Antologia apresenta 130 fotolivros latino-americanos contemporâneos selecionados por especialistas
Publicado em: 7 de agosto de 2017Sediada em Nova York, a organização 10×10 Photobooks lançou recentemente a terceira antologia da sua série de “livro-sobre-livros”. Dedicado a edições latino-americanas, o livro CLAP! 10×10 Fotolivros latino-americanos contemporâneos apresenta 130 fotolivros publicados entre 2000 e 2016. Para esta edição, 12 especialistas em fotolivros latino-americanos foram convidados a selecionar os títulos mais relevantes, e o chileno Luis Weinstein e o brasileiro Joaquim Marçal escreveram ensaios sobre o tema.
Assim como em 10×10 Fotolivros americanos e 10×10 Fotolivros japoneses, o principal objetivo dos responsáveis pela iniciativa é oferecer um panorama para que um público maior conheça obras importantes fora dos países onde foram editadas.
Leia abaixo entrevista que ZUM fez com o time da 10×10 Photobooks, composto por Michael Lang, Olga Yatskevich, Russet Lederman e Matthew Carson, e o venezuelano Ricardo Báez, designer convidado especialmente para o projeto.
Por que vocês decidiram publicar um livro sobre fotolivros latino-americanos contemporâneos logo depois das edições sobre fotolivros japoneses e norte-americanos?
Os fotolivros latino-americanos já estavam no nosso radar faz um tempo. E a pesquisa por material histórico só aumentou nosso interesse pela cultura do fotolivro no continente. A região tem uma comunidade vibrante em torno dos fotolivros, com um número cada vez maior de editoras independentes experimentando com o formato. No entanto, apenas um número limitado dessas publicações é visto fora da América Latina. Uma das missões do 10×10 é alavancar a comunidade global de fotolivros, e achamos que este era o momento certo para olhar mais de perto a cena latino-americana e para compartilharmos essa percepção com o maior número possível de pessoas.
Vocês perceberam algo específico sobre a produção latino-americana de fotolivros durante a pesquisa e execução do CLAP! 10×10? Como a produção contemporânea da América Latina se compara a de outras regiões e países?
Generalizar é sempre um pouco traiçoeiro. A América Latina é uma região com culturas e línguas muito diferentes. Dentro de cada uma delas, até podemos encontrar alguma semelhança visual e conceitual relacionadas ao design, à qualidade gráfica, à política e à cultura, mas também há muitas exceções. Esta antologia resolveu abraçar tanto as semelhanças como as diferenças entre os fotolivros latino-americanos.
Mas se formos discutir as diferenças em relação ao resto do mundo, podemos apontar a proporção entre livros publicados por “grandes” editoras versus livros independentes e autopublicações. Apesar de que, com a atual situação econômica mundial, também podemos encontrar essa proporção entre os fotolivros contemporâneos publicados nos Estados Unidos, Japão e Europa.
Concluindo, temos que dizer que a cultura de fotolivros latino-americanos, mesmo com grandes desafios a enfrentar (como falta de uma rede mais forte de vendas, distribuição, galerias e colecionadores), apresenta é tão diversificada e criativa, como a de qualquer lugar do mundo. Olhando de fora, o maior obstáculo parece ser que a rede de distribuição abastece o mercado interno, o que dificulta o acesso a estas publicações por parte de colecionadores e entusiastas de fora do continente. Esta é uma das principais razões para lançarmos este projeto: muitas pessoas estão perdendo vários livros ótimos.
Os critérios adotados para a CLAP! foram os mesmos das edições sobre fotolivros japoneses e norte-americanos? Se não, o que fizeram de diferente?
De uma maneira geral, os critérios têm se mantido os mesmos para os três títulos da série 10×10: pedir a especialistas em fotolivros uma seleção dos que eles consideram os mais importantes. Definimos uma região e período para esta seleção e pedimos que sejam escolhidos títulos disponíveis no mercado por um preço razoável. A única mudança em nossa filosofia foi sermos um pouco mais flexíveis em relação aos números. Para as edições dos 10×10 dos fotolivros americanos e japoneses, pedimos a dez especialistas que escolhessem dez livros cada (10×10). Na edição japonesa, pedimos também para dez blogueiros de fotolivros que escolhessem dez livros (acho que deveríamos ter dado o nome de 20×10…). E para o CLAP! 10×10 fomos ainda mais livres em relação à matemática e simplesmente pedimos que doze especialistas (alguns em duplas) selecionassem entre nove e doze títulos, o que gerou um total de 130 livros selecionados (ou seja: 12×10.8333!).
Olhando os outros dois livros da série, dá para notar que o design gráfico é um elemento importante. CLAP! 10×10 lembra uma revista. Como chegaram a este projeto gráfico?
Para cada um dos livros da série 10×10 convidamos um designer diferente, que tivesse familiaridade com os fotolivros da região, para desenvolver o projeto gráfico. Nossa única exigência é que o livro fosse um objeto de design e um guia de referência para os fotolivros documentados nele. E essa não é uma tarefa fácil! Felizmente, nossos instintos estão afiados e trabalhamos com alguns designers fabulosos que também são colecionadores de fotolivros.
Ricardo Báez, designer escolhido para o projeto, continua a resposta:
Sim, definitivamente o design gráfico teve um papel muito importante na elaboração do livro CLAP!, assim como nos outros títulos da série 10×10. Se já acho muito ingênuo diminuir o papel do design gráfico na elaboração de um livro de fotografias ou de um fotolivro, imagina um livro que compila os dois tipos de edições. Acredito que no livro é onde o design e a fotografia se conectam melhor.
Diferente das séries anteriores (com as quais não me envolvi), este livro compreende quase que um continente todo, não apenas um país. Acredito que este tenha sido o conceito-chave, passando pela edição e seleção dos livros até chegar ao design editorial. Apesar de ser um território que tem muitas coisas em comum, para representá-lo se deve mostrar mais as diferenças do que as semelhanças. E este aspecto está presente em cada livro apresentado na antologia CLAP!.
O que motivou o projeto de CLAP! foi uma abordagem gráfica utópica de suas páginas: são 12 curadores, cada um vive longe do outro, não se conhecem entre si e estão olhando para a América Latina, inclusive não mais de dentro dela (boa parte dos colaboradores já não mora mais no continente). Surgiu a pergunta: como desenhar uma discussão sobre fotolivros latino-americanos?
A ideia que mais me seduziu foi a de inventar uma gigantesca mesa portátil onde todos os livros pudessem ser “desgrudados” cada vez que o leitor desejasse, uma espécie de sala de leitura portátil. Uma proposta muito coerente com a maneira como a 10×10 começa seus projetos: antes de editar qualquer publicação, eles fazem eventos pop-up para que as pessoas possam tocar nestes valiosos fotolivros.
Outra questão era como representar o território latino-americano sem cair nas tentações mais figurativas ou em clichês, como palmeiras e biquínis, recurso já muito utilizado e totalmente pejorativo. Revisando o material que seria publicado, também descobri que existem muitas linguagens expressivas (a fotografia, o design, os suportes gráficos e até mesmo os textos) falando ao mesmo tempo e, apesar de usarem um mesmo idioma (com exceção do Brasil), cada um fazia isso de uma maneira bastante particular. Veio daí a decisão de usar três fontes tipográficas diferentes, uma delas inclusive desenhada por um escritório especializado da Argentina (Pampa Type).
As linguagens tão expressivas da América Latina não são regulares e fixas, flutuam muito e nem sempre estão no seu lugar próprio, se desgrudam. Por isso a publicação não poderia ser estática, deveria ter movimento, mas, uma vez em ordem, precisava servir de referência para pesquisa.
O livro CLAP! (assim como outros que já fiz) foi concebido a partir de muitas ideias gráficas simultâneas. É uma maneira bem particular de trabalhar: existe uma ideia principal que predomina no projeto, mas também há outras ideias menores que acabam construindo uma imagem geral.
A decisão de usar um suporte mais econômico talvez tenha feito o objeto ficar parecido com uma revista ou com uma publicação periódica. Agora que comentou isso, achei coerente com o tema, já que uma das principais características dos fotolivros latino-americanos é a autopublicação. E isso tem tudo a ver com as primeiras revistas e fanzines fotográficos da região.
Gosto que essa imagem de revista tenha surgido, consciente ou inconscientemente, por não criar uma barreira estética tão forte entre um novo comprador e este objeto que deseja ser descoberto. Creio que nenhum dos envolvidos no projeto desejava um livro que provocasse medo a alguém que o visse em uma livraria. Inclusive as imagens na sobrecapa refletem perfeitamente essa ideia de livro que vem de fora, que viaja e não fica parado na mesa de centro de uma casa como um souvenir exótico.///
CLAP! 10×10 Contemporary Latin American Photobooks (2017)
Editora: 10×10 Photobooks
244 páginas
Tags: fotografia, fotolivros, fotolivros latino-americanos