# 7 outubro de 2014 |
Pé na estrada, Daido Moriyama
O clique único de Assis Horta, Assis Horta & Dorrit Harazim
Que país é este?, Alex Majoli, André Vieira, Bárbara Wagner, Breno Rotatori, David Alan Harvey, Garapa, Jonas Bendiksen, Mídia Ninja, Pio Figueiroa, Susan Meiselas, por Laura Capriglione
Uma batalha de imagens, Hilary Roberts
Para onde foi a senzala?, Mauricio Lissovsky
A fotografia como objeto pós-industrial (1985), Vilém Flusser & Márcio Seligmann-Silva & Mario Santamaría
A HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA é uma história de lacunas. Para cada nome consagrado, outros tantos ainda precisam ser descobertos ou reconhecidos. É o caso de Assis Horta, garimpado nas jazidas fotográficas de Diamantina. O apuro do trabalho, a amplitude da produção e o fato de suas fotos terem sido preservadas por décadas já garantem ao mineiro de 96 anos posto de honra nas enciclopédias de fotografia e de história social brasileiras.
Nos últimos 100 anos, a fotografia de guerra debateu-se com a manipulação das imagens, ajudando a definir critérios que até hoje rendem discussões acaloradas. Em artigo encomendado por ocasião do centenário da Primeira Guerra Mundial, a historiadora Hilary Roberts mostra como a ideia de verdade fotográfica moldou-se durante o conflito, no embate entre os princípios éticos do jornalismo, os avanços da técnica e a cobrança dos que se arriscavam no front.
Na edição passada da ZUM, Fred Ritchin, professor de fotografia da Universidade de Nova York, criticava a visão tradicional do fotojornalismo e convocava fotógrafos e editores a explorar novos caminhos. O projeto Offside, organizado pela agência Magnum durante a Copa do Mundo, é um passo nessa trilha. Em junho e julho deste ano, enquanto espectadores e jornalistas concentravam-se nos gramados, oito fotógrafos e dois coletivos se uniram para narrar uma história paralela ao evento. De haicais urbanos à teatralidade cotidiana, passando por tipos sociais e religiosos, os fotógrafos definiram suas pautas e circularam pelo país para produzir o material que compõe o especial desta edição.
Poucos fotógrafos abraçaram o espírito on the road como o mestre japonês Daido Moriyama. Conhecido por técnicas pouco ortodoxas, como disparar a câmera sem olhar pelo visor ou editar livros com máquinas de xerox, Daido compara a aventura de cair na estrada à experiência de ler dezenas de livros, numa das mais belas reflexões de sua carreira.
Há quase 30 anos, o filósofo Vilém Flusser sugeria que a fotografia eletromagnetizada seria a ponta de lança de uma revolução cultural. Livre do suporte, a imagem circularia amplamente e abriria caminho para o pleno funcionamento da democracia. Utópico e premonitório, Flusser não imaginava o rumo que tomaria a nossa vida digital, mas defendia uma análise crítica das imagens como ferramenta preciosa para entender o que se passa ao nosso redor. É essa visão que baliza a ZUM e que está no cerne do ensaio de Mauricio Lissovsky, ao mostrar como a foto de capa de um livro pode refletir uma transformação social de consequências dramáticas e profundas.