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Entrevista: Alessandra Sanguinetti e duas décadas de aventuras com Guille e Belinda

Publicado em: 24 de novembro de 2020

 

Alessandra Sanguinetti, do livro As aventuras de Guille e Belinda e a ilusão de um verão eterno, MACK, 2020. Cortesia da artista e MACK.

Alessandra Sanguinetti nasceu nos Estados Unidos, mas ainda criança mudou-se com a família para Buenos Aires e lá viveu até retornar, já adulta e fotógrafa. E foi na área rural próxima à capital argentina, que ela costumava visitar com os pais na infância, que Sanguinetti conheceu as meninas Guillermina e Belinda, quando fotografava algumas fazendas na região para um projeto chamado O sexto dia. Isso aconteceu em 1999. Na época, as garotas tinham 9 anos, e Alessandra 28.

Desde então, Sanguinetti tem fotografado regularmente Guille e Belinda e já publicou dois livros: As aventuras de Guille e Belinda e o enigmático significado de seus sonhos (The adventures of Guille and Belinda and the enigmatic meaning of their dreams), lançado em 2010; e As aventuras de Guille e Belinda e a ilusão de um verão eterno (The Adventures of Guille and Belinda and The Illusion of an Everlasting Summer), publicado recentemente. Além disso, Sanguinetti acaba de ganhar o prêmio do Sundance Institute para realizar um filme documentário sobre o projeto.

Conversamos com Sanguinetti sobre o novo livro da série As aventuras de Guille e Belinda e os desafios de um projeto de longo prazo como esse.

 

Em entrevistas, você já disse que conheceu Guille e Belinda no final dos anos 1990 em viagens que fazia à zona rural próxima a Buenos Aires para fotografar alguns animais em fazendas. Como se deu esse encontro e porque decidiu iniciar um projeto fotográfico com as duas meninas?

Alessandra Sanguinetti: Quando estava trabalhando em um projeto anterior, “No sexto dia”, passei muito tempo com Juana, a avó de Guille e Belinda. Foi na casa dela que conheci as meninas.

Fotografá-las aconteceu de forma orgânica, me sentia atraída por suas conversas e a maneira como brincavam. Não foi tanto uma decisão, mas uma ocorrência natural no relacionamento.

 

Ao vermos projetos fotográficos que acompanham pessoas ao longo de vários anos, sempre prestamos atenção nas mudanças ocorridas nas pessoas retratadas. Mas às vezes esquecemos que o fotógrafo também envelheceu, amadureceu, passou por experiências de vida e isso, inevitavelmente, aparece no trabalho. Como isso aconteceu com você em relação a este projeto?

AS: Exatamente. O tempo está passando para todos nós. Eu não sou uma simples observadora direta ou neutra, então tudo o que aconteceu comigo influenciou meu modo de me relacionar com elas, como me senti a respeito delas e como reagi às suas mudanças. Eu tinha 28 anos quando comecei a fotografá-las, e elas tinham 9. Agora eu tenho 51 e elas estão com 30. Nós três passamos por muitas mudanças.

 

O primeiro livro com Guille e Belinda foi publicado em 2010 (As aventuras de Guille e Belinda e o enigmático significado de seus sonhos). Uma década depois você está lançando o segundo (As aventuras de Guille e Belinda e a ilusão de um verão eterno). O que mudou no processo de edição deste novo livro?

AS:A ilusão …” termina em 2013 com a filha de Guillermina ainda bebê e ela tornando-se uma professora escolar. Os últimos sete anos também tiveram muitas mudanças, mas não tão dramáticas ou óbvias. Por isso, as fotos agora são principalmente sobre elas se acomodando na idade adulta, estando mais confortáveis com quem são e com o que suas vidas se tornaram. O terceiro livro cobrirá os últimos sete anos e mais alguns. E certamente será mais desafiador descrever essas mudanças internas visualmente.

 

Os títulos dos dois livros remetem a fábulas e clássicos da literatura juvenil. De alguma maneira essa aproximação entre literatura e fotografia lhe interessa? Acredita que pode ser uma maneira de “duvidar” do caráter documental da fotografia?

AS: A alusão à literatura e aos livros de capítulo é, obviamente, intencional. É sobre ver a vida como algo que você cria / escreve todos os dias com cada escolha que você faz. Nesse sentido, sempre pensei neles e as incentivei a se considerarem as estrelas de sua própria vida. Cabe a elas criar seu personagem e escolher como usarão as cartas que receberam.

 

Você consegue imaginar de alguma maneira como seria o terceiro livro da série?

 AS: Eu ainda não me sentei e pensei sobre isso. Mas tenho ideias vagas de incluir mais de seus filhos, da história da família e material de arquivo. Penso em deixar mais espaço para as pessoas em suas vidas, e talvez fazer com que participem da própria produção do livro com a escrita – mas, novamente, essas são todas ideias vagas que irão evoluir. ///

 

 

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