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O brasileiro Lalo de Almeida é o vencedor do World Press Photo 2022 com projeto sobre a Amazônia

Publicado em: 11 de abril de 2022

 

Foto da série Distopia Amazônica, de Lalo de Almeida, 2009 -2021

O projeto Distopia Amazônica, do fotógrafo brasileiro Lalo de Almeida, foi o vencedor mundial do renomado prêmio World Press Photo 2022 na categoria projeto de longo prazo. Segundo o júri da premiação, “cada imagem é intencional e impactante, contribuindo para uma coleção de testemunhos que expõem os efeitos multifacetados da destruição de terras e a pilhagem de recursos naturais vivenciados pelas comunidades brasileiras”.

Lalo conta que começou o projeto em 2009, “fotografando as primeiras audiências públicas para a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Era o início de um novo ciclo que repetia o modelo de desenvolvimento do período da ditadura militar. De um lado, grandes obras de infraestrutura que causaram impactos socioambientais desastrosos, como a construção de hidrelétricas e a abertura de rodovias que cortam a floresta. Do outro, as atividades ilegais, como extração de madeira, grilagem de terra para pecuária e garimpo de ouro, são o principal motor econômico de grande parte dos munícipios amazônicos. Nesse contexto, pobreza, violência e desmatamento são elementos indissociáveis.  A região da Amazônia Legal concentra a maior quantidade de municípios com os piores índices de desenvolvimento humano no Brasil. Claramente esse modelo de exploração do território amazônico fracassou”.

“Com o novo governo de extrema-direita, a Amazônia vem passando por um ciclo econômico com a exploração dos recursos naturais em larga escala, inclusive dentro áreas protegidas e territórios indígenas, e a perspectiva da construção de grandes obras de infraestrutura. Além disso, esse governo enfraqueceu as agências de fiscalização ambiental e as organizações não-governamentais, que funcionam como um contrapeso, mesmo que desigual, desse modelo predatório de exploração”, comenta o fotógrafo. ///

 

Altamira, PA. 01/09/2013. Mulheres brigam no centro de Altamira depois de uma festa na orla da cidade. No primeiro domingo do mês, quando os operários da construção de Belo Monte recebiam seus salários em dinheiro, era comum as festas se transformarem em uma confusão generalizada. O projeto da hidrelétrica no rio Xingu gerou um intenso fluxo migratório para a região, principalmente de homens solteiros. A população urbana de Altamira, cidade já precária antes de receber a obra, cresceu rapidamente em um curto espaço de tempo. O resultado disso foi uma cidade ainda mais caótica, mais violenta, com um grave déficit habitacional, saneamento precário e aumento da prostituição.

 

 

Altamira, PA. 06/04/2013. Indígenas Mundurukus fazem fila para embarcar em avião no aeroporto de Altamira após protestarem contra a construção da barragem de Belo Monte no rio Xingu. Os Mundurukus habitam as margens do rio Tapajós, onde o governo tem planos de construir novos projetos hidrelétricos. Mesmo após a pressão de indígenas, ambientalistas e organizações não governamentais, o projeto Belo Monte foi concluído cinco anos depois, em 2019.

 

 

Boca do Acre, AM. 21/03/2020. Jasson Oliveira do Nascimento, morador da Reserva Extrativista Arapixi, no Amazonas, usa uma motoserra para cortar a vegetação abrindo caminho para passar com sua canoa em um igarapé que dá acesso a área do Projeto de Assentamento Extrativista Antimary, onde eles coletam castanhas-do-pará. Esta área está sendo invadida por grileiros que estão desmatando a floresta e derrubando as castanheiras, ameaçando o modo de vida dessa comunidade.

 

 

Humaitá, AM.12/08/2018. Colonos recém-chegados constroem uma casa em uma área desmatada ao longo da BR-319, perto da vila de Realidade, na região sul do estado do Amazonas. A rodovia, inaugurada em 1976 e ainda não completamente pavimentada, é o único acesso terrestre que liga Manaus ao sul do país. Foi entregue asfaltada, mas a falta de manutenção fez com que ela perdesse a pavimentação até ficar intransitável em 1988. Na Amazônia, nenhuma intervenção humana provoca tantas mudanças quanto uma estrada. Se autorizado, o asfaltamento completo da BR-319 irá repetir o modelo de ocupação caótica da Amazônia, abrindo espaço em uma das regiões mais preservadas da floresta para a exploração descontrolada da madeira, o desmatamento ilegal e a grilarem de terras.

 

 

Peixoto de Azevedo, MT. 13/09/2019. Estátua de um touro sinaliza a entrada de uma fazenda para confinamento de gado às margens da rodovia BR-163, em Peixoto de Azevedo, no norte de Mato Grosso. Esta região, que antes era coberta pela floresta amazônica, foi desmatada para dar lugar à mineração de ouro, pastagem para pecuária e plantações de soja. A BR-163 liga a cidade de Cuiabá a Santarém e nos últimos anos foi pavimentada e transformada em um importante corredor para a exportação de soja, produzida no Mato Grosso.

 

 

Canarana, MT. 13/08/2016. Um indígena caminha na aldeia Yawalapiti em meio à fumaça que cobriu o Parque Indígena do Xingu, devido ao grande número de incêndios florestais. Além do impacto do acúmulo de gases de efeito estufa, um fenômeno global, o desmatamento nos limites do parque tem provocado o aumento da temperatura local e mudanças no regime hidrológico. Essas alterações climáticas, que tornaram o ambiente mais seco, têm inviabilizado as culturas de subsistência tradicionais, modificando o modo de vida dessas comunidades cada vez mais dependentes dos alimentos industrializados.

 

 

Centro do Guilherme, MA. 24/03/2017. Um membro do Grupo Especializado de Fiscalização ( GEF ) do IBAMA destrói fornos usados para fazer carvão vegetal em uma serraria ilegal em Centro do Guilherme, no Maranhão. A madeira utilizada nesta serraria era extraída ilegalmente da Terra Indígena do Alto Turiaçu. O governo Bolsonaro enfraqueceu as agências de fiscalização ambiental, que atuam como contrapeso, embora desigual, ao modelo predatório de exploração da floresta tropical amazônica.

 

 

Peixoto de Azevedo, MT. 12/09/2019. Homens trabalham em um garimpo às margens do rio Peixoto de Azevedo no Mato Grosso, uma das maiores áreas de exploração de ouro do Brasil. Parte da atividade é ilegal e, por não haver fiscalização, mesmo as legalizadas não cumprem a legislação ambiental. O resultado são rios poluídos e regiões degradadas que parecem mais o solo lunar do que um território que já foi coberto pela floresta amazônica.

 

 

São Felix do Xingu, PA. 24/08/2019. Guerreiros Xikrin chegam à aldeia Rapko após expedição pela selva para retirar os invasores da Terra Indígena Trincheira Bacajá, no estado do Pará, que teve parte de sua área invadida e desmatada por grileiros. Abandonados pelos órgãos federais os indígenas se organizaram para defender seu território e lutar contra o desmatamento.

 

 

Apuí, AM. 24/08/2020. Desmatamento recente em um ramal da rodovia Transamazônica na zona rural de Apuí, município localizado na linha de frente da expansão agropecuária da Amazônia.

 

 

Benjamin Constant, AM. 19/06/2021. Membros da Missão Israelita do Novo Pacto Universal preparam um cordeiro para um ritual durante um retiro na zona rural de Benjamin Constant, um município brasileiro localizado na fronteira com o Peru e porta de entrada para o Vale do Javari. A seita que surgiu no país vizinho tem encontrado cada vez mais seguidores na região, e já está ativa em vários estados brasileiros. O crescente fanatismo religioso e o avanço da evangelização no Vale do Javari tem tido um forte impacto no modo de vida e na cultura das populações tradicionais, região que tem a maior população de índios isolados do planeta. Apesar de estarem em um território protegido, os povos indígenas têm sido insistentemente abordados por membros de igrejas evangélicas que acabam entrando clandestinamente nestas áreas, numa tentativa de converter estas populações ao cristianismo. Tudo isso é feito com a condescendência do governo federal, que tem a comunidade evangélica como uma de suas mais importantes forças políticas.

 

Todas as fotos gentilmente cedidas por Lalo de Almeida.

 

Lalo de Almeida estudou fotografia no Instituto Europeo di Design em Milão, Itália. Há 28 anos trabalha para o jornal Folha de S. Paulo onde vem desenvolvendo narrativas multimídias premiadas internacionalmente. Em 2021 sua série de fotografias Pantanal em Chamas foi primeiro lugar na categoria Meio Ambiente no World Press Photo. Também em 2021 foi escolhido como fotógrafo ibero-americano do ano pelo POY (Pictures of the Year) Latam. Paralelamente ao fotojornalismo sempre desenvolveu trabalhos de documentação fotográfica como o projeto Distopia Amazônica, que em 2021 foi contemplado com o Eugene Smith Grant in Humanistic Photography.

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