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Obra do fotógrafo carioca Alair Gomes ganha exposição individual em São Paulo

Publicado em: 27 de julho de 2015

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 série Praça da República, 1969

Até 8 de outubro, a Caixa Cultural de São Paulo apresenta a exposição Alair Gomes: Percursos. O fotógrafo carioca, precursor da arte homoerótica no Brasil, retratou obsessivamente os garotos das praias do Rio nas décadas de 1960, 70 e 80. Começou sua prática de voyeur da janela de seu apartamento, na orla de Ipanema, de onde avistava em plongée seus modelos em trajes de banho desfilando pelas calçadas.

Ao longo de pouco mais de 20 anos de profissão, produziu cerca de 170 mil fotografias, hoje sob guarda da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Além das imagens, há um grande  número de textos no acervo: são mais de 2 mil documentos, entre reflexões sobre arte, cultura e fotografia, tratados filosóficos e diários íntimos. Arquivista do próprio trabalho, Alair catalogou de forma minuciosa sua produção, legando um campo precioso a artistas e pesquisadores.

Engenheiro civil e elétrico e professor, Alair Gomes (1921-1992) começou a fotografar aos 45 anos. Durante anos mostrou sua produção apenas a amigos, convidados a assistir projeções das fotos em sua casa – sob a condição de assinarem um termo, pelo qual se comprometiam a ver a sessão do começo ao fim. O fotógrafo só teve sua primeira individual pública em 1984, aos 63 anos, em uma galeria de arte no Rio. Seu efetivo reconhecimento veio apenas com a exposição individual na Fondation Cartier pour l’Art Contemporain, em 2001, ratificado em 2012 pelas quase 100 fotos expostas na 30ª Bienal de Arte de São Paulo.

Com curadoria de Eder Chiodetto, Alair Gomes: Percursos apresenta uma seleção de 293 ampliações a partir de seis séries do fotógrafo. Conheça-as:

Praça da República (1969), série publicada na ZUM #6, abre a exposição com 32 retratos dos jovens paulistanos que davam os primeiros passos na contracultura brasileira – pouco depois do decreto do AI-5 –, uma parcela da população que, como os artistas censurados ou os ativistas políticos, vivia uma invisibilidade “oficial” aos olhos da sociedade e do Estado.

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 série The Course of the Sun, 1977-80

The Course of the Sun (1977-80) apresenta 25 fotografias dos garotos que iam e vinham da praia, em composições que conjugam sombras mais e menos longas com os diferentes padrões geométricos do chão. A série faz parte de um conjunto maior, Finestra, que engloba A window in Rio, exposta na 30ª Bienal, e A não história de um chofer (1975), publicada na ZUM #6, todas feitas a partir do apartamento na orla em Ipanema, onde Alair morava.

 

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 série Sonatinas, Four Feet, 1969

Em Sonatinas, Four Feet, o fotógrafo desce à praia e registra os garotos se exercitando, dispondo as fotos em conjuntos de 6 a 21 imagens. Alair usa a repetição de elementos estáticos na fotografia – como a sombra de uma palmeira ou uma barra de exercícios – para evidenciar a dança dos corpos, isolados no quadro pela reflexão do sol na areia da praia, que torna descola-os do fundo quase integralmente branco. A série é apresentada junto de Beach Triptychs (1980), conjunto no qual retratos de banhistas e nadadores em competições são dispostos em trípticos.

 

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série A New Sentimental Journey, 1983

Na sala reservada do espaço expositivo, A New Sentimental Journey (1983)– diário textual-imagético da viagem do artista pela Europa, que revela seu apreço pela estatuária clássica greco-romana – é apresentada com Symphony of Erotic Icons (1966-1978) realizada ao longo dos anos no estúdio caseiro do fotógrafo.

Alair costumava mostrar aos garotos da praia seus retratos a partir da janela. Então, os convidava para seu estúdio, onde promovia sessões fotográficas mais íntimas, explorando diferentes ângulos e sombras de seus corpos nus. Em 1992, o fotógrafo foi assassinado, possivelmente por um de seus modelos, que permanece desconhecido.

 

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série Symphony of Erotic Icons, 1966-78

IMAGENS: Divulgação // Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro