Marinheiros em ação na Segunda Guerra e o cotidiano americano nos retratos de Fons Ianelli
Publicado em: 5 de julho de 2017Na história da fotografia, não é incomum que alguns nomes relevantes durante certo período sejam “esquecidos” por gerações seguintes, sem nenhum motivo aparente. Este parece ser o caso do fotógrafo norte-americano Alfonso ‘Fons’ Ianelli (1917-1988). Sua carreira começou no início dos anos 1940, trabalhando em estúdios fotográficos de terceiros até abrir o próprio. Mas só decolou a partir de um convite do renomado fotógrafo Edward Steichen (1879-1973) para integrar o time da famosa Unidade Fotográfica da Aviação Naval Americana, da qual fizeram parte nomes como Horace Bristol, Wayne Miller, Charles Fenno Jacobs e Victor Jorgensen.
Embarcado em porta-aviões no Pacífico, a missão de Ianelli era fotografar o dia a dia das tropas em suas nem sempre heroicas tarefas cotidianas, como a limpeza do navio, o conserto dos equipamentos, os afazeres na cozinha e na lavanderia etc. Ao invés de registrar os conflitos e batalhas, Fons preferiu mostrar o senso de camaradagem entre os marinheiros isolados no mar. Suas fotografias retratam homens envolvidos no maior conflito bélico da idade moderna de forma intimista, algo que só a presença discreta e quase “invisível” de alguém inserido e aceito naquele ambiente conseguiria capturar. Estas imagens foram publicadas em uma coleção editada por Steichen, chamada Aviação Naval dos EUA: Pearl Habor a Tóquio (1945), e também expostas na mostra Poder no pacífico: fotografias de batalha de nossa Marinha em ação no mar e no céu, no MoMA de Nova York no mesmo ano.
Acabado o conflito, Ianelli voltou seu olhar para a vida cotidiana de famílias americanas. Seguindo o mesmo estilo discreto de se aproximar de seus retratados, fotografou desde a classe média abastada nos subúrbios, que surgiam em torno das grandes cidades, até as miseráveis famílias de trabalhadores nas decadentes minas de carvão de Harlan, no estado de Kentucky. Suas imagens são carregadas de uma qualidade cinematográfica: como um still de algum filme da época, registram seus personagens em momentos de gestos suspensos, congelados no tempo. O resultado é um forte acento dramático. No conjunto de sua obra, Ianelli quer mostrar a necessidade de se estabelecer vínculos, sejam familiares, sejam de camaradagem, não importa quão simples, feliz, dura ou sofrida são as condições de vida das pessoas.
Na fase fotojornalística, foi publicado pelas principais revistas e jornais da época, como a McCall’s, Life, Fortune, Collier’s e o The Saturday Evening Post. No final dos anos 1940, era um dos mais bem pagos fotógrafos de publicações em Nova York. E, em 1948, chegou a fundar a Scope Associates, uma agência autogerida por fotógrafos no formato de cooperativa, com a participação de antigos companheiros da Marinha, como Horace Bristol e Victor Jorgensen, entre outros.
Do ponto de vista técnico, Ianelli também era reconhecido como exímio laboratorista e mestre em trabalhar em condições pouco favoráveis de iluminação. Foi um dos primeiros a utilizar filmes de 35mm para grandes coberturas jornalísticas em preto e branco e a cores. A paixão pelo aspecto técnico da fotografia levou Ianelli a abraçar também sua vocação para a invenção. A partir dos anos 1950, fundou o próprio estúdio de produção de cinema, o Filmscope, e ganhou fama por inventar e desenhar equipamentos de filmagem e de fotografia, como um novo mecanismo de rebobinar filmes para a Leica, novos sistemas de gravação de áudio e de câmeras de filmagem. O Filmscope também produziu séries educativas e documentários para a TV americana.
Fons Ianelli continuou fotografando e filmando até o início dos anos 1980, quando um incêndio no seu estúdio destruiu a maior parte de suas fotos e equipamentos. Com mais de 50 fotografias dos períodos da guerra e após, a exposição Fons Iannelli: Guerra/ pós-guerra, em cartaz até o dia 11 de agosto na Galeria Steven Kasher (Nova York), apresenta imagens recentemente recuperadas e é uma oportunidade para conhecer o trabalho do fotógrafo.///
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