Entrevistas

Miguel Rio Branco fala sobre exposição do Masp que revisita a famosa série Maciel

Publicado em: 14 de julho de 2017

Em 1979, Miguel Rio Branco frequentou por alguns meses o bairro Maciel, na região do Pelourinho, em Salvador. O resultado foi a famosa série de fotografias que leva o nome do bairro. Agora, quase 40 anos depois, o Masp apresenta a exposição Miguel Rio Branco: Nada levarei qundo morrer, uma nova visita do fotógrafo a estas imagens.

São 61 fotografias que mostram o cotidiano da deteriorada e estigmatizada região central de Salvador. O olhar de Rio Branco passeia não apenas pelas calçadas dos bares, prostíbulos e cortiços; mas também entra nestes ambientes para dar visibilidade aos moradores e visitantes dessa área marginalizada da cidade. As cores fortes e saturadas, características do fotógrafo, ajudam a tirar o trabalho do campo estritamente documental e levar para um registro mais próximo do ficcional. As imagens não apenas denunciam o estado de miséria e abandono do Maciel, mas também ressaltam a força e a resistência das pessoas que vivem ali.

O fotógrafo respondeu algumas perguntas sobre a série Maciel e a exposição agora em cartaz no Masp.

Como foi revisitar a série Maciel para esta exposição, quase 40 anos depois?

O material do Maciel é bastante amplo. E, a não ser pelo filme Nada levarei qundo morrer os que me deve cobrarei no inferno e duas exposições em 1980 na galeria da Fotoptica e na Fotogaleria da Funarte, nunca tinha sido colocado tematicamente. Foi muito interessante ter curadores do nível de Adriano Pedrosa,Tomás Toledo e Rodrigo Moura para fazer essa releitura. O que me deu motivação para construir um livro mais amplo e mais completo da série, que deverá vir em seguida. Pela sua riqueza de textos, o catálogo do Masp veio colocar várias interpretações e enriqueceu o material em várias direções, o que é sempre instigante e enriquece uma postura mais didática.

Quais as principais diferenças em mostrar estas imagens hoje, em relação às primeiras exibições da série?

Em termos práticos, a maior diferença em relação às primeiras mostras fica mesmo no caráter mais didático da atual em detrimento de uma postura mais crítica, dramática e emocional das construções das exposições da época. Essa foi a primeira vez que esse material foi organizado por outras pessoas além de mim, e foi sem dúvida uma experiência bastante enriquecedora. A grande diferença em relação às mostras dos anos 80 é que aquelas pessoas ainda estavam vivas. Hoje, se transformaram em símbolos.

Seria possível fotografar o bairro do Maciel hoje com a mesma proximidade dos anos 70? Ou o nível de violência atual não permitiria mais esta abordagem?

Não saberia dizer se seria possível fotografar o bairro hoje. Mas sabendo que agora o crack é a droga dominante, em comparação com a maconha da época, imagino que o ambiente tenha ficado bem mais pesado e, como sempre foi, um lugar socialmente abandonado.

A exposição Miguel Rio Branco: Nada levarei qundo morrer vai até o dia 01 de outubro. Mais informações aqui.///

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