Sumário 25

Publicado em: 9 de outubro de 2023

Uma pergunta atravessa diversos trabalhos desta edição. Como enfrentar a violência inscrita na história da fotografia e assentada nos arquivos de imagens? Com estratégias distintas, os artistas aqui presentes se debruçam sobre a produção etnográfica, os álbuns de família, a produção jornalística ou mesmo fotografias de viagens para retomar as imagens, restaurar suas histórias e celebrar a vida.

Na abertura da edição, as fotografias de Paulo Nazareth transformam-se em cartões-postais às avessas ao devolverem aos Estados Unidos notícias de uma história de racismo e xenofobia. Nazareth também combate a morte evocada pelos arquivos históricos de povos negros ao animar as reproduções fotográficas com o sopro das pintas brancas da galinha-d’angola. A maranhense Gê Viana recupera a história dos quilombolas de Alcântara ao iluminar um importante conjunto de fotografias com camadas de cor e vida; enquanto o mexicano Diego Moreno revela, em suas fotos de família, as criaturas que habitam as profundezas da alma humana.

Tensões raciais e eróticas se sobrepõem nos Blow Ups de Lyle Ashton Harris, que combinam as notícias do mundo e a intimidade do artista. Feitos ao longo de anos, seus blow-ups foram combinados para a ZUM em uma única narrativa. Na entrevista da edição, Sophie Calle revela como escreve sua biografia ao projetar-se na vida alheia com grãos de fina ironia.

Enfrentar o oceano visual também é uma forma de reestabelecer a história e redefinir a própria identidade. Capa da edição, a artista Igi Lólá Ayedun usa autorretratos e inteligência artificial para construir um futuro de seres que navegam um universo ancestral. Entre o ready-made e a assemblage, as vestimentas dos papangus, fotografadas por Nicolas Gondim, fazem do futuro um presente sampleado. As crises do presente ecoam a melancolia do passado, como se vê na distante Buenos Aires de Adriana Lestido e na crise econômica da Argentina contemporânea. Em diálogo criado nesta edição, o escritor David Campany e a artista Penelope Umbrico avançam e retrocedem na máquina do tempo para mostrar que a reprodutibilidade da fotografia, inaugurada desde o século 19, continua a ser radicalmente subversiva e atual. O futuro dorme no passado.

 

Thyago Nogueira, editor