Livros

Artista brasileira Sofia Borges vence o Prêmio de Primeiro Livro da editora Mack

Publicado em: 19 de maio de 2016
A exposição do trabalho de Sofia Borges na Feira de Fotografia de Londres.

A exposição do trabalho de Sofia Borges na Feira de Fotografia de Londres e o fotolivro O pântano.

A Mack, prestigiosa editora inglesa de livros de fotografia, anunciou hoje a brasileira Sofia Borges (Ribeirão Preto, 1984) como vencedora de seu Prêmio de Primeiro Livro com O pântano (The Swamp).

Concedido anualmente desde 2012, o prêmio é destinado a fotógrafos que não tenham tido livro publicado por uma editora. Não se trata de uma convocatória aberta; a cada ano, um grupo de indicadores recomenda projetos, e um ganhador é então escolhido e publicado pela Mack. Além disso, neste ano a vencedora expõe seu trabalho na Feira de Fotografia de Londres, onde ocorre o anúncio oficial.

“A realidade como lama tão densa quanto o ar”, lê-se na lombada de O pântano, e é dessa maneira que a série de fotografias emerge à vista: pesada e impenetrável. Cobrindo um período de sete anos de trabalho, as imagens registram as inúmeras visitas de Sofia Borges a museus de história natural, aquários, zoológicos e centros de pesquisa, em um processo que fez dos “dioramas de hábitat natural” seu tema.

Veja as primeiras páginas do livro:

Entremeando imagens com palavras e pequenas frases, o livro pode ser visto como uma narrativa, um ensaio ou mesmo um tratado de Sofia Borges sobre o tema em torno do qual sua própria obra se constrói: a ideia de imagem, suas origens e seus vestígios. Uma morsa jaz em uma Antártida de plástico, o olho de um pássaro fossilizado aponta para o espectador e o que este vê não é a coisa em si, mas a imagem, a imagem da imagem da imagem.

“Passei anos vagando por esse pântano, atrás de algo que eu enxergava cobrindo as imagens, em camadas. É o pântano da compreensão, da representação, da abstração. Estava olhando para as coisas, procurando suas evidências. Tentava entendê-las fisicamente, enquanto existência, porém elas estavam cobertas por uma substância escura, molhada, derretida. Uma forma insolúvel: imagens, que apresentavam pura e simplesmente a si mesmas”, escreve a artista, no texto final do livro. O pântano questiona também a noção de que as imagens podem ser “lidas”. Sofia insere uma perturbação nos processos da compreensão e do sentido, ao apresentar sequências de imagens aparentemente aleatórias em que formas mostruosas e superfícies crispadas desafiam os sentidos do leitor.

A ZUM #5 publicou um portfólio da artista com algumas das imagens que agora fazem parte do livro, acompanhado de um comentário do crítico de arte Felipe Scovino: “As fotos de Sofia Borges suspendem nossas certezas sobre o mundo”, diz o crítico. “São enigmáticas, pois não sabemos ao certo que lugar ou tempo é aquele. A dúvida não é apenas sobre o que a imagem representa, mas sobre a própria ideia de fotografia e arte. […] As obras transitam por um estado de fluidez e inconstância que é próprio do mundo. Nesse ponto, constroem uma relação contraditória entre espectador e imagem, porque é a partir do estranhamento que se revela uma empatia. A diferença, a dúvida e a instabilidade geradas pela obra se aproximam das incongruências e das adversidades com que temos de lidar diariamente.”

Conheça os vencedores do prêmio nos anos anteriores:

A coleção da senhora Merryman, da japonesa Miki Soejima (2012)

Entre a concha, do norte-americano Paul Salveson (2013)

FROWST, da polonesa Joanna Piotrowska (2014)

Fui ao pior bar do mundo esperando ser assassinado. Mas tudo que consegui foi ficar bêbado de novo, do irlandês Ciarán Óg Arnold (2015)

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"O pântano", de Sofia Borges (capa) © Sofia Borges, 2016, cortesia MACK

O pântano (The Swamp), de Sofia Borges
MACK
Vencedor do Prêmio de Primeiro Livro 2016

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