Sumário 20

Publicado em: 18 de maio de 2021

Chegar à vigésima edição impressa é um feito, mesmo que haja pouco a comemorar. Nesta ZUM #20, reunimos colaboradores que desafiam o status quo da imagem e nos fazem enxergar o que não víamos – seja ao transformar o universo pessoal no espelho dos dramas coletivos, seja ao encarar com ironia a condição de quem transita pelas bordas do capitalismo, seja ao enfrentar os arquivos sobre os quais a história assenta, mas a partir dos quais também pode ser reescrita.

Como muitos brasileiros, o jovem fotógrafo Allan Weber perdeu sua fonte de renda durante a pandemia. Para sustentar a família, deu entrada numa moto e inscreveu-se como entregador de aplicativo, partindo de sua casa, na Zona Norte do Rio. As cenas de seu dia a dia estampam a capa desta edição, revelando a beleza de um cotidiano urgente e muitas vezes invisível. É também como quem abre um diário íntimo que Carrie Mae Weems nos convida à mesa de sua cozinha, para partilhar suas inquietações. Publicada na íntegra, em tempos de isolamento, a série completa 30 anos cada vez mais atual. Com um dedo de prosa irresistível, Lita Cerqueira aperta os cliques da memória e dos afetos que marcaram sua vida. Em périplo noturno, o escritor turco Orhan Pamuk aventura-se na fotografia para esquadrinhar a paisagem urbana de Istambul em transformação.

Fotografia e literatura se unem ainda em conto inédito da escritora Ana Paula Maia, inspirado nas imagens criadas pela revista ToiletPaper, publicação dos artistas Maurizio Cattelan e Pierpaolo Ferrari. Transgressão visual e delírio também são os pilares do trabalho dos coletivos trans e não binários Limitrofe Television, Analcancer2009 e Bouquet International. Seu calendário pop, que abre esta edição (transformado em pôster para os assinantes), nos ajuda a enfrentar o tempo perdido. Diante de tantas imagens, qual é o papel dos arquivos? Ao resgatar as histórias de fotos antigas, os Paiter Suruí preparam as flechas do porvir. Denilson Baniwa confronta a iconografia clássica de Theodor Koch-Grünberg com ícones do cinema mundial, e assim balança a fronteira que divide nossas ciências da pura ficção científica. Diante da própria tradição, o arquiteto Paulo Tavares contesta a noção de progresso embutida na moderna fotografia brasileira e mostra como ela pode servir para combater o apagamento indígena que ajudou a celebrar. Seguimos alertas, em tempos difíceis.