Sumário 02
Publicado em: 2 de agosto de 2013A FOTOGRAFIA ESTÁ NUA. É o que proclama esta nova edição da ZUM, em que a imagem será despida, revirada, bisbilhotada com minúcia e debatida com atenção.
Conhecida por transformar a fotografia em instrumento de luta política, Claudia Andujar é homenageada com duas séries pouco vistas. Na primeira, uma mulher ganha ares metafísicos com a sobreposição de cromos e filtros. Na segunda, o sujeito coletivo é contraposto ao céu da rua Direita, em São Paulo.
Até que ponto o que vemos independe do que acreditamos? Em entrevista exclusiva, o documentarista Errol Morris narra a obsessão detetivesca que o fez esclarecer controvérsias da história da fotografia e do jornalismo. Voz ilustrada, Errol enfrenta a qualidade documental da fotografia. Não, o que vemos não é o que pensamos ver. Senão, vejamos.
Notícia e denúncia, tecnologia e jornalismo travam embate em dois ensaios contundentes. Autor da capa desta edição, Balazs Gardi é membro do projeto Basetrack, que usa celulares com aplicativos para documentar um batalhão americano estacionado no Afeganistão e dá aos combatentes a chance de distribuir a informação. Em Gana, o sul-africano Pieter Hugo mostra a ponta obscura do consumo de eletrônicos num lugar onde computadores (como este, de onde escrevo) despachados pelo Primeiro Mundo dão o suspiro final. Trágicas e – reluto em dizer – belas são também as cenas de infortúnios do mexicano Enrique Metinides. Com absoluto domínio do drama, o fotógrafo eleva o patamar da reportagem policial.
A ideia de que a fotografia pode ser compreendida de forma imediata é desafiada por alguns destaques desta edição. O alemão Thomas Demand reconstrói em papel cenários extraídos de outras fotografias, num jogo que esconde e revela a imagem de partida. Já o americano Robert Smithson transforma sua deambulação pelo Hotel Palenque em aula seminal de arte e arquitetura. No time dos fotógrafos-peregrinos, a revista apresenta os hotéis de João Castilho e a caminhada de Mauro Restiffe, feita a convite da ZUM, pelo bairro paulistano da Luz, já dissipados os ecos de dias conturbadíssimos.
Raros fotógrafos são capazes de apresentar o mundo e ao mesmo tempo inventar uma realidade. É o que fez William Eggleston ao usar a fotografia em cores para palmilhar o sul dos Estados Unidos. Aqui, ele apresenta cromos guardados há cerca de 40 anos. Se a fina ironia de Eggleston o fizer sorrir, a ensaísta Terry Castle o fará gargalhar. A busca pelo punctum em sua coleção de fotografias anônimas é a prova de que humor e perspicácia dormem juntos.
De Errol Morris, vem uma das frases mais retumbantes da edição: “Falsas ideias grudam nas fotografias como moscas num papel mata-moscas”. Vire a página, e ajude a descolar as moscas e devolvê-las a seu devido lugar.