Sumário 03

Publicado em: 3 de agosto de 2013

RAROS FOTÓGRAFOS são capazes de construir uma obra visual sólida e ao mesmo tempo enunciar os motivos que os levaram a tal construção. Do embate com a paisagem americana dos anos 70, o fotógrafo e professor Stephen Shore tira uma conclusão saborosa: a forma não é calda artística que se derrama sobre o conteúdo; para que ela tenha sentido, é preciso extraí-la da própria experiência.

No cardápio desta edição, vários fotógrafos se dedicam à paisagem como forma de compreender o mundo. Seja ela construída com tesoura e fita adesiva sobre lâminas de vidro, como as Sobras pouco conhecidas realizadas por Geraldo de Barros nos três últimos anos de vida. Seja feita de um clique elaborado, como os tirados pelo italiano Luigi Ghirri. Pouco estudado no Brasil, Ghirri desdobrou seu gênio em fotos e escritos, e uniu o talento de um olhar iluminado ao faro para os assuntos mais prosaicos. Na volta de uma viagem pelo rio São Francisco, Caio Reisewitz traz na mala suas cenas do sertão monumentais.

Criado no fotojornalismo de Joanesburgo, Santu Mofokeng discute a representação dos negros e põe em xeque a ideia de documentário social. A propriedade da terra, a marginalização econômica e a espiritualidade são alguns dos grãos políticos que informam seu trabalho mais recente. Enviado a Brasília para escabichar o Arquivo Nacional, o repórter Plinio Fraga faz um garimpo surpreendente: das 15 mil fotos recém-liberadas para consulta, pelo menos três provam que crianças foram enviadas ao exílio e fichadas pela ditadura. Dorrit Harazim narra a vida de um professor americano que mudou a história ao cruzar com duas fotografias: de um linchamento em Indiana, Abel Meeropol ergueu uma canção; dos órfãos de um casal de espiões, o poeta-compositor construiu sua família.

Há dez anos, o paraense Guy Veloso corre o país atrás dos penitentes. As tiras de filme que aparecem nesta edição mostram como o fotógrafo aborda os retratados e constrói sua narrativa. Uma trágica melodia também ecoa de outros dois ensaios da revista. Com uma obra extensa e uma carreira breve, Francesca Woodman transformou a câmera em sua melhor amiga. A fim de discutir a história de seu país, o libanês Walid Raad construiu ficções de guerra usando bombas que pareciam ter ficado para trás.

Em 1931, August Sander foi ao rádio para saudar o poder de comunicação da fotografia. Uma década depois, em plena guerra, o fotógrafo alemão seria perseguido e um lote de seu arquivo, destruído. Em homenagem a um dos maiores retratistas do século 20, ZUM publica em tradução inédita uma palestra crucial para entender o trabalho que Sander desenvolvia.