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Os diálogos entre os corpos e as ruas da carioca Marina Zabenzi

Publicado em: 22 de fevereiro de 2022

 

Foto de Marina Zabenzi

A carioca Marina Zabenzi começou a fotografar muito cedo: antes mesmo de qualquer formação acadêmica, aos 17 anos já estava registrando os bastidores dos desfiles dos grandes eventos de moda. Com cerca de 13 anos, Marina já criava algumas histórias e chamava suas amigas do colégio para fotografar. “A fotografia para mim também é muito sobre relação social: as pessoas têm que ver, se ver. Essa circulação massiva, sem tempo e espaço, fez parte do meu trabalho, da forma como me conectei com a arte, de como estudei arte e de como eu aprendi que meu olho funciona”, comenta a fotógrafa.

Em 2021, Marina lançou o fotolivro Entre, uma seleção de dípticos fotográficos registrados no seu cotidiano, “fotos feitas no meu deslocamento, nos bares, nas brechas que davam. Havia achado um aplicativo no celular que eu conseguia unir duas fotos, e assim fui indo. Até hoje faço isso, como um bloco de notas. Criei um arquivo imenso de fotos, de duplas”.

 

Díptico do livro Entre, por Marina Zabenzi, 2021

Como você começou a fotografar? O que despertou o seu interesse pela fotografia?

Marina Zabenzi: Sempre fui muito viciada em novela e, conforme crescia, fui me apaixonando também pelo cinema. Com uns 13 anos comecei a assistir compulsivamente entrevistas de diretores, sobre seus processos de criação. Como toda criança, achava que era simples e mágico: ter uma ideia e executá-la. Comecei a escrever minhas ideias, que eram sempre ligadas a um assunto curto e específico, e muitas vezes partia de informações que escutava de conversas. Então chamava minhas amigas do colégio para fotografar.

Tinha uma certa vontade de controlar o assunto, mas acabou que como eu não sabia nada, fui aprendendo e me apaixonando pela fotografia no ato. Comecei fotografando com webcam, depois com meu celular e depois com uma câmera digital.

Hoje eu sei que o que sempre me impressionou foi a capacidade imersiva que certos trabalhos tinham, que a novela tem. A simplicidade de capturar pessoas com coisas que elas já veem e escutam, só que colocadas de outra maneira.

 

Seu fotolivro Entre, lançado no início do ano passado, é todo feito de fotos montadas em dípticos. Como surgiu a ideia para esse projeto? E como foi a experiência de produzir um fotolivro?

MZ: Comecei a fazer as duplas em 2015, na época estava no ensino médio e trabalhando com fotografia de eventos e backstage de desfiles de moda. Por falta de tempo para fotografar meus projetos, tirava essas fotos no meu deslocamento, nos bares, nas brechas que davam. Havia achado um aplicativo no celular que eu conseguia unir duas fotos, e assim fui indo. Até hoje faço isso, como um bloco de notas. Criei um arquivo imenso de fotos, de duplas.

Eu ia postando essas duplas no Instagram, dividindo com amigos. Foi como começou a fazer sentido para mim. Comecei a entender meu trabalho e também a criar uma rede de troca com as pessoas que eu fotografava na rua ou que queriam conversar sobre o meu trabalho. Acabei me inventando ali, na internet.

O fotolivro veio de uma vontade de dar alguma forma a essa compulsão pelas fotos em dupla, queria de alguma maneira fechar esse capítulo. Em 2019, conversando sobre esse desejo com meu amigo Santiago Perlingeiro, ele me veio com essa proposta de encerrar os dípticos no papel, onde eles nunca estiveram.

Ele me levou para encontrar o Daniel Rocha, designer do livro, e aí começamos a imprimir pequenininho as fotografias, entender junções para o livro, foi um delírio. Ver o processo de quatro anos ali, fisicamente, poder agrupar e criar narrativas me fez entender minha pesquisa.

Percebi que a vontade de imersão na imagem não me vem necessariamente de um diálogo de palavras ou conexões complementares entre cor e forma. É o sentido, em silêncio, de uma fotografia, que pressiona o sentido, também quieto, da outra. Essa tensão se tornou o Entre.

 

Você agora está trabalhando mais próximo do mundo da música, fazendo retratos de artistas jovens, capas de discos e dirigindo videoclipes. Como você chegou nesse universo?

MZ: Eu fotografei por um tempo o CEP 20.000 no Rio de Janeiro, que é um centro de experimentação poética, e reunia uma geração de poetas, performers e músicos. Lá conheci a Ana Frango Elétrico, Raquel Dimantas, Juliana Thiré, Mulheres de Buço, Joca, Slam das Minas, entre outras. E acabava por tirar fotos delas fora do evento também, em shows, para capa de álbum, foto de lambe. Assim fui me conectando cada vez mais com esses ambientes.

Meu primeiro videoclipe foi Gosto de quero mais, do Hiran com o Tom Veloso, e foi um trabalho de muita amizade. Fiz junto com meu amigo, também fotógrafo, Lucas Nogueira. Nesse processo, a música incidindo a imagem, trouxe outra percepção de imersão. Quem guia o olho é a música. Isso me fez querer azedar os graves, adocicar os agudos. Mostras os detalhes descentralizados, como o peito do Hiran que fica na borda da tela, puxando a cena pelo fio. Ou seus dedos que vão para frente do plano, te puxando para dentro.

 

Vivemos hoje um momento em que a circulação e consumo de imagens é massiva, sem precedentes na história. Isso tem algum efeito na maneira como você produz suas imagens?

MZ: Eu comecei a fotografar dentro dessa estrutura digital. A fotografia para mim também é muito sobre relação social: as pessoas têm que ver, se ver. Essa circulação massiva, sem tempo e espaço, fez parte do meu trabalho, da forma como me conectei com a arte, de como estudei arte e de como eu aprendi que meu olho funciona. Então, com certeza isso influenciou na minha produção até agora.

Hoje em dia estou em outro capítulo. O projeto de dípticos teve um desfecho no livro e com isso o celular como possibilidade de rapidez. Tenho começado a entrar em outros tempos, é limitado o quanto conseguimos ficar trabalhando de forma instantânea. O importante para mim é não perder a proximidade nem a agilidade de capturar os detalhes e fazer os símbolos darem cambalhota.

 

Foto de Marina Zabenzi

Quais fotógrafos ou artistas considera uma referência?

MZ: Penso muito que referência é como um norte, que guia caminho. São referência para mim quem caminha comigo e me dá fôlego para seguir em frente: Sabine Passarelli, Joana Castro, Allan Weber, Anis Yaguar, Sumé Yina, Julliana Araujo, Camila Svenson, Natasha Ribas, Zé Tepedino, Bárbara Tavares, Lucas Affonso, Sofia Badim, Tayna Inê Uraz e Maria Isabel Iorio, com quem mais confidencio meus projetos.

 

Você está trabalhando em algum novo projeto?

MZ: Sim, estou fotografando minha primeira história, que pode ser que vire um fotolivro. Trata-se de uma ficção/documental, sem dípticos, mas sempre botando para conversar partes do corpo com partes das ruas. ///

 

 

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