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Cobertura completa do Paraty em Foco 2015

Publicado em: 28 de setembro de 2015

O décimo primeiro Paraty em Foco ocorreu entre 23 e 27 de setembro na cidade fluminense. ZUM realizou a cobertura das principais mesas, eventos e exposições que aconteceram durante o festival internacional de fotografia. Veja abaixo a íntegra do conteúdo produzido para o instagram do IMS (@imoreirasalles) e para a página da revista no Facebook (www.facebook.com/RevistaZUM).

23 de setembro

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Começou o Paraty em Foco 2015! Daqui a pouco o fotógrafo francês Antoine D’Agata conversa com Eduardo Muylaert sobre “Tensão e sedução: O encantamento no escuro”, mesa de abertura do evento.

Antonie D'Agata, Cambodia, 2008 © Paraty em Foco/Divulgação

“Fotografo o que me dá medo.” Na mesa de abertura do Paraty em Foco, o francês Antoine D’Agata, da agência Magnum, conversou com Eduardo Muylaert sobre seu trabalho perturbador. “Abordar os bordéis, o mundo do sexo, da violência, das drogas e agora também a guerra, a migração e a doença é uma forma de me confrontar com aquilo que me perturba, que me dá pavor. Sei que não é fácil olhar para essas imagens.”

Influenciado por Nan Goldin e Miguel Rio Branco, entre outros, para ele não é aceitável o fotógrafo ser apenas voyeur: “Estou condenado a esse espaço impossível entre a vida e a arte. E a fotografia não resolve meu medo. Ela é apenas uma maneira de viver mais, de sentir mais.”

24 de setembro

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Fotos do projeto Juventude urbana da Mongólia: entre a tradição e a globalização, da fotógrafa belga Marika Dee, em exposição ao ar livre no Paraty em Foco.

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O crítico e professor Agnaldo Farias debateu sobre como o fotógrafo é visto pelo cinema, a partir de uma análise quase cena a cena de dois clássicos: “Janela indiscreta”, de Alfred Hitchcock, e “Blow-Up”, de Michelangelo Antonioni. “O fotógrafo é alguém que vende o olhar, e o fotojornalista alguém que percebe a fragilidade da estrutura e fica à espreita”. Apesar de estarmos todos usando câmeras e vivendo no século da imagem, segundo o crítico, “ainda estamos muito despreparados para ela”.

Walter Garbe, Homens, mulheres e criancas Krenak, início do século 20

O intelectual e ativista indígena Ailton Krenak comentou as fotografias de Walter Garbe, que em 1909 registrou o povo indígena Krenak, da região do médio Rio Doce, então em fuga de seu território de origem, ocupado para construção de barragens e ferrovias. “Essas fotos são a única janela que temos, 100 anos depois, para contemplar uma tarde da nossa família e reconstruir a história de um povo livre e autônomo até ser confinado no início do século 20. São retratos do semblante de pessoas que foram aniquilidas, e essa história se repete hoje no Mato Grosso do Sul com a mesma naturalidade.” Krenak dedicou sua fala à fotógrafa Claudia Andujar, que se dedicou por décadas a fotografar os Yanomami e contribuir para a preservação da integridade deste povo.

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O australiano Max Pam encerrou o dia em Paraty, numa conversa com Claudia Jaguaribe. Ele encarna ao extremo o que Susan Sontag escreveu sobre o fotógrafo ser um “superturista”: diferente do turista usual, a viagem para ele é um processo de autoconhecimento e autotransformação. “É também uma forma de responder à história dos países em que estou. A fotografia nos permite reinventar a nós mesmos, não aceitar essa imagem estática do que somos”.

Sua obra se multiplica em fotolivros e diários de viagem pessoais, em que muitas vezes alia texto, desenho e aquarela às fotografias. “É um vício. Para mim, o livro é maior que uma exposição, por isso me concentro em sua produção; é o livro que vai permanecer, durar mais que eu mesmo”. Na imagem, a exposição com a série “Superturista” na praça da Matriz de Paraty.

25 de setembro

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Micha Bruinvels, diretor do World Press Photo, falou sobre a história e as novas perspectivas do prêmio, um dos mais respeitados do mundo do fotojornalismo desde sua criação, em 1955. Micha apresentou as regras acerca da manipulação de fotos, após a desclassificação de uma imagem em 2010 em que um elemento havia sido removido da foto, e também o rascunho de um novo código de ética em desenvolvimento, pedindo um feedback do público presente a respeito.

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Exposição ID reúne retratos de nove fotógrafas brasileiras de diferentes gerações na Casa da Cultura em Paraty: Lenora de Barros, Claudia Andujar, Claudia Jaguaribe, Rochelle Costi, Sofia Borges, Lia Chaia, Flávia Junqueira, Cris Bierrenbach e Sara Não Tem Nome. Até 10 de outubro.

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“Estamos num momento em que os fotolivros são a chave do trabalho de muitos fotógrafos, mas ainda há exposições. Precisamos repensar o modo como essas mostras se dão.” O curador e historiador espanhol Horacio Fernández falou sobre possibilidades de exposição de fotolivros, a partir da mostra que curou sobre “Barcelona blanc i negre” (1964), do fotógrafo Xavier Miserachs, em que, além do livro folheado sendo projetado e exposto, as imagens em si ganharam um destaque diferente, como uma projeção com recortes das pessoas fotografadas em tamanho real. Horacio é responsável pelo seminal trabalho “Fotolivros latino-americanos”, publicação e exposição que esteve em cartaz no IMS.

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O mexicano Francisco Mata Rosas debateu, com mediação de Eugênio Sávio, a fotografia na era dos dispositivos móveis. O fotógrafo e pesquisador nota que no contexto das redes sociais, “as fotografias já não são recordação; são mensagem, um gesto de comunicação”. “Uma foto da guerra do Afeganistão ou da espuma do meu café têm a mesma importância, porque ambas cumprem um propósito de comunicação.”

Ele mostrou também como as redes de compartilhamento de imagens são ferramentas valiosas para investigações sociais. Comunidades difíceis de serem acessadas por fotógrafos estão se autodocumentando, caso do exemplo mostrado de mulheres de narcotraficantes que publicam diários visuais com armas e drogas, imagens que ele encontra em pesquisas por hashtags.

“Diariamente contribuímos todos para essa grande fototeca coletiva.” O próprio fotógrafo usa a camêra do celular em seu trabalho, a fim de “investigar novas formas de dizer o mesmo, de dizer o que tenho a dizer”.

Christian Cravo © Paraty em Foco/Divulgação

Neto do escultor Mario Cravo e filho do artista e fotógrafo Mario Cravo Neto, Christian Cravo falou de sua trajetória em que vida pessoal e fotografia se misturam, sobretudo na redescoberta do pai-fotógrafo, aos 17 anos, quando voltou da Dinamarca para a Bahia e fez uma série fotográfica em que as influências de seu pai e do tio indireto, Miguel Rio Branco, aparecem claramente. “A fotografia para mim é estar presente”, disse ao mediador Milton Guran.

26 de setembro

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A exposição dos selecionados na Convocatória em Foco ocupa o espaço lateral à praça da Matriz. À esquerda, o trabalho Intergalático, do brasileiro Guilherme Gerais, vencedor do prêmio de Melhor Trabalho Fotográfico.

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Fotos da exposição Autorretrato sensorial, trabalho do fotógrafo brasileiro Edu Monteiro, exibido na Casa da Cultura em Paraty.

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O professor e curador argentino Rodrigo Alonso falou sobre a representação e o papel do corpo na produção da fotografia contemporânea. Ele analisou trabalhos produzidos em diversos países entre a década de 1980 e hoje, em que o corpo é usado como instrumento para provocar e levar adiante a discussão sobre confrontos culturais e políticos. Entre os fotógrafos e artistas que posicionam o corpo em função de um contexto, Alonso citou a americana Barbara Kruger, a holandesa Rineke Dijkstra, o japonês Yasumasa Morimura e a espanhola Laura Cuch, entre outros.

Alexandre Urch © Paraty em Foco/Divulgação

A fotografia na era do celular foi o tema da mesa com os fotógrafos brasileiros Alexandre Urch (foto) e Tuane Eggers. Urch teve destaque no cenário nacional ao ganhar um concurso de fotografia com uma série sobre passageiros do metrô de São Paulo feita no Instagram, e continua a produzir utilizando o dispositivo móvel. Eggers começou com uma câmera digital simples nos fotologs, mas migrou para o a fotografia analógica, embora, ao digitalizar as imagens e publicar no Facebook, de alguma forma volte ao digital. “O celular é o sonho de todo fotógrafo: você agora tem uma câmera no bolso, 24h por dia”, disse Urch aos mediadores Juan Esteves e Sergio Branco.

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Última noite do festival. A tenda principal à direita, na praça da Matriz, e a exposição Désordres, com imagens do francês Antoine D’Agata, à esquerda.

Arno Rafael Minkkinen, Narragansett, Rhode Island, 1973 © Paraty em Foco/Divulgação

“Fotografia é a possibilidade de vida com imaginação.” Com essa constatação, o finlandês Arno Minkkinen abandonou a carreira de redator publicitário para se tornar fotógrafo em 1971. Uma das principais atrações desta edição do festival, Minkkinen sempre se dedicou ao autorretrato, com imagens em que busca confundir e integrar a forma do seu corpo com a paisagem. “Descobri que o nu incorpora um elemento atemporal ao meu trabalho”, disse em conversa com o curador Rodrigo Alonso, na última mesa deste sábado.

27 de setembro

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Uma iniciativa conjunta do Paraty em Foco com o Museu do Território de Paraty promoveu a digitalização de fotos históricas da cidade que muitos moradores trouxeram à estação de trabalho montada, compondo uma memória visual da cidade. Uma seleção foi feita (foto), e se tornará um fotolivro impresso in loco e cujo lançamento está previsto para hoje às 17h. ///

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