Parceria entre o Instituto Moreira Salles e o Arq.Futuro, o projeto Água escondida nasceu do desejo de apresentar uma reflexão sobre a água, tema central da edição de 2014 do fórum, sob um viés artístico, complementar às palestras e debates promovidos na ocasião. O fotógrafo Caio Reisewitz, cuja obra há longo tempo tem buscado representar a paisagem em fotografias e colagens que investigam a integração e o conflito entre natureza e desenvolvimento urbano, foi comissionado para o trabalho.
No conjunto das imagens realizadas, Reisewitz explora a relação entre a água e a cidade, fotografando centros urbanos, periferias, rios, nascentes e represas; registra tanto locais que negam e agridem suas fontes de água quanto aqueles que as incorporaram como espaço de conexão e convivência. O fotógrafo não se limita, porém, à paisagem ou à denúncia; antes, embaralha a percepção: os prédios que formam o skyline de Belém, por exemplo, remetem à imagem de uma metrópole organizada, muito distante do estereótipo de uma cidade tropical debruçada sobre a Amazônia, ao passo que São Paulo pode surgir plácida, às vezes melancólica, sintetizada na imagem da palafita corroída construída sobre um braço de mar. O mesmo desafio ao esperado repete-se e acirra-se nas colagens, que confundem o olhar do observador por meio de fragmentos de imagens aparentemente disparatadas que ora se aproximam, ora se entrechocam, com resultados que podem beirar o surreal – combinando fotografias novas e do arquivo do fotógrafo, bem como imagens anônimas.
Assim, vemos os múltiplos lugares ocupados pela água na geografia urbana. A água, aqui, não é só natureza, mas um elemento da cultura. Fotos e colagens expõem o centro e as bordas da cidade, explorando a região fronteiriça entre o espaço natural e o construído, em que casas avançam sobre rios, mananciais e áreas de suposta preservação ambiental. O fluxo da água na natureza contrapõe-se ao da água canalizada e da cidade em permanente movimento. Nas imagens, a água e a arquitetura, o mundo rural e o urbano se superpõem numa sequência de mananciais, galerias subterrâneas, barrancos, avenidas, córregos, represas.
O livro resultante, organizado por Thyago Nogueira, foi publicado pela BEI, e conta com um ensaio do antropólogo e poeta Antonio Risério e projeto gráfico de Elisa von Randow.///
Caio Reisewitz (1967) é artista. Vive e trabalha em São Paulo. Publicou também Parece verdade (Cosac Naify, 2010).
Leia a matéria sobre o trabalho “Transposição”, de Caio Reisewitz, publicada na ZUM #3, com texto de Natália Brizuela.