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Retrospectiva 2023: os destaques do site da ZUM

Publicado em: 3 de janeiro de 2024

Frame do filme Adeus à linguagem, de Jean-Luc Godard, 2014

Qual é o cinema que morre com Godard? por Lúcia Monteiro

É o que retoricamente pergunta a pesquisadora e professora Lúcia Monteiro a respeito da obra do cineasta franco-suiço Jean-Luc Godard, morto em setembro de 2022. Como possível resposta, Monteiro relembra seus encontros (e alguns incômodos) com a obra de Godard ao longo da extensa carreira do cineasta, destacando a representação da mulher em seus filmes e a relações provocativas entre imagem, texto e som.

Alice Yura, Foto Yura III, 2022. Coleção da artista, São Paulo

Foto Yura: tradição e transformação por Yudi Rafael & André Pitol

Filha e sobrinha de fotógrafos, no projeto Foto Yura a artista Alice Yura reúne elementos de uma cultura com uma história familiar que perpassa o ofício fotográfico e inclui incursões experimentais e a abertura de uma série de estúdios fotográficos em diferentes cidades nos estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo.

Em ensaio escrito especialmente para a ZUM, os curadores e pesquisadores André Pitol e Yudi Rafael comentam o projeto: “Essa tecnologia, a fotografia, aparece aqui tanto como um correlato de família quanto de imigração; esses três termos não deixam também de estabelecer uma tríade performática para Alice. Esses deslocamentos geográficos e imagéticos, afinal, se tornaram oportunidades para que Alice se reconhecesse fotógrafa”.

Eliot Higgins, criador das fotos da “prisão de Donald Trump” no Midjourney, em março de 2023, foi expulso da plataforma. Em sua defesa, afirmou que sua intenção era apenas mostrar as capacidades do Midjourney, não enganar as pessoas.

Inteligência artificial e as novas políticas das imagens por Giselle Beiguelman

A colunista Giselle Beiguelman levanta questões relacionadas à criação de imagens por meio de inteligência artificial, como as do Papa Francisco em seu casaco fashion e o ex-presidente Donald Trump sendo arrastado por policiais dias antes de sua verdadeira prisão.

“A pergunta não é se saberemos indicar quais [imagens] são verdadeiras e quais não são. A pergunta é se os sistemas de visão computacional se tornarão a tal ponto dominantes que enxergaremos o mundo pelo ponto de vista das IAs e converteremos deepfakes e afins em deeptrues.”

Foto gentilmente cedida por ©JEB (Joan E. Biren), do livro Eye to eye: portraits of lesbians, publicado pela Anthology Editions.

Fotografia lésbica – uma longa tradição (1979) por Judith Schwarz

Tradução inédita do ensaio Fotografia lésbica – uma longa tradição, da pesquisadora e ativista Judith Schwarz. Escrito originalmente em 1979, o texto é parte do fotolivro Eye to Eye: portraits of lesbians, da fotógrafa Joan E. Biren (mais conhecida como JEB).

O ensaio de Schwarz apresenta e discute as produções de Clementina Hawarden, Emma Jane Gay, Frances Johnston, Alice Austen e Berenice Abbott, fotógrafas do final do século 19 e início do 20, e localiza a obra de JEB em um percurso que tem lastro histórico dentro da fotografia norte-americana.

Assim como meu pai, que está nos céus, da série Eu não conheço Deus, de Daniele Espinosa, 2019-2023

Olhar desviado por Daniele Espinosa & Anna Ortega

Aos 18 anos, a fotógrafa gaúcha Daniele Espinosa rompeu com a Assembleia de Deus. Mas, depois de viver mais da metade de sua vida nos bancos da igreja, é possível romper também com as imagens desse tempo? Na série Eu Não Conheço Deus, ela parte de marcas pessoais para discutir questões históricas, sociais e políticas que atravessam o tema.

Em conversa com a jornalista Anna Ortega, Daniele conta que, mais adulta, percebeu que tinha muita coisa da igreja dentro dela: “Comecei a fotografar com a ideia de fazer um caminho de volta, mais equilibrado, onde eu pudesse olhar para o que me fez mal, mas também para outras coisas – até da imagem, porque ler a bíblia produziu muitas imagens na minha cabeça durante a vida.”

Mídia Ninja, 2013. Publicada originalmente na edição impressa da revista ZUM #6

As imagens do eu-testemunho mudaram o Brasil? por Fabiana Moraes

Em ensaio, a jornalista Fabiana Moraes relembra os acontecimentos das manifestações de junho de 2013, destacando a disputa de narrativas entre a nova mídia alternativa e os tradicionais veículos de comunicação televisiva que eclodiu naquele momento.

“Surge uma miríade de câmeras gopro, carrinhos de supermercado, capacetes, notebooks e telefones celulares. Seria com esses equipamentos, entre outros, que o coletivo Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) passaria a atuar na cobertura das jornadas que completam agora dez anos, década na qual o jornalismo brasileiro e mundial se viram confrontados por uma onda de descredibilização formada não somente pela ascensão das onipresentes fake news, mas pelo próprio modelo de uma superada imparcialidade da imprensa”.

De olhos bem fechados, de Santu Mofokeng, caverna de Motouleng, província de Clarens, 2004. Foto publicada na edição impressa da ZUM #3.

Michel Poivert: “A fotografia é mais que uma imagem” por Michel Poivert & Teresa Bastos

O historiador da arte francês Michel Poivert conversa com a pesquisadora Teresa Bastos sobre um conjunto de questões em torno da fotografia contemporânea: sua inserção no mundo das artes, o pós-colonialismo, a globalização, as reparações históricas, as relações entre o digital e o analógico, e a emergente narrativa visual da ficção documental, entre outros temas.

Matthew Leifheit, To Die Alive, 2022 (Damiani Books)

O seu reflexo na água: narrativas de gênero no fotolivro por Masina Pinheiro

A artiste Masina Pinheiro escreve ensaio sobre a exposição de fotolivros queer organizada por ela para o festival Imaginária, que aconteceu em agosto em São Paulo. Masina selecionou mais de 40 fotolivros, zines e outras publicações com temas como a desobediência de gênero, infância LGBTQIAPN+ e outras dissidências que permeiam identidades não-normativas e historicamente marginalizadas.

Rosa Gauditano, Ferro’s Bar, 1978-1979 © Rosa Gauditano/StudioR. Foto gentilmente cedida pela fotógrafa.

Rosa Gauditano e as lésbicas do Ferro’s bar e da boate Dinossauros por Rosa Gauditano & Luana Navarro

Em 1978, aos 23 anos de idade, a fotógrafa Rosa Gauditano foi incumbida pela revista Veja de realizar uma pauta sobre as lésbicas paulistanas. Foi assim que ela registrou o Ferro’s Bar e a Boate Dinossauros, dois dos poucos espaços na cidade para a socialização, flerte e diversão entre mulheres em plena época da ditadura militar. Estas fotografias são uma rara oportunidade de vislumbrar como eram esses ambientes. Foi no Ferro’s Bar, no dia 19 de agosto de 1983, que um grupo de lésbicas realizou um levante público contra os episódios de lesbofobia e repressão ocorridos no estabelecimento, marcando o 19 de agosto como o dia do Orgulho Lésbico.

Estudo para um enriquecimento interior (detalhe), de Helena Almeida, 1977-1978. Coleção Altice, Lisboa. Divulgação.

Habitar a si: Helena Almeida, performance e fotografia por Helena Almeida & Betina Juglair

A obra da artista portuguesa Helena Almeida e as suas relações entre fotografia, pintura e performance, são tema de ensaio escrito pela pesquisadora e artista visual Betina Juglair. “A beleza da obra de Helena Almeida é que ela nos mostra modos de olhar sem ver: é um olhar pautado na intuição, na sensação, nos sentidos do corpo para além do olho. Suas imagens conclamam um olhar corporalizado, sensibilizado, profundamente interior.”

Mari Katayama, you’re mine #002, autorretrato, 2014. Cortesia da artista.

Mari Katayama: o corpo fotográfico por Mari Katayama, Daniel Salum & Lucas Gibson

Nome de destaque na atual cena da fotografia contemporânea, a artista japonesa Mari Katayama utiliza o autorretrato como forma de expressão e coloca seu próprio corpo como elemento central de suas produções. Nascida com hemimelia tibial e apenas dois dedos na mão esquerda, teve as duas pernas amputadas aos nove anos de idade e passou a utilizar próteses que a acompanham durante toda a vida.

Os pesquisadores brasileiros Daniel Salum e Lucas Gibson conversaram com Mari sobre sua obra, que propõe reflexões entre as idealizações e a realidade material, tensionando sentimentos ambivalentes entre verdade e ficção na fotografia.

Esmeraldinas em O ritual, de Renan Teles, 2020

Renan Teles: a fotografia como encontro por Renan Teles & Luciara Ribeiro

Na série Esmeraldas não é Cohab porque tem elevador, o fotógrafo e artista visual Renan Teles estabelece diálogos entre o seu trabalho e a vida cotidiana do Conjunto Habitacional Esmeraldas, no bairro de Itaquera, na zona leste de São Paulo.

Em ensaio, a crítica e curadora Luciara Ribeiro destaca que essa série de Teles nos faz “refletir sobre os modos de mediação para a produção da imagem fotográfica, indagando os processos de disputas conceituais, territoriais e sociais na configuração do processo urbano e as afetividades que a memória marca no contato com os lugares e seus modos de habitar”. ///

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