Livros

Melhores livros de fotografia brasileiros de 2016

Publicado em: 20 de dezembro de 2016

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ZUM convidou artistas, fotógrafos, pesquisadores, jornalistas, críticos e professores e envolveu a própria equipe numa seleção dos melhores livros de fotografia brasileiros publicados em 2016 – fotolivros, catálogos de exposição, livros monográficos e de teoria e história da fotografia. Veja abaixo a escolha de cada um.

 


LUIZ CAMILLO OSORIO (professor e atual diretor do Departamento de Filosofia da PUC-Rio, foi curador do MAM-Rio entre 2009 e 2015)

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Preto e branco, de Mauricio Valladares (Automática): “O livro do fotógrafo e DJ Mauricio Valladares já era esperado pelos fãs há muito tempo. Quem conhecia o DJ dos magistrais programas da Fluminense FM naquele começo de década dos 80 e via algumas capas de disco do rock brasileiro, sabia que por trás daquele ouvido eclético havia um olho especial e arguto. Há muitos anos dedicado à fotografia, sempre se interessou pela rua, pelo detalhe, pelo não evidente, pela energia silenciosa que faz de um torcedor do América ou de um solitário sentado à janela da barca Rio-Niterói a expressão desafetada da nobreza espiritual. Já a fotografia dos Paralamas do Sucesso ainda jovens em um botequim de Copacabana poderia ter saído de um dos filmes do Warhol ou de uma pintura do Velazquez. Entre ídolos e desconhecidos vamos vendo gestos e olhares da vida como ela é: exuberante e tediosa.”

 


GISELLE BEIGUELMAN (artista e professora da FAU-USP)

INES

Linha Vermelha, de Inês Bonduki (autopublicado): “O livro retrata o movimento da linha de metrô mais longa e abarrotada de São Paulo, no horário de pico. Folheá-lo é acompanhar o olhar de Inês enquanto se espreme nos milimétricos vãos entre bolsas, cinturas, braços e rostos cansados. Completa o ensaio uma série de fotos de dança que trazem outros corpos, novamente muito próximos, porém sem nenhuma compressão. Sem prédios, nem retratos icônicos, do conjunto das duas séries deriva uma imagem de São Paulo vertiginosa e original: uma cidade visitada pelos poros de seus corpos, em momentos de tensão e expansão.”

 


RODRIGO MOURA (curador do setor de arte brasileira do Masp, ex-diretor artístico de Inhotim)

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Mauro Restiffe, de Charles Cosac (org.) (Cobogó): “Por ter demorado tanto para ter um livro, apenas existir já seria um bom motivo para se comemorar o primeiro grande projeto editorial de Mauro Restiffe. A seleção de imagens, a edição ao mesmo tempo hipnótica e disjuntiva, o design silencioso de Elaine Ramos e a primorosa impressão fazem deste livro um acontecimento na arte brasileira deste ano. A leitura dessas imagens parece a leitura de um grande romance. Valeu esperar.”

 


RENATA MARQUEZ (editora da revista Piseagrama e professora de análise crítica da arte na UFMG)

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Ressaca tropical, de Jonathas de Andrade (Ubu): “O livro constrói uma narrativa que, através da bela justaposição de arquivos fotográficos, álbuns de família e diários, revela um flash da história recente do Brasil. Reconhecemos a promessa perversa de modernidade e progresso urbano, o descompasso com a vida cotidiana que segue um ritmo próprio e as situações atuais de ruína do ímpeto moderno. A ressaca como inerente à nossa história tropical, o retorno desconfortável de algo que nunca chegou a ser.”

 


RONALDO ENTLER (pesquisador e crítico de fotografia, professor da Facom-FAAP e editor do site Icônica)

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Posição amorosa – Hudinilson Jr., de Ricardo Resende (org.) (WMF Martins Fontes): “O livro resgata e organiza a obra de Hudinilson Jr. (1957-2013), pioneiro no uso de procedimentos que ainda consideramos transgressores: miscigenação de linguagens, apropriação, performatividade, criação coletiva, trabalho com arquivos, uso de técnicas e espaços estranhos ao campo da arte, indistinção entre processo, obra e documentação. Poderíamos tomar o livro como uma biografia, se o artista não tivesse sobreposto tantas vezes sua vida e sua obra. Com formação interdisciplinar, Hudinilson Jr. nos ajuda a ver o modo como a fotografia se espraia numa cultura ampla das imagens: numa produção que não arriscaríamos chamar de fotográfica, estão lá muitas experiências com essa técnica, além do xerox, radiografia, silk, colagem, em processos que atravessam os campos da publicidade, da moda, do jornalismo, da fotonovela e do postal. Não é tarefa simples mapear uma obra que tantas vezes se pretendeu efêmera e de materialidade instável. O texto, escrito pelo curador Ricardo Resende, é resultado de uma pesquisa densa mas também da intimidade que desenvolveu com a produção do artista. Fartamente documentado e com uma edição bem cuidada, o livro permite ainda descobrir uma força plástica em Hudinilson Jr. que não era óbvia nas tendências conceituais que marcam essa geração.”

 


FERNANDA GRIGOLIN (artista, editora e pesquisadora, realiza a Tenda de Livros e o Jornal de Borda)

Futuro do pretérito, de Andrea D’Amato (Quelônio): “Um livro pequeno, portátil, que poderia ir conosco a qualquer lugar. Nos três volumes de bolso – cada capa de uma cor –, estão contidas as mesmas doze imagens, na mesma sequência e sempre nas páginas pares. A força é a variação, pois cada volume traz detalhes distintos, sempre nas páginas ímpares. As vozes da mãe, da irmã e do irmão aparecem em letra e contam no tempo do hoje o que poderia ter sido aquele momento vivido por todos.”

 


WALTER COSTA (fotógrafo e editor italiano com base em São Paulo, um dos fundadores do grupo de discussão sobre fotolivros TRAMA)

O livro de artista e a enciclopédia visual, de Amir Brito Cadôr  (Editora UFMG): “Nestes últimos anos, tornou-se mais simples publicar, mas o ato esvaziou-se de sentido. Esse perigoso paradoxo é visto no boom das publicações fotográficas, que é mais um reflexo da maior facilidade de acesso às tecnologias de impressão e menos um sintoma de os autores terem coisas interessantes a dizer. Tornar público algo significa elaborar estratégias que estimulem a interação do leitor com a obra, e não fazer um mero selfish-publishing, imprimindo livros como fossem bolachas para egos famintos. A pesquisa de Amir Brito Cadôr chega, portanto, em boa hora, pois seu livro sobre livros é um excelente ponto de partida para uma necessária reflexão sobre como publicar e para que queremos fazê-lo. Cada página demonstra sua paixão e profundo conhecimento sobre livros de artista, ajudando abrir novos horizontes – porque não se fala apenas de fotografia, mas sobretudo de imagem, processos e possibilidades. Com um estilo fresco que torna fluidos até os conceitos mais complexos, Amir nos entrega uma poderosa vacina contra a falta de referências, verdadeira epidemia do nosso mundo fotográfico.”

 


RAFAELA BIFF CERA (assistente editorial da ZUM)

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1978, de Gabriela Oliveira (Olhavê): “As imagens, feitas no ano que dá título ao volume, são resultado da primeira experiência da artista com a fotografia, aos 17 anos. Com uma câmera emprestada pelo irmão, Gabriela Oliveira fez um registro delicado, íntimo e não convencional do pensionato católico só para garotas em que vivia, no centro de São Paulo. As amplas possibilidades narrativas das fotos, apresentadas sem legendas, criam um ambiente ao mesmo tempo próprio daquelas estudantes de quase 40 anos atrás e comum a todos, representativo de uma atmosfera universal da juventude.”

 


SILAS MARTÍ (crítico de arte e jornalista da Folha de S. Paulo, edita o blog Plástico)

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Mauro Restiffe, de Charles Cosac (org.) (Cobogó): “Um dos fotógrafos mais relevantes de sua geração, Mauro Restiffe contrasta num mesmo livro seu apego aos detalhes e a dimensão acachapante de espaços públicos em convulsão, sejam eles as praças nevadas de Moscou ou a Esplanada dos Ministérios na posse de Lula. Sua visão metonímica da história, entre a fantasmagoria dos reflexos em vidros e espelhos e a perversidade de pequenos gestos flagrados em pinturas, se manifesta na textura granulada de suas imagens em preto e branco. São retratos que embaralham presente e passado numa mesma matéria prateada. No fundo, a força de sua obra parece ancorada em sua maneira de tornar elástico o tempo.”

 


CRIS VEIT (editora e consultora independente de fotografia, foi diretora de arte da revista National Geographic Brasil)

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Empena cega, de Marcelo Cidade (Cobogó): “Há mais de dez anos o artista Marcelo Cidade vem discutindo de maneira irônica a falta de cuidado do poder público em relação ao espaço urbano de São Paulo. Sua produção acaba de ser reunida na monografia Empena cega, que intercala fotografias, instalações, ações e intervenções a textos que estimulam reflexões sobre um tema fundamental das primeiras décadas do século XXI – a vida nos centros urbanos como realidade para quase dois terços da população global. Quando o prefeito eleito de São Paulo anuncia que a Virada Cultural será deslocada do centro da cidade para o autódromo de Interlagos, Empena cega, mais que leitura estimulante, se mostra fundamental para acompanhar com olhar crítico o que vem pela frente.”

 


MIGUEL DEL CASTILLO (escritor, editor do site da ZUM e responsável pela biblioteca de fotografia do IMS Paulista)

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Não estou sozinho, de André Penteado (autopublicado): “São poucos fotolivros cuja narrativa envolve o leitor tanto quanto um bom romance. André Penteado consegue isso de maneira exemplar ao tratar do tema do suicídio com um grupo de pessoas que tiveram alguém próximo que se matou. Seu flash mira os espaços de moradia desses ‘sobreviventes’, seus rostos e os objetos que preservam da pessoa morta, sempre com palavras-síntese embaixo, gerando um efeito de peso e densidade entre imagens e textos. Ao final, reúne os depoimentos que gravou com cada uma delas. O conjunto é literatura do mais alto calibre.”

 


AMIR BRITO CADÔR (artista gráfico e professor da Escola de Belas Artes da UFMG)

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Edição: Publicações fotográficas, série Pretexto, de Fernanda Grigolin (org.) (Tenda de Livros): “O livro reune ensaios de jovens pesquisadores que estão envolvidos com a reflexão mais atual sobre livros de fotografia, além de apresentar pesquisadores mais experientes, com olhares diversos sobre o tema e contar com a contribuição de alguns artistas.”

 


VALENTINA TONG (assistente de curadoria do Instituto Moreira Salles)

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O instante certo, de Dorrit Harazim (Companhia das Letras): “Com textos escritos pela jornalista ao longo dos últimos 20 anos, o livro aprofunda a leitura das imagens ao nos oferecer seu contexto histórico e político. Reúne desde as histórias incríveis por trás de fotografias icônicas, como a da criança e do abutre tirada por Kevin Carter no Sudão, até a revelação da trajetória de fotógrafos menos conhecidos como Assis Horta, Lee Miller e Li Zhensheng.”

 


TOBI MAIER (curador e critico de arte, foi curador associado da 30ª Bienal de São Paulo em 2012)

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O pulso que cai, de Fabiana Faleiros (Ikrek), e Uma breve história da banana na história da arte, de Leandro Nerefuh (autopublicado): Em 2016, dois livros de artistas brasileiros me chamaram atenção. Ambos surgem de densas pesquisas históricas, e funcionam mais como um atlas de imagens no sentido warburguiano. O pulso que cai analisa a história da masturbação feminina através de um mundo de imagens, ilustrações apropriadas e colagens, fotos e fantasias feitas pela artista. Uma breve história da banana na história de arte vem sendo desenvolvido em aulas-performances do artista; divido em 25 capítulos ricamente ilustrados, a banana aparece contextualizada no retrato equestre, em notas de dinheiro, na época de ouro na pintura holandesa no século 17, na comédia perna bamba do cinema americano, na Harlem Renaissance e no monumentalismo bananero.

 


DORA LONGO BAHIA (artista e professora da ECA-USP, vencedora da Bolsa de Fotografia ZUM/IMS 2016)

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Mauro Restiffe, de Charles Cosac (org.) (Cobogó): “Apresenta um panorama da obra do artista, incluindo inclusive algumas fotos da série Rússia, apresentada em sua última exposição. A série desvela um tipo de tempo suspenso e paralisado, uma nostalgia pelo que nunca se realizou completamente. Algo que espelha um pouco a nossa realidade recente.”

 


MARTIM PASSOS (estagiário da ZUM)

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O pântano, de Sofia Borges (Mack): “O título não é 100% brasileiro, já que é resultado do concurso de Primeiro Livro da editora inglesa Mack, vencido pela brasileira. Trata-se praticamente de um tratado de semiótica, em que a artista explora a representação das coisas, as formas e os significados dos objetos. A atmosfera é densa, misteriosa, e cada imagem tem um peso esmagador. São fotografias de fósseis, animais empalhados, cavernas pré-históricas e dioramas que compõem esta indagação sobre o que é o real, marcada pela frase que estampa a capa: ‘imagens não existem’.”

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