Revista ZUM 9

Sobre a fotografia

Ai Weiwei Publicado em: 12 de fevereiro de 2016

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Ai Weiwei usou a fotografia e a internet para expor a própria vida e desafiar a censura de seu país. Em julho de 2015, o artista recuperou o direito de viajar pelo mundo, depois de quatro anos proibido de deixar a China. A ZUM #9 publicou um ensaio do crítico Urs Stahel sobre o uso da fotografia por Weiwei e um pequeno ensaio de autoria do próprio artista sobre a fotografia, este disponível agora no site.

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Quando pensamos em sua história, percebemos que a ampla aceitação da fotografia como meio de expressão artística é algo que data de não mais que 20 anos. Antes disso, a fotografia era tratada como mero recurso técnico a serviço do registro da história.

Na evolução recente das artes fotográficas, vários de seus elementos – tais como assunto, cor, claro-escuro e narrativa da composição – têm revelado desenvolvimento paralelo ao dos métodos e das características da pintura ocidental. A fotografia ainda tem dificuldade para se libertar de seu reconhecimento habitual como mediadora, mas esse mal-entendido histórico origina-se de questões filosóficas muito mais antigas e duradouras. O que é a realidade? É possível registrá-la? Qual é a natureza da relação entre verdade e realidade?

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É claro que conclusões como essas tendem à interpretação da fotografia como mera ilusão, algo que não chega a refletir a realidade. Além disso, a existência material dessa ilusão se transforma em outro tipo de realidade irrefutável. Pouco importa se esse material se caracteriza por ser dinâmico ou estático, preto e branco ou colorido, grande ou pequeno, ou ainda se ele se realiza pela química ou pelo código binário – sempre que a fotografia é feita, ela se reveste de todas as características de um material independente, provando que, como objetos em si, as fotografias são idênticas aos objetos preexistentes. Embora elas pareçam ter se originado no processo de documentação do objeto que está sendo fotografado, a documentação real dessa chamada objetividade exerce maior atração e revela uma natureza dualista. É ainda mais infiel à realidade, pondo em questão nossas sensações fisiológicas e nossos meios fundamentais de expressão.

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A fotografia é um meio enganoso e perigoso; e o meio é método, é significância, um festim onipresente de esperança ou um fosso de impossível transposição. No fim, a fotografia não é capaz nem de registrar nem de expressar a realidade; ela rejeita a autenticidade da realidade que apresenta, tornando a realidade ainda mais remota e distante de nós. No Leste da Ásia, as pessoas tendem a uma outra atitude estética possível: elas raras vezes veem atividades artísticas como meios para se obter a compreensão, ou raramente demonstram interesse por esse assunto; em vez disso, percebem como essência última da arte ser o próprio processo para se chegar à compreensão e o meio de expressão dessa compreensão. Essa essência é precisamente nossa postura mental em relação ao mundo, e, quanto à realidade do mundo exterior, essa constitui ilusão ainda maior.

A realidade do universo é limitada e cruel; em comparação, a realidade dos seres humanos é psicológica e emocional, indeterminada, difícil de avaliar, idealista e autocentrada. Quanto a uma familiaridade com o eu, ter conhecimento de nossos próprios sentimentos e de nossa psicologia não é ainda mais espantoso e fascinante?///

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Escrito em 9 de fevereiro e postado em 11 de fevereiro de 2006 no blog do artista. Traduzido do inglês por Sergio Tellaroli.

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