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Recomendações ZUM: populismo na política, mulheres nos Panteras Negras, Peter Hujar, Alex Majoli e mais

Publicado em: 23 de setembro de 2022

A coquete Link Martin, 1971 © Peter Hujar

A Fraenkel Gallery expõe 50 fotografias em preto e branco do artista americano Peter Hujar (1934-1987), selecionadas pelo músico e colecionador Elton John. Abrangendo quase duas décadas, a mostra inclui retratos de amigos, colegas artistas, paisagens e nus feitos por Hujar. “Muitas das obras mais radicais de Hujar combinam a suavidade de seus retratos icônicos com a intimidade do erotismo. Figuras nuas aparecem diante da câmera de Hujar em vários estados: no todo e em detalhes, jovens e velhos, cobertos de tatuagens e excitados.”

Gloria Abernethy vende o jornal Pantera Negra enquanto Tamara Lacey segura um pôster sobre anemia falciforme no boicote ao supermercado Mayfair em Oakland, Califórnia, 1971.

Texto publicado pelo jornal inglês The Guardian comenta o trabalho do fotógrafo Stephen Shames, que acaba de lançar o livro de fotos Comrade Sisters: Women of the Black Panther Party (Camaradas irmãs: Mulheres do Partido dos Panteras Negras). Realizado em parceria com Ericka Huggins, antiga militante do partido, a publicação é um testemunho visual e oral do papel crucial desempenhado pelas mulheres em um grupo revolucionário cujas figuras de proa, com poucas exceções, eram homens. “Acho que todas as mulheres do livro percebem que, por poderem se lembrar de como se sentiram bem naquela época, o que aprenderam ficou indelevelmente impresso em suas mentes e corações. O livro é o nosso legado.”

Operação policial na Rua Augusta, de Alex Majoli, São Paulo, Brasil, 2022

O fotógrafo italiano Alex Majoli, em entrevista ao site da Agência Magnum, comenta a mais recente adição à sua série Tudo bom, iniciada há duas décadas e na qual vem documentando a vida no “lado B” do Brasil. No início deste ano Majoli começou a explorar a região da estação da Luz, em São Paulo, comumente conhecida como Cracolândia. A série mistura a fotografia documental com o fascínio de Majoli pelo teatro da vida cotidiana. “As fotografias mantêm o DNA do fotojornalismo, no sentido estrito de fornecer conteúdo sobre a atualidade, mas apresentam uma estética que destaca quais papéis foram atribuídos aos vários personagens deste capítulo crucial da história contemporânea”, explica Majoli.

Foto da série One of Yours, de Daniel Mayrit

Do Brexit ao líder carismático: como detectar as artimanhas do populismo. Em matéria publicada no site da edição espanhola do jornal El País, os fotógrafos Alejandro Acín e Daniel Mayrit investigam por meio de imagens o funcionamento de ferramentas discursivas e a estética visual de alguns fenômenos políticos recentes. O Brexit é o tema principal de The rest is history (O resto é história), fotolivro de Acín com imagens realizadas em Londres no Dia do Brexit: o fotógrafo abordou o tema como uma reportagem fotojornalística, retratando as pessoas que se aglomeravam na praça adjacente ao Parlamento, numa celebração convocada pelo partido UKIP (Partido para a Independência do Reino Unido), fundado pelo ultranacionalista Nigel Farage. Da mesma forma, decidiu fotografar o Museu Britânico, percorrendo dois espaços da capital britânica carregados de grande significado histórico. Já em One of yours (Um dos seus), mais recente projeto de Mayrit, o tema é o populismo: no formato de uma revista campanha, a publicação explora a vida e a carreira de um fictício candidato, abusando dos clichês visuais e textuais desse tipo de candidatura redentora.

Foto de Fatemeh Baigmoradi, do livro It’s Hard to Kill, 2016-2017

Artigo da historiadora da arte Nerea Arrojería publicado no site espanhol LUR aborda os sinais de agressão em retratos fotográficos. “Danificar a foto equivale a prejudicar a imagem da pessoa retratada, sua honra. Através do objeto fotográfico é atacada a sua reputação, mas também a sua memória. Essas agressões dão conta das reações que geram e documentam o valor que lhes damos, da estima ao desprezo, em um fluxo contínuo e mutável”, comenta Arrojería. “Na antiguidade romana, a imagem escultórica, pictórica ou numismática, independentemente de sua credibilidade, permitia que o retratado continuasse vivo após sua morte. O corpo perece, mas a imagem não, e com ela a memória persiste. Ao contrário, ao negligenciar, mutilar ou apagar os retratos, o indivíduo foi simbolicamente apagado da história em uma clara condenação de sua memória (damnatio memoriae).”

Foto do livro Sorry I Gave Birth I Disappeared But Now I’m Back, de Andi Gáldi Vinkó, 2022.

Em entrevista à revista digital AnOther, a fotógrafa húngara Andi Gáldi Vinkó fala sobre o seu recém-lançado livro Sorry I Gave Birth I Disappeared But Now I’m Back (Desculpe, eu dei à luz e desapareci, mas agora estou de volta). “Não me preparei [para a maternidade]”, lembra Gáldi Vinkó. “E eu não acho que isso é possível. “Em vez disso, ela abordou esse novo estágio como usualmente faz em todas as situações estranhas ou desafiadoras: usando sua câmera. A primeira de seus amigos a experimentar a gravidez, o livro foi parcialmente concebido como uma resposta ao sentimento de desconexão. “Há esse antigo ditado: é preciso uma aldeia para criar uma criança. Mas nossa sociedade não vive em aldeias, não temos comunidades. Foi difícil, mas quanto mais eu falava sobre coisas específicas, mais eu percebia que outros tinham as mesmas perguntas. Ainda há muitos tabus, tópicos não ditos, que todo mundo espera que você saiba.” ///

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