“Partha Sarker, 38”: coletivo Trëma e as memórias de imigrantes no Brasil
Publicado em: 16 de dezembro de 2015Vencedor da Bolsa de Fotografia ZUM/IMS 2015, o projeto Memento, do coletivo Trëma, irá reconstituir as memórias de imigrantes que chegaram ao Brasil nos últimos anos, com fotografias feitas aqui e nos seus países de origem. Em sua pesquisa, o coletivo tem encontrado pessoas e histórias impressionantes, mas nem todas farão parte do material final. No site da ZUM, registrarão algumas dessas figuras ao longo do processo de trabalho. O texto abaixo é do escritor Tomás Chiaverini, colaborador do Trëma no projeto.
Partha Sarker, 38
Partha Sarker nasceu na cidade de Rangpur, em Bangladesh. De família hindu em um país muçulmano, cresceu isolado e focado nos estudos. Na adolescência, quando a descoberta da homossexualidade o tornava ainda mais recluso, professores passaram a pedir que ele analisasse dados e documentos que nada tinham a ver com a vida acadêmica. Tratava-se, segundo Partha, do primeiro passo em um processo de recrutamento do serviço secreto bengali. Nos anos seguintes, paralelamente aos estudos de engenharia naval, diz ter atuado como espião, executando sobretudo tarefas burocráticas e de análise de dados.
Aos vinte e um anos percebeu a perversidade da função, intimamente ligada à perseguição de não muçulmanos. Tentou se desvincular do governo várias vezes, foi perseguido e preso por ser homossexual. Candidatou-se a diversas bolsas de estudo até finalmente conseguir emigrar para o Canadá. Dali viajou para a Austrália, onde diz ter ficado rico como executivo de vendas para depois perder tudo. Morou na rua por três anos até finalmente se refugiar no Brasil. Hoje vive na periferia de São Paulo, dá aulas particulares de inglês e gosta de marcar conversas no Starbucks da alameda Santos.
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