Retrospectiva 2022: os destaques do site da ZUM
Publicado em: 28 de dezembro de 2022Dalila Coelho e a beleza nos rituais estéticos da periferia
Conversamos com a fotógrafa Dalila Coelho sobre o seu fotolivro Beleza, uma exploração visual do universo dos rituais estéticos em Belo Horizonte, das casas de bronzeamento de fita na periferia aos pequenos salões de beleza no centro da cidade.
“Descobri o mundo do bronze de fita em BH e foi amor à primeira vista. Eu não sabia que existiam essas casas em BH e fiquei maravilhada com a dedicação das profissionais de bronze, a quantidade de técnicas que elas estudam para fazer um bronzeamento perfeito, as variações de biquínis de fita isolante, os enfeites que elas colocam nesses biquínis, os diferenciais de cada casa de bronze, os discursos de inclusão, os espaços acolhedores”.
Olhares distantes e lugares de fala, por Ronaldo Entler
O colunista Ronaldo Entler discute o papel da fotografia ao longo da história nas relações entre quem olha e quem é observado: “por mais bem-intencionada que fosse, a fotografia humanista do século 20 não escapou a esse exercício de poder: os comportamentos humanos só podem ser mostrados em sua diversidade graças à singularidade desses olhares que exploram o mundo”.
A fotografia cativa, por Ariella Azoulay
A escritora e curadora Ariella Azoulay escreve sobre o caso da ação judicial movida por Tamara Lanier contra a Universidade de Harvard e o Museu Peabody por “apropriação, posse e desapropriação indevidas de imagens fotográficas” de seus ancestrais escravizados, seu tetravô Renty Taylor e Delia, filha dele.
Inédito em português, o texto analisa o papel imperialista da fotografia e denuncia as instituições museológicas por ainda hoje se recusarem a reparar danos causados a pessoas escravizadas: “Renty nunca possuiu o daguerreótipo que foi feito dele. Obviamente, se tivesse sido consultado, ele não deveria ter sido escravizado, e esse daguerreótipo não teria existido. O que foi tirado dele está cristalizado na própria imagem fotográfica – um vestígio de sua presença, uma inscrição de sua carne interagindo com a luz, que Harvard continua tratando como uma peça de museu”.
Os diálogos entre os corpos e as ruas da carioca Marina Zabenzi
A carioca Marina Zabenzi começou a fotografar muito cedo: antes mesmo de qualquer formação acadêmica, aos 17 anos já estava registrando os bastidores dos desfiles dos grandes eventos de moda. Em 2021, Marina lançou o fotolivro Entre, uma seleção de dípticos fotográficos registrados no seu cotidiano: “fotos feitas no meu deslocamento, nos bares, nas brechas que davam. Havia achado um aplicativo no celular que eu conseguia unir duas fotos, e assim fui indo. Até hoje faço isso, como um bloco de notas. Criei um arquivo imenso de fotos, de duplas”.
Entrevista: o britânico Julian Stallabrass conversa sobre as imagens da guerra e a guerra de imagens, por Erika Zerwes
As imagens da guerra e a guerra de imagens. O fotógrafo, curador e historiador da arte britânico Julian Stallabrass conversou com a pesquisadora Erika Zerwes a respeito da fotografia de guerra a partir do seu livro Killing for show, focado na cobertura midiática nas guerras do Vietnã e do Iraque, e também sobre o atual conflito na Ucrânia.
“As relações de poder estruturam a rede em diversas maneiras, nem sempre de maneira vantajosa para o autor – na indústria do fotojornalismo, certamente não. Mas a ‘guerra do Tik Tok’ é um caso ideal: um público sofisticado, sintonizado com as mídias, faz e defende suas reivindicações em fotografias e vídeos no momento em que se encontra sob ataque de uma potência que usa a violação de seus direitos – e suas próprias vidas – como alavanca para seu proveito geopolítico.”
Deixando o universo fotográfico, por Fred Ritchin
Em artigo inédito em português, o escritor e curador norte-americano Fred Ritchin argumenta que o advento do digital nos trouxe uma mudança de paradigma no qual a função essencial de testemunho da fotografia foi significativamente comprometida, em parte pela emergência de imagens sintéticas que podem, de forma convincente, representar pessoas e lugares que nunca existiram.
“Essas mudanças paradigmáticas deveriam nos desafiar com questões urgentes a respeito do papel da fotografia, assim como o das imagens sintéticas. A função de testemunha crível das mídias baseadas em lentes se manterá no futuro? E se não, vamos substitui-la pelo quê? Há formas mais holísticas e saudáveis de utilizar as mídias baseadas em lentes e as imagens sintéticas?”
Independência do Brasil, Debret e violência colonial, por Moacir dos Anjos
Nos 200 anos da independência do Brasil de Portugal, nosso colunista Moacir dos Anjos reforça a necessidade de atentar para a memória que temos desse período, visualmente calcada por pinturas, desenhos e gravuras que fixaram os modos de viver no Brasil nas primeiras décadas do século 19, com destaque para os trabalhos de Debret, que contribuíram para delimitar aquilo que possuía visibilidade social e poder explicativo sobre um mundo que então se construía.
Moacir destaca obras recentes de Tiago Sant’Ana, Dalton de Paula e Gê Viana, “artistas que se debruçam criticamente sobre uma memória visual comum, naturalizada e quase apaziguadora que se tem de um Brasil distante no tempo. E que, por isso, terminam por decolonizar a brasiliana, pondo à vista as relações de poder e de subordinação extrema que permitiram e orientaram, de modo menos ou mais consciente ou explícito, a feitura daquelas influentes representações”.
O que elas viram: fotolivros históricos feitos por mulheres
Em entrevista, as pesquisadoras e editoras Olga Yatskevich e Russet Lederman falam sobre o livro O Que Elas Viram: Fotolivros Históricos por Mulheres, 1843 – 1999, que no início da semana foi anunciado vencedor do conceituado prêmio para livros de fotografia da Fundação Krasna-Krausz.
“Muitos dos livros que incluímos estão completamente fora do radar ou há muito esquecidos. Essa foi uma questão importante para nós – ‘desescrever’ a história atual e reescrevê-la com as vozes que faltavam. Não queríamos mostrar apenas os livros mais conhecidos, mas também aqueles menos reconhecidos na história da fotografia e do fotolivro.”
A luz e a textura da memória, por Orhan Pamuk
A poeira, a burocracia, a memória, os aromas. Em ensaio, o premiado escritor turco Orhan Pamuk relembra um encontro com a fotógrafa indiana Dayanita Singh e como as suas fotografias de arquivos públicos evocaram algumas memórias muito antigas e familiares. Singh ganhou o prêmio da Fundação Hasselblad em 2022 e terá uma retrospectiva e um novo livro, do qual este texto faz parte, lançados no segundo semestre deste ano.
“Inevitavelmente, a aura que as memórias tomam dos objetos vão elicitar em nós uma espécie de melancolia – assim como olhamos para antigas ruínas gregas e romanas e para monumentos abandonados. A razão para consideramos esses arquivos empoeirados, sujos e sem cor tão ‘belos’ é porque, graças à habilidosa câmera de Singh, eles revelam a melancolia acumulada dentro de nós.”
Reserva de futuro, por Ana Maria Mauad
Em homenagem ao professor e amigo Mauricio Lissovsky (1958-2022), a pesquisadora Ana Maria Mauad escreveu sobre a vida e a originalidade do pensamento de Lissovsky, destacando sua imensa contribuição ao campo da fotografia.
“Mauricio promoveu uma unidade própria na diversidade, pois tomou a fotografia como plataforma de observação do mundo, meio de conhecimento, forma de expressão e síntese do pensamento histórico moderno.” (…) “Mauricio tornou-se o fotógrafo-leitor que Walter Benjamim conclamava, o ‘profeta das entrelinhas’ ou um ‘fotografólogo’, expressões cunhadas por ele”.
Midjourney, Dall-E e o fim da história da arte. Mais uma vez?, por Giselle Beiguelman
Em sua nova coluna, a pesquisadora e curadora Giselle Beiguelman comenta a popularização do uso de programas como o Midjourney e o DALL-E, capazes de criar imagens a partir de parâmetros e descrições textuais.
“Se o aprendizado de máquina tem algo a nos ensinar, é a possibilidade de transcender a dicotomia homem/máquina, mirando uma subversão completa de nossos ingênuos parâmetros que supõem a superioridade da razão do texto sobre a imagem.”
50 anos de Dzi Croquettes em imagens recém-descobertas do fotógrafo Paulo Kawall, por Lorena Calábria
50 anos de Dzi Croquettes. Em 1972, no auge da ditadura militar, surgia no Brasil uma trupe de visual extravagante, que unia dança, teatro, música e humor. Do carnaval à Broadway, da androginia à sátira política, os espetáculos entregavam deboche e ousadia – que não passariam incólumes pela censura.
Quando chegou a São Paulo, em 1973, Paulo Kawall, na época um jovem fotógrafo de 18 anos, registrou toda a energia caótica e festiva dos Dzi Croquettes em uma série que ficou guardada todos esses anos e só agora é mostrada novamente. A jornalista Lorena Calábria conversou com Paulo sobre o encontro que teve com a trupe no auge de sua carreira e a experiência de retratar o espetáculo. ///