Revista ZUM 7

Três perguntas para a Mídia Ninja

Publicado em: 31 de outubro de 2014
Integrantes do coletivo Anhangabaroots diante de uma ocupação cultural na rua do Ouvidor, 63, no centro de São Paulo. Coletivos têm ocupado imóveis vazios para transformá-los em espaços culturais e de trabalho. 27 de junho. Mídia Ninja

Integrantes do coletivo Anhangabaroots diante de uma ocupação cultural na rua do Ouvidor, 63, no centro de São Paulo. Coletivos têm ocupado imóveis vazios para transformá-los em espaços culturais e de trabalho. 27 de junho. Mídia Ninja

 

O coletivo Mídia Ninja – Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação emergiu em 2013 como um veículo de notícias alternativo à imprensa tradicional, com atuação concentrada nos meios digitais. A ZUM entrevistou Rafael Vilela, fotógrafo da Mídia Ninja, para falar sobre fotojornalismo, projetos colaborativos e democratização da fotografia.

Mídia Ninja participou do projeto Offside, uma colaboração entre talentos brasileiros e fotógrafos da agência Magnum, feita em parceria com o Instituto Moreira Salles. O resultado desse trabalho pode ser conferido em um especial de quase cem páginas publicado na sétima edição da revista ZUM, que será lançada em São Paulo neste sábado, 1 de novembro.

A Mídia Ninja é um coletivo formado por jornalistas de texto e fotógrafos, com uma equipe fixa e colaboradores ocasionais. Como é a rotina de trabalho dos fotógrafos e como vocês se organizaram para participar do projeto?

Os fotógrafos do Ninja estão espalhados por diversas cidades e regiões do país. Cada um deles acompanha, documenta e se envolve em diferentes temas e pautas, de acordo com seus desejos e o contexto local. Para nós, participar do Offside foi um desafio: tivemos que juntar tudo o que já fazemos e trabalhar para dar coesão a esse material. Já estávamos cobrindo a Copa em busca de contra-narrativas. O Offside foi um fator de estímulo, de nos concentrarmos mais ainda nessa pesquisa, e também de envolver um número maior de pessoas. Mais de 30 fotógrafos enviaram trabalhos diariamente ao Ninja, um material muito rico, que tivemos que filtrar para mostrar à Daria Birang, editora do projeto.

Com tantos fotógrafos atuando no mesmo coletivo, há alguma preocupação em manter uma unidade visual, formal, nas imagens? Como é o processo de edição?

A unidade é uma construção orgânica. A partir de potenciais individuais conseguimos construir uma noção de todo. É a unidade da diversidade, da diferença, da contradição. O processo de edição pode ser feito de diferentes maneiras, de acordo com cada projeto. No Offside tínhamos dois editores escalados para olhar o material de toda a rede no fim do dia e filtrar de acordo com os passos que o projeto dava, buscando compor com o trabalho de outros fotógrafos, aprendendo a cada dia com o que todos produziam. Olhávamos o tumblr juntos todos os dias. Bacana como a linguagem e os temas de cada um dos fotógrafos, do David Alan Harvey aos mais iniciantes do Ninja, se influenciavam mutuamente e passaram a dialogar a cada dia que passava. Foi um aprendizado incrível.

Na revista ZUM #6, o crítico de fotografia Fred Ritchin diz que o fotojornalismo se tornou um espetáculo previsível, com imagens repetidas e homogêneas. Diz também que os profissionais são induzidos pela grande imprensa e pelas premiações a reproduzir uma linguagem tradicional. Como veem o fotojornalismo da grande imprensa? E como lidam com essas questões?

Ritchin tem uma leitura maravilhosa sobre esse tema. Soube reconhecer antes de muita gente as limitações que estão impostas ao fotojornalismo enquanto indústria, enquanto produto. Tudo que sai desse processo fordista de produção tende a se homogeneizar. Aconteceu o mesmo com a música, que foi libertada posteriormente por ferramentas como o Napster.

Nos assusta a quantidade de bons profissionais defendendo e lutando pra salvar o mercado, em vez de procurar novas plataformas e modelos de financiamento para produção de suas imagens. O que menos importa ao mercado é a fotografia, ou os fotógrafos. O fotojornalismo feito para as corporações, assim como a fotografia feita para galerias de arte, vem se tornando um processo cada vez mais restrito. No jornalismo, por exemplo, começam a restringir e cobrar o acesso aos conteúdos, e a informação uma vez mais volta a ser privilégio de poucos.

Acreditamos numa fotografia expandida, engajada e de livre distribuição. Vivemos uma grande mudança: o acesso às novas tecnologias, somado à quebra da barreira da distribuição nas redes, geram uma nova onda de democratização da fotografia global que não pode mais ser negligenciada pela indústria da imagem. Existe uma enorme necessidade de formação, as pessoas querem aprender, e a fotografia só tem a crescer com isso.///

A Mídia Ninja estará no bate-papo de lançamento da ZUM # 7. Confirme presença no evento do facebook.

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