Diário de viagem #1: Um campo de futebol no bairro Granizal, Medellín, Colômbia
Publicado em: 2 de fevereiro de 2016O coletivo Trëma esteve na Colômbia com o intuito de registrar lembranças de um recém-imigrado para o Brasil. O trabalho faz parte do projeto Memento, vencedor da Bolsa de Fotografia ZUM/IMS de 2015, e foi realizado em várias cidades do estado de Antioquia, no noroeste do país. O texto abaixo é de Tomás Chiaverini, colaborador do Trëma neste projeto.
O bairro Granizal, em Medellín, fica numa encosta do vale de Aburrá, na cordilheira central dos Andes. É formado sobretudo por pequenos sobrados, erguidos uns sobre os outros, amontoados num caos de Lego sem manual de instrução. Os deslocamentos por ali ocorrem em ladeiras de cimento íngremes que fazem os visitantes hesitar antes de enfrentá-las, a pé ou de carro. Ruelas que vivem tomadas por motocicletas pilotadas por adolescentes; microônibus de suspensão torta, pintura customizada e motoristas dotados daquele discreto instinto suicida. Trabalhadores voltando para casa, crianças brincando na rua, vendedores ambulantes, e um pitbull passeando sem coleira com seu dono.
Ali, a cada quadra, em cada esquina, de cada sacada esculpida em blocos de barro sem revestimento, surgem vislumbres da região central da cidade, que parece se encolher lá embaixo. A partir desses vários mirantes involuntários é possível avistar o outro extremo da cadeia de montanhas que cerca Medellín. E mesmo a essa distância incalculável, fica claro que do outro lado do vale impera um ambiente de caos igual ao que nos cerca. Que o Granizal não é uma comunidade única, mas parte de um gigantesco cinturão de vida concentrada.
Na vertigem dessa vista, a impressão que se tem é de que o cerco da periferia de sobrados tortos está a apenas um passo de tomar de assalto o restante da cidade. De que, ao contrario de se expandir a partir do centro, ele avança imponentemente sobre ele.
Nossa primeira incursão pelo Granizal ocorreu no segundo dia de Colômbia. Fomos em busca da lembrança da vista de um campo de futebol, que figura como o epicentro da convivência social dos que vivem por ali. Chegamos no meio da tarde, dirigindo um Renault Logan alugado que regateava nas ladeiras e evidenciava nossa condição alienígena. Fomos recebidos por uma chuvarada que, quando passou, deixou o ar limpo e as ladeiras íngremes cobertas por uma fotogênica camada de brilho metálico.///
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