Grande retrospectiva do fotógrafo japonês Daido Moriyama abre amanhã no IMS Paulista
Publicado em: 8 de abril de 2022
Abre amanhã em São Paulo a exposição Daido Moriyama: uma retrospectiva, a primeira grande mostra do fotógrafo japonês na América Latina, com cerca de 250 obras e dezenas de publicações produzidas desde a década de 1960. Fruto de uma ampla pesquisa e colaborações com o acervo de Moriyama em Tóquio e especialistas japoneses, a exposição apresenta as várias fases de sua trajetória, marcada pela experimentação visual, pelo registro das cidades e pela reflexão constante sobre o papel da fotografia.
Segundo Thyago Nogueira, curador da exposição, Moriyama transformou nossa compreensão da arte, da memória e das cidades com sua trajetória de profunda dedicação e reflexão sobre a imagem. “Ao expandir a linguagem fotográfica, democratizou a produção de imagens e desafiou a visão estreita do jornalismo sobre a fotografia – contribuições poderosas, que ainda precisam ser mais bem compreendidas”, comenta o curador.
Para além da realização de imagens, Moriyama também produziu importantes reflexões sobre a linguagem fotográfica, tanto em textos escritos por ele mesmo como em entrevistas realizadas ao longo de sua carreira. Apresentamos abaixo uma seleção de fotos presentes na exposição, bem como citações de Moriyama publicadas no catálogo produzido para a ocasião, com imagens e textos de Daido Moriyama, dos pesquisadores Yuri Mitsuda, Toda Masako, Masashi Kohara e do curador Thyago Nogueira.
“As cidades têm sonhos e memórias (…). As cidades sobreviveram consumindo impiedosamente toda a ambição e o desespero dos homens. (…) Quando caminho agora, de câmera na mão, por uma cidade real, estou escutando as memórias dos sonhos de uma cidade que um dia existiu, e também elaborando uma modesta documentação endereçada aos sonhos da cidade que está por vir.”
“Pode parecer um título meio irônico, mas é sobre meus sentimentos de ódio e sobre a vontade de dizer adeus às fotografias espiritualmente pacíficas, às fotografias que não duvidam do que a fotografia significa, isto é, fotografias que carecem de realidade.”
“É dispensável sentir algo por uma ilusão, e também não consigo sobrepor o passado com o presente nem o presente com o passado, afinal eu não enxergo esse tal passado. O filme fotográfico não revela uma ilusão.”
“Quando viajo, tiro fotografias que são guiadas pelos meus sentimentos e obsessões físicas ou fetiches, então minhas imagens muitas vezes não têm nada a ver com o caráter local e a universalidade.”
“Nenhum fragmento de memória dessa época permanece dentro de mim, mas não sei por que consigo enxergar algo ali. É de uma natureza diferente de um déjà-vu, uma vaga imagem que se forma dos raios de sol batendo numa paisagem. Como se surgisse no ar um tipo impreciso de miragem.”
“Este mundo de pessoas e coisas xerocadas não é apenas uma ilusão. É inseparável das imagens reais e carrega sua própria realidade relativa. Chamo esse mundo de coisas, que vivem do outro lado, de ‘um outro país’. A fotografia existe bem no meio, intervindo entre o lado a que o fotógrafo pertence e o outro lado.”
“Pode haver alguns fragmentos de memória, ainda deitados nas profundezas da minha experiência, esperando para serem despertados, e eles estão prontos para a qualquer momento evocar novas memórias. Claro que preciso interpor uma câmera nesse lugar.”
“Essa ingenuidade de pensar que você pode tentar criar obras-primas, esse humanismo ingênuo de tentar ajudar as pessoas através de sua arte – isso é otimista demais para mim. Já estou lutando para dar conta da minha própria existência.” ///
Daido Moriyama: uma retrospectiva
Abertura: 9 de abril (sábado)
Visitação: até 14 de agosto de 2022
IMS Paulista
Mais informações no site especial da exposição Daido Moriyama: uma retrospectiva
Tags: Daido Moriyama, Exposição IMS Paulista, fotografia japonesa