# 17 outubro de 2019 |
Alma negra, Don McCullin & Leão Serva
Noite branca, Feng Li & Thomas Sauvin e Léo de Boisgisson
O real em pedaços, Dora Maar & Amanda Maddox
O longe é agora, Vincent Catala & J.P. Cuenca
Orgulho da tortura, Mauricio Lissovsky & Ana Maria Mauad
Cardápio indigesto, Michael Schmidt & Thomas Weski
Desaprendendo momentos decisivos, Ariella Azoulay
Futuro opaco, Carlos Zílio & Paula Braga
Primeiras impressões, Anna Atkins & Joshua Chuang
Olhos de sangue, Marc Ferrez & Hélio Menezes
Anatomia de uma paixão, Eduardo Solon & Inácio Araujo
No início, tudo era azul, como mostram os cianótipos de Anna Atkins, cuja primazia na história do livro fotográfico só foi reconhecida quase dois séculos depois de sua publicação. Em seu último grande trabalho, Michael Schmidt mostra as consequências perniciosas do capitalismo em fotos de revirar o estômago.
A fotografia nunca foi uma tecnologia neutra, relembra a escritora Ariella Azoulay ao desfazer os mitos de origem imperiais para construir outras histórias da fotografia. Assim procede o antropólogo Hélio Menezes, que identifica a participação do sistema escravista no progresso moderno documentado por Marc Ferrez no século 19.
De fotograma em fotograma, o cinéfilo Eduardo Solon amealhou uma coleção de instantes em que sua memória afetiva se confunde com a história do cinema. Pioneira, Dora Maar também reinventou o mundo a partir de fragmentos com suas fotomontagens surrealistas.
Os historiadores Mauricio Lissovsky e Ana Maria Mauad resgatam fotografias que mostram que a tortura era prática rotineira no Brasil durante a ditadura militar. Em entrevista exclusiva, Don McCullin revela que não sente orgulho de suas fotos de guerra, e aconselha os jovens a registrarem a realidade de suas próprias cidades. É o que faz o chinês Feng Li, instigado pela babel visual da China contemporânea.
Do lado de cá, o fracasso das políticas públicas esculpe o vazio capturado por Vincent Catala em rostos e paisagens cariocas. O progresso é uma ilusão também na série fotográfica de Carlos Zílio, atual nos anos de chumbo ou em nosso presente.
Num tempo de incertezas quanto ao futuro, reaprender a olhar é fundamental para recuperar a capacidade de imaginar o novo, juntos.