Sumário 13

Publicado em: 4 de dezembro de 2017

Pegue. Apalpe. Folheie. Contra o pudor e a vergonha do corpo, a holandesa Viviane Sassen apresenta a maternidade e a negritude em retratos carregados de simbolismo. Três décadas antes, Paz Errázuriz frequentou os bordéis da ditadura chilena para proteger as transexuais que mantinham a dignidade em uma vida clandestina. “As minorias são a maioria”, disse com empatia acachapante. A liberdade esculpida em sofrimento é assunto do artigo de Dorrit Harazim, que compara as visões de Dorothea Lange e Ansel Adams diante do decreto da Segunda Guerra Mundial que confinou nipo-americanos com base na origem e na aparência. No começo do século 20, o criminologista francês Alphonse Bertillon também usou a aparência para instrumentalizar a polícia – prova de que a fotografia pode servir a usos tão originais quanto suspeitos.

Em entrevista exclusiva, o filósofo francês Georges Didi-Huberman trata da imagem como ato de criação e resistência, e confessa ser um fotógrafo bissexto. Palavra e imagem estão na síntese explosiva do argentino León Ferrari que justapõe a Bíblia com a iconografia chinesa, cristã e jornalística. O japonês Takuma Nakahira revelou o corpo das cidades e lutou contra o idealismo modernista que submetia o mundo à visão do artista. Sua obra radical, exposta na Bienal de Paris em 1971, vibra com a mesma inquietação de seu mestre William Klein, homenageado por Nakahira em texto de alto calibre. Em franca sintonia, o fotógrafo e perito Marcos Freire apresenta os lares paulistanos e as recentes transformações sociais do país. Agudo na denúncia, o cineasta Walter Carvalho expõe os dilemas da habitação coletiva, num misto de desencanto e utopia costurados com agudeza pelo escritor pernambucano José Luiz Passos. A fotografia é nosso espelho involuntário.