Sumário 05

Publicado em: 14 de outubro de 2013

EM JUNHO DESTE ANO, o Movimento Passe Livre convocou passeatas em São Paulo para protestar contra o aumento na tarifa do transporte público. A violenta repressão da polícia e a insatisfação geral da população levaram milhões de pessoas às ruas em centenas de cidades do país. Os protestos seguem até hoje.

Como uma revista semestral, dedicada à fotografia, pode contribuir com o debate político? Uma das respostas está no ensaio inédito do coletivo Cia de Foto, publicado em forma de cartaz. Sem insistir no quebra-quebra e na truculência que inundaram a mídia, as imagens iluminam a participação do indivíduo e do grupo na defesa dos ideais democráticos. Reflexão ainda mais pertinente porque feita pelos fotógrafos que, no começo dos anos 2000, esquentaram o debate sobre a autoria ao assinar as imagens com o nome do coletivo, e não de quem bateu a foto.

Política e democracia permeiam esta edição. Chris Marker, que morreu em 2012, experimenta com imagens de baixa resolução feitas no metrô de Paris. Sua obsessão pelo rosto feminino é também um retrato involuntário do batalhão de imigrantes que engrossa as artérias da cidade. Não menos engajado, Raymond Depardon acerta as contas com a fotografia colorida ao rever a carreira de viagens e conflitos, num depoimento em que a história pisca os olhos a cada esquina. Recontada em imagens de arquivo, a trajetória de Pablo Escobar é um período de violência e opressão que precisa ser encarado para que não seja esquecido.

Fotografias chinesas descartadas expõem o entusiasmo e a inocência que acompanharam a abertura promovida pelo governo de Deng Xiaoping. Mas será que as fotos gozam de status artístico? É o que discute o pensador catalão Joan Fontcuberta.

Experimentação e rebeldia não raro dão origem a boa arte. Na virada dos anos 1970, Mario Cravo Neto levava a cor, o volume e as distorções de suas esculturas para diferentes suportes artísticos. Exibidas pela primeira vez neste ano, as fotografias são o pontapé da produção colorida que o deixaria conhecido. A alguns anos e milhas dali, Alberto García-Alix viveria em preto e branco a colorida movida madrileña que tomou a Espanha pós-Franco.

Para animar a febre de livros, uma resenha de fôlego discute War Primer 2, ambiciosa intervenção gráfica e política da dupla Broomberg & Chanarin sobre a cartilha de guerra de Bertolt Brecht publicada em 1955.

Resta, por fim, o conselho dado pelo chileno Sergio Larraín ao sobrinho. Quando vir algo bom num livro ou numa revista, deixe-os abertos na página, em exposição, durante semanas, meses, ou enquanto aquilo te disser algo:
“A gente demora muito para enxergar”.