ZUM Quarentena

Recomendações ZUM: fotografia e ciência, Antoine d’Agata, Sebastião Salgado, Jac Leirner, Godard e mais

Publicado em: 14 de abril de 2020

© Antoine d’Agata/Magnum

A importância das tecnologias de captação de imagem é cada vez maior na pesquisa científica, tanto para observarmos o que acontece dentro das células como para enxergarmos os confins do universo. Na guerra contra a pandemia, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) conseguiu captar e mostrar, em detalhe, o momento exato em que uma célula é infectada pelo novo coronavírus. O registro, inédito no Brasil, foi obtido durante estudo que investiga a replicação viral do Sars-CoV-2, conduzido pelos pesquisadores Débora Barreto e Marcos Alexandre Silva, do Laboratório de Morfologia e Morfogênese Viral, e Marilda Siqueira, Fernando Mota, Cristiana Garcia, Milene Miranda e Aline Matos, do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo.

Um grupo de cientistas japoneses, em parceria com a rede de televisão estatal NHK e a Associação Japonesa de Doenças Infecciosas, usou câmeras de altíssima sensibilidade para captar partículas que podem transmitir o coronavírus. O objetivo principal do vídeo não é avaliar a efetividade da transmissão do vírus pelas micropartículas, mas sim mostrar a quantidade e o alcance de partículas emitidas em um espirro, ao tossir ou simplesmente conversando com alguém.

As tecnologias de captação de imagem também estão ajudando governos na detecção de possíveis infectados pelo coronavírus, como é o caso do Athena Security, um sistema utilizado pela Força Aérea dos Estados Unidos que utiliza câmeras térmicas e softwares capazes de encontrar cerca de mil casos suspeitos por hora em locais de grande circulação, como aeroportos e estações de trens e metrôs.

Também utilizando a tecnologia de câmeras térmicas, mas para resultados artísticos ao invés de científicos, o fotógrafo Antoine d’Agata registrou as ruas de Paris nos primeiros dias do isolamento decretado pelo governo francês. O ensaio ilustra artigo sobre como as epidemias, por milênios, testam as amizades, a fé e a sociedade.

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“Somos aliens dentro do planeta”. Consagrado por fotografar de tragédias a lugares intocados, Sebastião Salgado analisa, em entrevista ao jornal O Globo, a pandemia e fala da esperança em uma mudança global de valores.

A M Le, revista do jornal Le Monde, publicou, em sua última edição, autorretratos de 16 fotógrafos em seus períodos de quarentena, com nomes como Mario Sorrenti e Wolfgang Tillmans, entre outros. No entanto, a edição foi criticada pelo público e por coletivos como o La part de femmes, que reúne profissionais da fotografia para reivindicar condições igualitárias de trabalho, por conter apenas homens em sua seleção. A resposta oficial do Le Monde à polêmica foi anunciar que a edição atual era sobre “homens” e que a próxima mostrará apenas o trabalho de mulheres.

A agência Magnum vem pedindo a seus fotógrafos que reportem do front – mesmo que seja o interior de suas casas – e vem atualizando um diário da pandemia. A agência também lançou a série Conversas na Quarentena Magnum, com esse bate-papo virtual entre Martin Parr e David Alan Harvey.

A aarea, plataforma fundada em 2017 que comissiona e exibe trabalhos de arte concebidos especialmente para a internet, comemora sua 30ª edição convidando a artista Jac Leirner para realizar, pela primeira vez, uma obra pensada para ser veiculada em uma tela de computador ou de vídeo. Não que sua produção se apegue a suportes, mas botão já nasceu no meio digital: há mais de 3 anos, a artista fotografa com a câmera do telefone celular as legendas dos filmes que assiste. Jac vem construindo um acervo com essas imagens fotografadas e as separa por categorias como “legendas com as palavras sim e não”, “legendas com palavras sobre arte”, “legendas com repetições”, “legendas com a palavra amor”, dentre muitas outras. Para o trabalho feito na aarea, Jac utiliza uma de suas coleções, as “legendas com números”, que conta atualmente com mais de 1.000 imagens.

O MALBA – Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires – está disponibilizando o Ciclo Cine, uma iniciativa de difusão do cinema argentino que já acontecia no edifício e agora foi transformada em uma plataforma digital que acontecerá até o final de abril. O filme é disponibilizado online e em seguida é transmitida uma conversa com o diretor. Uma excelente oportunidade para conhecer mais o cinema de nossos vizinhos.

O recluso cineasta franco-suiço Jean-Luc Godard (1930) aderiu à onda das lives do Instagram e falou sobre a pandemia diretamente de sua residência na Suiça. A conversa está agora no canal do Youtube da Universidade de Arte e Design de Lausanne, realizadora do evento.

Até o início de julho, o Met de Nova York irá exibir em seu site o filme documentário Gerhard Richter: Painting After All. Boa parte do filme se passa no estúdio do artista alemão, em Colônia, onde a câmera acompanha de forma atenta o processo de criação de Richter, intercalado com diversas entrevistas históricas e imagens de sua vida cotidiana em interações com curadores, assistentes e a família.

Com a exposição da artista LaToya Ruby Frazier suspensa devido à crise do coronavírus, o Centro da Fotografia de Geneva, na Suíça, divulgou um trabalho novo que estaria em exibição. No vídeo Flint é família (2016), gravado em preto e branco e narrado em primeira pessoa, Frazier acompanha o cotidiano de uma mãe que educa sozinha sua filha na cidade de Flint, no Michigan (EUA), em meio ao cenário desolador deixado pela desindustrialização – assunto familiar à artista desde a infância e a juventude em Braddock, Pittsburgh. ///

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Leia também no #IMSquarentena uma seleção de ensaios do acervo das revistas ZUM e serrote, colaborações inéditas e uma seleção de textos que ajudem a refletir sobre o mundo em tempos de pandemia.

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