Ensaios

Fotografia lésbica – uma longa tradição (1979)

Judith Schwarz Publicado em: 17 de maio de 2023

Foto gentilmente cedida por ©JEB (Joan E. Biren), do livro Eye to eye: portraits of lesbians, publicado pela Anthology Editions.

Em 1979, a fotógrafa Joan E. Biren, conhecida como JEB, publicou de forma completamente independente Eye to Eye: portraits of lesbians (Olho no olho: retratos de lésbicas), provavelmente o primeiro livro feito por uma fotógrafa lésbica documentando a diversidade da comunidade nos EUA. Financiado por JEB com a ajuda de alguns amigos, a primeira edição teve uma tiragem de 5.000 exemplares e se esgotou em três meses.

Através de retratos em preto e branco, o livro apresenta uma diversidade de mulheres, casais e contextos, entrelaçando as fotografias a declarações dessas pessoas que corajosamente aceitaram fazer parte do trabalho. Naquele momento, assumir-se publicamente poderia desencadear situações violentas como agressões físicas, perda do emprego, perda da guarda de filhos, expulsão da família e outras. Assim, o livro de JEB é um documento importante que revela a coragem de mulheres que, ao exporem suas existências, contribuíram para a criação de um arcabouço imagético de vidas possíveis.

Em entrevista a Diane Kresh, JEB comenta que a motivação maior para começar a fotografar foi a percepção de que ela vivia em um deserto de imagens. JEB queria ver uma imagem de duas mulheres se beijando, mas essa imagem não existia, então, ela pegou uma câmera emprestada e se fotografou beijando Sharon, sua namorada na época. A partir desse gesto, JEB decidiu percorrer os EUA retratando outras mulheres lésbicas vivendo suas vidas comuns.

O sucesso da sua recente reedição, lançada pela Anthology Editions, em 2021, evidencia a necessidade de olharmos para estas fotografias buscando as chamas das imagens que muitas vezes nos foram negadas. Além de um marco importante para a comunidade lésbica, o livro de JEB trouxe ainda, já nos anos 1970, uma importante contribuição para os debates sobre a história da fotografia ao incluir a publicação do texto Fotografia lésbica – uma longa tradição, da pesquisadora Judith Schwarz, agora traduzido para o português.

Nele, a autora, conhecida por sua atuação dentro do coletivo Lesbian Herstory Archives, apresenta e discute as produções das fotógrafas Clementina Hawarden, Emma Jane Gay, Frances Johnston, Alice Austen e Berenice Abbott, localizando a obra de JEB em um percurso que tem lastro histórico e que precisa ser considerado e debatido. Seu texto nos ajuda a reposicionar uma pretensa história da fotografia que frequentemente apaga e invisibiliza tais produções.

Foto gentilmente cedida por ©JEB (Joan E. Biren), do livro Eye to eye: portraits of lesbians, publicado pela Anthology Editions.


Fotografia lésbica – uma longa tradição (1979)

Desde sua invenção, em 1839, a fotografia sempre atraiu lésbicas e outras mulheres fortes, independentes e imaginativas. Elas a usaram para comunicar sua visão criativa, sustentar-se financeiramente e registrar seu mundo e suas vidas – embora suas existências tenham sido (e continuem sendo) constantemente ignoradas, desvalorizadas e distorcidas. Essas mulheres se sentiram compelidas a aprender os inúmeros detalhes técnicos que convertem uma chapa fotográfica ou filme em uma imagem duradoura para as gerações futuras. Essas mulheres também estavam (conscientemente ou não) se recusando ativamente a condescender à tradição da mulher anônima.

As lésbicas, em especial, têm sido atraídas pela fotografia em tal número que apenas as escritoras superam as fotógrafas em nossa história criativa. Muitas lésbicas fotógrafas nos são desconhecidas. Suas vidas, seus trabalhos e as imagens que elas criaram foram perdidas para nós por conta da deterioração, negligência ou destruição intencional. Ainda assim, muitas deixaram sua marca de amantes de mulheres na história da fotografia, e estas nós celebramos aqui. Há fortes evidências biográficas de algumas de nossas antepassadas* lésbicas em manuscritos e diários; outras nós reivindicamos simplesmente porque elas nunca exibiram qualquer comportamento heterossexual explícito. A verdadeira evidência está em suas fotografias.

Desde a sua fundação, em 1853, a Royal Photographic Society em Londres admitiu a adesão de membros homens e “senhoras”. [1] Uma das senhoras era a viscondessa Clementina Hawarden (1822-65). Tee Corinne, uma fotógrafa lésbica moderna, escreveu: “Nas fotografias de Hawarden de duas mulheres juntas, as mulheres quase sempre se tocam, muitas vezes se abraçam. Alguns casais parecem prestes a se beijar, outros aparecem como se uma intimidade compartilhada tivesse acabado de ser interrompida.”[2] As impressões fotográficas de Hawarden ganharam os maiores elogios do júri da Exposição de Dublin, em 1865. Ela não se saiu tão bem no comentário do catálogo de 1975, “Women in Photography: An Historical Survey”, exposto no Museu de Arte de São Francisco. Lá, seu trabalho é descrito como o “produto de uma imaginação singularmente estéril… piegas e repetitivo…” [3] Hmmm. Qualquer lésbica que tenha visto o trabalho de Hawarden, que apareceu na revista Sinister Wisdom 5, veria-se levada a rir ou a sentir raiva desse julgamento.

Nos Estados Unidos, as mulheres logo descobriram o potencial da câmera fotográfica como geradora de dinheiro. Apenas cinco anos depois de a fotografia ter se tornado um meio prático de se obter retratos humanos, Sarah Holcomb tornou-se uma fotógrafa itinerante. [4] Em 1846, carregando seus produtos químicos, câmera e outras ferramentas de seu ofício, se mudou de Boston para Manchester, New Hampshire, e para Claremont, New Hampshire. Ela foi uma das primeiras dentre milhares de mulheres (quase todas solteiras, viúvas ou divorciadas) que se sustentaram por meio de uma combinação de conhecimentos químicos e técnicos, habilidades de negócios, coragem e da força física necessária para transportar o equipamento pesado. Como escreveu Annie Gottlieb em Women See Woman: Uma arte tão nova não estava cercada de tabus arraigados e nem possuída pela mística do pacto masculino; não foi, nesse sentido, levada a sério como arte, assim como as mulheres não eram levadas a sério como artistas. Isso deu às mulheres uma vantagem paradoxal em se estabelecer no mercado. [5]

Foto gentilmente cedida por ©JEB (Joan E. Biren), do livro Eye to eye: portraits of lesbians, publicado pela Anthology Editions.

Ainda assim, uma mulher que escolhia a fotografia como meio de expressão criativa ou como maneira de ganhar a vida “tinha que ter coragem e determinação (e, se tivesse sorte, posição social e apoio emocional) para desafiar as persistentes normas de comportamento feminino”. [6] Para uma lésbica que já havia desafiado a heterossexualidade como modelo predominante de relacionamento, desafiar outras normas era fichinha, especialmente quando era provável que ela conseguisse a independência financeira através da fotografia.

Em 1900, 3.580 fotógrafas profissionais foram contabilizadas no censo oficial dos EUA. Bem mais de dois terços eram mulheres solteiras e nove eram mulheres negras. [7] Esse número geral aparentemente alto inclui apenas as fotógrafas que possuíam seus próprios estúdios, não a multidão de “amadoras”, que podem ter ganhado dinheiro em suas próprias casas. Amadora foi definida no censo como uma pessoa que não tinha estúdio; isso não significava que ela não vendia seu trabalho. O número do censo também não faz nenhuma alusão ao número de mulheres ganhando a vida como técnicas de laboratório, como assistentes de fotógrafos ou na nova área do fotojornalismo.

Uma definição tão estreita certamente teria deixado de fora uma fotógrafa como Emma Jane Gay (1830-1919). Durante a longa carreira de Gay, que começou quando ela e uma amiga íntima fundaram uma escola para meninas, em 1856, ela desempenhou muitos papéis, incluindo a de tutora dos netos do presidente Andrew Johnson, de sufragista, de anfitriã política em Washington, arquiteta e, por 17 anos, escriturária do Dead Letter Office**. [8]

Gay se tornou uma fotógrafa profissional por mero acaso. Em 1888, ela deu uma boa olhada em sua amiga, a notável etnóloga e defensora dos direitos dos povos indígenas Alice Fletcher, que acabava de voltar de uma árdua viagem para o oeste. Aflita com a aparência abatida e exausta de Fletcher, Emma Jane Gay ofereceu seus serviços para cuidar e cozinhar para a amiga durante a próxima viagem para o campo. Mas o orçamento do Departamento do Interior para o projeto de Fletcher só trazia uma vaga para fotógrafo, uma das poucas habilidades que Gay não tinha ainda aprendido. Ela passou os próximos meses aprendendo a lidar com os produtos químicos e a revelar as fotografias. Finalmente, no verão de 1889, ela se juntou a Fletcher em Nebraska. Pelos próximos três anos, Gay seria a fotógrafa oficial para o trabalho de distribuição de terras de Fletcher entre a tribo Nez Percé em Idaho; extra-oficialmente, ela cozinhava e fazia todas as tarefas diárias do acampamento.

Quando Emma Jane Gay aprendeu fotografia, tinha 59 anos e dificilmente esperava fazer disso uma nova carreira. A fotografia era apenas uma forma de estar com Alice Fletcher. As cartas lúcidas e espirituosas de Gay para sua família, juntamente com muitas de suas fotos, acabaram sendo reunidas em dois lindos volumes encadernados. [9] Em 1893, Fletcher e Gay retornaram a Washington e se estabeleceram no bairro Capitol Hill (não muito longe de onde JEB vive hoje).

Washington, DC, provou ser um terreno inesperadamente fértil para o desenvolvimento de fotógrafas lésbicas. Ao mesmo tempo em que Emma Jane Gay fotografava a vida dos Nez Percé, Frances Benjamin Johnston (1864-1952) estava começando sua carreira extremamente longa como uma das principais documentaristas, retratistas e fotógrafas de arquitetura nos Estados Unidos (assim como uma das primeiras fotojornalistas). Os círculos de conhecidos de Gay e Johnston em Washington se sobrepuseram, e as duas podem até ter se conhecido. Mas os papéis de Johnston – cerca de 17.000 itens de correspondência – nos deixam em busca de pistas sobre sua vida privada e suas amizades.

Ela era uma pessoa ferozmente independente que muitas vezes zombava das convenções sociais; mas sua vida particular permanece escondida atrás do véu das maneiras vitorianas… Suas cartas falam levianamente do tempo, das viagens, e de outros tópicos corteses que frustram o biógrafo… Johnston nunca se casou, mas dedicou sua vida à fotografia. Qualquer caso de amor que ela possa ter tido não é revelado em sua correspondência. Como ela se sentia sobre questões sociais ou outros tópicos raramente são discutidos, exceto quando relacionados ao seu trabalho. A melhor fonte para estudar sua vida é sua fotografia… Sua câmera era seu diário. [10]

O que suas fotografias revelam é uma mulher apaixonadamente interessada nas vidas e condições de trabalho dos mineiros de carvão da Pensilvânia, das mulheres trabalhadoras de fábricas de calçados de Massachusetts, dos mineiros de minério de ferro do Lago Superior e dos marinheiros dos navios de guerra de Dewey (incluindo uma foto encantadora de marinheiros dançando de rosto colado no convés). Suas fotografias dos alunos do Hampton Institute e do Tuskegee Institute são exemplos de primeira linha de seu estilo e transmitem o relacionamento estabelecido entre fotógrafa e sujeitos durante os longos dias posando.

Embora Johnston tenha fotografado quase todas as personalidades de seu tempo, incluindo George Washington Carver, Mark Twain, Susan B. Anthony, Theodore Roosevelt e Helen Hay Whitney (que escreveu poesia lésbica), seu retrato mais famoso pode muito bem ser um que ela tirou de si mesma, em 1896. Em uma pose chocantemente diferente de qualquer outra de sua época, Johnston segura um cigarro em uma mão e uma caneca de cerveja na outra. Um cotovelo se inclina casualmente sobre a perna direita, que está cruzando o tornozelo em seu joelho esquerdo, expondo sua anágua branca e meias pretas. Um boné de menino está acima de seu rosto solene. Ela não se parece com alguém com quem você mexeria. Em seu tempo, Johnston foi considerada excêntrica e boêmia em sua vida privada, dada a festas à fantasia extravagantes em seu estúdio, ainda assim, uma profissional séria e de grande talento em sua vida pública. Após uma longa e frutífera carreira, Frances Benjamin Johnston morreu em Nova Orleans depois de ver seu trabalho homenageado pela Biblioteca do Congresso e por muitas outras instituições.

Alice Austen (1866-1952) foi contemporânea de Johnston em idade, posição social e quantidade de trabalho; alguns dizem que ela supera Johnston na qualidade e na intensidade de suas fotografias. Nascida privilegiada como filha única de um rico clã de Staten Island, Austen aprendeu a usar a câmera de seu tio, capitão do mar, aos 10 anos de idade. Ela fotografava quase tudo o que via, mas sempre pensava na fotografia como mero passatempo.

Austen raramente vendia seu trabalho, mesmo depois que a fortuna de sua família foi perdida na quebra da Bolsa de 1929. Ela e Gertrude Tate, sua amiga e amante da vida toda, foram relegadas a administrar uma escola de dança e um salão de chá no esforço vão de salvar a casa própria de Austen. Quando a casa foi perdida, 7.000 de suas maravilhosas fotografias e negativos de placa de vidro só foram preservados por um feliz acidente. Ficaram então em um depósito da Staten Island Historical Society por anos, negligenciados e esquecidos como Austen, que quase morreu em um asilo. Foi apenas aos 85 anos, quando seu trabalho foi descoberto por um pesquisador para um livro de história, The Revolt of American Women, que o “hobby” de Austen lhe trouxe repentinamente fama e dinheiro suficientes para se mudar para uma casa de repouso privada. [11]

Os retratos animados, engraçados e encantadores de si mesma e de suas amigas incluem muitas imagens lúdicas de lésbicas. Austen fotografou a si mesma e a namorada em seu quarto vestidas apenas com roupas íntimas, meias pretas e máscaras, fumando cigarros; ela mesma com duas amigas vestidas com ternos masculinos, coletes, chapéus coco e bigodes pintados; e uma reunião de família formalmente posada nos padrões vitorianos que parece um tanto monótona aos olhos de quem vê, até você notar duas mulheres jovens no primeiro plano, olhando ansiosamente nos olhos uma da outra e de mãos dadas.

Berenice Abbott, nascida em 1898, é a mais conhecida fotógrafa de lésbicas. Sua reputação invejável foi bem estabelecida em Paris na década de 1920, quando ela sustentou-se com um estúdio de retratos. Suas fotografias de Janet Flanner, Margaret Anderson, Princesa Eugènie Murat, Jane Heap, Edna St. Vincent Millay e outras lésbicas, homossexuais, escritores e intelectuais famosos da época, permaneceram como um registro histórico da comunidade lésbica parisiense de classe alta. Os retratos são imagens fortes, quase todas as pessoas olham diretamente para os olhos do espectador. Como um escritor disse sobre o trabalho de Abbott: “Você não encontrará muita bajulação nos retratos de Abbott… Seu trabalho é refrescantemente direto e forte, claramente fotos com arte, mas sem pretensão”. [12] Em 1929, Abbott retornou aos Estados Unidos e desistiu de fotografar pessoas para começar a fotografar a cidade de Nova York durante a Depressão. Mais tarde, expandiu ainda mais seu trabalho, experimentando novas técnicas e suas próprias invenções enquanto fotografava assuntos científicos – bolor de penicilina e bolhas de sabão nunca pareceram tão sobrenaturais e bonitos.

Agora trabalhando e morando no Maine, Abbott escreveu sobre sua visão da fotografia. “Concordo que todas as boas fotografias são bons documentos, mas… um bom fotógrafo não apenas documenta. Ele[a] sonda o assunto, ele[a] explora e descobre o mundo em que vive… A fotografia viva não pisca os olhos para os fenômenos fantásticos da vida real, sejam eles belos ou vergonhosos. A fotografia não pode ignorar o grande desafio de revelar e celebrar a realidade”. [13]

Foto gentilmente cedida por ©JEB (Joan E. Biren), do livro Eye to eye: portraits of lesbians, publicado pela Anthology Editions.

Seguindo em frente

A realidade lésbica não é visível nos meios de comunicação de massa. Não podemos encontrar imagens positivas de nós mesmas na maioria das revistas, na televisão ou na tela do cinema. Lésbicas lutaram contra imagens falsas e heterossexuais usando instantâneos pessoais, dando aos álbuns de fotografia um lugar de honra em nossas casas. Em algumas partes do país, durante as décadas de 1950 e 1960, lésbicas se reuniam alegremente para noites de cinema em casa. Um número surpreendente de nós já trabalhou em laboratórios fotográficos e em lojas de câmeras por grandes descontos e salários baixos.

A emergência do feminismo lésbico como movimento político no início dos anos 1970 intensificou o desejo de visibilidade entre algumas lésbicas. Uma mulher que começou a fotografar lésbicas nessa época foi JEB (Joan E. Biren). “Eu nunca tinha visto uma foto de duas mulheres se beijando e eu queria ver isso. Eu emprestei uma câmera, mas eu nem sequer conhecia mais ninguém a quem pudesse pedir para posar para ela. Então, eu segurei a câmera com o braço estendido, beijei minha amante, Sharon, e tirei a foto. Essa é minha primeira fotografia lésbica.” [14]

JEB aprendeu fotografia sozinha através de um curso por correspondência e de empregos em uma loja de câmeras, um jornal semanal de cidade pequena e no departamento de audiovisual de uma grande associação comercial. Fornecer fotografias a preço de custo para grupos de movimentos de lésbicas e de mulheres também ajudou a aumentar as habilidades de JEB e, em 1975, ela começou a fazer trabalhos para clientes comerciais. Desde então, como fotógrafa freelancer, ela se sustenta com pagamentos que incluem trabalhos para emissoras de TV, grupos de teatro e agências de publicidade.

As fotografias de JEB apareceram em muitas publicações lésbicas, feministas e gays, incluindo The Furies, off our backs, a edição especial de motive, Quest and Our Right to Love. [15] Ela publicou A Calendar for Women, em 1974 e 1976, e fotografou para capas de álbuns de discos, incluindo Full Count de Willie Tyson e Debutante, Three Gypsies, de Casse Culver, e Know You Know, de Meg Christian.

Na década de 1970, a fotografia lésbica finalmente começou a se destacar, sob seu próprio nome. A lista de fotógrafas lésbicas contemporâneas inclui muitas mulheres excepcionais. Uma comunidade de trabalho de fotógrafas lésbicas está finalmente começando a se desenvolver e mulheres como JEB estão levando seus trabalhos a um público maior.

“… Para revelar e celebrar a realidade”, como disse Berenice Abbott. Que motivo melhor para se alegrar com o fato de que tantas lésbicas foram atraídas pela comunicação através da fotografia? Aquelas de nós que não são fotógrafas têm nossos próprios papéis a desempenhar no futuro da fotografia lésbica. Precisamos procurar pelas Alice Austens em nossas próprias comunidades e garantir às fotógrafas lésbicas de hoje que seus trabalhos encontrem um público receptivo e crítico. ///

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Tradução do inglês por Luana Navarro e Camila Macedo.

Nota das tradutoras

* No texto original, a autora utiliza a palavra foresister, termo este ligado ao contexto das lutas e alianças feministas que compreende a ideia de uma comunicação que tem continuidade entre gerações de mulheres.

**Dead Letter Office é o departamento do correio nos Estados Unidos para onde cartas não entregues aos seus destinatários retornam. Não foi encontrado termo paralelo em português.


Judith Schwarz trabalhou por 12 anos em laboratórios fotográficos e tem pesquisado a história lésbica americana desde 1974. Seu trabalho publicado inclui o artigo autobiográfico “On Being Physically Different” (revista Sinister Wisdom 7), bem como artigos históricos em The Blatant Image and Frontiers: A Journal of Women Studies. É autora de Radical Feminists of Heterodoxy: Greenwich Village 1912-1940 (New Victoria Publishers, Líbano, N.H., 1982; edição revisada, 1986). Ela é membro do coletivo Lesbian Herstory Archives e cofundadora da Lesbian Heritage/ DC, que não existe mais. Atualmente mora nos arredores da Filadélfia.

Luana Navarro é artista visual e professora  universitária. Desde 2008 desenvolve projetos com fotografia, vídeo, performance e publicações impressas. Estudou fotografia no Núcleo de Estudos da Fotografia, em Curitiba, Fotografia Contemporânea no Centro de la Imagen, na Cidade do México e realizou mestrado em Processos Artísticos Contemporâneos na UDESC, em Florianópolis. É uma das idealizadoras do espaço cultural Alfaiataria, em Curitiba, onde atuou como artista gestora de 2019 a 2022..

Camila Macedo atua nas áreas de pesquisa, curadoria e realização em cinema, com principal enfoque nas interfaces entre arte, educação e os estudos de gênero e sexualidade. É doutoranda em Educação pela UFPR e bacharela em Cinema e Vídeo pela UNESPAR. Junto a Débora Zanatta, é programadora do Cineclube Solax e coordenadora do Núcleo de Audiovisual SESI-PR. Participa da equipe de curadoria do Olhar de Cinema desde 2018.


[1] Margery Mann, Women of Photography: An Historical Survey (San Francisco: San Francisco Museum of Art, 1975), p.4.

[2] Tee Corinne, “Clementina Hawarden, Photographer,” Sinister Wisdom 5 (Winter 1978), p.45. Ver também Clementina, Lady Hawarden, editado por Graham Ovenden (New York: St. Martin´s Press, 1974).

[3] Mann, Women of Photography, p.6.

[4] Toby Quitslund, “American Women Photographers,” sessão e apresentação de slides na Primeira Conferência Nacional, Associação Nacional de Estudos da Mulher, Lawrence, Kansas, 31 de maio de 1979.

[5] Annie Gottlieb, introdução de Women See Woman, editado por Cheryl Wiesenfeld et al. (New York: Thomas Crowell, 1976), p.2.

[6] Ibid., p.3

[7] Departamento de Censo dos Estados Unidos, Décimo Censo, 1900. Ocupações. (Washington, DC: Government Printing Office, 1904), p.lii, citado em Quitslund, “American Women Photographers.”

[8] Emma Jane Gay Papers, Jane Gay Dodge Collection, Schlesinger Library, Radcliffe Institute for Advanced Study Harvard University.

[9] “Choup-nit-ki with the Nez Percé,” Emma Jane Gay Papers, Jane Gay Dodge Collection, Schlesinger Library, Radcliffe Instituto for Advanced Study, Harvard University. Pesquisas posteriores mostraram que E. Jane Gay, conforme mencionado na página 8, não foi a fotógrafa oficial do governo com Flechter, em Idaho. Ela fez fotografias durante suas viagens a Idaho, sem o status oficial do governo.

[10] Pete Daniel e Raymond Smock, A Talent for Detail: The Photographs of Frances Benjamin Johnston, 1889-1910 (New York: Harmony Books, 1974), pp.13-17. Ver também The Hampton Album, introdução por Lincoln Kirstein (New York: The Museum of Modern Art, 1966); Anne Tucker, The Woman´s Eye (New York: Alfred . Knopf, 1973).

[11] Oliver, Jensen, ed., The Revolt of American Women (New York: Harcout Brace Jovanovich, 1952). Ver também Anne Novotny, Alice´s World: The Life and Photography of an American Original: Alice Austen, 1866-1952 (New York: Chatham Press, 1976).

[12] David Vestal, introdução de Photographs, de Berenice Abbott (New York: Horizon Press, 1970), pp.13-15. Ver também Berenice Abbott, New York in the Thirties (1939; reimpressão New York: Dover Publications, 1973); Anne Tucker, The Woman´s Eye, ibid.

[13] Berenice Abbott, Marlborough Exhibition Catalogue, 6 a 24 de janeiro de 1976, p.6-7.

[14] Baseado em uma entrevista com Joan E. Biren, em 7 de junho de 1979.

[15] Ginny Vida, ed., Our Right to love: A lesbian Resource Book, produzido em cooperação com as mulheres do National Gay Task Force (Englewood Cliffs, NJ: Prentice-HAll, Inc., 1978).

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