Sumário 26

Publicado em: 24 de abril de 2024

Besuntado em dendê, em mercúrio-cromo, em pó cerimonial, em lama ou urucum, os corpos pulsam em todas as páginas da ZUM. Nos autorretratos de María Magdalena Campos-Pons, o corpo é o mar que abriga a identidade afrodiaspórica de mulher negra latina, enquanto nas oferendas de Ayrson Heráclito, o corpo encarna a espiritualidade dos trópicos, gestada entre as cosmologias iorubá e os rituais do candomblé baiano.

As fotos de Annie Ernaux e Marc Marie são indícios de corpos amantes, imagens como os exames de câncer da escritora, que reduziam a doença aos sintomas visíveis. Na obra do pintor Luiz Zerbini, o corpo fotográfico se dissolve no processo de pesquisa, até reaparecer encarnado em pigmentos de cor e luz.

Os negativos de Milagros de la Torre escondem corpos que seriam revelados pelos fotógrafos lambe-lambe, numa operação que aponta a distinção social almejada e relembra o apagamento racial sofrido.

Nas fotografias de Rosa Gauditano, mulheres afirmam sua autonomia através de corpos que vibram de prazer e liberdade. Nos filmes de Zahy Tentehar, seu corpo é a geografia que reconstrói a identidade expropriada dos povos originários. Liberdade e memória também se encontram nas performances da chilena Lotty Rosenfeld, que desafiou com seu corpo os espaços de poder e repressão em plena ditadura militar. Para o artista congolês Sammy Baloji, o álbum de fotos não é afirmação de uma subjetividade, mas a restauração dos corpos que tombaram na resistência coletiva.

Thyago Nogueira, Rony Maltz e Elisa von Randow

 

Capa e quarta capa:
Armadilha de liberdade 3 e 1 (2013), de María Magdalena Campos-Pons