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O crítico de arte Tiago Mesquita destaca sete obras fotográficas na SP Arte 2018

Tiago Mesquita Publicado em: 12 de abril de 2018

Começa hoje no prédio da Bienal, no parque do Ibirapuera, a 18ª edição da SP Arte – Festival Internacional de Arte de São Paulo, um dos principais eventos voltados ao mercado da arte na América Latina. ZUM convidou Tiago Mesquita, crítico e historiador da arte, para destacar alguns artistas que utilizam a fotografia como forma de expressão.

 

Christian Boltanski, Monumentos, 1987. 3 fotografias em preto e branco emolduradas, 30 fotografias em cores emolduradas, lâmpadas e fio elétrico. Galeria Marian Goodman.

Christian Boltanski realiza esta série nomeada Monumentos há algum tempo. Os trabalhos utilizam fotografias vernaculares retiradas de diversos arquivos e dispostas em painéis que lembram altares religiosos, com lâmpadas que fazem às vezes do dourado bizantino. As fotografias são retratos e imagens coloridas de superfícies decorativas. Boltanski é um artista interessado na memória e no esquecimento histórico.

 

Wolfgang Tillmans, Cushion, 2017. 138,1 x 206,7 cm. Galeria David Zwirner.

A galeria David Zwirner apresenta várias fotografias de Wolfgang Tillmans. Algumas são montadas em molduras tradicionais, outras impressas em papéis soltos. Cushion é uma natureza-morta feita com tomates em diferentes estágios de maturação. O trabalho lembra diversas composições da tradição artística. Lida com a disposição de objetos inanimados no espaço e da passagem do tempo. No entanto, a apresentação nos faz lembrar a fotografia ordinária, da publicidade e da vida cotidiana.  A idealização da fotografia e das convenções da arte parecem minguar, envelhecidas nessa imagem.

 

Bárbara Wagner, Mestres de cerimônia, 2016. 80 x 120 cm. Amparo 60 Galeria de Arte.

A figuração de Bárbara Wagner é a que talvez tenha levado mais a sério um imaginário pop no Brasil. Ela não parte de convenções da história da arte, mas utiliza os modos de composição da música pop, presentes nos videoclipes e fotografias de divulgação dos músicos de funk e de brega. Faz esses trabalhos em colaboração com os artistas e as produtoras, recriando, assim, um sistema de idolatria do capitalismo avançado. Nelas a promessa fugaz de felicidade parece se avizinhar à ideia de fama.

 

Marcellvs L., 9493, 2011. vídeo, 11 minutos e 16 segundos. Galeria Luisa Strina.

Filmado na Islândia, o vídeo de Marcellvs L. registra um garoto absorto em um jogo eletrônico enquanto uma tempestade acontece do lado de fora da barraca. Não vemos nada do que se passa fora da tenda. A imagem é emoldurada pela lona sacudida enquanto escutamos os ruídos do vento atravessando o tecido. O trabalho de um dos melhores artistas brasileiros ressalta a diferença de percepção do menino e do espectador diante da catástrofe. Além disso, confronta e aproxima as formas de fabulação do jogo e do vídeo.

 

Mauro Restiffe, Mirante #6, 2004. 137 x 204 cm. Galeria Fortes D’Aloia & Gabriel.

A fotografia de Mauro Restiffe registra uma cena doméstica. Em uma perspectiva na diagonal, duas mulheres e duas crianças seguem um caminho sinuoso em direção à mata. A foto, carregada de elementos simbólicos, faz lembrar a iconografia de imagens do êxodo e do exílio. Não há nada tão trágico aqui: é a vida familiar, sem pompa e sem grandeza. A imagem corriqueira carrega tanta memória iconográfica que parecemos diante de um acontecimento histórico.

 

Lucia Koch, Comida de gato, 2017. 233 x 112.4 cm. Galeria Nara Roesler

Lucia Koch constrói ambientes. Faz trabalhos em que interfere na luz natural das salas e cria diferenças cromáticas perceptíveis para que nos relacionemos com o lugar de outra maneira. Nesta fotografia, simula uma arquitetura moderna a partir de uma caixa de papelão. O trabalho, chamado Comida de gato, cria uma janela, parapeito, grade e um modo de implementação do que seria um prédio com a inserção da caixa no espaço. A fotografia simula uma relação ambígua com a escala do objeto e da imagem.

 

Otto Stupakoff, Águas termais, 1976. 40 x 60 cm. Galeria Mario Cohen.

Esta fotografia de Otto Stupakoff foi feita na Alemanha, na cidade de Baden-Baden, em 1976. A imagem retoma um dos temas clássicos da pintura do século 19: as banhistas. Tema que aparece na obra de Delacroix e de Cézanne, sempre se refere a um grau de captura da sensualidade privada diante dos cuidados do corpo. Aqui, Stupakoff registra duas mulheres a uma distância curta uma da outra, de costas, uma prestes a entrar no banho e outra a ligar o chuveiro. Ambas se entregam aos prazeres dos cuidados com o corpo. A umidade aparece não só na figura da piscina, mas também no grão da imagem.///

 

Mais informações sobre a SP Arte aqui.

 

Tiago Mesquita é crítico e historiador da arte. Doutor em Filosofia pela FFLCH-USP, é autor de livros como Resistência da matériaRodrigo Andrade e Paulo Monteiro: no interior da distância.

 

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