3 perguntas para o Osservatorio Fotografico
Publicado em: 26 de março de 2014O Osservatorio Fotografico, coletivo formado por profissionais com diferentes trajetórias, é uma plataforma experimental para pesquisa em fotografia, estabelecido em Ravenna, em 2009, pela historiadora da arte Silvia Loddo e pelo fotógrafo e professor Cesare Fabbri, que respondem às nossas perguntas. Desde 2011, Emilio Macchia faz o design gráfico. O grupo promove a organização de encontros, seminários e conferências em colaboração com instituições, universidades e escolas e também publicações sobre pesquisa fotográfica e estudos da área. O Osservatorio Fotografico foi selecionado para a edição de 2014 do Plat(t)form, promovido pelo Fotomuseum Winterthur. Confira abaixo uma galeria de imagens do coletivo e a entrevista.
Como é o processo de trabalho do grupo?
Osservatorio Fotografico não é um coletivo fechado e definitivo. Para alcançar nossos objetivos, grupos de trabalho são estabelecidos de tempos em tempos, de acordo com cada projeto, e envolvem fotógrafos, designers, escritores, pesquisadores e especialistas para promover a troca com outros grupos e instituições voltados à fotografia na Itália e no exterior. São duas as principais linhas de pesquisa do Osservatorio Fotográfico: prática, com os projetos Onde vivemos e Saudações de Ravenna; e teórica, com o projeto Sobre fotografia, desenvolvido em colaboração com o Departamento de Patrimônio Cultural da Universidade de Bolonha-Ravenna, com o qual se envolveram fotógrafos italianos de diferentes gerações, como Paolo Gioli, Guido Ghidi, Domingo Milella, Moira Ricci e Franco Vaccari e pesquisadores como Antonello Frongia, Laura Gasparini, Silvia Paoli, Tiziana Serena, Luigi Tomassini e Roberta Valtorta.
O Osservatorio Fotografico também colabora em diversos projetos com artistas e realidades culturais do território, como o Ravenna Teatro – Teatro delle Albe e Orthographe, com quem Cesare Fabbri tem trabalhado ativamente há um tempo.
O que você considera mais importante no trabalho de Luigi Ghirri? Qual é a influência dele no trabalho do coletivo?
Como escreve Paolo Costantini na introdução de Nada de antigo sob o sol, Luigi Ghirri considerava a fotografia como uma aventura do pensamento e do olhar; “um grande brinquedo mágico que consegue conjugar o grande e o pequeno, as ilusões e a realidade, o tempo e o espaço, a nossa consciência adulta e o mundo de fadas da infância”. (Luigi Ghirri, Nada de antigo sob o sol. Escritos e imagens para uma autobiografia, sob curadoria de Paolo Costantini e Giovanni Chiaramonte, SEI, Turim, 1997, p.11).
Além das intenções, o que mais nos interessa no trabalho de Ghirri é o método, que valoriza o trabalho coletivo e responde à necessidade de enriquecer o inevitável e necessariamente solitário trabalho do fotógrafo através de um contínuo confronto com outros autores, e encontrar sempre novos estímulos na colaboração com artistas, escritores, arquitetos e músicos. No caso do Osservatorio Fotografico, o terreno mais fértil de colaboração é o do teatro, que em Ravenna é seguramente a realidade cultural mais viva.
Outro elemento comum é a preferência por colaborar intensamente com a cidade em que vivemos e trabalhar num contexto local; “A província”, disse Ghirri, “é lugar para antonomásia: mescla de afeto e repulsa, lugar onde se encontram ódio e amor, o tudo e o nada, o tédio e a excitação”; é na província que “se funde assim de maneira inseparável microcosmo e macrocosmo, país e universo.” (Retrato. Entrevista de Sergio Abelardi em Luigi Ghirri, Nada de antigo sob o sol, cit., p.281)
Nós compartilhamos, então, de uma grande paixão por papel e livros. Em 1978, com a esposa Paola Bergonzoni e o amigo fotógrafo Giovanni Chiaramonte, Ghirri fundou a casa editorial Punto & Virgola. Poder publicar nossas pesquisas sempre foi um objetivo fundamental também para nós.
Enfim, para nós é importante recordar que tivemos a sorte de encontrar em nosso percurso um especial e extraordinário ponto de referência como Guido Guidi, que participou com Ghirri de projetos importantes como Viagem na Itália e Explorações sobre a rua Emilia e que, junto de Paolo Costantini, William Guerrieri e Roberto Margini criou a Linha de Fronteira para a fotografia contemporânea, projeto que é até hoje um dos mais importantes para a fotografia italiana. Com Guido Guidi compartilhamos, desde o início de nosso percurso, experiências e pesquisas, uma troca que nos enriquece mutuamente.
Você pode comentar o trabalho Saudações de Ravenna?
É um projeto muito simples, que prevê a publicação de novos cartões postais de artista quando Ravenna lançou sua candidatura a capital europeia da cultura em 2019 e propõe uma reflexão sobre as imagens contemporâneas da cidade. Os postais são uma ótima ocasião para confrontar esta imagem e instrumento útil para veiculá-la além dos estereótipos , como frequentemente acontece sobretudo nas cidades de arte, cujas imagens estão ligadas quase apenas e exclusivamente aos monumentos e glórias do passado. O que nos interessa, ao contrário, é a cidade do presente, aquela que cotidianamente todos veem, sendo turistas ou não.
Para nós que trabalhamos com a imagem e que atribuímos à fotografia um valor não apenas estético, mas também cognitivo, o postal é um importante instrumento de comunicação visual. Uma comunicação simples e elementar, no melhor sentido do termo, que une uma mensagem ao mesmo tempo visual e simbólica à memória de um lugar.