Sumário 07

Publicado em: 5 de novembro de 2014

A HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA é uma história de lacunas. Para cada nome consagrado, outros tantos ainda precisam ser descobertos ou reconhecidos. É o caso de Assis Horta, garimpado nas jazidas fotográficas de Diamantina. O apuro do trabalho, a amplitude da produção e o fato de suas fotos terem sido preservadas por décadas já garantem ao mineiro de 96 anos posto de honra nas enciclopédias de fotografia e de história social brasileiras.

Nos últimos 100 anos, a fotografia de guerra debateu-se com a manipulação das imagens, ajudando a definir critérios que até hoje rendem discussões acaloradas. Em artigo encomendado por ocasião do centenário da Primeira Guerra Mundial, a historiadora Hilary Roberts mostra como a ideia de verdade fotográfica moldou-se durante o conflito, no embate entre os princípios éticos do jornalismo, os avanços da técnica e a cobrança dos que se arriscavam no front.

Na edição passada da ZUM, Fred Ritchin, professor de fotografia da Universidade de Nova York, criticava a visão tradicional do fotojornalismo e convocava fotógrafos e editores a explorar novos caminhos. O projeto Offside, organizado pela agência Magnum durante a Copa do Mundo, é um passo nessa trilha. Em junho e julho deste ano, enquanto espectadores e jornalistas concentravam-se nos gramados, oito fotógrafos e dois coletivos se uniram para narrar uma história paralela ao evento. De haicais urbanos à teatralidade cotidiana, passando por tipos sociais e religiosos, os fotógrafos definiram suas pautas e circularam pelo país para produzir o material que compõe o especial desta edição.

Poucos fotógrafos abraçaram o espírito on the road como o mestre japonês Daido Moriyama. Conhecido por técnicas pouco ortodoxas, como disparar a câmera sem olhar pelo visor ou editar livros com máquinas de xerox, Daido compara a aventura de cair na estrada à experiência de ler dezenas de livros, numa das mais belas reflexões de sua carreira.

Há quase 30 anos, o filósofo Vilém Flusser sugeria que a fotografia eletromagnetizada seria a ponta de lança de uma revolução cultural. Livre do suporte, a imagem circularia amplamente e abriria caminho para o pleno funcionamento da democracia. Utópico e premonitório, Flusser não imaginava o rumo que tomaria a nossa vida digital, mas defendia uma análise crítica das imagens como ferramenta preciosa para entender o que se passa ao nosso redor. É essa visão que baliza a ZUM e que está no cerne do ensaio de Mauricio Lissovsky, ao mostrar como a foto de capa de um livro pode refletir uma transformação social de consequências dramáticas e profundas.