Conheça o trabalho do coletivo Garapa, contemplado pela Bolsa ZUM/IMS de 2014
Publicado em: 30 de setembro de 2015Postais para Charles Lynch, do coletivo de fotografia Garapa – um dos projetos contemplados pela segunda edição da Bolsa ZUM/IMS, em 2014 –, foi inspirado em postais que circularam no início do século 20 pelos Estados Unidos, disseminando as imagens de enforcamentos e linchamentos realizados por tribunais dos movimentos de supremacia racial branca. Charles Lynch, fazendeiro e político do estado da Virgínia, liderou uma milícia para punir criminosos e legalistas durante a Guerra de Independência Americana, nos anos 1770 e 1780. A instituição de uma corte não oficial, formada por Lynch e seus aliados para julgar e punir seus opositores, deu origem ao termo “Lynch Law” (Lei de Lynch) e, consequentemente, “lynching” (linchamento).
Por meses, o coletivo buscou os vídeos de linchamento publicados no Youtube – arquivos voláteis que, por violarem as condições de uso do site, saem da rede na mesma velocidade que entram. O material encontrado, baixado e catalogado foi armazenado em um disco LTO, uma mídia empregada para backup de dados, que oferece maior segurança de armazenamento, mas que não pode ser acessada facilmente, sendo ilegível para um computador comum. Desses vídeos foram extraídos frames e comentários de ódio, que, inseridos nos códigos das imagens, geram um glitch, uma interferência em sua estética e inteligibilidade.
Postais para Charles Lynch tomou a forma de um livro de artista que, em suas páginas, alterna os frames interferidos por comentários de ódio e trechos dos códigos das imagens onde estes comentários foram inseridos. Também compõem o livro a transcrição do áudio de um dos linchamentos e o disco LTO, onde está armazenada a coletânea de vídeos baixados, além da catalogação destes vídeos.
Veja o fac-símile do livro:
Veja o making of:
[vimeo width=”620″ height=”350″]https://vimeo.com/140832075[/vimeo]Garapa (São Paulo/SP – 2008) é um coletivo de fotografia formado pelos jornalistas e artistas visuais Leo Caobelli (Pelotas/RS – 1980), Paulo Fehlauer (Mal. Candido Rondon/PR – 1982) e Rodrigo Marcondes (São Paulo/SP) – 1979. Os trabalhos do Garapa lançam mão de múltiplos formatos e linguagens para produzir narrativas visuais e pensar a imagem e a linguagem documental como campos híbridos de atuação.
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