Parceria entre o Instituto Moreira Salles e a X Bienal de Arquitetura de São Paulo, o projeto levou o fotógrafo Tuca Vieira a uma expedição fotográfica pelo novo Brasil urbano, traçando um retrato do crescimento econômico do país nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
Leia o texto de Guilherme Wisnik que abria a exposição Brasil: O espetáculo do crescimento, da X Bienal de Arquitetura de São Paulo, em 2013.
Quando, em 2003, o então presidente Lula anunciou que o Brasil viveria o “espetáculo do crescimento”, a frase parecia um dito populista, tributário ainda das promessas pífias que, ao longo de décadas, teimavam em nos definir como o “país do futuro”. Ocorre que nesses dez anos muita coisa de fato mudou, e o nosso crescimento econômico (ainda que oscilante), no contexto de um mundo em crise, fez do Brasil um “país emergente”. Internamente, a mecanização da mineração empresarial e da lavoura (agronegócio), somadas às grandes obras estatais de infraestrutura, querem redirecionar o caminho do crescimento econômico para as regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país, com reflexos nas cidades. É um retrato desse novo Brasil urbano, ainda mal localizado pelos radares do Sudeste e da crítica arquitetônica, que essa exposição pretende esboçar.
A equipe de pesquisa fez uma viagem exploratória a lugares-chave desse processo de transformação, nos estados de Pernambuco e do Pará. Santa Cruz do Capibaribe (PE) é hoje o 2o polo têxtil da América Latina. Já a pequena Salgueiro (PE) se tornou o novo centro de irradiação de importantes eixos infraestruturais do país, como a Ferrovia Transnordestina e o canal de Transposição do Rio São Francisco. E enquanto o Porto de Suape (PE), conhecido como a “China brasileira”, se prepara para ser a nossa maior refinaria de petróleo, Marabá e Parauapebas (PA) vivem os efeitos ao mesmo tempo impulsionadores e predatórios causados pela proximidade das minas de Carajás, e Altamira (PA) sofre uma considerável transformação com as remoções de população e o impacto ambiental provocados pela Usina de Belo Monte.
Se esse novo desenvolvimentismo traz a memória do “milagre econômico” dos anos 1970, o Brasil que se entrevê agora não é mais apenas aquele da miséria que nasce com Brasília: Transamazônica, Serra Pelada, índios usando calça Lee. Hoje, parece que o “Bye-bye Brasil” dá a sua segunda volta no parafuso, com a presença do grande capital estrangeiro, associado à produção de commodities, e a diminuição das desigualdades tanto sociais quanto geográficas, fazendo surgir a ideia de uma nova “classe média”. Um conjunto de pessoas que compra geladeiras, televisões, carros e motos, e tanto é capaz de reformar as suas casas autoconstruídas nas cidades quanto pode receber imóveis nos grandes conjuntos suburbanos do Programa Minha Casa Minha Vida, abrindo novas frentes de expansão urbana. Resta saber se esse crescimento recente trouxe desenvolvimento real, promovendo melhor justiça social e educação para além do consumismo, ou se reatualiza os velhos contrastes brasileiros na forma de um inesperado crescimento do espetáculo.
Santa Cruz do Capibaribe/PE
Santa Cruz do Capibaribe tem cerca de 97 mil habitantes, cuja taxa de crescimento entre os anos de 2000 e 2010 foi de 128%. É um dos maiores pólos de confecção da América Latina e é abastecido com tecidos que são produzidos no sul do país. Apesar de fazer parte do ‘polígono da seca’, é uma cidade cuja economia prosperou com um sistema de confecções e vendas próprio, vive em função da indústria da confecção.
Criado em 2006 para organizar as vendas e a própria cidade que era tomada por feiras, o Moda Center Santa Cruz é um shopping coberto com aproximadamente 120 mil m2, mais de 10 mil pontos de venda, duas praças de alimentação e hotel. Abre de domingo à terça-feira e pessoas de diversas partes, principalmente do Norte e Nordeste do país, vem para a cidade especialmente para fazer compras. Os outros dias da semana, de quarta a sábado, são destinados à fabricação das peças, geralmente em pequenas confecções caseiras. Santa Cruz possui cerca de 85% das cerca de 22 mil empresas do ramo de confecção do Estado.
Salgueiro/PE
Salgueiro está praticamente equidistante de quase todas as capitais nordestinas. É um entroncamento de importantes obras de infra-estrutura da região, como a Transposição do Rio São Francisco e a Ferrovia Transnordestina, além de duas rodovias: BR-116 e BR-292. A Transposição do Rio São Francisco tem como objetivo distribuir água para 12 milhões de habitantes de 390 municípios do Agreste e do Sertão de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, com investimento previsto de R$ 8,2 bilhões; A Nova Transnordestina é uma obra ferroviária para ligar Eliseu Martins, no sul do Piauí , o porto de Pecém, no Ceará e o Porto de Suape, em Pernambuco, com investimento total de R$ 5,4 bilhões. O PIB de Salgueiro cresceu 69% de 2005 a 2010. Sua população cresceu 9% no mesmo período. Por não possuir um sistema de transporte público, o número de motos cresceu numa taxa altíssima nos últimos entre 2001 e 2010: 206%.
Suape, Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho/PE
O Complexo de Suape compreende um porto, uma refinaria, 80 indústrias instaladas e 120 em processo de instalação. Um dos braços da Ferrovia Transnordestina chega em Suape, saindo do interior do Piauí. Projeto da década de 1970, Suape surge nos anos 1980 mas tem um grande desenvolvimento nos anos 2000, com a construção da Ferrovia Transnordestina e da Refinaria Abreu e Lima. A Refinaria Abreu e Lima, em construção pela Petrobrás, será a maior refinaria do país e vai tratar o petróleo bruto da região do Pré-Sal no Sudeste brasileiro. O investimento previsto é de R$ 25 bilhões. Durante a construção da Refinaria Abreu e Lima são empregados até cerca de 40 mil funcionários. Existe um Plano Diretor de Suape, que prevê os impactos do complexo em 8 municípios da Região Metropolitana de Recife, apesar dele estar compreendido nos municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho. Cabo de Santo Agostinho cresceu segundo uma taxa de 21% e Ipojuca de 36% entre os anos de 2000 e 2010. Atualmente, os acessos a Suape são rodoviários e precários. As taxas de crescimento do PIB das duas cidades onde o complexo se encontra sofreram forte crescimento a partir dos anos 2000.
Marabá/PA
Marabá é a quarta maior cidade do estado do Pará, com 233 mil habitantes. Entre os anos de 2000 e 2010, a cidade obteve um crescimento 39% em sua população. O PIB de Marabá apresentou um crescimento muito forte nos últimos anos – de cerca de 244%. O mercado imobiliário da cidade foi aquecido por conta do anúncio da chegada da Alpa – Aços Laminados do Pará, que gerou especulação e novos bairros, ainda vazios. Até hoje a siderúrgica não começou sua instalação na cidade, que pode ser cancelada. É o maior município da região do Sul do Pará e comemora de 100 anos de idade neste ano. Entre 2000 e 2010 obteve um aumento de 39% em sua população. Conhecida tradicionalmente por ter uma economia ligada a siderurgia, a maioria delas fechou as portas nos últimos anos. O minério retirado da região é exportado em sua maioria ainda bruto. Com um mercado de carros muito aquecido, Marabá emplacou 2.389 veículos entre 2005 e 2010, um aumento de cerca de 170% em sua frota.
Parauapebas/PA
Parauapebas tem 25 anos existência. É a cidade onde está a Mina de Ferro de Carajás, a maior província mineral do mundo. O minério é extraído e levado pela Ferrovia dos Carajás até o porto de São Luís para exportação. O trem tem 332 vagões e 4 locomotivas e sai a cada uma hora carregado de minério. Além do transporte de carga, o trem faz seis viagens por semana para passageiros, geralmente lotado de migrantes em busca de emprego. Nos últimos dez anos, teve um crescimento de 115% em sua população, atingindo 153.908 pessoas em 2010. Possui um dos maiores crescimentos do PIB per capita do país, mas apresentou pouco crescimento na renda per capita. Na mesma região mineradora estão a cava da Serra Pelada, desativada como garimpo nos anos 1990, e a mina S11D, da Vale, que está em processo de instalação em Canaã dos Carajás. O emplacamento de veículos em Parauapebas cresceu 272% entre 2008 e 2012, indo de 891 para 3314 veículos.
Entre janeiro e julho de 2013, Parauapebas apresentou o maior saldo comercial de todos os municípios brasileiros, com U$ 5,1 bilhões. As exportações totalizaram de U$ 5,3 bilhões, ficando a frente de São Paulo (U$ 5,2 bilhões), Santos (U$ 3,9 bilhões) e Rio de Janeiro (U$ 3,4 bilhões).
Juazeiro do Norte/CE
Exposição na X Bienal de Arquitetura de São Paulo, no CCSP: