Sumário 19

Publicado em: 8 de dezembro de 2020

Investigar o passado é dar futuro ao presente. A artista Rosana Paulino abre esta edição com obra inédita (transformada em pôster para os assinantes), em que investiga as raízes violentas da história brasileira – nossa verdadeira natureza, que a arte e a sociedade teimam em esconder. Cada vez mais visíveis, os artistas indígenas indicados pela curadora Naine Terena rompem fronteiras para reescrever a história da arte e do país sob novas perspectivas. Os nus do chinês Ren Hang ou os arquivos fotográficos resgatados pela artista Carmen Winant sugerem que o corpo pode ser um território livre, aberto à autoexploração. A liberdade também banha o trabalho de Davi de Jesus do Nascimento, que usa autorretratos e o acervo fotográfico de sua família para construir sua identidade e genealogia. Em extremo oposto, os rostos e os corpos das performances de Ana Mendieta ou dos cartazes fotografados por Teresa Margolles nos encaram para lembrar que a violência de gênero não é apenas estatística.

Nosso corpo avança pelo século 21 vigiado por imagens, como demonstra Julian Stallabrass em ensaio sobre arte e política ou os registros de imigrantes em busca de um futuro realizados pelo artista Richard Mosse. Os pesquisadores Kênia Freitas e José Messias destrincham a epopeia afrofuturista de Beyoncé para celebrar a potência criativa e investigar sua ambiguidade narrativa. Cada passo em direção ao futuro nos aproxima do passado. Afinal, o que é e para que serve a fotografia? Em seu tempo e a seu modo, Man Ray e Roland Barthes buscaram uma resposta; em textos que se tornaram clássicos, encontraram mais perguntas e a certeza de uma essência variada e irredutível.