Bolsa de fotografia

No instagram da ZUM, Bárbara Wagner fotografa a cena do Brega Funk em Recife

Publicado em: 1 de fevereiro de 2016

Por duas semanas, a fotógrafa Bárbara Wagner ocupou o Instagram da revista ZUM com imagens do processo de seu trabalho vencedor da Bolsa ZUM/IMS 2015, Mestres de cerimônias, que irá documentar a relação entre realidade e fantasia presente na vida dos jovens MCs dos movimentos de Brega Funk em Recife e Funk Ostentação em São Paulo.

Quando MCs, DJs e bailarinos saem dos bailes de periferia e ganham o mainstream através de videoclipes feitos exclusivamente para as redes sociais, uma forte e lucrativa cultura de fãs e seguidores online consolida uma dinâmica de apropriação de símbolos de status historicamente pertencentes às classes dominantes. Acompanhando a produção das principais gravadoras de videoclipes do gênero a fim de documentar os gestos e cenas que constroem a cultura do MC nas duas capitais brasileiras, Bárbara observa essa economia de desejos por visibilidade, consumo e celebridade nunca antes experimentada no país.

Reunimos aqui todas as fotografias postadas, juntamente com as respectivas legendas, frutos da pesquisa da fotógrafa em torno do universo do Brega Funk, no Recife.

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Hugo Felix Allyson, 26, durante gravação do clipe “Chocolate com pimenta” (130 mil acessos em dezembro de 2015). Conhecido há quase uma década como o MC Cego, Hugo trabalhava como vendedor de milho até se tornar um dos cantores de brega funk mais populares do Recife com o slogan “Nunca foi sorte, sempre foi Deus”. À frente da Tudo Nosso Produtora, agencia a própria carreira e a de outros cinco MCs, produzindo mais de 50 shows ao vivo por mês.

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Mical Domingos, 24, posa na fachada de uma academia de ginástica no bairro da Bomba do Hemetério, zona norte do Recife, durante gravação do clipe “Chocolate com pimenta”, de MC Cego. Dançando profissionalmente do jazz à swingueira desde 2010, Mical já participou de uma dezena de videoclipes e DVDs da cena brega da cidade, o que mais recentemente lhe garantiu a posição de bailarina e assistente de palco do programa de entretenimento de TV semanal Tás Aonde?, reproduzido localmente pela Rede Record.

Cleiton Silva, 26, conhecido como Elloco, durante sessão de fotos promocionais em janeiro de 2016. Ao lado de Robson Oliveira, 27, o Shevchenko, forma a dupla de MCs que mais se destaca na cena brega funk dentro do estilo por eles definido como “diferenciado”, com batidas aceleradas e composições de forte teor humorístico, incluindo gírias de suas comunidades. No início da carreira, Cleiton e Robson mantinham trabalhos informais como a venda de flores e vigilância de carros nas ruas para financiar a gravação e a distribuição de seus CDs. Donos de uma grife de roupas chamada 24 por 48 (expressão popular para o turno feito por trabalhadores de plantão), Shevchenko e Elloco ganharam visibilidade nacional ao cantarem o hit “Braba de milionário” no programa Esquenta, na Rede Globo, em 2013.

Cibele Tavares de Melo, 23, em participação no clipe “Patrão é patrão” (gravado pelos MCs Joãozinho, Leozinho e Kaio da Corea em janeiro de 2016). Enfrentando resistência do circuito local a investir em cantoras de brega funk, MC Bele largou um curso de engenharia mecânica pra se tornar, há menos de um ano, a primeira mulher a gravar músicas do gênero em Recife. Fã de Valesca Popozuda, prefere deixar a ostentação de lado para cantar letras em que “a mulher não está por baixo”. Quando não faz shows, vende roupas na loja da tia, especializada no estilo “paniquete”, enquanto seus seguidores (a maioria adolescentes) escutam “Festinha”, “Caras e bocas” e “Novinha bala” em canais do YouTube.

Veríssimo Castro de Oliveira, 50, dança numa laje na Ilha do Maruim, em Olinda, durante a gravação do videoclipe “Patrão é Patrão”, lançado pelos MCs Joãozinho da Patrão, Leozinho e Kaio da Corea em janeiro de 2016. Dividido entre o talento para a fabricação de joias e o desejo de cantar funk, há 15 anos ele se tornou o MC da Prata, responsável pelo single “O vício” e pelo design das correntes e pingentes que adornam os MCs, DJs e bailarinos da região metropolitana do Recife. Desde que abriu sua própria loja em Água Fria, confecciona suas peças em zinco de prata, mais acessível para a nova geração, que “ao invés de 1000, paga 200 reais por um cordão”. Dessa forma, diz, “a gente ajuda os que começam sem muita condição”.

Para Gleice Santos, 29, dançar em videoclipes de brega funk é uma forma de complementar sua renda mensal como recepcionista em eventos. Nessa área, diz, está mais perto do sonho de ser atriz, o que experimentou aos 19 numa escola de teatro em Escada, no litoral sul de Pernambuco, quando fez um personagem de “Eles não usam black-tie” (peça originalmente encenada no Teatro Arena, 1958). Nesta foto, na Ilha do Maruim, em Olinda, ela participa do clipe “Patrão é patrão”, gravado pelos MCs Joãozinho, Leozinho e Kaio da Corea em janeiro de 2016.

Kaio Alefe da Silva, 22, começou a cantar funk aos 15, quando animava bailes na comunidade da Corea, na zona oeste do Recife. Em 2009 conheceu o produtor musical Dany Bala e com ele gravou “Vou sim”, uma versão brega de “Vou não”, forró de Reginho de Paulista. De lá pra cá, o MC Kaio da Corea lavava roupas em um hospital até estourar com o hit “Caidinha”, em parceria com MC Vertinho (@mcvertinho), quando passou a fazer uma média de 3 shows por semana, com um cachê que varia entre 500 e 700 reais. Na foto, junto com Kelly Alves, 22, bailarina e promotora de vendas, Kaio grava o clipe de “Patrão é patrão”, música composta por ele, MC Joãozinho e MC Leozinho em janeiro de 2016.

Gleibson Roberto, 24, e Willian Jonathan, 24, cantavam funk proibidão até gravarem “Meu lanchinho” (2009) com uma banda de brega do Recife. A música lançou os MCs Afala e Case no tecno funk, estilo que adapta “palavras e contextos de um dicionário próprio da zona norte” ao romantismo melódico popular na região. Desde então já gravaram mais de 100 músicas e oito videoclipes. Buscando “praticar a ousadia”, a dupla nascida em 1991 promove seus próprios shows e vende sua própria marca de roupas, a PLZ (Play Zicka) 91, comandada há um ano por Waldézia Alves, mãe de Gleidson. Nesta foto, Afala e Case encenam partes do videoclipe “Entra facinho”, produzido pela Cenário Filmes na boate Planeta Show, uma das casas de brega mais frequentadas na zona oeste da cidade.

Jessica Emanuelle, 24, é tecnóloga em Gestão de Recursos Humanos, atividade de quem planeja a carreira de empresas e faz treinamento de pessoal. Mas é como cantora que ela está à frente da Forró Chegado, banda que mistura os ritmos axé, arrocha e sertanejo universitário num gênero que ficou conhecido como vaneirão-elétrico, difundido na última década pelo grupo Aviões do Forró. Há quatro anos na profissão, vê no brega do Recife uma chance de expandir sua atuação, especialmente no estilo romântico. Na foto, Jessica faz sua primeira participação num videoclipe de brega funk, posando no palco da boate Planeta Show durante a gravação de “Entra facinho”, música lançada pelos MCs Afala e Case em janeiro de 2016.

Scarllet Lima, 18, vive na casa dos pais, onde aprendeu a dançar brega funk assistindo TV, repetindo coreografias de shows e ensaiando na frente do espelho. Desde o ano passado já participou de quatro vídeos do gênero, todos gravados pela Pro Rec, a empresa mais antiga do mercado em Pernambuco, com mais de 400 clipes e uma centena de DVDs lançados nos últimos 10 anos. Nesta foto, Claudio Batista, 22, designer gráfico e assistente de câmera da Pro Rec, trabalha com Scarllet em cena de “Patrão é patrão”, videoclipe dos MCs Leozinho, Joãozinho e Kaio da Corea gravado na Ilha do Maruim, em Olinda (16.405 visualizações em janeiro de 2016).

Jessica Santos, 22, é seguida por mais de 5 mil pessoas em sua conta no Facebook. Com uma curta carreira de modelo fotográfica, atuou numa dezena de videos de brega funk, mas evita os palcos e os expedientes noturnos exigidos pelo trabalho na área. Prefere estudar nutrição e estagiar numa academia de ginástica, onde prescreve dietas pra quem quer perder ou ganhar peso. Na foto, Jessica aparece no teto solar de um carro durante a gravação do clipe “Arrasou, arraso” (273.585 visualizações em janeiro de 2016) lançado pelo MCs Tróia, Danilo Cometa e Leo da Lagoa. No roteiro produzido pela Pro Rec, seu personagem retorna à comunidade Vasco da Gama, na zona norte do Recife, após longa temporada na Suíça.

Sara Ferreira, 19, em cena de “Tô nem aí”, clipe dos MCs Tróia, Lipinho Dantas, Elvis e PP gravado no terraço de uma residência no Ibura, zona oeste do Recife. No vídeo, Sara interpreta um personagem que “brigou com o namorado e partiu pro brega depois de postar no Face que hoje a noite é dela”. Na vida real, prefere as baladas de música eletrônica da zona sul, mas não se opõe a participar de clipes do gênero desde que isso não lhe atrapalhe os estudos para o vestibular de medicina. Na foto, aparece entre dois carros da Recife Customs, empresa de “estética automotiva” apoiadora de diversos clipes de brega funk produzidos na cidade.

Reginaldo Francelino da Silva, 22, começou a dançar aos 10 anos em concursos de swingueira no bairro do Totó, na extrema zona oeste do Recife, onde ganhou destaque à frente do Grupo Movimento Dance. Há cerca de cinco anos, de posse de um aparelho celular com câmera e acesso à internet, começou a gravar vídeos caseiros em que aparece dançando suas próprias coreografias de brega funk, o que lhe tornou conhecido nas redes sociais como o Neguin do Charme. Hoje, contratado com exclusividade como bailarino do MC Tróia, faz mais de quatro shows por semana, o que lhe garante cerca de três salários por mês. No futuro, diz, planeja abrir uma escola de dança na região de Sucupira, em Jaboatão dos Guararapes, onde mora com a mãe. Na foto, Neguin do Charme durante gravação do clipe “Tô nem aí”, música lançada pelos MCs Tróia, Lipinho Dantas, Elvis e PP em janeiro de 2016.

Há seis anos, quando começou a cantar funk na rua da Lagoa, na comunidade de Vasco da Gama, em Recife, Leonardo Sebastião de Lima, 28, não imaginava que a carreira como MC Leo da Lagoa o faria largar o emprego numa firma de refrigeração para gravar mais de 50 músicas. Desde o sucesso de “Que brabinha boy” (com mais de 1 milhão de acessos em 2015), Leo faz dupla com o MC Danilo Cometa em cerca de 20 apresentações por mês. Conhecidos pelos fãs como #osgangster, não sobem no palco por menos de 1200 reais por 40 minutos de show. A não ser que seja pros amigos, diz Leo. E esses não parecem ser poucos, vide o número de canções compostas em parceria com outros MCs, normalmente via troca de mensagens no Whatsapp. Na foto, Leo faz cena para gravação do clipe “Arrasou, arraso” (240 mil acessos em janeiro de 2016).

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