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Robert Frank por Susan Meiselas, Miguel Rio Branco, Maureen Bisilliat, Cristiano Mascaro, Dorrit Harazim, Jim Goldberg e Bernardo Carvalho

Publicado em: 10 de setembro de 2019

Fotografia parte da exposição Robert Frank: Os Americanos + os livros e os filmes, realizado no IMS Paulista em 2017.

Robert Frank (1924-2019), um dos fotógrafos mais influentes do século 20, morreu ontem em Inverness, Nova Escócia (Canadá). Nascido na Suíça, Frank emigrou para os Estados Unidos aos 23 anos, onde começou a fotografar para a revista de moda  Harper’s Bazaar.

Em 1959 publicou o livro Os Americanos, trabalho que o tornaria famoso. Realizado a partir de diversas viagens através dos Estados Unidos em meados da década de 1950, a obra é um marco na fotografia documental, revelando o lado B do sempre feliz e radiante estilo de vida americano. É também uma referência estudada até hoje quando se trata da criação de narrativas visuais em livros de fotografia.

Logo após a publicação de Os Americanos, Robert Frank volta-se para o cinema, dirigindo filmes que ajudaram a criar o Novo Cinema Americano. Sua filmografia inclui mais de 25 obras, com destaque para Pull My Daisy (1959), escrito e narrado por Jack Kerouac e protagonizado por Alan Ginsberg, duas referências da geração beat.

Susan Meiselas, Miguel Rio Branco, Maureen Bisilliat, Cristiano Mascaro, Jim Goldberg e Bernardo Carvalho comentam a importância da obra de Robert Frank. Leia abaixo.

 

Fotografia parte da exposição Robert Frank: Os Americanos + os livros e os filmes, realizado no IMS Paulista em 2017.

“Frank era totalmente ele mesmo e inspirou as gerações que se seguiram, tanto por sua independência quanto pela insistência em uma forma de expressão. Estávamos olhando para vidas comuns fora de narrativas ou eventos maiores. Eu valorizava muito seu espírito desafiador, mas escolhi um caminho mais engajado para mim.”

Susan Meiselas, fotógrafa

 

“Não me lembro exatamente quando vi pela primeira vez o livro Lines of my hand, do Robert Frank. Começo dos anos 80. O livro era ele e só ele como editor: as fotos dele tinham que ser editadas por ele e ponto final. Para mim foi uma identificação imediata. Tinha um olhar crítico e preciso. E a construção do livro era toda pessoal, denso e nada na superfície.Tudo com ele era poesia, pessoal, nada era business.”

Miguel Rio Branco, fotógrafo

 

“Robert Frank foi um suíço que descobriu a América ‘real’, que marcou e foi marcado por uma época. Sua vida foi cortada pela tragédia, levando-o a uma criatividade mais silenciosa e pessoal, com idas e vindas aos seus primeiros trabalhos”.

Maureen Bisilliat, fotógrafa

 

Fotografia parte da exposição Robert Frank: Os Americanos + os livros e os filmes, realizado no IMS Paulista em 2017.

“Tive a oportunidade de conhecer o trabalho de Robert Frank quando iniciava minha vida fotógrafo, aos 20 e poucos anos, ao folhear a revista suíça Camera que eventualmente publicava suas fotografias. Mas o que me arrebatou de vez foi ter achado na Livraria Francesa um exemplar de Les Américains (Os Americanos) editado pela Delpire algum tempo antes da edição americana. Inicialmente, não percebi a preciosidade que tinha em mãos, mas após ver e rever suas fotos, algo aconteceu em minha cabeça de jovem fotógrafo. Percebi que o ‘momento decisivo’ não era tudo e que um dado importante era ter um projeto definido na cabeça. Como a proposta que fez à Fundação Guggenheim para obter uma bolsa que lhe desse condições de fotografar a América. Ao contrário do que todos esperavam daquele jovem imigrante suíço, as suas fotografias não eram um elogio ao american way of life, mas um sombrio retrato da sociedade americana ao revelar a incomunicabilidade, a segregação racial, o silêncio de uma sociedade atormentada.

Robert Frank teve uma obra mais ampla do que Les Américains. No entanto, bastou esta sua aventura pelas estradas e cidades americanas para torná-lo, junto a um seleto grupo de fotógrafos que atuaram durante a segunda metade do século 20, um  daqueles que mais influenciaram e continuam influenciando diversas gerações. Sua maneira solitária de ver o mundo, mais preocupado com o clima das situações do que com as ações propriamente ditas, tornou-se um exemplo único da capacidade da fotografia revelar as angústias humanas”.

Cristiano Mascaro, fotógrafo

 

“Dono de uma linguagem visual que mudou o curso da  fotografia documental do pós-guerra, Robert Frank foi o grande artesão do poder narrativo da imagem. Conseguiu captar a essência de toda uma sociedade em um único instantâneo. Com o seminal The Americans, espécie de road movie fotográfico que produziu nos anos 1950 com sua aguda percepção de recém-imigrado, Frank revelou aos americanos um autorretrato nacional mantido abaixo da superfície. Talvez não esperasse o quão duradouro viria a ser esse painel coletivo de 70 anos atrás. Mais atual do que nunca, na era Trump.”

Dorrit Harazim, jornalista

 

Fotografia parte da exposição Robert Frank: Os Americanos + os livros e os filmes, realizado no IMS Paulista em 2017.

“Robert tem sido um mentor, amigo e uma inspiração constante desde 1977, quando nos conhecemos. Suas fotos, filmes e palavras estão entrelaçadas no meu próprio ser como artista. Simplesmente não existem mais tantos patifes como ele; ele tinha um coração grande e maravilhoso, mas era ótimo em escondê-lo. Eu o amava muito e sentirei muita falta dele.”

Jim Goldberg, fotógrafo

 

“Retrospectivamente, o Robert Frank acabou sendo visto como precursor do que hoje é um lugar-comum: a encenação da identidade. A confusão é compreensível, já que tanto na obra dele como na fotografia entendida como autobiografia e identidade (registro, documento e ilustração) o foco está no autor. Mas na origem ele era exatamente o contrário disso. A encenação da identidade está ligada a uma ideia de realização, a uma construção propositiva, a uma afirmação e confirmação do eu. A fotografia do Robert Frank é o oposto disso, está ligada à experiência beat, que é a da arte e da literatura como processo e deriva, como perdição, o contrário da realização e da construção deliberada de uma identidade. O que hoje pode parecer contraditório foi o que mais me encantou na fotografia dele quando a descobri no início dos anos 80. Se não tinha diretamente a ver com o que eu queria fazer em literatura, ainda assim abria um campo de possibilidades e experiências romanescas e dramáticas em desacordo com as normas pré-estabelecidas e consensuais, por um caminho que não tinha sido trilhado. Lembro especialmente da melancolia de uma série com os filhos na neve e que aquilo me fez pensar imediatamente numa fotografia, numa arte e numa literatura extraviadas, desencaminhadas, offroad”.

Bernardo Carvalho, escritor

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Sergio Burgi escreve sobre a viagem de Robert Frank à América Latina em 1948 e a relação dele com Robert Delpire, editor de Os Americanos.

Dorrit Harazim escreve sobre a fotografia Elevator, de Robert Frank

Fotolivro de Cabeceira: o fotógrafo João Luiz Musa escreve sobre Os Americanos

A exposição Robert Frank: Os Americanos + os livros e os filmes no IMS Paulista em 2017.

 

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