Radar

Pensar por imagens – a primeira retrospectiva de Luigi Ghirri no Brasil

Publicado em: 19 de novembro de 2013
O Instituto Moreira Salles abre no dia 23 de novembro uma das maiores exposições já realizadas sobre o fotógrafo italiano Luigi Ghirri (1943-1992). Luigi Ghirri. Pensar por imagens. Ícones, Paisagens, Arquitetura traz quase 200 fotografias, a maior parte delas cópias de época, além de provas de impressão, livros de artista e outros objetos que ajudarão entender a carreira fascinante do fotógrafo que foi também editor, curador e um grande pensador da fotografia. Leia abaixo texto de Thyago Nogueira, coordenador de fotografia contemporânea do IMS e editor da revista ZUM, que está no catálogo feito para a exposição.

Salzsburgo, 1977 © Herdeiros Luigi Ghirri

LUIGI GHIRRI alçou um grande voo, ainda que poucas vezes tenha deixado a Itália natal. Não consta que tenha pisado no Brasil ou sequer na América Latina. E mesmo sua obra aterrissou aqui em escala rasante, por conta de pequena exposição coletiva realizada em Brasília, em 1988. Ghirri andou por países como França, Suíça, Alemanha e Holanda, mas foi ao esquadrinhar a paisagem, a arquitetura e a vida cotidiana da Itália que inscreveu seu nome na história da fotografia.

O primeiro deslumbramento, diz Ghirri, ocorreu na infância, quando folheava os álbuns de família e os atlas geográficos ilustrados. De um lado, a fotografia descortinava uma realidade íntima e recente; de outro, permitia vislumbrar o mundo com o simples folhear das páginas. Aos poucos, álbuns, atlas, livros e viagens transformaram-se em motes de pesquisa.

Ghirri deixou a carreira de agrimensor e aventurou-se pela fotografia colorida numa época em que a cor ainda não havia ganhado as paredes das galerias. À maneira de Xavier de Maistre em seu romance mais famoso, Ghirri fez da Itália seu quarto, e percorreu um território que lhe era familiar decidido a descobrir o que havia de novo no que aos olhos dos outros parecia ser banal.

Debruçou-se sobre o próprio cotidiano, sobre os objetos e as imagens que o cercavam. Interessavam-lhe assuntos prosaicos, as “mínimas viagens domingueiras”, dizia. Nutrido pela tradição pictórica de seu país, deu novo fôlego à representação das paisagens, fossem elas os jardins de Versalhes ou apenas o quintal de casa. A amizade com artistas e intelectuais o fez encantar-se com a arquitetura e refletir sobre a linguagem fotográfica.

Muitas de suas fotos são de uma simplicidade desconcertante. Ghirri investiu na fotografia como quem procurava construir uma gramática. Testou planos, enquadramentos e perspectivas; fotografou janelas, molduras, espelhos e uma ampla sorte de referências metalinguísticas. Queria mostrar como a fotografia poderia ajudar a compreender o mundo e ampliar o alcance da visão.

Os textos que escreveu sobre sua obra e sobre os fotógrafos que admirava são exemplo do vigor de seu raciocínio. Neles, refletiu sobre o trabalho de William Eggleston, Walker Evans e Jacques Henri Lartigue. Discutiu a produção excessiva de imagens e propôs que olhássemos para a realidade como uma grande montagem fotográfica.

Luigi Ghirri morreu em 1992, aos 49 anos. Devia ter gozado do reconhecimento que obtiveram os fotógrafos que o inspiraram, mas seu nome ainda é pouco presente em museus e compêndios. Com raras cópias de época, esta sua primeira grande exposição no Brasil vem mostrar a importância deste fotógrafo e pensador pioneiro e genial.

Para saber mais sobre Luigi Ghirri, leia aqui matéria publicada na ZUM # 3 e a coluna de Geoff Dyer no site da ZUM.

Luigi Ghirri. Pensar por imagens. Ícones, Paisagens, Arquitetura
abertura
23 de novembro, das 12h às 16h
11h visita guiada com os curadores

visitação
23.11.2013 a 26.01.2014
terça a sexta, das 13h às 19h
sábado, domingo e feriado, das 13h às 18h
entrada franca

Instituto Moreira Salles – São Paulo
Rua Piauí, 844, 1º andar, Higienópolis
11 3825-2560