Em 2002 morávamos em Nova York e viemos ao Brasil para visitar a família. Estávamos em Goiânia na virada do ano e ao amanhecer do dia 1 de janeiro peguei o carro e dirigi sozinho para Brasília. Nunca havia visitado a cidade e resolvi fazê-lo na ocasião da posse do Presidente Lula. Fui no intuito não de fazer um trabalho artístico, mas para registrar e arquivar este importante momento na história do país para no futuro poder acessar aquelas imagens.

Ao analisar as imagens captadas constatei que a questão temporal que me levou a Brasília já estava presente naquelas fotografias, me dei conta de que não precisava esperar 20 anos para que tais imagens tivessem uma carga histórica. A atemporalidade já estava ali, era um registro que captava o presente, que se referia a um passado e que indicava o futuro.

Foi a primeira vez que registrei um evento histórico e a partir deste trabalho a minha relação com a fotografia mudou muito. Compreendi algo que já estava latente e pronunciado em algumas de minhas produções anteriores, mas que com a série Empossamento se tornara mais explícito: a condição temporal que cada imagem fotográfica produz, especialmente a fotografia preto e branco analógica.

Os anos se passaram e aquelas quase duas décadas que eu gostaria de esperar para rever tais imagens já chegaram. E a história está aí para recontextualizá-las, num momento sombrio pelo qual passa este país.///

 

Mauro Restiffe (1970) participou da 27a Bienal de São Paulo, do PhotoEspaña 2009 e do Besphoto 2011, entre outros. Em 2017, foi tema de mostra individual na Estação Pinacoteca.

 

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