma campanha de sucesso nas mídias sociais, que levantou os recursos necessários para a empreitada.

Museu de Fotografia da Holanda, Rotterdã, até 6 de outubro

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Antes e agora: Vida e sonhos revisitados

Parte de uma contínua pesquisa da Coleção Walther sobre a arte contemporânea chinesa. Essa nova exposição apresenta fotografias de viagem do início do século 20 e trabalhos de 31 renomados artistas chineses, nomes como Ai Weiwei, Song Dong, Rong Rong, Yang Fudong e Zhang Huan, assim como obras de uma geração mais nova de artistas, como Lu Yang e Lin Zhipeng.

The Walther Collection, Neu-Ulm (Alemanha), até 27 de outubro

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Robert Mapplethorpe – Tensões implícitas

Dividida em duas partes, a exposição Tensões implícitas homenageia o fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe nos 30 anos de sua morte. A primeira parte, em cartaz até 10 de julho, explora o acervo do artista que pretence ao Guggenheim com polaroides, autorretratos, nus, retratos de artistas e do underground nova iorquino nos anos 70. A segunda parte, a partir de 24 de julho, irá focar no legado de Mapplethorpe na arte contemporânea, com uma seleção de fotografias expostas ao lado de trabalhos de artistas da coleção do museu, como Rotimi Fani-Kayode, Zanele Muholi, Catherine Opie e Paul Mpagi Sepuya.

Museu Guggenheim de Nova York, até 10 de julho

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O olhar das coisas. Fotografia japonesa no contexto da Provoke

O Centro de Artes Bombas Gens apresenta um recorte da coleção Per Amor a l’Art, um dos mais importantes acervos privados de fotografia japonesa. O foco da exposição é a chamada Geração Provoke, um grupo de fotógrafos que se reuniu em torno da revista de mesmo nome entre 1957 e 1972, com nomes como Nobuyoshi Araki, Daidō Moriyama, Yutaka Takanashi, Kikuji Kawada e Shōmei Tōmatsu, entre outros.

Centro de Artes Bombas Gens, Valencia, Espanha, até 2 de fevereiro de 2020

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Exposições

Por dentro do Kyotographie 2019, um dos principais festivais de fotografia da Ásia

Camila Alam & Daniel Salum

Fachada da Galeria Shimadai, um dos locais de exposição do festival Kyotographie 2019, em Quioto, Japão. Crédito da foto: Daniel Salum

Quioto, cidade sede da 7ª edição do festival de fotografia Kyotographie, foi capital do Japão por mais de mil anos (de 794 a 1868) e tornou-se símbolo do “espírito” japonês. Isso é percebido em suas diversas instituições que exaltam a cultura do país, como as escolas de cerimônia do chá (cha-no-yu ) e de arranjos florais (ikebana); a arte do teatro Noh e Kabuki e da dança tradicional; ou as obras-primas de caligrafia, pintura, escultura e arquitetura que podem ser encontradas por toda a cidade. Existe no ar um forte sentimento de pertencimento à tradição, o que faz com que todos os japoneses queiram ir para lá pelo menos uma vez na vida.

Realizado durante a primavera, o Kyotographie, que teve como inspiração primeira o Festival de Arles na França, é um dos poucos eventos artísticos verdadeiramente internacionais que ocorrem no Japão. Criado pela fotógrafa francesa Lucille Reyboz e pelo diretor de iluminação japonês Yusuke Nakanishi, com quem conversamos durante uma das exibições, a ideia do festival surgiu em 2011, após o grande terremoto que atingiu o leste do Japão e causou o colapso da usina nuclear de Fukushima. Perceberam ali a necessidade de realizar algo pelo país e construírem uma plataforma própria para o fomento, valorização e divulgação de artistas locais, já que, segundo o casal, a fotografia japonesa contemporânea tem pouca visibilidade fora e dentro do país. “Também ficou evidente, na época do acidente nuclear, o quanto a informação dentro do país é controlada pelo Governo e, com isso, a necessidade de se criar canais independentes e autônomos”, comentou Reyboz.

Um festival fundado por uma francesa e um japonês já nasce internacional e desde de seu início os diretores buscaram independência financeira do Governo, por meio de patrocínios junto a empresas de outros países e embaixadas. Segundo Nakanishi, é um evento feito por artistas, para artistas, sem nenhuma relação direta com o meio acadêmico.  A escolha de Quioto se deve ao fato de a cidade ser um dos locais mais atraentes do Japão, “um palco perfeito”. Seu tamanho se assemelha a uma cidade grande europeia, com cerca de 1,5 milhão de habitantes, o que torna possível incorporar diferentes bases para o festival. “Pensamos que poderíamos não só apresentar o valor da fotografia em um contexto internacional, mas, ao mesmo tempo, comunicar várias mensagens, como a magnificência da cultura e da arquitetura japonesa, a estética da tecnologia e as tradições artísticas do país”, ressalta o diretor.

O Kyotographie se coloca como um festival democrático, sempre em movimento, sem tabus ou restrições.  De 2013 (ano de sua criação) para cá, cresceu muito e hoje se tornou referência na Ásia, não só expondo jovens fotógrafos japoneses, mas também grandes nomes da fotografia internacional. Um tanto abstrato, o tema do evento este ano é Vibe, e, nas palavras de Lucille e Yusuke, está diretamente relacionado a uma sensação de algo que  “está no ar” nesse atual momento na sociedade japonesa, algo que não se vê, um clima pesado onde os indivíduos se calam e o silêncio prevalece. “Se há insatisfação, as coisas devem ser faladas, a sociedade como um todo deve ser mais aberta, seguir seus sentimentos”, acredita Yusuke.

Falar abertamente sobre sentimentos não é algo comum no Japão. Por isso, um dos trabalhos que chama a atenção é o do fotógrafo Kosuke Okahara. No projeto Ibasyo – Autoflagelação / Prova de existência, Okahara documenta a vida de seis jovens japonesas que se autoflagelam. Em japonês, ibasyo refere-se ao espaço físico e emocional onde se pode existir. Violência doméstica, estupro e intimidação são algumas das razões por trás desse tipo de autopunição. A cultura da vergonha, inerente à sociedade japonesa, impede muitas vezes que essas histórias sejam contadas. Segundo Okahara, a violência doméstica e casos de estupro ocorrem em muitas famílias, mas, na maioria dos casos, as vítimas optam por permanecer em silêncio. Diante da depressão e distúrbios relacionados ao pânico, são incapazes de viver uma vida normal e o ato de molestarem a si mesmas se torna uma forma de punição, ao mesmo tempo em que alivia a ansiedade e o estresse. Esse comportamento destrutivo se tornou o caminho para reafirmarem sua própria existência. Quando vêem suas cicatrizes, a sensação de desprezo se reforça e o ciclo vicioso entra em marcha. Para o fotógrafo, as meninas perderam contato com seu ibasyo.

Exposição Ibasyo – Autoflagelação / Prova de existência, de Kosuke Okahara, no festival Kyotographie 2019. Foto divulgação.

O espaço expositivo escolhido para mostrar o trabalho de Okahara é dividido em seis pequenas salas, cada uma narrando uma história, interligadas por portas pequenas e baixas, que obriga os visitantes a se curvarem para entrar. Ambientes escuros, paredes cinza e luzes pontuais iluminam as imagens que estão fixadas nas paredes apenas com alfinetes.  A experiência no espaço se torna desagradável e claustrofóbica, tentando nos aproximar, em alguma instância, da sensação de não pertencimento que essas meninas experimentam.  Do lado de fora estão seis livros com as imagens do projeto que durou cerca de oito anos. Metade das páginas mostra as fotografias e a outra metade Okahara deixou em branco.  Ao longo do tempo, tais páginas foram preenchidas por visitantes das exposições realizadas com mensagens para as meninas. Uma vez completo o livro, o fotógrafo deu um exemplar para cada uma das participantes do projeto.

Foto da série What a wonderful world, de Weronica Gesicka, 2019. Cortesia do festival Kyotographie 2019

Outra exposição do festival que investiga o comportamento em sociedade é a da fotógrafa polonesa Weronica Gesicka, jovem artista selecionada no Foam Talent 2017 e que vem ganhando destaque em mostras europeias e asiáticas. A exposição What a wonderful world  faz alusão à composição interpretada pelo músico norte-americano Louis Amstrong no fim da década de 1960, um período turbulento da história dos Estados Unidos, onde a segregação racial, as lutas pelos direitos civis, a guerra do Vietnã e os assassinatos de Martin Luther King e John F. Kennedy faziam do país um lugar de extremos.  Gesicka constrói suas imagens a partir de fotografias de famílias, cenas de férias e da vida cotidiana de lares americanos dos anos 1950-1960, todas elas compradas em bancos de imagens. Fotos de famílias que aparentam viver o “sonho americano”, com suas casas de subúrbio, gramados verdes e um permanente sorriso no rosto.  Não conhecemos a identidade das pessoas nas imagens, a relação entre elas ou o propósito da foto, tampouco o fotógrafo que as retratou. A impressão que fica é que os gestos e olhares dos retratados parecem falsos e encenados, um cenário quase perfeito demais para ser verdade.

Quando Gesicka aplica suas técnicas de fotomontagem e manipula as imagens com seu olhar crítico, parece haver mais vida e realidade nelas do que as fotografias originais poderiam revelar, deixando espaço para o espectador projetar suas próprias histórias e experiências nas imagens construídas.  Como parte de seu processo criativo, a artista polonesa incorpora a computação gráfica e a impressão 3D ao seu trabalho, mas não deixa de evocar, ao mesmo tempo, estéticas do dadaísmo e do surrealismo. Em uma segunda sala da exposição, ela transforma objetos cotidianos domésticos em objetos não-funcionais e perturbadores – como uma corda feita de arame farpado ou um berço construído com cerca pontiaguda – materializando, em parte, o que vemos nas fotografias. Essa linha tênue entre a percepção e a memória é um tema chave em seu trabalho, nos lembrando que o que nos resta é sempre a interpretação e não os fatos, que tudo é construção e, principalmente, no caso da fotografia, representação. Seguindo a ideia do festival de ocupar espaços da cidade não convencionais para exibições, a sua mostra toma um prédio construído em 1608 inicialmente para o comércio de seda e o transforma no interior de uma casa de família americana dos anos 1960.

 

Fotografia de Alberto Korda da exposição Sobre ela, sobre mim, sobre eles: Cuba através da arte e da vida de três fotógrafos, no festival Kyotographie 2019

Um rastro latino

A fotografia foi a linguagem mais presente na realidade cubana a partir de 1959 (pós-revolução) e assumiu o papel de comunicadora por excelência das novas reformas sociais e de seus protagonistas. O mundo estava voltado para Cuba, que transmitiu suas mensagens ao mundo por meio da fotografia. Na mostra Sobre ela, sobre mim, sobre eles: Cuba através da arte e da vida de três fotógrafos, o festival oferece um recorte de três gerações diferentes da fotografia cubana, com obras de Alberto Korda, Alejandro González e René Peña, que ocupam um prédio de bares e galerias no bairro de Gyon.

Alberto Korda, maior nome da fotografia cubana, é o principal destaque da mostra. Mas o que vemos aqui não são imagens vinculadas à política, tampouco o retrato icônico que fez de Che Guevara. Em sua maioria, vemos fotos que Korda realizou em seu estúdio comercial em Havana no período pré-revolução, principalmente campanhas de moda e publicidade.  São retratos de mulheres (daí o Sobre ela do título), tudo muito diferente do imaginário que cerca seu trabalho. Se por um lado é curioso ver essa outra faceta do fotógrafo, que ajuda a compreender um contexto mais amplo de sua carreira e todo processo de transformação de seu trabalho junto à Revolução Cubana, fica faltando justamente esse contraponto, para traçar assim seu real percurso e importância dentro da fotografia.  Ao olhar tais imagens isoladamente fica difícil a associação com o que habitualmente conhecemos sobre o fotógrafo e assim compreender as mudanças que ocorreram tanto no país como em sua fotografia.

Incorporando o Sobre eles, o trabalho de Alejandro González, o mais novo dos três, explora as lacunas de histórias não contadas e parcelas da sociedade que não estão representadas na fotografia oficial cubana. Em Quioto, González apresenta duas séries: Reconstrução, onde constrói maquetes de papelão de momentos famosos da história socialista cubana e depois os fotografa; e Conduta imprópria, composta por retratos da comunidade LGBT do país, alvo de forte discriminação.  Duas séries interessantes, que mostram um momento mais atual de Cuba e uma fotografia que dialoga diretamente com uma linguagem mais contemporânea. Infelizmente, o espaço expositivo restrito impede que vejamos as duas séries completas e a apresentação do trabalho do artista acaba fragmentada.

Finalizando a exposição, o Sobre mim apresenta o trabalho de René Peña, que usa seu próprio corpo como pano de fundo, mas diz não fazer autorretratos.  Segundo o artista, a questão central de seu trabalho é a relação que se estabelece entre indivíduos e instituições – família, educação, partidos políticos e religião. Traz questões relacionadas à individualidade e à identidade e como lidamos com nós mesmos enquanto entidades sociais. Dos três trabalhos apresentados, foi o que se mostrou mais coeso e bem resolvido como exposição.

Exposição A marmita está pronta, de Atsushi Fukushima, na KG+ Select 2019. Crédito da foto: Daniel Salum

KG+ 2019

Realizado em paralelo ao Kyotographie desde o primeiro ano, o KG+ é um evento voltado para a descoberta de novos artistas. Dirigido por Philippe Bergonzo, curador francês que há 20 anos mora no Japão, o evento é realizado nas mesmas datas do festival, mas seu calendário possui programação e locações diferentes. Dividido em dois, é composto pela frente KG+ Satellite, que incentiva artistas inscritos a exporem pela cidade de maneira independente, ocupando cafés, livrarias e outros espaços alternativos de Quioto com centenas de trabalhos que passaram pela curadoria do festival. A segunda frente, e mais importante, é a KG+ Select, em que 12 artistas inscritos são selecionados para uma mostra especial, com verba para produção de suas exibições e com um fotógrafo escolhido para participar do programa oficial do Kyotographie no ano seguinte.

Exposição A marmita está pronta, de Atsushi Fukushima, na KG+ Select 2019. Crédito da foto: Daniel Salum

Nos últimos dois anos, o KG+ Select acontece na Junpu, uma antiga escola primária da cidade que deixou de funcionar por falta de alunos. O local está desativado, mas segue intacto, com laboratórios e salas de aula equipadas. Para o festival, suas classes são desmontadas e cada artista planeja a montagem de seu espaço. Este ano, além de fotógrafos japoneses como Tsubasa Fujikura e Keiji Fujimoto, a seleção trouxe artistas de países como França (Armelle Kergall), Estados Unidos (Garrett O. Hansen) e Coreia do Sul (Sangsun Bae). A escolha do júri, entretanto, foi para o país sede.

O projeto A marmita está pronta, do japonês Atsushi Fukushima, faz uma reflexão delicada e atual sobre a maneira como a sociedade trata seus idosos. O Japão é hoje a nação com maior percentual de idosos acima de 65 anos, cerca de 25% dos seus 126 milhões de habitantes. Se, na maioria das vezes, eles ocupam lugar de respeito e refletem a sabedoria ancestral, também sofrem com o abandono e a solidão. Durante meses, Fukushima trabalhou como entregador de marmitas a alguns destes idosos solitários e passou a registrar seus dias, casas e vida cotidianas. Na sala de aula que abriga a exposição, suas fotografias são exibidas no chão, em formatos retangulares que lembram bentōs, as marmitas japonesas.///

 

Daniel Salum é fotógrafo e professor, bacharel em fotografia pelo Senac-SP. Ministra aulas no MAM-SP e na Escola Panamericana de Arte e coordena grupos de estudos voltados ao desenvolvimento da linguagem fotográfica. Desde de 2014 desenvolve pesquisa sobre a fotografia japonesa do pós-guerra e contemporânea. Participou de diversas exposições coletivas e individuais no Brasil e no exterior.

Camila Alam é jornalista de cultura e produtora de conteúdo, especialista em História da Arte. Nos últimos treze anos, passou pelas redações das revistas CartaCapital, Trip e Tpm. Atualmente realiza projetos de conteúdo digital para marcas.